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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Entes Queridos–Francisco Cândido Xavier

Índice do Blog

 

www.autoresespiritasclassicos.com

 

 

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ENTES QUERIDOS

 

FRANCISCO CANDIDO XAVIER

CAIO RAMACCIOTTI

ESPÍRITOS DIVERSOS

 

 

EDITORA

GEEM

 

 

 

 

Sumário

Introdução

Apresentação / 04

Aldan Bernardo de Araujo

Mensagem / 05

Carlos Augusto Pereira de Melo

Mensagem / 09

César de Araújo Mafra

Mensagem / 12

Edvaldo Paixão da Silva

Mensagem / 19

Francisco Adonias Nogueira Filho

Mensagem / 21

Haroldo Soares Portella

Mensagem / 25

Hílton Monteiro da Rocha

Mensagem / 29

Klaus Heller

Mensagem / 34

Leopoldo Jose Rusciolelli França

Mensagem / 39

Luciano Fábio Perutich

Mensagem / 45

Márcia Bordallo de Souza

Mensagem / 52

Nélson Castro Dantas

Mensagem / 56

Sidney Rodrigues

Mensagem / 62

Sylvio Quero Luque Júnior

Mensagem / 68

Introdução

 

Vários escritores da Terra, em se referindo às mensagens do Mais Além, costumam indagar com humor:

- "Se o campo terrestre está repleto de provações, por que os mortos voltam aos lugares em que viveram? Não encontraram, porventura, mundos melhores que o nosso? Por que tamanha vinculação dos espíritos desencarnados com a vida física? Por quê?"

Acontece que a pessoa desenfaixada do corpo físico, assim qual ocorre às criaturas humanas, tem a vida onde se lhe situa o coração.

É possível que milhares de seres, em se descartando do corpo denso da Terra, aspirem a conquistar novos estágios de progresso, em outros orbes ou em esferas outras de atividade espiritual, que se marcam por mais amplos característicos de elevação, mas, no tempo justo de semelhante mudança, refletem nos entes queridos que ainda permanecem na experiência terrestre.

E indagam de si próprias: seriam felizes em novos céus, sem a companhia daqueles aos quais se reconhecem ligados pelos sentimentos mais nobres? Como deixá-los ao sabor das provações em que jazem desfalecentes, quando se lhes faz possível estender-lhes as mãos no socorro ansiosamente esperado? Se atingiram a luz de que modo esquecer os entes amados, ainda nas trevas? Ser-lhes-ia correto abandonar as pessoas que lhes invocam a intercessão e a defesa, corações que, na Terra, lhes consagraram especial carinho?

Daí nasce nos espíritos, relativamente evoluídos e felizes, a vinculação com os círculos de experiência física, às vezes, por tempo indeterminado.

Sentem-se impelidos a despertar as afeições de ontem para a esperança e para o bom ânimo de que necessitam para buscar o futuro melhor.

Leitor amigo, pelas razões expostas é que te ofertamos, com atencioso apreço, o presente livro que consubstancia o testemunho despretensioso do amor com que se interligam os entes amados que partiram ao encontro da Espiritualidade Maior e os que permanecem, no Plano Físico, evidenciando, mais uma vez, o espírito de seqüência que preside as ocorrências da evolução e a certeza de que, com a perenidade da alma, o amor é também a nossa luz imortal.

Emmanuel

Uberaba, 12 de setembro de 1982

 

Apresentação

 

Entes Queridos apresenta em suas linhas gerais estrutura semelhante a Adeus, Solidão, anterior lançamento GEEM.

Catorze autores espirituais, cada qual com seu testemunho próprio, dialogaram com os familiares e extensivamente com todos nós, relatando suas vivências no Mais Além, após a desencarnação.

E, para cada Espírito, o leitor encontrará o correspondente depoimento de familiares, relatando-nos de que modo a mensagem psicografada ecoou em seus corações saudosos.

Destacamos o nosso reconhecimento aos atenciosos entes queridos de nossos autores espirituais pela solicitude, atenção e carinho com que nos receberam, fornecendo-nos os esclarecimentos necessários à organização deste livro.

Caio Ramaccioti

São Bernardo do Campo, 12 de setembro de 1982

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Aldan Bernardo de Araujo

 

Rio de Janeiro (RJ) - 05 de dezembro de 1965

Rio de Janeiro (RJ) - 16 de novembro de 1978

Aldan partiu para o Mais Além, prestes a completar 13 anos, vítima de grave enfermidade crônica.

Filho de Áldano de Araújo Filho e de Irene Bernardo de Araújo deixou um único irmão, Alan Bernardo de Araújo.

A carta que enviou aos pais, através de Chico Xavier, foi recebida dois anos após a desencarnação.

 

Palavras da mãezinha do comunicante:

 

"Meu Deus, não existem palavras que possam descrever a emoção e alegria que senti. Tanto eu, como meu filho Alan, que estava comigo naquele dia, ficamos muito emocionados e choramos muito de felicidade.

Disse coisas lindas e consoladoras que me fizeram enorme bem e me deram forças para continuar cumprindo minha missão aqui na Terra, até a hora de nosso reencontro que, se Deus quiser, acontecerá um dia.

Continuo, sempre que tenho oportunidade, indo a Uberaba e peço sempre a Deus pelo querido Chico Xavier, para que continue por muito tempo a sua missão de amor e bondade, cá na Terra, ajudando a tantas pessoas que, qual eu, recorrem a ele numa hora de dor e desespero."

Irene Bernardo De Araújo

 

Mensagem

 

Querida mamãe Irene, receba o meu pedido de bênção e o meu abraço, juntamente de nosso querido Alan e com o papai Aldano.

Mãe, os dias correm e os nossos pensamentos se fixam cada vez mais na lembrança um do outro. O seu coração querendo me ouvir e eu ansiando por falar...

Admito, no entanto, que é bastante esse estado mútuo de insegurança e de inquietação para que nos entendamos.

Na Terra, trocávamos idéias pelos velhos processos verbais e agora que a vida de seu filho mudou tanto, conversamos pela vibração

Querida mãozinha, você e o papai Aldano não pensem que eu tenha vindo fora do tempo. Sei que os meus quase treze anos na vida física representavam um alicerce firme para que eu aí me demorasse, tanto quanto desejávamos, mas Deus enviou a morte não para separar-nos, e sim para fazermos um caminho do mundo para o Alto...

Penso que é assim porque a saudade nos arremessa as idéias para as estrelas.

Mãezinha compreendi tudo naqueles dias e noites longas. Meu tempo seria curto e, por isso, não tive dúvidas quando aquele sono pesado me punha peso nas pálpebras.

Agora que consegui falar alguma coisa, peço para que estejamos resignados e fortes.

Mãe querida, não se deixe levar por idéias de sofrimento, quando Deus nos concedeu tantas felicidades. Seu filho renasceu para construir um jardim de amor espiritual, tão belo e tão grande que a descrença não pode estender qualquer nuvem sobre ele.

Tudo passou... As noites de doença nas quais você com meu pai e com a Vó Almerinda (1) sofreram tanto por minha causa.

1) Almerinda Bernardo Pereira, avó materna.

Sou agradecido por tudo. Deus os recompensará pelo carinho com que me cercaram de segurança e de afeto.

Peço-lhe, queira viver. É preciso. O nosso Alan não poderia ficar aí sem o seu auxílio e o papai igualmente não consegue dispensar-lhe a orientação.

Estou tranqüilo e estaria plenamente feliz não fossem as saudades que me sufocam ainda, mas espero que o seu amor me auxilie a permanecer com serenidade e fé.

Graças a Deus, essas bênçãos não me faltaram, mas se a dúvida consegue ensombrar o seu coração querido, obrigando-a a chamar-me em pensamento, qual se estivesse eu agora distante ou perdido, ainda sofro e muito.

Auxilie-me, querida Mãezinha, a estar sempre em paz, pois desejo crescer em conhecimento e trabalho para ser útil.

Peço o mesmo ao papai Áldano; compreendo, porém, que isso para ele é mais difícil. Para Deus, no entanto, pode existir o difícil, mas não o impossível.

Tenho sido muito amparado pela Vó Conceição (2) e pelas preces de nossa querida benfeitora Antonieta (3).

2) Conceição Faria de Andrade, bisavó paterna, falecida no Rio de Janeiro em 1977.

3) Benfeitora Espiritual ainda não identificada.

Rogo seja dito à Vovó Almerinda que venho recebendo todas as suas preces de bondade e proteção e sou muito grato pelo auxílio constante.

Mamãe querida, querida Mãezinha Irene, não julgue pudesse ter ficado. Voltar mais cedo para cá era obrigação traçada no Mais Alto em nosso auxílio e sei que o seu carinho não quereria que eu vivesse no mundo, a crescer doente e inútil.

Sei que a sua dedicação me compreende e me sinto reconfortado com isso.

Ao nosso Alan o meu abraço, com muito amor para a vovó.

E, porque não posso continuar, receba com o papai Aldano muitos beijos do seu filho, sempre seu,

Aldan

19 Dezembro 1980

 

 

 

 

 

 

 

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Carlos Augusto Pereira de Melo

 

Boa Vista (RR) - 08 de março de 1961

Boa Vista (RR) - 10 de junho de 1980

Carlinhos, filho de Benjamin Pereira de Melo e de Sebastiana Cabral de Melo, possuía na equipe doméstica dois irmãos: Benjamin Pereira de Melo Filho e Gilmar Pereira de Melo.

Faleceu em acidente de moto.

 

Palavras do pai do comunicante:

 

"O que eu senti ao receber a mensagem foi uma grande alegria interior e muita emoção. Fiquei feliz em saber que o nosso querido Carlinhos está bem e é feliz."

Benjamin Pereira de Melo

 

 

 

 

Mensagem

 

Querido papai Benjamin e querida mãezinha, abençoem-me. Tudo passou. Não atribua à moto o que veio a acontecer. A moto é um veículo, igual aos outros.

No passado, muita gente perdeu o corpo físico em carros e montaria de caráter primitivo e tenho a idéia de que poucos se lembram disso.

Quantos encontraram a morte sob rodas lentas ou atirados longe pela fúria de potros bravos, não estão no gibi.

Aqui, penso em tudo isso para que ninguém se arrependa de viajar num automóvel, ao invés de carregar a vida sacolejada num carro de bois. Se tivesse de recomeçar, estaria em forma para tomar de novo a Honda e seguirem frente.

Com isso, não quero dizer que não sinto a falta de casa. Sinto sim, mas não vou chorar, porque houvesse escolhido o processo mais aceitável para mim de varar as estradas e devorar os chãos das ruas.

A vovó Ana, da mamãe Sebastiana e a vovó Ana Barbosa, do papai, me recolheram com o carinho que nada fiz por merecer (l).

1) Ana Cabral de Macedo, bisavó materna, falecida em 1927. Ana Barbosa de Melo, bisavó paterna, desencarnada em 1951.

Estou embaraçado na impossibilidade de mostrar reconhecimento e, quanto ao corpo com algumas quebradas, me curarei, estou certo, é claro, como se houvesse ficado por aí.

Peço para que não se impressione negativamente a meu respeito. Sei que estudarei e encontrarei novos caminhos de formar os meus recursos potenciais, a fim de me entregar a serviço digno em momento oportuno, e por tudo isso, me reconheço confortado, dentro da melhor expectativa sobre o futuro.

Queridos pais, não se esqueçam do mano Benjamin e do mano Gilmar que são igualmente filhos, a lhes esperarem pela proteção afetuosa de todos os dias.

Perdoem-me, se termino aqui. Desejava noticiar alguma coisa com referência à minha própria situação e defender o meu cavalo de aço.

Agradeço toda essa chuva de preces e de amor que me enviam. Espero que, muito em breves dias, estarei na forma de costume, na mesma disposição de retomar os meus recursos de trabalho, a fim de lhes ser útil de algum modo.

Desculpem-me as opiniões sinceras de rapaz, acostumado a tropeçar para erguer-se melhor e recebam muitos beijos do filho que lhes deve a vida e a felicidade de lhes pertencer, hoje tanto quanto sempre.

Carlos Augusto

Carlos Augusto Pereira de Melo

15 Maio 1981

 

 

 

 

 

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César de Araújo Mafra

 

Rio de Janeiro (RJ) - 22 de outubro de 1954

Niterói (RJ) - 12 de dezembro de 1975

Filho de Luciano Mafra e Neuza Angélica de Araújo Mafra, César desprendeu-se do Plano Físico aos 21 anos e complementava o grupo dos seguintes irmãos: Roberto de Araújo Mafra, Maria Regina Mafra Gomes, Maria Cristina de Araújo Mafra e Ângela de Araújo Mafra.

Técnico de Contabilidade preparava-se para o vestibular de Engenharia Mecânica, quando desencarnou, por efeito de consumptiva enfermidade.

 

Palavras da mãezinha do comunicante:

 

"Na madrugada de sexta-feira, 26 de maio de 1978, dois anos e meio após o falecimento, recebemos a mensagem do César.

Retornamos de Uberaba felizes e encantados com tudo o que presenciamos.

A tranqüilidade voltou a reinarem nossa casa.

A partir da carta de nosso filho passei a emprestar e a propagar os livros espíritas que tanto me consolaram.

Toda a nossa família reconhece que o Chico nos trouxe muita paz, equilíbrio e confiança no amparo de Jesus.

Só temos que agradecer a Deus a oportunidade de termos conhecido esse homem tão maravilhoso que se chama Francisco Cândido Xavier. "

Neuza Angélica de Araújo Mafra

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha Neuza, peço ao seu carinho, tanto quanto rogo a meu pai que me abençoem.

Se eu pudesse escreveria esta carta com a luz, com a luz que tomo de suas lágrimas e de suas orações ao pensarem seu filho...

Mamãe, quanto amor! Na Terra, julgamos haver revelado todos os nossos sentimentos para com aqueles que mais queremos; no entanto, quando nos reconhecemos na Vida Espiritual, temos a impressão de que a melhor parte do coração ficou desconhecida...

Rogo-lhe, não me veja nas telas da lembrança, à feição do filho doente, parecendo uma pérola estragada em seu coração de anjo da nossa vida.

Não sou pérola, nem mesmo estragada, mas sou seu filho e a senhora com meu pai e a família representa a minha riqueza maior. Lembre-me como quando em criança, recebia de seus lábios o nome de Deus. Recorde-me com a minha mão de menino dentro de sua mão a guiar-me no mundo.

Eu sei que o seu carinho me trouxe aqui as nossas queridas Maria Cristina, Maria Regina, Ângela e o nosso querido amigo Macir com meu irmão Roberto, a representar-me junto do nosso querido papai Luciano (l).

1) Irmãos e o cunhado, Macir Roberto Lemos Gomes, casado com Maria Regina.

Escutei suas preces, organizando a viagem. Seus pensamentos me buscavam com uma alegria de tal modo contagiante que supus iria nascer de novo em seu coração para viver uma existência nova.

Encontro-reencontro! Sol após a noite, alegria depois de tantas lágrimas.

Estou feliz.

Olhe para mim, Mamãe, e veja meus olhos nos seus. Nada mudou. Sou eu mesmo, como em nossos melhores dias. Vó Maria das Dores (2) cuida de mim com a ternura que lhe conhecemos.

2) Maria das Dores Miranda de Araújo bisavó materna, falecida no Rio de Janeiro, em 1977, com 82 anos.

"Sua mãe ficará feliz e orgulhosa de rever você, meu querido César!" - disse ela, quando notou que me preparava a fim de escrever-Ihes.

Pensei de mim para comigo que os seus olhos não me veriam em meu novo modo de ser, mas a Vovó com a intuição dela me falou de novo sem que eu lhe comunicasse as minhas impressões: "A mamãe verá você, sim! Ela verá você na saudade e no carinho com que todas as mães sabem descobrir os filhos ausentes, por dentro da alma delas mesmas!"

Por isso, reconheço que o seu olhar do coração está me vendo...

Mamãe, as saudades doem muito, mas a esperança fica maior quando a distância nos faz sofrer. Não digo isso para entristecê-la, mas só para confirmar que os seus sentimentos como sempre estão nos meus.

Sei que posso tão pouco, mas esteja certa com o papai de que eu serei o companheiro de todos os momentos. Trabalharei aqui para merecer a felicidade de auxiliá-los e de ser útil à família querida em que Deus nos reuniu.

Desejaria escrever muito mais, mas a equipe de amigos considera o tempo e as necessidades dos companheiros da Terra.

Tenho, com a Vó das Dores, um benfeitor em meu Avô-Bisavô Mafra (3). Digo isso a meu pai, para que todos estejamos mais felizes.

3) Adolpho Mafra, desencarnado no Recife, em 1938.

Caro Macir, fique em meu lugar.

Você também é filho do coração em nossa casa. Auxilie as meninas e dê-nos essa alegria, a de ser sempre mais nosso.

Aqui, mamãe, vou finalizar este meu comunicado que é um simples registro de um amor que não encontra meios de se expressar.

Receba. Mãezinha querida, com meu pai e todos os nossos, os beijos de carinho e reconhecimento, de alegria e de saudade - com esperança, de seu filho, sempre mais seu filho,

César

César de Araújo Mafra

25 Maio 1978

 

Segunda mensagem de césar de Araújo Mafra, psicografada em Uberaba (MG), na noite de 15 de maio de 1980

 

Mãezinha Neuza, peço a sua bênção de paz, associando a sua presença com o papai Luciano que se encontra presente em nossos corações pela imagem.

Estou contente ao vê-la, de novo, na procura das notícias escritas de seu filho, confirmando as informações que pelo fio do pensamento estou sempre a lhe trazer, com os meus votos de paz e felicidade.

A saudade é qual febre estagnada nos recessos do espírito, induzindo nossa constante busca de alívio. E o que acontece no Plano Físico ocorre igualmente conosco na Vida Espiritual.

A morte do corpo é uma espécie de desvinculação da forma visual, sem qualquer interferência nas raízes profundas da vida, e digo assim porque o meu interesse pela família não sofreu até hoje qualquer alteração.

A sua presença, com meu pai, Roberto e as irmãs queridas, permanece, por dentro de minha memória, qual se houvesse partido ontem da nossa casa no rumo da Vida Maior.

Em vista disso, querida mamãe, continuo ligado às nossas tarefas do dia-a-dia, compartilhando de tudo o que significa a nossa vida no enuncio.

Sinto o pai amigo um tanto cansado. A luta pela sustentação da equipe familiar, de certo modo, desgasta as forças do homem e compreendo esse processo de abatimento que o envolve.

Ainda assim, rogo-lhe manter-se sempre e cada vez mais viva na realização de nossos ideais.

Diga, mãezinha, ao papai que ele se encontra numa fonte valiosa de materiais para construção e bem reconhece o que seja a execução de uma planta. Quantas peças a se articularem, quanto cimento para solidificar a junção de vigas e estruturas, quantos detalhes e exigências para que determinada edificação venha à luz.

Pois, de nossa parte, estamos levantando o templo de nossas tarefas espirituais, com os recursos disponíveis.

Tudo devagar. Primeiro, o desenho da obra devidamente esquematizada, depois o serviço das bases que reclamam linhas seguras e, só após semelhante providência, começam a surgir os tijolos e as pedras que comporão o edifício planejado.

Mamãe e papai, vocês estão cumprindo os deveres para com a família e, logo que essas obrigações se amenizem, conseguiremos partir para outras demandas da beneficência, nas quais os doentes e as crianças desvalidas, os necessitados e os tristes se convertam em parte de nossa família maior.

Penso nos sobrinhos, seus netos do coração, querida mamãe, e rogo a você pedir ao papai nos considere a presença, junto deles, por enquanto necessária.

A nossa casa é sempre o campo central de onde partimos ao encontro do próximo, no sentido de ampará-lo, segundo as nossas possibilidades.

Roberto e Maria Regina precisam tanto da mamãe nas lutas do lar e as nossas queridas Cristina e Ângela estão a postos, reclamando-nos criteriosa atenção. Por isso, ouso pedir ao querido pai se acalme nas atividades que nos tomam as energias do coração.

Estou mais seguro de mim e, não fosse a presença da saudade, me sentiria o mais feliz dos filhos, liberado da experiência física.

Não descansarei enquanto não lhes sentir de mais perto a harmonização e a felicidade. Confiemos em Deus.

A vovó Maria das Dores, que me adotou por sua criança querida, tem nos auxiliado, conforme as suas forças, e agora a vó Alcina (l) faz parte do nosso grupo de amor, aguardando-se para breve a sua participação em nossas tarefas espirituais, junto de nós.

1) Alcina de Farias Mafra, avó paterna, falecida no Rio de Janeiro em 1978.

O paraíso delas é sempre a alegria dos filhos e ela trará ao papai Luciano a serenidade e a paciência de que ele está necessitando.

Nossas esperanças aqui se ampliam em todas as direções e esperamos vê-la com o papai Luciano, com as meninas, com o Roberto e com os nossos Cezinhas (2), crescendo para o melhor a fazer.

2) Cezinhas são os sobrinhos, César e Bruno César.

Mãezinha rogo-lhe acalmar-se, entregando-se a Deus cujo infinito Amor jamais nos abandona.

Peço ainda seja dito a meu pai que tenho pedido ao nosso benemérito Dr. March (3), o amparo a nós todos, para que a paz brilhe em nosso ambiente.

3) Guilherme Taylor March, o "Médico dos Pobres", desencarnou em Niterói no ano de 1922, aos 84 anos.

Lembranças ao Roberto, ao Macir, à Maria Regina, à Cristina e à Ângela com os garotos que vão enriquecendo o nosso ambiente doméstico. Mãezinha peço-lhe despreocupar-se totalmente quanto a medo e desalento.

A morte é unicamente a passagem de uma vida para outra e dela nos reerguemos tantas vezes quantas venhamos a experimentá-la, porque Deus não nos uniria para separar-nos. Confiemos.

Agradeço ao meu velho moço a permissão para a sua vinda até aqui e desejo que ele continue tranqüilo e feliz.

Embora sem brilho para falar-lhe com grandeza, penso em seu carinho e no carinho do papai para com você e peço a Deus nos conserve sempre unidos.

Com grande abraço a meu pai e a todos os nossos, beija-lhe as mãos queridas o seu filho, sempre seu,

César

César de Araújo Mafra

15 maio 1980

 

 

 

 

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Edvaldo Paixão da Silva

 

Uberaba (MG) - 24 de fevereiro de 1960

Rifaina (SP) - 27 de fevereiro de 1977

Mineiro de Uberaba, filho de Geraldo Paixão da Silva e de Maria do Carmo Silva, Edvaldo desencarnou numa excursão de seu colégio, tragado pelas águas do Rio Grande, na fronteira dos Estados de São Paulo e Minas Gerais.

Dezessete anos, recém completados, após as férias escolares, cursaria o primeiro ano colegial. Escreveu ao pai, um ano depois de sua passagem para a Vida Espiritual.

 

Palavras do pai do comunicante:

 

"As palavras de meu saudoso filho trouxeram-me muito conforto e muita emoção, ajudando-me a não pensar mais no suicídio, tal o desespero em que me encontrava."

Geraldo Paixão da Silva

 

Querido Papai, peço ao senhor para abençoar-me.

Estou aqui em sua companhia, com o vovô Silvério (l). Não pense que eu esteja esquecido.

1) Silvério da Silva, avô paterno, desencarnado em Uberaba, no ano de 1968.

O senhor, mamãe e Aparecida (2), podem imaginar que também sofri muito ao me ver sem meios de regressar a casa, como eu queria.

2) A irmã, Aparecida do Carmo Silva.

Peço-lhes perdão se saí, regressando de maneira que nunca esperei.

Hoje, sei que a Lei de Deus está funcionando nas provações que nos aparecem independentemente de nossa vontade e tudo devemos suportar com paciência.

Diga, Papai, para a Vovó Almerinda (3) e para minha irmã que me lembro delas constantemente. Sempre que posso, embora ainda precise de muita proteção, vou em nossa casa.

3) Almerinda Ladeira da Silva, avó paterna com quem Edvaldo residia.

Agradeço à Mamãe e à Vovó as orações por mim e as flores que me oferecem.

Quando o senhor veste a camisa de meu clube para se lembrar de mim, sinto que uma força muito grande me busca para o seu convívio e fico reconhecido (4).

4) Edvaldo era torcedor do Cruzeiro de Belo Horizonte e habitualmente vestia a camisa do clube. Seu pai, em homenagem ao filho, adotou a mesma prática, o que Edvaldo observa na mensagem.

Papai estou melhorando e rogo ao senhor não chore mais, a não ser de agradecimento a Deus.

O senhor e Mamãe não me perderam. Agora sou mais de casa do que antes, porque o meu pensamento não se retira da bênção com que me receberam e me trataram, enquanto Deus assim permitiu.

Papai, diga em casa que a morte não existe. Mudamos de lugar, mas não mudamos de coração.

Peço ao senhor, à Mamãe e à vovó Almerinda para me abençoarem e peço a Deus os recompense por todo o bem que sempre me fizeram.

Na certeza de que estaremos cada vez mais juntos, receba, querido Papai, um abração do seu filho que está aprendendo a fazer preces por sua felicidade.

Sempre seu filho,

Edvaldo

17 Junho de 1978

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Francisco Adonias Nogueira Filho

 

Fortaleza (CE) - 21 de abril de 1960

Crateús (CE) - 15 de agosto de 1978

Filho de Francisco Adonias Nogueira e de Evangelina Soares Rosa suicidou-se, aos dezoito anos, em Crateús, Estado do Ceará, cidade onde residia, em companhia da avó materna, Ester.

Dele, temos notícia de dois irmãos: José Cardoso Rosa Neto e Marco Antônio Soares Rosa Nogueira.

 

Palavras da mãezinha do comunicante:

 

Dona Evangelina escreveu comovedora carta ao organizador do presente volume, aceitando a autenticidade da mensagem do filho que muito conforto, segundo expressão dela própria, lhe trouxe ao coração materno e tecendo comentários importantes sobre as notícias psicografadas, documento este que foi arquivado em departamento especializado da Editora.

 

 

Mensagem

 

Querida Mamãe Evangelina e querida vovó Ester (1), estou aqui, na condição do filho que volta, a fim de lhes pedir perdão.

1) Ester Soares Rosa, avó materna.

Vovó querida desculpe-me pelo que fiz em Cratéus, quando a sua bondade estava pronta, a fim de me defender e proteger constantemente. Não sei porque a ausência de meu pai me conturbou tanto... (2)

2) Seus pais já eram, na época, separados.

Pensava, pensava e não me vinha uma saída ao pensamento. Fiquei sem coragem, vencido.

A vida me pareceu vazia, sem sentido, quando a Mãezinha Evangelina e a Vovó Ester esperavam tanto de mim. Ignoro que forças indomáveis me fizeram aceitar a idéia de uma corda que me pendurasse o corpo, a fim de que tudo acabasse para mim.

A verdade é que a vida não me deixou e sofri o indescritível para aprender a veneração que me cabia dedicar ao corpo que Deus me dera, através de meus pais.

Não sei de onde me veio o impulso temerário. Senti que o meu corpo balançava no espaço e que eu caía numa tremenda escuridão.

O que se passou, não tenho vocábulos para contar. Quanto tempo me arrastei naquelas sombras densas, arrependido e infeliz, não sei dizer.

Depois de um tempo que para mim teve a duração de séculos, uma voz me veio atender aos gritos de socorro...

Chorei mais ainda, ao verificar que alguém acertara comigo naquela imensidão de escuro em que me debatia. A voz me pediu paciência e oração e me afirmou que era das vovós Evangelina e Tertinha (3) a me buscarem.

3) Tertinha Cardoso Rosa, bisavó paterna, falecida em 1920. Evangelina de Melo Soares, bisavó materna, desencarnada em 1916.

Desde então, fui hospitalizado para tratamento; no entanto, reconheço que a minha coluna se desajustou. Já comigo vêm pessoas e conversam, mas a figura da Mamãe Evangelina a sofrer por minha causa, não me sai da cabeça.

Mãe perdoe-me. E não desanime com os meus irmãos. O José melhorará, o Marco Antônio ficará bom. E a Lívia (4) será o nosso apoio.

4) Espírito sublimado a quem D. Evangelina devota muito respeito. Personagem do romance Há Dois Mil Anos, recebido por Francisco Cândido Xavier; esposa do Senador Publius Lentulus.

Perdoe a fraqueza de seu filho, que, num momento infeliz, cedeu à sugestão do mal.

Somente posso interpretar assim o que me aconteceu, porque a intenção de suicídio não me cozinhava os miolos.

Tive medo da vida, sem a presença de meu pai, mas o medo era o que eu sentia e não aquela temeridade que acabou por me perder.

Espero melhorar e auxiliar a Mamãe Evangelina e apoiar os meus irmãos.

Deus nunca está pobre de misericórdia e eu espero um novo dia, no qual a minha consciência de rapaz amanheça pacificada.

Querida Vovó Ester, o tio José Cardoso (5) alcançará as melhoras precisas.

5) José Cardoso, tio-avô, suicidou-se há 88 anos.

Confiemos em Deus. Agora aguardemos um tempo novo. Ainda chegarei a Fortaleza preparado para ajudar a Mamãe, reparando as minhas faltas. Estou, agora, no fim de minha oportunidade para lhes deixar esta carta e ser reconduzido à instituição a que me recolheram.

Querida vó Ester e querida Mamãe Evangelina, perdoem ao filho ingrato que um dia se restabelecerá para viver novamente, respeitando as Leis de Deus e amando-as cada vez mais.

Francisco

Francisco Adonias Nogueira Filho

15 Janeiro de 1982

 

 

 

 

 

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Haroldo Soares Portella

 

Rio de Janeiro (RJ) - 26 de janeiro de 1915

Catalão (GO) -12 de abril de 1979

Técnico de Administração, funcionário aposentado do Ministério da Aeronáutica, Haroldo Portella faleceu em acidente rodoviário próximo de Catalão, Estado de Goiás, quando com a esposa e netos se dirigia a Brasília.

A esposa, Nadir Soares Portella, reside no Rio de Janeiro e a filha, Sra. Hadir Portella Almeida, casada com o Oficial da Marinha, José Ubirajara Silva Almeida, reside na Capital Federal.

O casal possuía outra filha, Clícia Soares Portella, que desencarnou no Rio de Janeiro, em 1950, aos oito de idade.

 

Palavras da esposa do comunicante:

 

"Com a mensagem, Chico Xavier devolveu-me as muletas que eu perdera, mostrando que "meu velho" saiu para uma longa viagem, mas não se esqueceu de mim. Renasci, senti novamente vontade de viver."

Nadir Soares Portella

 

Mensagem

 

Querida Nadir, meus pensamentos se concentram em oração, pedindo a Jesus lance sobre nós sua Bênção de Paz.

Venho até você, rogar a sua aceitação da lei que nos separou naquela noite de despedida compulsória.

Peço a você, mas peço com toda a força de minha confiança, não se associar a qualquer idéia de culpa. Quando procuramos por nossos rapazes na Academias, (1) eu mesmo desejava a continuação da viagem.

1) Academia da Aeronáutica em Pirassununga (SP) onde, então, estudavam os netos Antônio José e José Eduardo.

Não me inclinava para qualquer delonga, fosse em Pirassununga, fosse em Ribeirão (2), como, á princípio, se cogitou.

2) Municípios do interior paulista.

E que o meu encontro-desencontro com o "até breve" estava marcado.

Não digo "até breve", admitindo que você possa vir cede para cá, porquanto, precisamos de sua presença junto dos nossos por muito tempo. O meu "até breve" substitui a palavra morte que passei a não admitir em nosso vocabulário.

Aqui, a vovó Alba e a nossa querida benfeitora Adelaide Maria, foram precisas nas informações (3).

3) Adelaide Maria, avó paterna de D. Nadir, desencarnada em 1921. Haroldo não a conhecera quando encarnado.

Quando não provocamos conscientemente a abertura do portão para a Vida Espiritual, agindo na leviandade de um passageiro clandestino que penetrasse o avião sem os necessários documentos, a vinda para cá é sempre um acontecimento imprevisto.

Peça calma à nossa Hadir que, afinal de contas, é um pedaço de nossos melhores sonhos com o H do Haroldo e o Adir de Você mesma.

Rogue à nossa filha, esforçar-se por lavar da mente dos nossos netos qualquer idéia de lamentação ou de culpa, injustificável em qualquer de nós.

Ficaria muito feliz, vendo o Antônio José e o José Eduardo (4) retornando, em definitivo, à vida normal, com a melhor preparação ante o futuro, porque, em verdade, os acidentes estão aí no mundo por toda parte e, não seríamos nós, quem os haveria de evitar.

4) Netos que se encontravam com Haroldo e D. Nadir no veículo quando do acidente. Viajavam rumo de Brasília para rever a filha Hadir, aí residente Alba de Araújo Portela, a genitora que carinhosamente chamava por vovó Alba, qual ocorre na mensagem!!! D. Alba faleceu no Rio de Janeiro, cinco anos antes do Haroldo.

Se voltei para cá numa ocorrência dessas, rendamos Graças a Deus, porque tenho aprendido aqui que, se fosse vítima de uma longa parada cardíaca, seria constrangido a suportar vários anos de invalidez.

Aí no mundo, habituamo-nos a ver os fatos unicamente através da periferia, mas se soubéssemos descer às essências de quanto nos acontece, acabaríamos mais tranqüilo se mais reconhecidos a Deus, fosse qual fosse o problema com que nos víssemos defrontados.

Peço à nossa Hadir, em nome de nossa Taninha (5), para sossegar o coração e permanecer na constância da fé.

5) Tânia Maria Portella de Almeida, neta.

Os templos fazem diferença mínima ou nenhuma.

Qualquer que seja a confissão religiosa para a qual a nossa querida filha se incline, ela não deixará de ser de Deus e de ser igualmente nossa, porque o nosso amor por ela e por todos os nossos é a paz com a certeza de que estamos todos submetidos às leis de Deus que em nós ou fora de nós precisam ser cumpridas.

Querida Nadir, espero que as minhas palavras funcionem por bisturi amigo, retirando de sua cabeça idéias que não mostram qualquer razão de ser. Fique tranqüila e confiante erre Jesus, como sempre.

Enviando o paternal abraço para a filha querida e considerando-se na presença de todos os nossos, beija a sua face querida com o carinho e a confiança de todos os momentos, o seu Velho companheiro, esposo, irmão e amigo que continua pedindo aos Céus por sua felicidade.

Sempre o seu,

Haroldo

20 Junho de 1980

 

 

 

 

 

 

 

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Hílton Monteiro da Rocha

 

Uberaba (MG) - 14 de outubro de 1924

Uberaba (MG) - 04 de maio de 1978

Pai de quatro filhos: Márcio Alves Monteiro, Márcia Monteiro Menegazzo, casada com Luiz Antônio Menegazzo, Marcos Alves Monteiro e Marcília Monteiro Alves Amorim, casada com Airon Amorim dos Santos, Hílton Monteiro da Rocha era casado com Maria Sebastiana Monteiro, D. Maroca.

Aos 53 anos, foi vítima de infamo fulminante, quando se encontrava em Uberaba, onde fora visitar a Exposição Agropecuária Anual. Residia em Goiânia.

Fazendeiro e pecuarista foi por duas vezes prefeito de Trindade, cidade goiana próxima da Capital, sendo no primeiro mandato considerado pela Revista "O Cruzeiro", um dos dez maiores administradores públicos do País.

 

 

 

Palavras da esposa do comunicante:

 

"Ao receber a primeira mensagem, chorei muito, mas foi um choro diferente: meus olhos choravam, meu coração sorria. Agradeci a Deus e ao irmão Chico, pela graça do reencontro.

As mensagens que recebo através de Chico Xavier trazem para mim muita alegria e um grande conforto e me dão a certeza de que Jesus vai nos conceder a bênção de ficarmos juntos, depois que eu também partir para o lado de lá.

Quando recebo algum comunicado de meu marido, sinto que o Hílton teve permissão para vir passar uns dias comigo em nosso lar. Suas palavras têm me ajudado muito a suportar as saudades e a falta que ele me faz."

Maria Sebastiana Monteiro

 

Mensagem

 

Minha querida Maroca, peço a Deus nos abençoe.

Estou presente. Compreendo a sua inquietação. As suas perguntas ficaram sem resposta. Entretanto, na despedida compulsória da desencarnação, os melhores assuntos ficam interrompidos.

Você se lembra com que serenidade me dispus à viagem de que não retornaria à nossa casa, senão em espírito. Esses impedimentos súbitos, essas quedas de força, são algo de que ninguém consegue a desejada separação.

Caí, qual tronco decepado pelo golpe da morte física. Sei que você imagina tudo o que me aconteceu e dispenso-mede recapitular as minudências do fato.

Hoje, o curso de um ano se completa sobre o ocorrido. Creio que, por isso, o seu espírito me atingiu com tanto impacto de indagação e dor que não resisti ao anseio de vir ao seu encontro, procurando afirmar-lhe que temos estado juntos.

Não desanime. Nossos filhos são nossos tesouros. Na vida espiritual em que presentemente me instalo, a mãezinha Virgínia e o pai Manoel (l) continuam sendo os meus benfeitores e espero que nossa família disponha em você da estação de paz e amor, repouso e devoção que as mães sabem ser.

1) Virgínia Rocha Monteiro e Manoel Monteiro da Silva, desencarnados, respectivamente, em 1952 e 1950, em Trindade (GO).

Márcio, Márcia, Marcos e nossa Marcília continuam comigo, por dentro da própria alma e, ainda agora, venho de Brasília onde visitei nossa Marizete (2) em tratamento. Você não desconhece que ela e o Luiz Antônio são também nossos filhos.

2) Marizete Neves Monteiro, esposa de Márcio.

Peço a você coragem e fé viva em Deus. Não permita que o desânimo lhe visite a vida íntima, em hora alguma. Deus tem sempre novos meios de erguer-nos e sustentar-nos, acima de qualquer estado de sofrimento ou de angústia.

Rogo a você não esmorecer em momento algum. Posso ainda muito pouco, mas esse pouco é o meu coração ao seu lado. Juntos venceremos com a fé em Jesus a clarear-nos a vida e os corações.

Querida Maroca, agradeço os seus pensamentos em oração por minha felicidade, mas peço-lhe não se faça aflita, quando a sozinha conversa com seu velho, fitando-me o retrato, à frente de seus olhos ou por dentro de sua imaginação.

Não estaremos separados. Continue devotada aos nossos filhos e conte com Deus que não nos esquece.

Não chore e sim guarde a esperança na certeza de que nos reencontraremos mais tarde, quando as Leis Divinas nos concederem semelhante bênção.

Aliás, devo dizer-lhe que mesmo em meu egoísmo de pai, corto os sonhos do esposo, rogando a Jesus conceder a você muito tempo na vida física, para que você possa auxiliar a todos os nossos com seu carinho e decisão.

Por hoje, não posso alongar-me. A todos os nossos, o meu abraço de muito carinho e para você, minha querida companheira de sempre, o coração do esposo e amigo de todas as horas, sempre mais reconhecido.

Hílton

Hílton Monteiro da Rocha

14 Maio de 1979

 

Segunda mensagem de Hilton monteiro da rocha, psicografada em Uberaba (MG), na noite de 19 de fevereiro de 1982.

 

Querida Maroca, peço a Deus nos abençoe.

Tudo vai seguindo bem e agradeço a você quanto faz para nos ver felizes.

A sua moda de celebrar aniversários em casa de assistência, ao que admito, deve pegar (l).

1) D. Maroca habitualmente comemora as datas de nascimento e desencarnação do esposo e do filho Hílton Júnior em creches, asilos, orfanatos, enfim,em instituições de benemerência. Hílton Júnior desencarnou logo ao nascer, em Trindade (GO), no dia 21 de dezembro de 1948.

Lanches para os meninos de Trindade, de lanches para os velhinhos do Solar em Goiânia, e assim você vai plantando alegria e esperança em nós que temos a sua presença na conta de uma benfeitora incansável. O Hílton Júnior agradece.

A desencarnação tem disso. Filho que nós vimos com a idade de menos de alguns poucos minutos de vida, vim encontrar aqui com quase trinta anos e na forma do rapaz com essa idade no mundo. O resto contarei depois (2).

2) Observe o leitor que no Plano Espiritual Hílton apresenta-se como se estivesse ainda na Terra, ou seja, core a idade aproximada que teria aqui; nas obras de André Luiz, psicografadas pelo Chico, encontramos farta elucidação a respeito.

Assisti ao casamento de nossa querida Marcília e envio a ela com palavras escritas os meus votos de felicidade (3).

3) Casamento da filha Marcília, celebrado a 6 de janeiro de 1982.

Casamento é uma viagem com Deus. Assim, que Deus abençoe a nossa filha para que ela seja feliz.

Você, por vezes, me pergunta em oração por minha mãe Virgínia, por meu pai Manoel, por nosso irmão Gomes, por nosso pai Aleixo e por nossa mamãe Narcisa e, digo a você, que todos eles estão muito melhor do que nós (4).

4) Filo Gomes, irmão de D. Maroca, desencarnado em 1974, no município goiano de São Miguel do Araguaia.

Aleixo Antônio Alves e Narcisa Maria de Jesus, pais de D. Maroca que partiram para o Plano Espiritual respectivamente em 1931 e 1980.

Só não tenho notícias de nossa sobrinha adotiva Maria Aparecida, porque ela escolheu o portão do suicídio para vir até nós e esse portão é muito difícil de abrir caminho certo para quem delibera largar-se num caso desses. Não a vi, ainda, mas, se encontrá-la, trarei notícias (5).

5) A sobrinha adotiva Maria Aparecida de Oliveira suicidou-se em Trindade (GO), a 22 de setembro de 1980.

Querida Maroca, peço a você para que se contente com estas notícias mixurucas e abrace o velho e companheiro, sempre seu.

Hílton

Hílton Monteiro da Rocha

19 Fevereiro de 1982

 

 

 

 

 

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Klaus Heller

 

São Paulo (SP) - 15 de janeiro de 1955

São Paulo (SP) - 27 de setembro de 1975

Químico Industrial, Klaus, ao desenfaixar-se do corpo físico, contava vinte anos e se preparava para completar sua formação profissional na Alemanha.

Seus pais, Ervino Alfredo Heller e Elisabeth Heller, os irmãos Ingo e Monika, todos protestantes luteranos, aceitaram plenamente as cartas do filho e irmão, através de Chico Xavier, nelas encontrando a palavra autêntica do querido Klaus.

 

Palavras dos pais do comunicante:

 

"As mensagens de nosso filho trouxeram-nos muita consolação.

E, de modo especial ao Ingo, irmão do Klaus, que se achava em companhia dele quando ocorreu o acidente, as cartas fizeram muito bem, pois trazia consigo improcedente remorso, por estar dirigindo o carro naqueles tristes momentos.

Todos ficamos aliviados, compreendendo que o Klaus continua vivo."

Elisabeth e Ervino Heller

 

Mensagem

 

Meu pai, minha mãe, querido Ingo, peço a Deus nos proteja.

O que pedi para falar nesta noite, não saberia explicar. Precisava muito dizer ao Ingo para não se impressionar tanto com o que nos ocorreu.

Meu pai, o meu avô-bisavô Karl me acolheu (l). E, por último, veio para cá a vovó Elisabeth (2), e estou sempre melhor. Tudo aconteceu tão de improviso que, a meu ver, os que perdem o corpo num desequilíbrio de carro em movimento, não sabem explicar detalhe algum.

1) Provavelmente o tio-avô, Karl Heller, falecido na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial.

2) Elisabeth Riemenschneider, desencarnada na Alemanha, dois anos após o Klaus.

Papai; venho rogar ao seu coração amigo ajudar seu filho com a aceitação dos fatos. Mamãe tem sofrido muito ao vê-lo amargurado e abatido. Mas, sobretudo, é ao meu querido irmão que desejo falar.

Então, Ingo, você se julga culpado num caso como aquele em que você também se feriu, depois de fazer tudo para ajudar-me?

Escutei você a chamar-me, a gritar, mas não tinha mais forças. Como me doeu ver você agoniado e pensando na morte. Você acredita que a confiança entre nós dois havia acabado? Nunca.

Se fosse eu em seu lugar, compreenderia o seu sofrimento de menino bom e correto, mas nós dois estamos entendidos. Ninguém teve culpa, muito menos você que sofreu muito mais, pensando mais em mim que nas dores que ficaram em seu corpo.

Agora, sei que até processo estão colocando entre nós dois para nos separarem. Mas qualquer juiz humano compreende que você sofre por imaginação, sem culpa alguma (3).

3) Em virtude de Klaus ter desencarnado por morte violenta, foi instaurado à revelia da família, processo judicial para ser apurada a responsabilidade do Ingo que se encontrava ao volante. Evidentemente confirmou-se a sua inocência.

Quero ver você feliz, com a nossa Monika e confirmando a alegria de nossos pais. Rogo a você, recordar-me sem desastre e sem lágrimas.

Deixe que se fale em torno de nós dois o que o mundo quiser. Entre nós, a confiança de irmãos sobreviverá acima de qualquer acidente da vida. Quero a você tanto bem e se sofro é somente ao pensar no que você pensa sem razão. Não poderíamos ter evitado aquele encontro-desencontro, em que eu viajei e você ficou.

Sinto-me contente ao dizer isso. Desejo que nossos pais não sofram tanto. Fui trazido a uma vida nova, onde, ao que me parece, todos renascem chorando, como crianças que chorando aparecem no mundo. Isso é uma fatalidade.

Como ver nossos pais em pranto, a irmã pesarosa e você em lágrimas, sem prender o coração a tudo isso?

Agora, creio eu, você varrerá do cérebro qualquer lembrança inadequada. Peço-lhe, mas peço-lhe com todo o meu amor de irmão para irmão que você se refaça. Pense, Ingo. O Natal vem perto e quero ver o papai alegre outra vez; quero ver a mãezinha confiante e você a me representar em casa.

Não acredite que seria diferente se você não estivesse comigo ou eu com você. Tudo estava em plano. Parece que um estudo sobre atração, na lei de causa e efeito, teria a matemática de uma lição de química.

Mais tarde é que se poderá comentar o porque do que me aconteceu. Pouco a poupo, vou entrando no conhecimento das causas que determinaram a minha viagem brusca para cá. Peço a você, querido irmão, e meu melhor amigo, lavar o pensamento na fonte da confiança em Deus.

Mãezinha, não chore mais; meu pai, auxilie-me, pensando em minha vinda para o Mundo Espiritual, como sendo fato normal. Lembre-se, papai, de que o senhor sempre nos ensinou a colocar a cabeça sobre o coração para pensar direito. Aquela sua serenidade diante da vida sempre foi um modelo de conduta e de paz.

Agora, chegou a minha vez de lembrar isso, com o meu respeito nunca desmentido aos seus conselhos.

Não permita que o nosso Ingo se entristeça, a ponto de inconscientemente desejar a morte, como vem acontecendo. O senhor e a mamãe possuem nele um filho valoroso e irrepreensível e eu continuo a terem nosso Ingo o meu melhor amigo.

Estou bem, reaprendendo e querendo acertar.

Basta me auxiliem nas vibrações e conversas de casa, com mais ânimo para o irmão que amo tanto, e terei paz suficiente para prosseguir em meus estudos.

Meu ideal de aperfeiçoar o alemão e o inglês, para penetrar agora a química com o pensamento clareado pela religião, está cada vez mais vivo.

Pai, abençoe seu filho; Mãezinha, receba o meu abraço de respeitoso afeto com a nossa Monika em nossa lembrança, e você, meu caro Ingo, receba meu coração agradecido, rogando lhe para que fique feliz.

Ontem passou, hoje está seguindo para fora do calendário e o nosso amanhã é uma luz que peço a Deus seja cada vez mais brilhante.

Deixando nestas páginas todo o carinho que sou capaz de sentir por todos, sou o filho e o irmão muito grato, por todas as bênçãos que sempre recebi em casa e pelo carinho de todos.

Muito de coração para coração, recebam todos o agradecimento e as melhores esperanças do

 

Klaus

Klaus Heller

10 de Dezembro de 1977

 

 

 

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Leopoldo Jose Rusciolelli França

 

São Paulo (SP) - 22 de janeiro de 1960

São Paulo (SP) - 16 de abril de 1981

Filho de Emanoel Santos França e de Itália Rusciolelli França, ao partir para o Plano Espiritual, Leopoldo dividia o convívio familiar com os irmãos Luciano Antônio e Antônio Magno Rusciolelli França.

Sua desencarnação decorreu de acidente de automóvel na capital paulista, em abril de 1981, quando contava 21 anos. Leopoldo José estudava Química em Araraquara-SP e presidia o Diretório Acadêmico de sua Faculdade.

 

Palavras dos pais do comunicante:

 

"As palavras de nosso filho, através das mãos de Chico Xavier, transformaram-nos totalmente.

Do desespero passamos à compreensão de que nosso filho não partiu antes da hora, o que muito nos tranqüilizou.

A mensagem foi a maior bênção que nós recebemos de Deus."

Itália e Emanoel França

 

Mensagem

 

Querida mãezinha Itália, peço a sua bênção, rogativa que com todo o meu coração estou endereçando ao Papai Emanoel.

Estou auxiliado para dirigir ao seu carinho as notícias que vou articulando...

Mãe querida, as nossas lágrimas escorrem juntas. Até agora ainda não me satisfiz com essa carência de intercâmbio em que me vi, de momento para outro...

Enquanto lhe escrevo, ouço novamente as suas abençoadas palavras: "Meu filho, muito cuidado no trânsito?".

"Filho, pense em você e pense em nós, sempre que a velocidade se faça tentação em você ou em seus amigos?"

Escutava, e muitas vezes respondia com um beijo de carinho e reconhecimento, traduzindo a minha gratidão à frente de suas cautelas justas.

Todo esse livro de exortações faladas por seu amor, me retornou à memória, quando o acidente de abril do ano passado nos abateu.

Ignoro se a máquina estava fora de órbita quanto à quilometragem que nos competia obedecer.

O que sei, com certeza, é que a explosão de muitas bombas reunidas não nos atingiria tanto quanto aquele choque que me arredou da consciência de mim mesmo...

Tudo foi um momento, que a gente mesmo não sabe avaliar. Pensei no Jorge e nos companheiros outros (l), mas sentindo que a extensão do desastre era grande demais para que me acomodasse com qualquer idéia de isenção do trauma que me tomou, de todo, todas as energias, passei a refletir em seu amor e no carinho de meu Pai, na ânsia de pedir a Deus nos poupasse conseqüências imprevisíveis.

1) Jorge Alberto Machado da Silva, amigo que também faleceu no acidente.

No entanto, isso me foi negado pela urgência do chamado a que estávamos intimados todos, no veículo em pânico e, ao invés de pensar ou de rezar, notei que as minhas forças se esvaíam.

Passei a ouvir vozes, sem compreendê-las muito bem, entretanto, não me era possível oferecer respostas certas. Achava-me na condição do menino habituado a se manifestar por um instrumento que não mais me oferecia condições para interpretar qualquer desejo que me nascesse da mente atribulada...

Não sei quanto tempo estive assim entre a sombra e a luz, entre a vida e a morte...

Lembro-me de que em certo momento, um homem de fisionomia serena se abeirou de mim, e me chamou pelo nome que era próprio, convidando-me a segui-lo...

As dificuldades e as dores eram tantas que não hesitei em pedir a ele em pensamento me auxiliasse a erguer o corpo estragado e consegui receber-lhe o abraço de apoio em cuja escora, tomado de esperança, me levantei...

Bastou enunciar essa esperança de voltar a casa e desmaiei naqueles braços amigos que o mensageiro me estendia. Dormi, como se o contato daquele peito amigo me anestesiasse os pensamentos, e só mais tarde vim a saber que fora o avô Leopoldo (2) quem me oferecia a libertação.

2) Leopoldo Santos Franga, avô paterno, desencarnado ha 40 anos, em Coaraci-BA.

Efetivamente, acordei sob os cuidados dele e pude entender o que sucedera. Minhas perguntas eram semelhantes às indagações de uma criança que se vê sob enorme aflição para retornar a casa...

Foi então, mãezinha Itália, que reconheci tudo...

Doeu-me a separação da família, qual se fosse lesado na intimidade de minha própria alma. O seu rosto surgiu no espelho de minhas lembranças... Uma secreta ligação nos reunia um ao outro.

Penso que a saudade incendiada de sofrimento faz semelhante prodígio de integração. Estava longe e a via junto de mim, achava-me distante, seguindo a nova compreensão que me surgia e notava a sua face molhada de pranto a ensopar-me o rosto, lavado com as minhas próprias lágrimas.

Querida mãezinha, eu era um menino talvez brincalhão, mas trazia o seu amor por tesouro maior de minha vida, e ali, naquele recanto em que me vi de improviso, como que desterrado do próprio lar, as suas preces eram o meu alimento, conquanto o seu choro me atingisse sem que eu pudesse confortá-la!

Assim foram os meus dias primeiros.

Um amigo de nome Machado (3) me visitou, notificando-me que o Jorge Alberto igualmente viera em minha companhia, para a Vida Espiritual, e procurei sustentar a paciência e a serenidade, rogando a ele que apresentasse ao amigo as minhas lembranças com o sincero pesar de que me via acometido, ao recolher a referida informação.

3) Artur Ramalho Machado, avô materno do Jorge Alberto, falecido no Rio de Janeiro em 1977. (ver rodapé 1)

Com os dias pude regressar a casa para revê-los. O aspecto do Papai abatido e desfigurado me torturou o coração e ao vê-la tão triste e tão desolada pedi a Deus me fortalecesse a fim de sabê-la distante de qualquer desânimo que pudesse aniquilar-lhe o resto das forças.

Perdoem-me se lhes dei tamanho trabalho, e desejo saibam todos que tenho não apenas os pais queridos, mas também os queridos irmãos, Luciano, Antônio Magno, a irmã Lizete e a nossa pequena Luciana (4), por dentro do meu carinho e de minhas saudades incessantes.

4) A cunhada, Lizete Vernillo Rusciolelli França, esposa de Luciano e a filhinha do casal, Luciana Vernillo Rusciolelli França.

Mãezinha Itália, sou grato por todas as bênçãos com que me fortaleceram, pelas orações, pelos ofícios religiosos e pelas visitas da alma ao sítio em que se guardaram as minhas últimas lembranças.

Querida mamãe, não precisa conservar objetos que me pertenceram. A minha pequenina herança de rapaz pode ser distribuída com os meninos aos quais as minhas pobres lembranças talvez ainda possam ser úteis. Guarde os nossos retratos, somente isso.

A imagem é um ponto vivo para as nossas comunicações recíprocas. Sei tudo quanto me fala através de nossas fotos e rogo ao seu carinho lembrar-me como eu era, e não na fase terminal do corpo ou da roupagem estragada que não mais me serviu.

Aqui encontrei muitos amigos, o avô Rusciolelli, o bisavô José, a irmã Ana (5) e tantas afeições outras me amparam, e se posso pedir-lhe algo mais do que a sua bondade me proporciona sempre, peço-Ihe não chorar com angústia.

5) Avô materno, Olivieri Giovgnni Rusciolelli, bisavô paterno, José Amaro Golo Santos e tia materna, Ana Antônia Rusciolelli Silva, falecidos, respectivamente, em Salvador-BA, Jequiriçá-BA e no Rio de Janeiro.

E natural que a saudade nos traga pranto aos olhos, mas a nossa saudade é feita de esperança e fé em Deus; prometo-lhe e prometo ao Papai Emanoel melhorar com segurança assim que consiga vê-los a todos em casa, fortalecidos na confiança em Deus e valorosos para suportar as lutas naturais da Terra.

A Vida Física é uma viagem longa para uns e curta para outros. Meu tempo foi estreito, mas aqui, com a bênção de Jesus terei novas oportunidades de estudo e trabalho à frente. Auxiliem-me com a coragem e a paz que sempre me proporcionaram e seguirei mais contente em meus novos caminhos.

Mãezinha querida, aos irmãos e à nossa Lucianinha o meu abraço de muita gratidão, e reunidos à querida mãezinha Itália com o meu querido Papai Emanoel em meu carinho, ofereço-lhes, como sempre, o coração do filho agradecido, sempre mais agradecido.

Leopoldo José Rusciolelli frança

05 de Junho 1982

 

 

 

 

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Luciano Fábio Perutich

 

São Paulo (SP) - 04 de setembro de 1956

São Paulo (SP) - 15 de maio de 1976

Filho único do médico Paulo Trevisan Perutich e de D. Martha Nannini Perutich, Luciano seguiu para a Vida Espiritual com 20 anos incompletos, atropelado no Autódromo de Interlagos, na Capital Paulista, durante prova motociclística de que participava na condição de mecânico de uma das equipes.

 

Palavras da mãezinha do comunicante:

 

"Meu mundo acabou no dia em que meu filho morreu. Fiquei muito revoltada.

Quando recebemos a primeira mensagem do Luciano, sentimos um alívio muito grande, com a renovação de nossas esperanças, pois foi à confirmação de que a morte não existe e, sim, significa a passagem para uma outra vida."

Martha Nannini Perutich

 

Mensagem

 

Querida mãezinha, meu querido pai, peço me abençoem.

Há sempre um dia, entre os dias da saudade. O dia do reencontro. O momento de união dos corações que se albergam sob o mesmo teto de amor.

Sinto-me contente em falar-lhes assim, derramando a minha alegria orvalhada de lágrimas.

Mãezinha, o instante em que nos reconhecemos, de novo, mais perto uns dos outros, depois de ausência longa, assemelha-se ao alvorecer.

Para a retaguarda, fica a noite da ausência e os nossos olhos divisam apenas a bendita luz do amor redivivo que brilha e brilhará sempre, além do tempo e da morte.

E, em meio desses clarões de madrugada espiritual, nossas mais betas esperanças se destacam por flores carinhosamente cultivadas por dentro de nós, cujas pétalas trazem ainda o orvalho das sombras da separação.

Vendo-a com meu pai aqui junto de mim, é qual se eu próprio renascesse para amá-los cada vez mais.

Que o coração chora nos dias da carência afetiva, não podemos negar, e que a felicidade é sempre um misto de riso e pranto, até a nossa união integral na Vida Maior, é outra realidade que não nos cabe discutir.

Compreendamos, assim, que apesar da proteção recebida, não obstante o carinho das duas Mães que me embalaram de novo, tentando substituir-lhe os braços queridos, a adaptação à vida nova me custou o alto preço de quem daria tudo para ficar ao lado dos pais queridos, (1) mas que as leis da vida determinavam partir...

1)     Avós que o acolheram no Plano Espiritual.

Regressei no tempo justo, de vez que a minha conta dos dias terrestres previa a minha volta na ocasião em que as circunstâncias me compeliam a deixar o corpo físico.

Entendo tudo isto, entretanto, reconheço que o Pai querido me esperava, de modo a que eu pudesse dar prosseguimento à realização dos seus planos de homem de bem...

E, por isso, me senti a princípio, qual a árvore amadurecida em determinado solo, constrangida a sofrer severo transplante para um campo diferente.

Creio que não necessito retratar com palavras as emoções que atravessamos na prova recíproca, pela qual nos vimos distanciados. Em meu íntimo parecia trazer todo um gabinete fotográfico, no qual as imagens de nossas inquietações mútuas se refletiam...

Foi a prece, querida mamãe, com a vovó Martha que me fortaleceu. Sei que temos nela, a mãezinha; da vovó Anna (2), tenho recebido os maiores testemunhos de carinho, mas para mim são duas mães que continuaram o seu amor e o amor de meu pai em meu coração.

2) Martha Nannini, bisavó materna, falecida em 1951 e Anna Nannini, avó materna, desencarnada em 1972.

Através da prece, adquiri forças para aceitar as ocorrências que me trouxeram novamente à VIDA ESPIRITUAL e compreender que, muitas vezes, as Leis Divinas se fazem conhecer por outros nomes quais sejam "imprudência", "rebates falsos" ou "precipitação", de vez que naquele alarme inverídico estava o acatamento à prova que me aguardava (3).

3) Luciano participava da competição em Interlagos, exercendo as funções de mecânico de uma das motos. Em determinado momento, os alto-falantes chamaram-no, alegando que o piloto sob a sua responsabilidade se acidentara, o que fez com que o jovem atravessasse a pista para socorrer o amigo, sendo colhido por outra motocicleta. Verificou-se depois que não houve acidente algum com o piloto de sua equipe; simplesmente havia acabado o combustível de sua moto, fato que gerou o alarme falso que levou o rapaz à desencarnação.

Não tenho qualquer deslize alheio a lastimar. Graças a Deus a nossa fé superou quaisquer outros sentimentos suscetíveis de anuviar-nos o espírito. Agora, com o amparo dos nossos Maiores, tudo é dia claro e estamos seguindo adiante com idéias novas e novos sonhos de trabalhar e servir.

Sou muito grato ao carinho com que meu pai atendeu às minhas requisições afetuosas, pelas quais, quanto possível, busquei-lhe, noite a noite, o coração para fé viva de Deus. Isso, mamãe, para nós é acréscimo de coragem para as tarefas que estamos abraçando, no caminho das bênçãos de Jesus.

Comigo vieram a vovó Martha e a vovó Anna que lhe solicitam continuidade no devotamento ao vovô que necessita de nossos cuidados. Abençoado tronco no chão da vida, naqueles braços fortes e amorosos, tecemos o ninho de nossa vida atual e nos sentimos felizes, em lhe observando a ternura para com o nobre lidador atualmente ferido pelas saudades que lhe fustigam o peito (4).

4) Jacob Nannini, avô materno.

Mãezinha, para o seu amor coube-me o privilégio de retribuir-lhe juntamente do meu pai e da querida tia, a madrinhas, (5) as bênçãos e as alegrias que lhe devemos. Não tenha receio, nas horas difíceis do lar estaremos mais unidos ao seu coração de filha e de irmã, com as nossas energias acrescentadas pelo amparo daqueles benfeitores dedicados que nos suprem do Mais Alto.

5) Terezinha de Jesus Nannini, tia materna, presente à reunião em que Chico recebeu a mensagem do Luciano.

O tio Ítalo tem sido um companheiro quase constante para nós, inclusive o meu bisavó Perutich, que nos acompanha com manifesta bondade (6). Sinto-me confortado em lhes oferecer estas notícias, porquanto, parece que repartir os sentimentos é iluminar a nossa própria alma com a bênção das criaturas que mais amamos.

6) Ítalo Avari, tio-avô, desencarnado em 1972. Pedro Perutich, bisavô paterno, falecido na Iugoslávia no Reino de Montenegro, no início do século.

Tudo segue presentemente com mais esperança, porque a nossa confiança em Deus, no espinheiral da separação, ganhou mais substância e mais autenticidade. Louvado seja Deus!

Do tio Antônio (7), posso dizer-lhes que vai recuperando a própria paz com a anestesia do esquecimento. Para cá trazemos o que somos e sentimos na soma de todas as nossas ações e emoções reunidas e sabemos que no saldo da lembrança do livro de nosso tio Antônio, algumas parcelas de mágoa deveriam desaparecer, a fim de que ele usufrua toda a paz que merece, e essa operação de poda vem sendo feita gradativamente.

7) Antônio Nannini, tio materno, que faleceu oito meses antes do Luciano, a 10 de setembro de 1975, em meio a acentuados padecimentos físicos e afetivos, daí a observação de Luciano.

De qualquer modo, os nossos motivos para agradecer a Deus são tantos e tamanhos que quaisquer tisnas de sombras se desfazem na luz de nossa fé, a nossa fé-certeza na Providência e na Bondade do Senhor.

Querido pai e querida mãezinha, com todo o nosso afeto à nossa querida Cibele (8), hoje querida irmã do coração, e com todos os nossos laços da alma, as lembranças afetuosas de todos, guardo carinhosamente no cofre da memória.

8) Namorada de Luciano, quando de sua desencarnação.

Mais uma vez, expresso-lhes a minha gratidão por não haverem desejado conservar qualquer herança de rancor contra pessoas e situações com relação aos episódios que me assinalaram a vinda para a existência diversa em que hoje me encontros. (9)

9) Ver comentários em rodapé de página anterior, sobre o alarme falso durante a competição de Interlagos.

Todos somos filhos de Deus, e nessa condição, compete-nos auxiliarmos sempre uns aos outros, atendendo a obrigação que os Céus nos traçam a todos.

Isso será sempre assim, porque, se agora há quem nos solicite compreensão, surgirá sempre um momento, em que seremos nós quem a requisite em favor de nossa paz.

Mãezinha querida e meu querido pai deixo-lhes nas mãos devotadas que beijo com respeito e carinho, todo o coração do filho reconhecido, sempre o filho e companheiro de todos os momentos.

Luciano

05 de Março 1979

 

Segunda mensagem de Luciano Fábio Perutich, psicografada em Uberaba (MG)

Na noite de 16 de abril de 1980

 

Feliz dia das mães

 

Querida Mãezinha Martha, reúno-a com meu pai no coração, pedindo a Deus nos abençoe.

Hoje, Mãezinha Martha,

tomei um pedaço de céu azul;

a tinta luminescente das estrelas;

a harmonia do vento brando;

o perfume das flores;

a serenidade das árvores;

a cantiga das fontes;

a melodia das aves;

a alegria do alvorecer;

a limpidez dos lagos tranqüilos;

as rendas da espuma;

as opalas do sol;

as esmeraldas da erva;

a magia da prece;

a ternura do amor;

o sorriso das crianças;

o carinho da esperança;

a beleza da espontaneidade;

a segurança da fé;

a grandeza oculta do perdão;

a humildade dos insetos;

o deslumbramento da natureza;

e misturei tudo isso com meu amor e com minha saudade, para desejar-lhe, com o meu pranto de felicidade e reconhecimento, um Feliz Dia das Mães.

Beijos em sua fronte querida, do seu filho sempre grato.

Luciano

16 Abril 1980

 

 

 

 

 

 

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Márcia Bordallo de Souza

 

Rio de Janeiro (RJ) - 24 de março de 1964

Rio de Janeiro (RJ) - 10 de junho de 1979

Primogênita do casal Antônio Teixeira de Souza e Nilva Bordallo de Souza, Marcinha partiu da Vida Física para a Vida Maior com apenas 15 anos, por morte súbita.

Com os pais, ficaram os filhos mais novos, Marco Antônio e Luciana.

 

Palavras da mãezinha da comunicante:

 

"A alegria foi tão grande que não existem palavras para definir o que senti naquele momento. A mensagem me trouxe grande conforto, constituindo-se em efetivo alivio para o meu sofrimento.

Tudo parece que melhorou, mas a saudade, não há tempo que apague."

Nilva Bordallo de Souza

 

 

Mensagem

 

Querida mãezinha Nilva, abençoe-me.

Ouvi o seu chamado e não podia ocultar-me.

Mãe, as lutas são nossas. Perdoe a sua Marcinha que lhes deu tanto cuidado e tanto trabalho...

Sei quanto se passa. Demorei algum tempo a retornar-me no campo das próprias lembranças, mas presentemente me reconheço, claramente, eu mesma.

A morte, mamãe! Quem sabe defini-la? Não será a morte a própria vida em outra face? Pergunto assim, porque quando abri o gás para o banho notei que minhas forças fugiam...

Uma espécie de queda leve me impressionou os pensamentos e por mais que desejasse não consegui reagir. O coração de gente verde também pára.

As vezes, as pessoas crescidas não imaginam isso, entretanto, ao que me parece, o corpo físico se assemelha a um relógio cuja corda está nas mãos invisíveis dos Mensageiros de Deus. Que seria a parada cardíaca senão isso? Ausência de corda na condição precisa.

Não devo alongar-me em considerações. Quando ansiava atuar contra a força que me imobilizava, vi, de relance, uma senhora que me abraçava. Tive a impressão de que, ela própria, trazia o bálsamo que me agravaria o descanso compulsório.

Dormi. Até que acordei num ambiente novo para sofrer, com o seu carinho, o calvário de nossas experiências últimas.

Escutei os pensamentos de papai dentro de mim, como se fosse a voz dele articulando aos meus ouvidos. Por todos os modos, ao meu alcance, com o auxílio da vovó Ana (1), pois era ela, a senhora que me enlaçou na retirada do corpo físico e no afastamento de casa, fizemos, ela e eu, quanto possível para que o papai se reanimasse.

1) Tia-bisavó materna.

Compreendo as suas lágrimas com a nossa separação e com a ausência dele.

Mãe querida, não o censure. A saudade quebrou aquele coração que não nos esquece. Visito-o muitas vezes em Três Córregos (2), para onde se retirou, e busco fazê-lo meditarem seu carinho, em nossa Luciana e em nosso Marco Antônio, tanto na vovó, como em todos os nossos...

2) Fazenda próxima de Teresópolis. Onde, após o falecimento de Marcinha, o pai passou a residir, atormentado pela dor da separação.

Por enquanto, a amargura lhe cristalizou os impulsos afetivos e ainda pergunta, sem cessar, o porquê da minha desencarnação, sem compreender que os chamados das Leis de Deus são forças a que nos cabe a obrigação de obedecer e louvar, porque a Bondade dos Céus faz, em nosso favor, sempre o melhor...

Quando possível, rogue ao querido papai Antônio para que regresse a nós. Precisamos dele em casa. A sua bondade de esposa e mãe reconhece que não existem outros fatores que o afastam temporariamente de nós... É só o receio de contatar com a realidade.

Mãezinha lembre-se de minha solicitação para que recebesse mais uma criança...

Sentia falta de um nenê, para nós, em casa. Seu carinho me falou na cirurgia sofrida e eu me referi à capacidade dos médicos para lhe devolverem os recursos da maternidade...

Lembro-me de seu espanto e de seu sorriso... Diga ao papai Antônio que eu pressentia a volta ao Mundo Espiritual.

E agora, quem sabe? Deus poderá permitir o meu regresso ao lar em um corpo diferente, mais robusto e mais apto à existência no Plano Material propriamente dito... Não sei se a Providência Divina me concederá semelhante bênção, no entanto, o impossível não existe para Deus.

A alegria e a coragem renovadas no papai seriam para mim energias revigorantes. Penso assim e continuarei com meus novos ideais.

Ainda estou muito presa ao problema de reerguer o nosso querido amor para a vida de sempre. Estou como lhe acontece, fixada nele, suplicando a Jesus a bênção de vê-lo de retorno ao nosso ninho doméstico. Esperemos o amparo da       bondade de Deus.   Querida mãezinha Nilva, peço-lhe não conservar lembranças minhas com exceção dos retratos, porque retratos são janelas da memória, e através deles nos entenderemos pelo pensamento.

Rogo-lhe força de fé renovada. O Marco e a Luciana estão à nossa frente requisitando assistência e, de meu lado, ainda alimento a esperança de regresso...

Em suas preces continue a lembrar-me. Preciso de seu apoio, a fim de me envolver na certeza de que não estou sonhando inutilmente.

A vovó Maria (3) também tem sido para mim uma bênção e uma luz.

3) Possivelmente a bisavó materna, há muito desencarnada.

Não posso escrever mais. Peça ao papai querido auxiliar-nos, trazendo-nos, de novo, a sua proteção insubstituível.

Beijo nos irmãos queridos e muito carinho a todos aqueles que são nossas escoras e esperanças em família.

Para o seu amor e para a dedicação do pai Antonio os melhores sentimentos de ternura e reconhecimento de sua

Marcinha

Marcinha Bordallo de Souza

23 de janeiro de 1981

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Nélson Castro Dantas

 

São Paulo (SP) - 17 de agosto de 1957

São Paulo (SP) - 19 de fevereiro de 1980

Filho de Nélson Camargo Dantas e de Alice de Castro Dantas, Nélson desencarnou aos 22 anos, no carnaval de 1980, quando seu veículo foi tragado pelas águas do Rio Tamanduateí, bastante elevadas, em função de torrenciais chuvas que desabaram sobre São Paulo naquela época, fazendo com que o curso do rio extravasasse de seu leito normal.

Seu grupo familiar é constituído também pela irmã, Maria Cristina Dantas Janssen, casada com Philips Janssen e pelos sobrinhos, André e Camila, todos lembrados pelo Nélson na mensagem recebida por Francisco Cândido Xavier.

 

Palavras dos pais do comunicante:

 

"Embora tenhamos muita saudade daquele menino maravilhoso, sua carta nos devolveu a vontade de viver.

Recomeçamos a vida com a certeza de que não perdemos o filho querido que continua conosco, junto de nossa filha, do genro e dos netinhos."

Alice e Nélson Camargo Dantas

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha Alice e querido Papai Nélson, peço para que me abençoem.

Este é um momento que vivo solicitando sem esperar. No entanto, o instante está para o meu anseio e devo escrever pelo modo que se me faça possível.

Não sei o que se passa. Quero manter-me sereno, mas será possível o reencontro assim, entre um filho e os pais que ama tanto, sem que as lágrimas atinjam o papel antes das palavras? Penso que, em meu caso, isso não seria possível. Lembro-me de todas as minudências que nos precederam a separação. Depois dos acontecimentos amargos, concluí que a chamada morte possui muitos meios de se fazer sentir...

Às vezes, está num jardim que a gente visita para entretenimento, num trecho de caminho em que duas dificuldades se encontram, na merenda que se usufrui num passeio, na companhia de um amigo de cujos passos estejamos compartilhando...

Para mim, lembre-se a querida Mamãe, a morte estava num tilintar de telefone...

Era um convite para uma festa de corações amigos. Não consegui recusar. Lembrei-me de que havia recebido palavra de meu pai especialmente quanto ao carro para servir. Acedi e fui ao encontro das jovens que apelavam para mim.

Não compreendi a secreta intuição de que me ausentava para assunto grave, porque beijei a Mamãe como se fosse fazer uma viagem longa. Ela própria se admirou e pousou em mim o olhar interrogativo.

Depois foi a noite, os minutos de paz e intimidade e, em seguida, a chuva torrencial. Retomando o veículo, notei que deveríamos adotar o melhor caminho, seguindo vagarosamente. Não me faltou cuidado. Afinal, não me achava a sós. Em minha companhia, estavam a Cleide, a Bete e a Carmem (l)...

1) Colegas que se encontravam no veículo que submergiu. Cleide Aparecida Rodrigues de Almeida também desencarnou e as irmãs, Elizabeth e Cármen Arrianrico conseguiram sobreviver ao acidente.

Seguíamos com calma, no entanto, as águas se acumulavam nos recantos.

Tive receio que as correntes alcançassem o motor e diligenciei quanto pude para atenuar os obstáculos.

Mas, em meio da marcha que se tornava difícil, um ônibus apareceu e vibrou de modo estranho na massa líquida... Aquele impacto de força nos deslocou o carro amigo e seguro, atirando-o para o rio...

O Tamanduateí havia desaparecido no dilúvio que submergia o piso da ponte próxima e fomos desviados para o corpo do rio, sem que nos apercebêssemos disso...

Recordo o espanto de Elizabete, ao descobrir que a nossa condução tentava planar inutilmente.

Ela foi a primeira a alertar-nos quanto ao perigo e dispôs-se a nadar, auxiliando-nos. Junto da irmã, começaram a saída, no entanto, Cleide e eu tivemos a esperança de que o carro conseguisse sobrenadar e demoramo-nos um tanto...

Foi o bastante para distanciar-nos das companheiras e, de mãos entrelaçadas, compreendemos que nos restava unicamente a rendição à vontade de Deus.

Não sei se consegui rezar, embora minha intenção incluísse semelhante dever.

Sei apenas que apoiados no veículo que submergiu, sentimo-nos ambos sufocados, sem qualquer possibilidade de reação...

Até aí, conto o que nos sucedeu... Depois foi a exaustão e com a exaustão um sono invencível.

Quanto tempo estive nesse estado de inconsciência, não consigo imaginar...

Um momento surgiu em que me apossei do próprio raciocínio. Achava-me fatigado, respirando dificilmente qual se estivesse sob o domínio de um edema desconhecido para mim.

Tanta vida me assinalava o pensamento que era impossível crer na morte.

A idéia de um posto de emergência para socorro imediato me veio à cabeça, mas isso se desfez quando a senhora de semblante suave, que me velava junto ao leito alvo, se confessou a mim, afirmando-me ser a Vovó Ernestina, enquanto que outra criatura amiga me aplicava remédios e balsamizantes e esclarecia que me achava diante de nossa Ana (2), zeladora e parenta do coração, a quem devo tanto...

2) Ernestina Teixeira Borba, bisavó materna, faleceu em São Paulo a 13 de março de 1959: Ana Joaquina, parenta do coração, diligente amiga da família, partiu para o Plano Espiritual, dois meses antes do Nélson, a 26 de dezembro de 1979.

A percepção de que me achava em outra vida não foi para mim uma tempestade de revolta, mas foi um aguaceiro de lágrimas.

Queria vê-los, pais queridos, e rever a nossa Maria Cristina, tentando informar-me igualmente sobre o destino das companheiras que me haviam partilhado a difícil experiência...

 Entretanto, com que voz haveria eu de manter o diálogo desejado? Chorei à feição do menino desterrado de casa e, depois, à medida que me conscientizava quanto à nova situação, via e ouvia as indagações e os gestos da Mamãe, do Papai, da vovó Ignez (3), de Maria Cristina e de todos os nossos...

3) Avó materna. Ignez Borba de Castro.

Não preciso alongar-me sobre as emoções que me dominaram. Penso que somente agora consigo liberar as derradeiras inquietações em lhes transmitindo minhas notícias. Peço-lhes serenidade e conformação.

A vida oferece a cada um de nós determinada porta de acesso ao mundo físico e para cada pessoa traça uma saída diferente...

Sabe a Lei de Deus porque me vi com a Cleide na hora extrema, descendo à profundidade de um rio quando nos acreditávamos no chão.

Rogo à Mãezinha Alice não se afligir porque haja ficado a minha roupa encharcada no curso do rio, sem meios de voltar pára alguma lavanderia...

A verdade é que já nos encontrávamos fartos de tanta água e, decerto por isso, fui liberado da aflição de causar maiores aflições à família.

Um corpo físico, de algum modo, é semelhante à vestimenta. Ninguém suponha que isso seja um sinal de lástima.

Volto, em espírito, aos meus entes amados e isso é o que me interessa. Graças a Deus, com exceção das saudades, vou seguindo na recuperação necessária. Rogo aos pais queridos me auxiliarem com a certeza de que estou vivendo em outras dimensões da existência.

Já sei que a nossa Maria Cristina tem feito grande progresso, organizando uma família nova e que Elizabete e Carmem não foram chamadas à Vida Espiritual como ocorreu comigo e com a Cleide e peço a Jesus para que tudo esteja reajustado em nosso ambiente familiar e nos grupos de nossos amigos. A Cleide foi acolhida por dedicados familiares dela e, de minha parte, inicio nova caminhada...

Mãezinha Alice, não chore mais por seu filho, embora não consiga ainda lembrá-la sem que a saudade me aperte o coração, mas os nossos Benfeitores daqui nos auxiliarão.

Agradeço ao Papai Nélson o auxílio com que nos fortalece com o seu valor de sempre.

Um beijão à irmã querida, ao irmão que se lhe fez o pai de um tesouro de carinho, com lembranças a todos os amigos.

E para os pais queridos deixo nesta carta o coração reconhecido e esperançoso do filho que tanto lhes deve e que roga a Deus conservá-los felizes sempre e sempre.

Abraços de muito amor e gratidão do

Nelsinho

Nélson Castro Dantas

30 de Janeiro 1981

 

 

 

 

 

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Sidney Rodrigues

 

São Paulo (SP) - 25 de fevereiro de 1957

São Paulo (SP) - 02 de dezembro de 1976

Filho de José Rodrigues Filho e de D. Shirley Rodrigues, Sidney desencarnou aos dezenove anos incompletos, vítima de disparo acidental por arma de fogo.

O jovem paulistano escreveu aos pais, através de Chico Xavier, duas mensagens, a primeira dezenove meses após a partida e a segunda mais recentemente, em dezembro de 1981.

 

Palavras dos pais do comunicante:

 

"Após a primeira mensagem de nosso querido filho, começamos a encontrar novamente um pouco de paz e com o recebimento da segunda, algum tempo depois, sentimo-nos bem mais fortalecidos espiritualmente, encontrando forças para continuar a viver e para concentrar nos outros filhos, Patrícia e José Carlos, todo o nosso amor."

Shirley e José Rodrigues Filho

 

Mensagem

 

Querida mamãe, querido papai, meu querido José Carlos, venho com meu avô José Rodrigues (1) para comunicar-lhes que estou melhor.

1) O avô paterno José Rodrigues faleceu em São Paulo, no ano de 1963, aos 65 de idade, quando Sidney contava seis anos.

Não fossem as dúvidas complicadas que acompanharam a minha despedida involuntária do corpo físico, estaria mais forte. Vejo-me, porém, no círculo das indagações que não posso responder.

Querido irmão, levante seu pensamento a meu respeito, estude, trabalhe e ame a vida.

Ninguém me ofendeu e nem pratiquei o suicídio, uma tese que ainda me esfogueia a cabeça fatigada (2).

2) Sidney esclarece que seu desligamento do corpo foi acidental, apagando a suposição admitida no quartel da Aeronáutica, onde servia, de que provocara o suicídio. Aliás, as próprias autoridades militares ante a explicação do jovem, através da psicografia de Chico Xavier, aceitaram a tese de morte involuntária.

Efetivamente me achava na intimidade do quartel, mas procurava limpar a arma com excesso de atenção que passou a desatenção.

Buscava lustrar o instrumento em minhas mãos, quando no silêncio do gabinete alguma coisa explodiu.

O projétil escapou, sem que eu percebesse, da arma que me caíra das mãos num movimento impensado de minha parte e a bala ricocheteada me alcançou à esquerda, na base do crânio.

O choque foi indescritível. Entretanto, essas horas que devem ser de redenção para nossa alma, mas que se nos mostram terríveis, ante a experiência no mundo físico, me impuseram estranha inércia.

Apaguei-me, sem gritar. De momento, compreendi tudo. No entanto, era tarde para registrar qualquer esclarecimento; um torpor invencível me estirou na horizontal, ao que suponho, porque a inconsciência me tomou inteiramente.

Em verdade, acordei com o assombro de quem se recompõe, depois de se haver suposto extinto para sempre, mas a breves minutos, vim a saber da realidade, entre aflições e lágrimas que não conseguia evitar.

Ouvia as lamentações que me vinham de casa, mas até hoje, quando estamos na véspera do dia em que se completarão dezenove meses sobre a infeliz ocorrência, estou emaranhado nos pensamentos contraditórios, sobre o que me aconteceu.

Papai, se o senhor puder, explique o que confesso aos oficiais que me dirigiam com distinção e bondade, mas se minhas explicações não forem aceitas, em vista de estar escrevendo de uma outra existência em novas dimensões, rogo ao senhor, à mãezinha e a meu irmão concordarem com as teses que foram apresentadas para que se tenha o encerramento definitivo da questão.

Creio que minhas informações são válidas, porquanto, em consciência limpa, não posso deixar meus antigos chefes e companheiros enleados numa teia de desconfianças e dúvidas, sem razão de ser.

Entretanto, para que a paz venha morar conosco outra vez, peço que assinem os laudos que vierem à nossa consideração, sem qualquer ressentimento.

Rogo isso, porque sempre recebi atenções e gentilezas de todo o pessoal da Aeronáutica que prossigo reverenciando com o máximo respeito. (3)

3) A respeito, ver a mensagem seguinte.

E feito isso, espero retomar-me na tranqüilidade de que necessito, a fim de estarem segurança. Referências a nós outros, neste mundo em que hoje vivo, com pontos de interrogação e notas de reticências sempre no ar, como que asfixiam a pessoa em minha situação. Agradeço o que conseguirem fazer por minha paz.

José Carlos, reanime-se, irmão, a vida é grande e bela demais para que se possa pensar em abandono das obrigações com que somos honrados. Confio em você, no abraço de sempre.

E aos pais queridos, aos quais rogo perdão por uma falta que não cometi conscientemente, deixo aqui estampado nestas letras pobres todo o coração do filho que continua a viver para ambos, cada vez mais reconhecidamente,

Sidney

30 Junho de 1978

 

Segunda mensagem de Sidney Rodrigues,

Psicografada em São Paulo (SP)

No Centro Espírita Perseverança

Na noite de 06 de dezembro de 1981

 

Querida Mãezinha Shirley e querido Papai, estou presente e rejubilo-me com a oportunidade de afirmar-lhes que prossigo em meu reajuste espiritual com a segurança de que necessitava.

Agradeço ao nosso caro José Carlos e aos familiares que se incumbiram de me auxiliar no que se refere à tese inverídica de minha passagem violenta no rumo da vida diferente, em que, presentemente, me encontro.

Graças a Deus, a idéia suposta de suicídio desapareceu e a verdade foi restabelecida, mesmo no conceito de chefes amigos que, de imediato, não conseguiram atingir as conclusões exatas, em torno do acidente que me trouxe de volta.

Um engenho qualquer exige muita atenção no manejo respectivo e estimaria de meu lado, imprimindo o possível proveito às minhas palavras, asseverar a todos os amigos no Plano Físico, que não apenas a arma habilitada a desfechar esse ou aquele projétil é um perigo que nos cabe manusear cuidadosamente, mas também uma lâmpada elétrica, um fio de força a descoberto, um bico de gás, a chama de uma vela, o volante de um carro, a tomada de energia desvalida de proteção, constituem agentes da vida a nos solicitarem cautela e vigilância para que não se convertam em forças da desencarnação.

Comigo, um leve instante de pensamento vago me induziu a perder a arma de serviço, cujo projétil, casualmente disparado, ricocheteou, com violência, para me alcançar de maneira indescritível.

Querida Mãezinha Shirley, agradeço lhes por tudo de bom que me proporcionaram com as retificações precisas e espero continuar melhorando sempre mais as minhas próprias condições de serviço, a fim de lhes ser útil, a todos.

Minha carta ligeira está contendo os meus votos de Boas Festas a todos os nossos familiares, atento que me vejo à requisição de suas preces maternais, à espera de alguma palavra nossa.

O Avô José Rodrigues está em minha companhia e o Tio Antônio (l), igualmente, me acompanha, por amigo e parente do coração.

1) Antônio Medeiros Dias, padrinho e tio-avô do Sidney, desencarnou em São Paulo-SP, em 1971, aos 59 anos.

Querida Mãezinha, não dispondo de mais ampla quota de tempo, deixo ao seu carinho e ao carinho do Papai, associados ao devotamento do nosso querido José Carlos, todo o coração do seu filho, sempre grato,

Sidney

Sidney Rodrigues

06 Dezembro de 1981

 

 

 

 

 

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Sylvio Quero Luque Júnior

 

São Paulo (SP) - 07 de abril de 1973

São Paulo (SP) - 18 de abril de 1979

Filho de Sylvio Quero Luque e de D. Anita Alvares Quero, Juninho deixou nosso convívio, partindo para a Vida Espiritual, aos seis anos de idade, em virtude de chave moléstia de rápida evolução.

Com os pais, permaneceu a irmãzinha Adriana, dois anos mais jovem que Juninho.

 

Palavras dos pais do comunicante:

 

"Recebemos a primeira mensagem do Juninho quatro meses depois de sua partida. Sentimos indescritível alegria por tão grande dádiva de Deus.

A gente nem esperava a mensagem por estarmos pela primeira vez em Uberaba; não é possível descrever a emoção que sentimos.

Ficamos com a impressão de termos recebido uma carta do filho que não morreu, mas que está viajando."

Anita e Sylvio Quero Luque

 

Mensagem

 

Querida mãezinha Anita e meu querido papai Sylvio, a vovó Ana (l) me trouxe até aqui e coloca a sua mão sobre os meus dedos, para dizer que estou são.

1) Ana Guerreiro Toledo, avó materna, desencarnou em 1977, aos 72 anos, na capital paulista.

Venho pedir para não chorarem tanto, mamãe e papai; tudo devia ser como foi.

Ninguém acredite que o nosso amigo Dr. Flávio tenha tido qualquer descuido (2). Ele fez por mim aquilo que um protetor amigo realiza em auxílio de um menino que Deus lhe entregasse.

2) Medico pediatra do Juninho.

Perdoem-me, se dei tanto trabalho com aquelas dores que pareciam sem fim, Aceitem, peço-lhes com todo o meu coração, as determinações que me retiraram da Terra na hora em que tanto me desejavam crescido e forte para ser o companheiro do futuro. Papai, não pergunte mais a Deus por que aconteceu tudo aquilo; Mãezinha, auxilie ao papai na compreensão do sofrimento. Tudo me deram para que eu sarasse, mas aquele problema da dor era meu, por dentro de mim...

Tudo é para o bem. Assim aprendo hoje e quero aceitar a verdade.

Temos ainda a irmãzinha a me substituir e a vovó Ana, com a vovó Dolores (3), me dizem que existem muitos meninos doentes que também são meus irmãos. Papai e mamãe auxiliem a eles...

3) Bisavó materna, Dolores Toledo que deixou o Plano Físico há cerca de três décadas.

Às vezes, penso que estou num hospital repleto de crianças doentes e que chegara para me crer com os braços repletos de lembranças, para todos os que estão junto de mim. Aí, então, parece que acordo desses pensamentos e reconheço que já estou em outro lugar diferente, mas deste lugar pude vir com a vovó Ana e falar que melhorei.

A vovó me recomenda escrever que ela me recebeu nos braços quando adormeci, para viajar até onde estou e deixar-lhes um grande abraço.

E eu, querida mãezinha Anita e querido paizinho Sylvio, Ihes tomo as mãos entre as minhas para beijá-las e para dizer-lhes que estou em Oração a Deus para que a felicidade esteja sempre conosco.

Muito carinho, com saudades do filho muito grato que deseja crescer, para trabalhar, a fim de vê-los sempre mais alegres e mais felizes.

Sempre o filhinho, com todo o meu coração,

Juninho Sylvio Júnior

18 de Agosto 1979

 

Segunda mensagem de Sylvio Quero Luque Júnior, psicografada em Uberaba (MG), na noite de 13 de dezembro 1979

 

Querido papai Sylvio e querida Mãezinha, peço me abençoem.

Estou aqui partilhando a mesma saudade e a mesma esperança.

Desde abril tantos dias passaram...

Noto que cresci um tanto mais. Parece que de tanto pensar com as idéias dos pais queridos, estou ficando um rapaz, como se o tempo não tivesse mais qualquer influência sobre mim.

 Surpreendo-me a querer dialogar com os nossos, sobre os assuntos de agora e isso como que me arranca da meninice para a condição de adulto.

Não sei explicar. Qual se me houvesse matriculado num curso rápido de renovação, observo em mim mesmo essa ocorrência que me altera para melhor.

Estou conseguindo imaginar e confrontar as situações e as coisas com medidas diferentes daquelas de que eu dispunha. A vovó Ana me esclarece que estou retornando a mim próprio e continuo estudando a mim mesmo com o assombro de quem se vê transformado quase que de um dia para o outro...

Com essa nova imagem da vida, venho rogar a você, Paizinho Sylvio, aquela serenidade que me fará mais tranqüilo; a Mãezinha Anita se esforça e encontra em si mesma a base de paz que a fé lhe garante, mas o senhor, o meu amigo de todos os instantes, o querido pai a quem me uno com tanto carinho, ainda não consegue lembrar-me com a segurança de que preciso para me reconhecer mais seguro.

Pai querido estou melhor, mais forte.

Não acredite que eu poderia ter permanecido aí por mais tempo.

Sei que os seus sonhos de pai e de companheiro me situavam no futuro em que trabalhássemos juntos.

Ouço, ainda, as suas palavras queridas, marcando lugar para mim, nos dias que virão; no entanto, Papai, a vovó Ana, a vovó bolores, o vovô João, o tio Antônio e tantos amigos outros, que somente aqui vim a reconhecer, me informam que o tempo assinalado para a nossa união no Plano Físico devia ser realmente curtos.(1)

1) As avós, Ana e bolores, já foram identificadas na mensagem anterior. João Quero Fernandez, avô paterno, faleceu em São Paulo, com 59 anos, em 1952. Antônio Álvares, tio materno, desencarnou em 1976, aos 76 anos de idade, também em São Paulo SP.

Por isso mesmo, venho rogar a sua aceitação da realidade em que nos achamos.

As suas lágrimas do silêncio e dos recantos nos quais o seu carinho se coloca, a distância de todos a fim de fixar-me com mais precisão na tela mental, muito me preocupam.

Paizinho, as dores já passaram. Agora é a vida a buscar o nosso entendimento para o melhor a fazer.

Recorde que mamãe e Adriana (2) e tantos corações outros dependem de sua firmeza e de sua calma.

2) A irmãzinha. Adriana Álvares Quero, contava, quando o Juninho partiu, quatro anos.

Auxilie-nos com a sua conformação. O trabalho do bem, associado ao trabalho de cada dia, nos dará reconforto.

Tantas crianças lutando para sobreviver?

Tantos meninos aguardando mãos protetoras, a fim de crescerem para as tarefas que lhes são reservadas?

Auxilie-me com as suas forças e me habilitarei para cooperar nessa obra preciosa de amparo e de recuperação na faixa de serviço em que eu possa ser aproveitado.

O senhor, querido Papai, me encontrará em outros pequenos que esperam a felicidade na Terra, qual me ocorria?

E certo que entrei numa felicidade de outro tipo, mas necessito de sua alegria e de sua tranqüilidade para tomar posse dela?

Querido papai, eu amo a você com aquela confiança de sempre; mãezinha Anita saberá contar-lhe com que ânsia aguardava, cada dia, o seu regresso ao lar.

Tinha a idéia de que íamos ficar separados e cogitava de apegar-me cada vez mais à sua presença. Não fique triste com Deus porque eu tenha vindo assim tão cedo como supomos. Deus faz sempre o melhor.

Agradeço ao seu carinho todos os seus cuidados para comigo, ainda mesmo depois que voltei, trabalhando tanto para que minha memória seja guardada, mas peço-lhe autorizar a Mãezinha a doar tudo o que seu filho haja deixado com utilidade para outras crianças.

Para nós, querido Papai Sylvio, reservaremos a riqueza dos nossos corações unidos para sempre.

À medida que a sua paz se faça, mais forte e mais consciente de mim próprio me reconhecerei, conseguindo assim responsabilizar-me pelo trabalho novo e pelos novos estudos que aspiro a abraçar.

Mãezinha Anita compreenderá porque peço isso, de vez que ela igualmente se aflige com o seu abatimento. Ouço os pedidos da mamãe, solicitando apoio para o seu coração sensível e sei que a bondade de Deus não nos faltará.

O vovô Wenceslau (3) veio conosco e todos estamos fazendo votos para que o Natal em nossa casa seja repleto de paz e de confiança em Deus.

3) Avó materno. Wenceslau Álvares, desencarnado aos 44 anos, em 1946, em São Paulo - SP.

Peço aos meus pais não pensarem no Natal com qualquer recordação de sofrimento. Lembremo-nos todos de que Jesus nos ama. Essa certeza para nós todos deve ser motivo de grande júbilo.

A vovó Ana me auxilia a escrever e me recomenda terminarmos as páginas de carinho em que nos achamos juntos.

Para a irmãzinha querida, muito amor como sempre e para os queridos pais, meus companheiros e meus protetores de sempre, todo o coração do filho que pede a Jesus a todos nos ilumine e nos abençoe.

Sempre o filho agradecido,

Juninho

Sylvio Júnior

13 de dezembro 1979

 

 

FIM