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domingo, 2 de setembro de 2012

PORTO DE ALEGRIA–Francisco Cândido Xavier

Índice do Blog

 

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PORTO DE ALEGRIA

 

FRANCISCO CANDIDO XAVIER

ESPÍRITOS DIVERSOS

HÉRCIO MARCOS C. ARANTES

 

 

 

IDE

Instituto de Difusão Espírita

 

 

 

 

 

 

Apresentação.... Emmanuel

I - José Luiz - Modigliani de volta

Jose Luiz Marques Ferreira / 05

(São Paulo, SP)

II - “Brech gut. Es wird mich scher freuen ihnen nutzlich zu sein.”

(“Tudo bem. Me alegrará muito ser-lhes útil.”)

Jane Furtado Koerich / 33

(Florianópolis, SC)

III - A vida nova de ilustre médico recém-desencarnado

Dr. José Fonseca Guaraná de Barros / 47

(Campos, RJ)

IV - Deus tem caminhos para todos os filhos extraviados

Pedro Augusto Souza Gonçalves / 55

(Rio Janeiro, RJ)

V - Confidências de coração para coração

Juraci Borges Mendonça de Almeida / 60

(Uberaba, MG)

VI - Jovens em ação assistencial na terra

Kalil José Barbosa Chicaybam / 70

(Niterói, RJ)

VII - Primeiros momentos de desencarnação

Dr. Aluísio Antônio Maciel / 88

(Igarapava, SP)

VIII - "Com certeza passei pela prova que era minha dívida."

Jairo Coutinho da Rocha / 94

(Rancharia, SP)

IX - Custa-me confessar-lhes que estou cego

Décio Marcio Carvalho / 97

(Uberaba, MG)

X - Regresso de familiares queridos

Dimas Luiz Zornetta / 103

(São Paulo, SP)

XI - Deus permite que a vida nos faça o melhor

Aldarico Montaldi Filho / 111

(Campinas, SP)

XII - Filho amoroso regressa com a mesma linguagem

Maurício Sacheto Zuardi / 115

(Jaú, SP)

XIII - Do além, Clovis Tavares analisa sua obra "Mediunidade dos Santos"

Clovis Tavares / 119

(Campos, RJ)

XIV - Em jornada homeopática, filho querido também se empenha no combate à aids

Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça / 125

(Rio Janeiro, RJ)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Amigo leitor.

Aqui tratamos de um porto que nomeamos como sendo o porto de alegria, para grande parcela de amigos desencarnados.

O companheiro que se vale desse processo de volta ao lar humano, chega, habitualmente, em companhia de outros amigos na mesma condição, com a promessa de se lhe proporcionar o contato possível com a família que deixou na Terra.

O reconforto se lhe extravasa do coração e, da praia, segue conosco para o recinto onde se fará o tentame.

Os entes queridos sentem-lhe a influência, em forma de ansiedade e júbilo imprevisíveis, sem conseguir vê-lo materializado, entretanto, ele escreve as impressões que recolhe da Vida Espiritual, em forma de carta, em que transmite aos familiares e amigos as suas notícias pessoais repletas de anotações características e dos ensinamentos que lhe fluem do íntimo.

 Quando os familiares aceitam semelhantes textos de reconhecimento e de amor, o espírito se lhes transborda de felicidade e paz, e quando não aceitam, costumam voltar chorosos e tristes, mas sem perder a certeza de que lhes serão facultadas novas experiências.

 E, de regresso à vida nova em que se encontram domiciliados, o amor e a saudade voltam a povoar-lhes os corações.

O barco, estruturado em recursos de matéria sublimada do Mundo Maior, põe-se de regresso e a vida prossegue no movimento evolutivo, a que se ajusta.

 Eis, leitor amigo, a história simples dos comunicantes deste livro, que te entregamos por noticiário dos barcos que singram distâncias imensas com o objetivo de trazerem, aos companheiros do mundo físico, as mensagens de paz e esperança, luz e amor.  Boa leitura, são os nossos votos.

 Emmanuel 

Uberaba, 06 de janeiro de 1990

 

 

I

 

José Luiz - Modigliani  de  volta

 

 

Assistindo a uma demonstração de pintura mediúnica, na Associação Cristã de Cultura Espírita “Os Caminheiros”, em São Paulo, com a presença de uma TV do Canadá, em 2 de dezembro de 1978, Dona Nelly Capraro Marques Ferreira ficou profundamente emocionada e surpresa ao ver Luiz Antônio Gasparetto pintar um Cristo em azul, assinado por Modi (assim Modigliani assina, de forma simplificada, muitos dos seus trabalhos, pela psicopictografia de Gasparetto), muito semelhante a uma pintura de seu filho José Luiz, realizada em dezembro de 1971, poucos meses antes de sua desencarnação.

A constatação, daquela semelhança, iniciou-se desde os primeiros traços do lápis-cera azul do médium..., chamando, com veemência, a atenção do esposo, que a acompanhava naquela reunião.  È o traço vertical, na base da figura, também presente na tela de José Luiz, foi o coroamento, foi à certeza no coração de Dona Nelly.

A pintura de Modigliani teve a duração de 1 minuto e 30 segundos, apresentando um Cristo, em linhas gerais, muito semelhante ao de José Luiz, porém, mais etéreo, emitindo raios de luz de sua mente e de seus olhos.

Ao término do estafante trabalho mediúnico, com a pintura de dezenas de telas, com as mãos e com os pés, Dª Nelly dirigiu-se ao médium expondo-lhe a questão da semelhança, e Gasparetto mostrou-se surpreso com a narrativa daquela mãe tão convicta, e igualmente surpreso por ter pintado Cristo.

 

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Cristo em Azul, pintura feita por José Luiz Marques Ferreira em 1971, original com guache azul, assinada: “Zé Luiz 71”.

 

Já no próprio recinto daquela memorável reunião, após a grande emoção, o casal começou a dialogar, buscando uma luz que esclarecesse a questão.  Por que a semelhança das telas?, era a dúvida angustiosa. Lembraram-se de que ali chegaram impulsionados por uma força inexplicável, pois tinham em pauta, para aquele dia dois convites: um deles, de um amigo,  para assistirem àquela demonstração de Gasparetto, desejo acalentado por ambos desde que leram uma reportagem a respeito daquele trabalho mediúnico; o outro, para comparecerem a um casamento no interior do Estado, em Limeira.  Valorizaram tanto este último convite que chegaram a se deslocar de São Paulo, onde residem até hoje, e somente lá, em Limeira, poucas horas antes da festa, firmemente, decidiram regressar à Capital para assistirem a demonstração de Gasparetto! O amigo que os convidara não estava presente, mesmo assim conseguiram penetrar no recinto e lá permaneceram.  Tudo indicava, então, que aquela reunião mediúnica, programada pelo Mais Alto, reservava algo importante para eles...

 

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Cristo em Azul, de modi (Modigliani) (1981) recebido pelo médium Gasparetto (Original azul, com lápis-cera).

 

Diante daquele fato inesperado, o querido filho José Luiz teria sido, em vida anterior, o célebre pintor Modigliani?

Reforçando essa possibilidade, o casal recordou-se das palavras de Chico Xavier, em uma das últimas visitas ao querido médium, em Uberaba – que já havia psicografado uma carta de José Luiz, poucos meses após sua desencarnação -, quando ele afirmou acreditar que a próxima manifestação do jovem seria artística.

*

A dúvida  continuava... e quem melhor para desfazê-la do que Chico Xavier?

Logo após a inesquecível reunião da capital paulista, Dª Nelly e esposo demonstraram interesse em possuírem a tela assinada por Modigliani, mas Gasparetto não pode atender-lhes, pois, segundo o médium, ela seria objeto de estudos.  Porém, pouco mais de um ano depois, a emprestou para que fosse mostrada ao médium Chico Xavier.

Numa primeira viagem a Uberaba, após esse empréstimo, o caso mostrou-lhe as telas  Cristo em Azul, de Modigliani e de José Luiz, e narrou os fatos ao médium, que se limitou a dizer que aquela pintura pertencia, de fato, à Dª Nelly, afirmando: “Ele a pintou para a senhora.”

Mas, se ainda restava alguma dúvida ao casal, ela foi totalmente desfeita na visita posterior, quando Chico, no final da reunião pública de sexta-feira, 15 de outubro de 1982, disse-lhes:

“- Preciso muito falar com vocês, amanhã cedo.”

  E, realmente, no dia seguinte, o médium recebeu-os em sua residência, às 11 horas, em companhia do casal Weaker e Zilda Batista, e contou-lhes :

“– Um Espírito levou-me à França e lá estive numa praça, com muitas pessoas, onde estavam expostas várias telas.  Observei que as obras de arte tinham a assinatura “Modigliani”.  Destacava-se, de um grupo, um moço alto e bonito.  Dirigi-me, então, ao Espírito amigo que me conduzia e perguntei-lhe: - Eu conheço esse moço – e ele respondeu-me: - Conhece, sim. – Mas, eu conheço este moço no Brasil . – Exatamente, este moço no Brasil, foi o José Luiz.”

E Chico Xavier concluiu sua narrativa com estas palavras.

“– Dona Nelly, foi em Paris que eu vi isso.  Foi em Paris.”

 

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José Luiz Marques Ferreira (1950 – 1972)

 

José Luiz Marques Ferreira nasceu em Ribeirão Preto, SP, a 6 de março de 1950, filho do engenheiro-agrônomo Dr. José C.G. Marques Ferreira e de Dª Nelly C. Marques Ferreira, residentes em São Paulo, SP, na Alameda Ministro Rocha Azevedo, 644 – Apart. 134.

Deixou o Plano Físico com apenas 22 anos, a 5 de agosto de 1972, em Campinas, SP, 26 dias após grave acidente automobilístico em Iracemápolis, SP.

Sempre foi amoroso para com seus pais e familiares, tendo um carinho muito especial por sua irmã Nelise Maria, pelo seu cunhado Nelson e pelos sobrinhos Nelsito e Luciana, deixando, portanto, saudades profundas em seus entes queridos.

“Era um moço tranqüilo, exercendo liderança entre seus amigos sem impor nada.” – afirma seu progenitor.  Responsável e estudioso, cursou engenharia civil na Universidade de Brasília, por algum tempo, abandonando-a por considerar “a engenharia muito fria”, optando por arquitetura, que, então cursava, quando desencarnou.

 

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Amedeo Modigliani (1884-1920) com um copo de vinho, em reprodução parcial de grande tela a óleo hommage aux amis de Montparnasse (original em cores), que retrata 10 personalidades, feita pela pintora russa Marevna Vorobiell, em Paris, no inicio deste século.

 

Revelava-se espiritualizado. Usava muito a expressão “religiosos de fim-de-semana”, entendendo que sua geração esperava algo mais do que esta vida. Nas vésperas de seu último Natal, ao ver sua mãe preparar a sala com vistas a uma recepção de amigos para um almoço, falou-lhe: - Não ponha nada desses enfeites de Natal, que é tudo comércio.  Vou pintar um quadro que você vai gostar muito. “E sua mãe relata:” – Ao fazê-lo, surpreendeu-me com um Cristo tão grande, que me impressionou tanto, a ponto de julgá-lo triste e ter a impressão de que não conhecia meu filho, tal a profundidade daquele presente. E como esperava algo alegre, indaguei-lhe: “– Você está com algum problema? E ele, calmamente, respondeu-me com uma pergunta:”– Qual é o verdadeiro espírito do Natal? Então, ele mesmo colocou o Cristo na sala de jantar, no local desejado.  Poucos dias antes, havia pintado na casa de sua irmã Nelise Maria um outro Cristo em crayon, maior do que o Cristo em Azul, deixando-o lá sem nada dizer.”

O seu sentimento fraternal, aliado a um senso aguçado de responsabilidade para com a saúde, se exteriorizaram, muitas vezes, na preocupação com colegas ou amigos que se iniciavam no uso de drogas, conforme esse esclarecimento de seu progenitor (*) O José Luiz tinha verdadeiro horror a tóxicos, e sempre dizia à sua mãe:– A senhora, que é amiga de Fulana, avise-a que seu filho está começando na droga. Ele tinha uma liderança muito grande para afastar os colegas, os amigos, das drogas.

(*) Proferido no Programa Terceira Visão, “Especial com Chico Xavier”, da Rede Bandeirantes, São Paulo, SP, levado ao vídeo na noite de 25/12/1987. e reapresentado a 04/01/1988, quando foram mostradas aos telespectadores as duas telas Cristo em Azul de José Luiz e Modigliani, bem como as duas imagens semelhantes de José Luiz (foto) e Modigliani (tela Hommage aux anis de Montparnasse), Ver Anuário Espírita 1989, páginas 51-59.

Outra faceta da vida de José Luiz, só conhecida após seu desenlace, era o trabalho silencioso que ele e um grupo de colegas realizava, nas noites de São Paulo, distribuindo cobertores aos albergados debaixo de pontes e viadutos.

Após o grave acidente de 9 de julho de 1972, ele permaneceu internado no Hospital Vera Cruz, de Campinas, SP, com várias fraturas, inclusive da coluna vertebral, durante quase um mês, até a desencarnação, que foi ocasionada por meningite e embolia gordurosa.  Durante toda a internação, com exceção dos últimos dias, ele esteve lúcido, “levantando o moral dos médicos e dos que o visitavam.” 

Muito jovem, José Luiz demonstrou pendor para a POESIA.  Seus pais guardam, carinhosamente, algumas dezenas de suas composições poéticas, sendo as mais antigas datadas de 1966, quando ele estava com apenas 16 anos.

Uma delas, de 1967, intitulada Fome, “é uma síntese para os dias de hoje”, na interpretação do Doutor José Marques Ferreira. Quando se refere às mil guerras, seria ainda um reflexo dos dias dolorosos da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), vivida intensamente por Modigliani em Paris?

 

FOME

 

Fome de paz.

Fome de amor.

A fome que consome

A humanidade que some,

Nas mil guerras sem nome.

Greve de fome,

Em nome

Do brasileiro que não come. (1967)

 

A sua preocupação com as guerras aparece também na poesia Se eu pudesse,  uma das suas primeiras composições, aos 16 anos de idade.

 

SE EU PUDESSE

 

Se eu pudesse acabar com as guerras

Eu o faria...

Construiria um planeta,

Onde tudo seria paz e alegria!

Onde todos pudessem viver e morrer

Com serenidade.

Seria um planeta onde tudo seria lindo

Como as flores,

E forte como o aço.

Seria um planeta

Onde só haveria homens bons e justos.

Um planeta de solos férteis,

Cujas colheitas seriam abundantes, fartas,

Para todos.

Se eu pudesse...

Eu construiria um planeta

Lindo como um jardim,

Resplandecente como o sorriso de mulher amada. (1966)

 

Aos 17 anos já se preocupava com as questões filosóficas do destino e da dor...

 

MEDITAÇÃO

 

Meditação transcendental

Do certo contra o errado.

Minha meditação.

E não adianta me dizer

Que é duro viver,

Pois disso, há muito, já estou certo.

O que interessa é saber

Se esse duro sofrer

Dalguma valia é.

Pois quê?! (1967)

 

Jovem filósofo, ele exclamou Eureka ao vislumbrar a morte como sinônimo de Vida Eterna...

 

EUREKA

 

Philips, GE ou...Philco?

Aqui, lá ou na China?

Com ou sem molho?

Isso não interessa.

Nada disso é importante,

Pois, de qualquer jeito,

E em qualquer lugar,

A morte sempre sucede a vida.

 

Eis, pois, que o estado normal

É a morte,

Sendo a vida um rápido

e passageiro distúrbio

Na ordem natural das coisas. (1970)

 

Ouçamos os anseios de desprendimento de um poeta analista da Vida e saudoso da Verdadeira Vida Espiritual...

 

ASPIRAÇÃO

 

Vai alma, voa

E deixa este corpo para traz.

Vai alma, leve, e cruza

Esta fossa matéria.

Sua amiga e parceira fiel,

Cavalgue, com minha alma doida,

Por este universo vazio.

E seja para ela uma boa pousada,

Nesta utópica cruzada,

Que é a vida entender.  (1972)

 

Ainda os mesmo anseios... acrescidos, agora, de uma premonição, dois anos antes do seu final de existência terrena?

 

 BICHO LOCO

 

Divirto-me ouvindo o rude som

De um capotamento.

As luzes girando,

Os choques, as pancadas.

O silêncio posterior.

 

Vão chegando e perguntando:

- Morreu?

- Infelizmente, não.

- Precisa de ajuda?

- Obrigado, já chamei a radiopatrulha.

 

Olho para o carro,

Todo amassado.

Gozado, ele ficou mais real.

Parece vivo.

Parece a própria vida.

Antes a curva,

A derrapagem.

O canto lúgubre dos pneus.

Um curto vôo.

As luzes girando.

 

Ah! gravidade!

Por que me prendes?

Preciso tanto voar!  (1970)

 

Vimos em Se eu pudesse, escrita aos 16 anos, a referência ao “sorriso de mulher amada”.  Estaria recordando um grande amor de vida anterior?  No ano seguinte, ele escreveria a curtíssima, mas expressiva :

 

NA AUSÊNCIA DOS CARINHOS DELA

 

Ausência.

Ausência de paz.

Ausência de amor.

Tua ausência. (1967)

 

Encerrando esta rápida amostragem do trabalho poético de José Luiz, apresentaremos a interessante Aminofilina (nome comercial de um produto farmacêutico, contendo teofilina, que ele muito usou no combate à sua bronquite asmática), que revela o seu espírito critico, análise fiel dos efeitos colaterais dos medicamentos efedrina e teofilina, na proporção usualmente utilizada.

 

AMINOFILINA

 

Meu coração palpita.

Palpita inutilmente.

Não vibra por ninguém, não.

Ele vibra pela efredina,

25 mg, e pela teofilina, 130 mg.

Ah! Que feliz combinação,

Uma química de coalizão,

Que tira do peito a prisão.

 

É, mas meu pé está frio.

Minhas mãos estão gelando.

O corpo todo se modifica...

Mas o peito... ilusão.

Ele também freme e luta

E não vence o vírus, a bactéria

E a poluição.

E o cérebro, então?!

Este que ordena esta frase

Está mal, muito mal.

 

A excitação aumenta e o frio também.

Acho que estou num ciclo doido,

De mal-estar geral

A mal-estar total.  (1970)

 

Sua vocação para a PINTURA foi precoce, demonstrando facilidade em desenhar desde os primeiros anos escolares.

Deixou, aproximadamente, 40 telas, incluindo trabalhos com aquarela, guache, crayon e colagem, embora tenha freqüentado apenas algumas aulas, aos 15 anos, na Panamericana de Artes, de São Paulo.  Sofreu de bronquite alérgica, apresentando também hipersensibilidade às tintas, forçando-o a abandoná-las nas primeiras tentativas.  A maioria de seus trabalhos foi encontrada depois de seu desenlace, e muitos não foram intitulados nem interpretados por ele aos seus familiares.

Para seus pais, Cristo em Azul, pintado por José Luiz, 7 meses antes de sua desencarnação, é o seu trabalho mais expressivo.  “Sempre foi o veículo de comunicação e de conforto para todos os seus íntimos.  Pensamos que ele queria deixar uma lembrança especial, um elo permanente com a sua família.” Seu progenitor providenciou 200 cópias desse quadro, no tamanho natural, e as distribuiu entre os familiares e amigos.

Reproduziremos, ao lado, e nas páginas seguintes, alguns trabalhos artísticos de José Luiz.

 

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Harmonia (original branco e preto)

 

Harmonia, com suas paralelas que levam ao Infinito, formando cruzes, inspirou o seu jazigo em Limeira, SP.

Curiosamente, na pintura Fé a figura humana estilizada, que representa o Bem, em contato direto com a boca de um canhão (o Mal), tem as suas pernas em forma das letras Efe e É.  Evidentemente, as linhas pontilhadas indicam a movimentação e o esforço do Bem contra o Mal, tendo como sustentação a Fé.

 

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Fé (original branco e preto)

 

Duas Faces, em estilo cubista, apresenta as duas faces do homem, a boa e a má, interiorizadas na figura humana, colocadas face a face.  Seu pai recorda-se de um episódio, quando José Luiz, tranqüilamente, sentenciou: “Calma, todo o mundo tem alguma coisa de bom...” Mais tarde, após o desenlace, encontraram, entre os seus guardados, a tela que denominaram Duas Faces. 

 

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Duas Faces (original a cores)

 

Presépio é um interessante trabalho de colagem, mostrando um dos Reis Magos, de joelhos, diante da manjedoura, cercados por José e Maria.  Entre Maria e a manjedoura, um burrinho aquece o Recém-Nascido..

 

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Presépio (1971) (Colagem)

 

Vida (1971) no original é a cores, com a esfera central e o espaço que circunda as esferas em amarelo, e as demais esferas em marrom, com tonalidades que se acentuam no sentido centro-periferia, lembrando-nos um foco de luz iluminando a matéria que o cerca ...  Parece-nos que essa tela está em perfeita sintonia com esse pensamento de José Luiz, expresso em sua carta mediúnica que veremos adiante: No íntimo, eu sabia que outra vida palpita e brilha, por dentro e por fora da vida terrestre.  Não era o conhecimento religioso que me fazia assim, nessa forma de saber sem haver aprendido. Era intuição, a certeza de que Deus é a Luz do Universo.

 

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Vida (1971) (original a cores)

 

Na pintura sem título, feita em guache, nos tons azul e branco, José Luiz teria representado o Cristo, de costas, em algum de seus momentos de solidão, em profunda meditação?

 

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(Sem títulos) (original azul e branco)

 

No seu aniversário de 6 de março de 1972, último comemorado com a família terrena, ele recebeu de sua mãe o presente que havia pedido: um estojo completo de instrumentos para a prática da ESCULTURA.

 

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Ascensão (original em azul e amarelo)

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Multidão (original branco e preto)

 

Desencarnado poucos meses depois, apenas iniciara alguns trabalhos e chegara, mesmo, a solicitar alguns tocos de madeira do Horto Florestal.

 

Mensagem

 

 Na tarde de 13 de outubro de 1972, apenas setenta dias após seu desenlace, José Luiz enviou pela psicografia de Francisco Candido Xavier, na própria residência do médium, elucidativa e confortadora CARTA MEDIÚNICA, abaixo transcrita.

Essa mensagem trouxe muita paz aos seus pais, mais energia à Dona Nelly, que, segundo suas palavras, “estava péssima”, em tratamento com tranqüilizantes e medicamentos para o coração.

A respeito, o Doutor José Marques Ferreira, seu progenitor, no já referido Programa de Televisão: Especial com Chico Xavier, de 25 de Dezembro de 1987, assim se pronunciou: “O Chico foi um divisor de águas na nossa vida, ele foi a bengala que nos permitiu continuar a caminhar.  Que este Natal traga ao Chico muita alegria e Deus permita que ele continue com sua “moratória”, como ele mesmo afirma, por muitos e muitos anos, porque precisamos muito dele. Chico é um irmão querido”.

 Mamãe, meu pai, abençoem-me.  Ana Maria auxilie-me.

Estou aqui, ainda convalescente, ainda sem a forma necessária para fazer-me sentir como desejo.  Não podia ser de outro modo.

O tempo! Quem diria que em três meses tudo estaria modificado! Mas é assim mesmo, A Terra é um campo de mudanças. Mundo de linhas alteráveis. Tudo em constante transformação, inclusive nós mesmos.

Vocês já sabem. Estou ainda em tratamento, hospitalizado.     Mãezinha visitou-me e verificou isto.  Antes de vir para cá, eu já sabia que muitos sonhos são viagens. Viagens - estudos, viagens - reencontros.

Ainda não consigo concatenar meus pensamentos com segurança.  Penso que todos aqueles que deixam o corpo físico na juventude, quando isso se efetua de improviso, são obrigados a refazer a memória.  Não me sinto, porém, tão estranho, a ponto de não ouvir as súplicas de Mamãe, noite a noite, dia a dia.

Ah! Mãezinha, descanse.  Meu pai, não se aflija assim tanto!  Não é a morte do corpo essa tragédia com que tanta gente no mundo busca ideá-la. Não. Não sejamos ingratos, perante Deus.  A saudade existe, a dor é uma realidade, a aflição tem vida própria, a lágrima é a nossa companheira de caminhada, mas se a fé brilha no coração tudo isso é experiência.

Mãezinha, não me busque chorando no espólio de minhas lembranças.  Quando conversar comigo, através dos retratos, fale ao seu filho de esperança e coragem; e quando pense no lugar que me guarda os restos, medite nas sementes germinadas que falam da vida imperecível.

Estou ainda ligado à casa. Sei tudo o que falam a meu respeito.  Como isso é, não sei. Tenho a idéia que são fios ligados entre nós, fios de que a gente na Terra não tem a mais leve informação.

Ajudem-me. Recordem nossa alegria, nossa confiança em Deus e no futuro.  Afinal não estou morto. Antecipei-me a vocês.  É tudo o que posso deduzir das verdades novas que a vida nos confiou.

Quando vocês estão mais corajosos, sinto-me mais forte.  Quando choram (e tanto choram um à distância do outro, sem que se vejam, conquanto eu veja os dois) o pranto me nasce também do espírito. Busquemos a renovação que as circunstâncias nos impuseram. Aceitação, querida Mamãe. Conformidade, papai querido.  E convertamos o tempo em serviço no bem ao próximo, arrancando essa bênção de nossos conhecimentos, como se extrai a música da pauta.

Tudo passou.  O dia é novo.  As horas são outras.

Graças a Jesus e aos nossos Amigos Espirituais, ganhei, mais ou menos, vinte dias para trocarmos idéias antes do "até logo" de 3 de agosto. Sei que era 3 de agosto por informes daqui.  Naqueles momentos últimos, a mente parecia dormir numa atitude "crepuscular". Achava-me como que num portão entre dois mundos. Ouvia sem falar. Compreendia sem a menor possibilidade de esclarecer.  Isso aconteceu, até que um sono bom me acolheu de todo.

Creio que não me contaram aí toda a extensão do acidente, pois apenas aqui, vou sabendo minúcias, pouco a pouco.  Despertando, julguei me tivessem arrancado à Casa de Saúde para o lar de Nelise.  Chamei por Mamãe, primeiro; gritei por meu pai; no entanto, uma senhora simpática se adiantou para tranqüilizar-me com um beijo.  "Você não pode lembrar-me, meu filho" - disse com imensa ternura, "mas carreguei seu pai nos braços e sou sua avó Amélia."

 As lágrimas me vieram do coração ao rosto. Entendi tudo, num relance. No íntimo, eu sabia que outra vida palpita e brilha, por dentro e por fora da vida terrestre.  Não era o conhecimento religioso que me fazia assim, nessa forma de saber sem haver aprendido. Era a intuição, a certeza de que Deus é a Luz do Universo.

Minha avó acomodou-me no colo, abraçou-me como se eu fora criancinha outra vez, e então, a nossa Madre Coração de Jesus conversou comigo.  Oh! Mãezinha.  Eu revi Vovó Eugênia...

Oh, meu pai! Que palavras na Terra poderão contar isso?  Que frases conseguiriam dizer este amor que nos reúne uns aos outros em "outra vida", longe da vida que conhecemos no mundo.

Claro que vocês, os amados que ficaram, me possuíam os pensamentos.  Não sei, até agora, onde a emoção é mais forte - se junto dos que deixamos ou se ao pé daqueles que a morte nos restituiu.

Amigos outros vieram e até mesmo o nosso generoso Dom Mousinho apareceu para abraçar-me. Perguntei por Dimas; no entanto, até hoje nada sei.

Que desejo de voltar àquele dia para dizer a todos que estou vivo!  Iracemápolis, a reunião, o carro, a garagem, as jovens na estrada e um caminhão que nos defrontava!... Depois, o esforço tremendo para defender a cabeça de um  golpe mortal e, em seguida, a coluna que entendi alterada desde o choque ...

Queridos, amigos nossos não permitem que me recorde agora.  Seria muito esforço! Mãezinha, creia em Deus e na vida.  Façamos uma estrada nova em nosso favor.

Ana Maria, agradeço a você por ter vindo.  Continue ajudando aos meus pais.

A vida espiritual é uma construção para o trabalho gradativo do dia a dia!  Hoje, sei que o caminho para os mundos novos é pavimentado em obras de amor.  Arquitetemos o bem, edificando o bem!  Tudo é belo,  quando criamos a beleza em nós para doar beleza e felicidade aos que nos cercam!

Lembranças a todos os nossos, com um beijo aos sobrinhos.  Hoje, aniversário de Luciana – dizem-me aqui.  Sim, aniversários são festas, marcos de luz, tanto os do berço, quanto aqueles outros que a morte nos grava nos corações.

Não consigo ser mais extenso. Prometo melhorar-me.  Afirmo-lhes que estou bem.  Se não posso dar presença mais ampla no que escrevo e no modo em que me expresso. É que estou ainda sob o auxílio preciso para fazer-me sentir.

Mãezinha, papai, auxiliem-me com a esperança e a resignação.  Estamos presentemente mais juntos.  E juntos construiremos o novo lar de amanhã com os materiais do bem ao próximo.

Aqui, tudo é amor, tudo paz e alegria, segurança e fé!  Só a saudade de casa – de “casa” que quer dizer “a falta de vocês” ainda me dói e dói muito, mas a fortaleza de vocês, amados de meu coração, me fará mais forte, pois só o pensar que lhes dou notícias já  me faz consolado e quase feliz.

Abençoem-me.  E guardem o coração do filho reconhecido que tudo lhes deve e que lhes será companheiro, com a Bênção de Deus, agora e para sempre,

José Luiz.

 

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Amedeo Modigliani (Fotografia)

 

Notas e Identificações

 

1 – Ana Maria – Senhora Ana Maria Bechelli Hetem, residente em Ribeirão Preto, São Paulo, grande amiga da família, foi quem conduziu o casal a Uberaba.

2 – Estou ainda em tratamento, hospitalizado. Mãezinha visitou-me e verificou isso. – Dona Nelly confirma que, em sonho, viu-se deslocando num veículo diferente dos conhecidos na Terra, até que chegou a um local, do qual quase nada se lembra, onde José Luiz estava deitado num leito.  Não se recorda do diálogo com o filho.

3 – ganhei, mais ou menos, vinte dias para trocarmos idéias antes do “até logo” de 3 de agosto.  Ele esteve hospitalizado, após o acidente, 27 dias.  Dia primeiro de agosto ele entrou em coma.  A partir do dia 3, às 15 hora sua vida física passou a depender totalmente de aparelhos.  E, no dia 5, houve o desenlace total.

4 – Nelise – Nelise Maria, irmã.  Mãe de Nelsito e Luciana.

5 – avó Amélia – Amélia Guimarães Marques, avó paterna, desencarnada em Bragança Paulista, a 8 de novembro de 1970.

6 – nossa Madre Coração de Jesus conversou comigo. – Madre Sagrado Coração era ligada ao Colégio Santa Úrsula, de Ribeirão Preto, onde foi professora.  José Luiz a conheceu, na sua infância e juventude, chamando-a de Tia Freira.

7 – Vovó Eugênia - Eugênia Marins Capraro, avó materna, desencarnada em Palmeiras, Paraná, a 8 de dezembro de 1969, aos 67 anos.  Ela dedicava um carinho especial a José Luiz, dando a clara impressão de ser muito ligada espiritualmente a ele.  Tento é que Dona Nelly, ao receber a carta mediúnica surpreendeu-se de não ter sido ela quem primeiro amparou o jovem. Em diálogo conosco, lembramo-lhes que a emoção do reencontro, daqueles que muito amam, pode prejudicar a tarefa de auxílio, que requer muito equilíbrio. O próprio José Luiz comentou em sua carta. “Não sei, até agora, onde a emoção é mais forte – se junto dos que deixamos ou se ao pé daqueles que a morte nos restituiu.” 

8 - Dom Mousinho - Dom Luiz do Amaral Mousinho. (Timbaúba, PE, 1912 - Ribeirão Preto, SP, 1962) foi o 3ª Bispo e o 1 Arcebispo de Ribeirão Preto.

9 - Dimas - Dimas guiava o carro, na hora do acidente, falecendo no local.

10 - Iracemápolis, a reunião, o carro, a garagem, as jovens na estrada e um caminhão que nos defrontava... - O acidente ocorreu em Iracemápolis, SP, após um almoço, oferecido por Nelise, que reuniu muitos amigos. Dimas convidou José Luiz para se dirigirem à sua residência, onde lhe mostraria o seu novo carro. Na volta, a trazeira de um caminhão, que cruzava a estrada, foi colhida pelo carro de Dimas. Bem próximo ao local do acidente transitava, de bicicleta, um grupo de moças.

11 - Tudo é belo, quando criamos a beleza em nós para doar beleza e felicidade aos que nos cercam! - Grande artista que é, profundo conhecedor do belo, Modigliani/José Luiz, agora na vida real, mostra-nos uma visão perfeita da beleza completa e imperecível.

12 - Hoje, aniversário de Luciana - dizem-me aqui. - Luciana, sobrinha, filha de Nelise, aniversariava no dia do recebimento desta Carta.

13 - Premonições - Em recente entrevista conosco, em Araras, a 15/7/89, Da. Nelly contou-nos suas três premonições, ocorridas no período de três meses que antecedeu o grave acidente, que levou o filho à desencarnação, não reveladas a ninguém, na época das mesmas. a) Em sonho nítido, minha avó Higina, que residia em Curitiba, PR, apareceu-me e disse: - Eles vão levá-lo. Sem entender a mensagem, perguntei-lhe: - Vão levar a senhora? - Não. Eles vão levá-lo. - A senhora está do lado de Lá? - a seguir, ela apenas limitou-se a dar-me notícias de minha mãe Eugênia, já falecida: - Ela está muito bem. No dia seguinte, telefonei a Curitiba pensando que, talvez, minha avó, já muito idosa, não estivesse bem de saúde, mas não havia novidade. Estava bem. b) "Tio Luiz, padrinho de casamento, então falecido, apareceu-me, nítido, iluminado, em minha cozinha, e conversou comigo. A visão foi curta e não entendi sua mensagem. Próximo de minha grande dor, ele queria lembrar-me de que a alma é imortal e pode manter contato com familiares que ficaram na Terra? c) Em sonho, tive uma visão nítida: vi o carro, o asfalto, a árvore... José Luiz sentado, no banco da frente, ao lado de um senhor com mais idade do que ele (seria o Dimas, de 42 anos). Houve o acidente, e logo em seguida meu filho apareceu-me esticado no gramado, mas falava alguma coisa. Alguém dizia: - O outro morreu, o outro morreu. José Luiz estava vivo. Essas abençoadas premonições, com certeza supervisionadas por Protetores Espirituais, sob a Justiça e Misericórdia Divinas, prepararam o íntimo de Da. Nelly, amortecendo o duro impacto da provação que a aguardava. Ela também não se esquece (e já passaram 17 anos!...) da última troca de olhar com seu filho, na véspera do acidente: "Foi diferente, impressionante, inesquecível...

14 - Agradecimento - "As águas correm para o mar, assim como muitas mães, que perderam entes queridos, deságuam seus desesperos em Chico Xavier - bálsamo tranqüilizante e norte de fé. Dele jorram as novas vidas que palpitam e brilham na fé e na certeza da Eternidade. Sim, porque a distância que nos separa dos queridos filhos desaparece, surgindo a vida, novamente, através desse amado médium.

Não temos como agradecer-lhe perfeitamente, mas do fundo, do imo do nosso ser, expressamos: Obrigada, Chico, irmão e amigo. `Tudo é belo, quando criamos a beleza em nós para doar beleza e felicidade aos que nos cercam!'... eis Chico Xavier. (a) Nelly C. Marques Ferreira."

AMEDEO MODIGLIANI

A recente exposição "Arte Italiana no Século 20", na Royal Academy of Arts, em Londres, reservou uma sala dedicada exclusivamente ao pintor e escultor Modigliani, com oito quadros e duas esculturas, porque, segundo os organizadores da mostra, “a arte de Modigliani sempre se sobressaiu em comparação com a de seus contemporâneos”.

Analisando a presença de Modigliani nessa exposição, A.C. Seidl, de Londres, assim se expressou: "Tal como outros artistas italianos que percorreram Paris para seu treinamento artístico, Modigliani geralmente aparece no contexto da vanguarda francesa. Na exposição da Royal Academy, ele aparece dentro da evolução do modernismo italiano." (Folha de S. Paulo, S. Paulo, SP, 26/3/1989.)

Em 1988, esse mesmo periódico paulistano, deu destaque à venda do Retrato de Mário, pintado por Modigliani em 1919, num leilão de Londres, pela quantia fabulosa de 8,9 milhões de dólares. E a reportagem destacou que essa tela foi uma das últimas criações do artista, quando já se encontrava enfermo, passando dolorosas privações...

*

Modigliani nasceu em Livorno, Itália, a 12 de julho de 1884.

Sempre foi uma criança frágil e doente. Sofreu bronquite asmática.

Sua mãe, muito culta, familiarizou-o com os poetas românticos e simbolistas. "Mais tarde, em Paris, recitava para os amigos versos tão bonitos e pessoais quanto suas pinturas."

Com forte inclinação para a pintura, muito jovem iniciou o seu aprendizado. Em 1902 e 1903, estuda nas Escolas de Belas-Artes de Florença e de Veneza, respectivamente. E, em 1906, é atraído pelas luzes culturais de Paris, para aí se dirigindo, época em que se sentia "dominado pelo brotar e desaparecer de energias fortíssimas", segundo suas palavras escritas a um amigo.

Na Cidade-Luz, residiria até os seus últimos dias terrenos, com exceção de um pequeno período, no ano de 1909, em que esteve de regresso à terra natal.

*

Quando Modigliani esteve de volta a Livorno "enfrentava sérias dificuldades financeiras, sua saúde já se ressentia dos excessos de álcool e de drogas, e da falta de alimentação e repouso." Foi aí que ele teve, motivado por Brancusi, a sua primeira experiência como escultor, inspirado na arte negra e na estatuária primitiva que os antropólogos descobriram. "Modigliani também é apreciador da arquitetura, mas, diversamente de Brancusi, se interessa quase exclusivamente pela figura humana." Mas, a troca dos pincéis pelo cinzel não foi bem sucedida.

No ano seguinte, novamente em Paris, ele voltará a esculpir, mas só esporadicamente, em madeira e pedra. Porém, graças a essa experiência, Modigliani "pôde expandir, na pintura, seus verdadeiros meios de expressão, completar sua procura de um ideal plástico." Da arte dos povos africanos, reteve o sistemático rosto oval, o pescoço comprido, o volume decidido e retilíneo do nariz - que tanto caracterizam seus retratos. "Mas incorporou também as lições estéticas dos antigos celtas, das civilizações pré-colombianas, das culturas do Oriente - os ancestrais da arte moderna. (...) Rompeu com o academicismo para estreitar os laços com a Academia Universal, com as revelações e conquistas de vários milênios de história da arte."

*

A Primeira Guerra Mundial (1914-18) muito afetou a vida de Modigliani. Muitos de seus amigos saíram de Paris e o auxílio financeiro que recebia da Itália tomou-se cada vez mais irregular. "Foi então que conheceu seus piores anos de miséria."

Em 1917, ele conheceu a jovem pintora Jeanne Hébuterne, a quem dedicou terna e profunda afeição. "Ele a amou e a pintou com toda a doçura de que era capaz." Jeanne, sempre esposa devotada, deu-lhe uma filha em novembro de 1918.

Em fins de 1919, com a saúde já debilitada, contraiu pneumonia, quando a Europa enfrentava terrível inverno. E aos 25 de janeiro de 1920, veio a desencarnar de meningite tuberculosa, no Hospital de la Charité. Ao receber a notícia de sua morte, Jeanne, grávida do segundo filho, dirigiu-se ao apartamento de seus pais, no quinto andar de um prédio, e atirou-se pela janela.

"É possível dizer da vida breve de Amedeo Modigliani que tenha sido uma sucessão de caprichos, bebedeiras e derrotas. De miséria e de tristeza. Muitos de seus contemporâneos o consideravam um boêmio conservador, que buscava uma impossível reconciliação entre a tradição e a audácia. Enganaram-se. O verdadeiro Modigliani passou perto deles, quase invisível, como um personagem de conto de fadas, que dissimula sua identidade como um príncipe com roupa de vagabundo."

 

Bibliografia

 

1. Gênios da Pintura-Modigliani, Abril Cultural, São Paulo, SP.

2. Os Grandes Artistas - Modigliani, Nova Cultural, São Paulo, SP.

3. Modigliani, Aldo Santini, l.ª ed., Rizzoli, Milano, Itália, 1987.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

II

 

“– Brech gut.  Es wird mich scher freuen ihnen nutzlich zu sein.”

(“Tudo bem. Me alegrará muito ser-lhes útil.”)

 

  “Rosemary, Ronaldo, Jane e Sérgio.

Assim era nossa família, nossos filhos, nossas vidas.

Vivíamos momentos de intensa e singular felicidade.

O destino trágico e cruel nos solapou e, de um só golpe, nos tirou a vida de nossas duas únicas filhas.

Foi no dia 12 de abril de 1980, quando o inesperado aconteceu.  O avião que conduzia nossas filhas de retorno a Florianópolis, após uma breve estada na capital paulista, perdeu o controle batendo contra um morro nas cercanias da capital catarinense, perecendo no acidente, além de Jane e Rosemary, outras quase cinqüenta pessoas.

A vida nos reserva surpresas e, quando menos se espera, o imprevisto bate à nossa porta.

Falar da dor que sentimos, do vazio que permanece ainda em nossas almas e nossos corações, seria somente reforçar aquilo que pessoas, iguais a nós, sentem com a perda de seus entes queridos.  A dor da separação física permanece, mas se minimiza na fé e na crença de uma Vida Superior, Sublime e Transcendental, confirmada pelas manifestações felizes que recebemos de nossos entes queridos através das mensagens psicografadas de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.

Perdemos duas filhas, sim... mas somente fisicamente e para a vida terrena, pois o amor, com sua centelha de esperança, nos traz a certeza da Vida Futura.

Hoje, o que nos consola e conforta é a certeza de que corações angustiados encontram momentos de Paz e Tranqüilidade ao lerem as belíssimas mensagens por elas enviadas e já publicadas em livros.  Jane participa do livro... E o Amor Continua (Francisco C. Xavier, Divaldo P. Franco, Espíritos Diversos, Nilson de S. Pereira, LEAL, Salvador, Bahia) com duas mensagens ( uma de cada médium ), e Rosemary participa do livro Vitória da Vida (Divaldo P. Franco, Diversos Espíritos, LEAL) com uma mensagem. 

Por tudo isto, rendemos graças a Deus, que em sua Infinita Misericórdia permitiu a Francisco Cândido Xavier e a Divaldo Pereira Franco fossem portadores, verdadeiros elos de ligação entre o Céu e a Terra, entre o material e o espiritual, estreitando, cada vez mais, os laços de aproximação e de amor entre aqueles que partem e os que continuam sua peregrinação terrena.

Este foi o depoimento gentilmente apresentado pelo casal Antônio Obet Koerich e Ony Furtado Koerich, residente em Florianópolis, Santa Catarina, com vistas à publicação, neste livro, das demais cartas enviadas pela inesquecível filha Jane Furtado Koerich, até o presente momento, através do médium Chico Xavier.

Como aconteceu com a primeira mensagem (recebida em 22 de outubro de 1980 e incluída na obra... E o Amor Continua), todas as seguintes foram psicografadas no Grupo Espírita da Prece nove GEP), em Uberaba, Minas Gerais, nas datas de 12 de setembro de 1981, 14 de abril de 1984 e 11 de abril de 1986.

 

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Jane Furtado Koerich

 

Todas elas encerram, além do natural consolo aos familiares, muitos ensinamentos preciosos a todos nós, especialmente aqueles ligados à vida de uma cidade no Plano Espiritual.

Um ponto alto da carta de  12 de setembro de 1981, para os estudiosos da mediunidade, é a transcrição pela comunicante, no idioma alemão (totalmente desconhecido do médium), da frase proferida pela Irmã Frida, Diretora da referida cidade, quando da recepção às jovens Jane, Rosemary e Soninha.  Ao ler essa carta na reunião pública, antes de entregá-la aos destinatários, como habitualmente Chico Xavier sempre fez, o médium pediu ao Senhor Antonio O. Koerich que lesse e traduzisse o trecho em língua estrangeira, mas ele não pôde atender tal pedido por desconhecer o idioma, embora descendente de alemães. Só posteriormente, em Florianópolis, a tradução foi feita por um amigo, professor universitário.

 Registramos, assim, mais uma interessante manifestação da mediunidade poliglota ou de xenoglossia (do grego xénos: estrangeiro mais glossa: língua (linguagem) de Chico Xavier.

  “Estamos num parque–cidade–jardim, se posso definir com estas três palavras o grande centro de recuperação e cultura em que presentemente nos achamos”.

 

Mensagem

 

 Querida mãezinha Ony e querido papai Antônio.

Compreendemos o desejo de ambos que ficou igualmente sendo nosso.  Notícias.  Os amados que permanecem no mundo estão habitualmente interessados, quando não ansiosos, pela obtenção de informes e particularidades, quanto a nós que voltamos para o Lar de Origem.

Pais queridos, se pudéssemos desdobraríamos a própria alma, através da correspondência, esmiuçando pormenores a fim de tranqüilizá-los.  A criatura se despede do corpo físico, pressionada pelas imposições da morte, e depois?  Esse propósito de penetração no Mais Além e essa aflição por saber o que se faz depois de transporta a barreira da Grande Transformação, afinal de contas, são intuitos compreensíveis e naturais.

Não creiam que se possa escrever sem o conselho daqueles que nos orientam, se nem tudo, da própria Terra, não pode a criatura que escreve, expor numa carta, através da distância, é justo saibam que também nós, por aqui, não estamos numa sociedade sem regras e convenções respeitáveis.

Explicam mentores dignos que, se todos os nossos entes queridos estão destinados a conhecer os caminhos da experiência que atravessamos, não é necessário anteceder-nos, em sugestões e relatórios francamente desaconselháveis, de vez que as estradas de trânsito entre as duas vidas – a do Mundo Físico e a do Mundo Espiritual – diferem muito entre si.

Posso, no entanto, adiantar-lhes que se ainda sou eu quem se encarrega deste correio, é que a Rose prossegue muito preocupada em apoiar o Sidnei e auxiliá-lo, quanto possível, nas renovações que um marido jovem reclama na área dos homens, porque a vida deve ser vivida e não seria a Rosemary quem criaria qualquer entrave aos ideais e às necessidades do companheiro.  Em vista disso, a querida irmã, confiando em mim, deixa-me, por enquanto, o encargo de fazer-se lembrada pelos pais queridos e pela vovó Maria Goulart especialmente. Quanto à nossa Soninha está fazendo exercícios para se largar da timidez.  E, por tudo isso, me desinibo e vou garatujando o que posso.

Depois da mensagem na qual lhes expus as nossas notícias primeiras, fomos transferidas de residência. Não me peçam nomes que valeriam por antecipações inconvenientes. Estamos num parque-cidade-jardim, se posso definir com estas três palavras o grande centro de recuperação e cultura em que presentemente nos achamos.  O vovô Engelberto e o vovô Eugênio (pois já entramos em relacionamento com o nosso avô Eugênio, igualmente) entabolaram entendimentos para que fôssemos admitidas num grande instituto de reformulação espiritual, e tivemos permissão para desfrutar a companhia e a proteção da mãezinha Custódia, que nos serve de governanta maternal.

Penso que ficarão satisfeitos se lhes contar que fomos acolhidas pela Diretora, a Irmã Frida, da lista de amizades do vovô Engelberto, com a maior distinção. O vovô dirigiu-se a ela, em alemão, e ambos conversaram animadamente. Voltando-se cortesmente para nós, se bem me lembro, a Irmã Frida nos disse sorrindo; “BRECH GUT.  ES WIRD MICH SCHER FREUEN IHNEN NUTZLICH ZUN SEIN.” Compreendo que não guardei de cor  a antepenúltima expressão dela,  mas o vovô solicitou-lhe a troca de idéias em português e a nossa Diretora, sem pestanejar – se exprimiu em português-brasileiro com tal mestria que nos sentimos à vontade para a instalação em perspectiva.

 

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A cidade é grande e especializada. Muitas atividades lhe caracterizam o ambiente e não há tempo para meditações ociosas, para quem deseja valer-se da meditação como norma de preparação para o serviço a fazer e para as realizações por atingir.

Ninguém é obrigado a trabalhar, porque a violência onde estamos é vocábulo desconhecido, mas quantos se empenham a agir e servir adiantam-se com facilidade, na marcha para adiante, com aquisições valiosas para a organização do presente e do futuro. Quem prefere a inércia recebe uma cota simples de recursos para a própria sustentação, mas não consegue meios para renovar-se, de vez que a fixação de companheiros dedicados à imobilidade e à lamentação não lhes permite maiores incursões no progresso ambiente.  E isso ocorre até que se decidam a sair espiritualmente de si próprios, buscando, por iniciativa deles mesmos, o trabalho que lhes melhorará as condições.

As religiões são praticadas segundo as tendências dos que se agregam no sítio que tento descrever, todos, porém, com a marca da responsabilidade e da fé em que se inspiram, sem que haja antagonismos entre umas e outras. A criatura evolui por si mesma, desde que assim o deseje.  Por essa razão, a transferência de muitos irmãos, de cultos para cultos outros mais propensos à solidariedade e às edificações liberais, é incessante.

E o que é de se admirar é que ninguém onde estamos é obrigado a crer que passou pelo fenômeno da desencarnação.  E como somos ainda poucos os que nos achamos conscientes disso, não mencionamos nossas idéias diante de pessoas desconhecidas ou que conservam absoluta negação quanto à morte, pela qual já passaram. 

Ainda na semana finda, em conversação  com uma senhora amiga, ela se lamentava de haver perdido uma filha num acidente de aviação, quando a minha interlocutora é que vive aqui desencarnada e a filha saiu ilesa do desastre havido, continuando a residir em grande cidade brasileira.

A maior parte dos que vivem no parque onde temos transitória moradia, se queixam de perdas de memória, de abatimentos e doenças inexplicáveis,  quando não lutam contra  processos de angústia que eles mesmos confessam desconhecer nas origens. Há muita gente na enfermagem e no magistério, agindo com respeitosa prudência para não suscetilizar pessoa alguma. Os médicos analistas são muitos, e os religiosos esclarecidos, ou ainda não totalmente esclarecidos, trabalham com intensidade no reconforto e no reerguimento espiritual de muitos de seus clientes, interessados na própria melhoria.

E a vida continua. Quem quiser receber luzes que as distribua e quem se proponha a encontrar alegria, deve doá-la aos outros.  As tarefas são múltiplas, mas a noite é curta, e a mãezinha Custódia me recomenda terminar.

Escrevi o que pude e como pude, mas creiam a mãezinha Ony e o papai Antônio que, ao beijá-los com o meu enternecimento e carinho de todos os dias, continuo sendo a  filha que lhes consagra todo o amor que possa trazer no próprio coração, sempre a filha agradecida,

                                                                                     Jane

Jane Furtado Koerich                                                                          

 

                            Notas e Identificações

 

1 - Rose - Assim chamada na intimidade, Rosemary Furtado Koerich Noceti, irmã de Jane. Era casada com Sidnei Noceti Filho.

2 - Vovó Maria Goulart - Dona Maria Goulart Furtado, avó materna, desencarnada.

3 - Soninha - Sônia Beatriz Cabral, colega e amiga de Jane e Rosemary, desencarnada no mesmo acidente aéreo.

4 - Estamos num parque-cidade-jardim - Outras cidades do Mundo Espiritual são descritas em várias obras doutrinárias, tais como: Nosso Lar, Libertação (capítulo quatro e sete) e E a Vida Continua... (Capítulos sete, doze e treze) (Francisco Cândido Xavier, André Luiz, FEB); Cidade no Além (F.C. Xavier, H. Cunha, A . Luiz e Lucius, IDE); Quando se Pretende Falar da Vida (F.C.Xavier, Roberto Muszkat, David Muszkat, capítulo dois, página 48, GEEM).

 5 - Vovô Engelberto - Senhor Engelberto Stefano Koerich, bisavô paterno, desencarnado em oito de agosto de 1929.

6 - Vovô Eugênio - Senhor Eugênio Koerich, avô paterno, desencarnado.

7 - Mãezinha Custódia - Dona Custódia Maria Goulart, bisavó materna, desencarnada em nove de fevereiro de 1938.

8 - O vovô dirigiu-se a ela, em alemão, e ambos conversaram animadamente. (...) o vovô solicitou-lhe a troca de idéias em português e a nossa Diretora, sem pestanejar, se exprimiu em português-brasileiro com tal mestria que nos sentimos à vontade para a nossa instalação em perspectiva. - Na literatura espírita, várias obras abordam essa barreira linguística no Mundo Espiritual, entre elas: O Esperanto como Revelação / Esperanto Kiel Revelacion (F.V. Lorenz, F.C.Xavier, IDE, página 136); Entre Irmãos de Outras Terras (Espíritos Diversos, F.C.Xavier e W. Vieira, FEB, capítulo 5); Evolução em Dois Mundos (André Luiz, F.C.Xavier e W. Vieira, FEB, segunda parte, capítulo 2); Vitória (Espíritos Diversos, F.C.Xavier, Elias Barbosa, IDE, capítulo 19).

 9 - BRECH GUT.  ES WIRD MICH SCHER FREUEN IHNEN NUTZLICH ZU SEIN. – Com esta frase em alemão, assim traduzida posteriormente em Florianópolis:  Tudo bem. Me alegrará muito ser-lhes útil, vemos mais um exemplo da mediunidade poliglota de Chico Xavier.  Mensagens ou frases em outros idiomas desconhecidos do médium (em inglês, italiano e espanhol) integram os seguintes livros: Dicionário Enciclopédico Ilustrado/ Espiritismo - Metapsíquica, Parapsicologia (João Teixeira de Paula, Bels, terceira edição, página 140); Trinta Anos com Chico Xavier (Clóvis Tavares, IDE, capítulo 13, página 147); Entre Irmãos de Outras Terras (Segunda Parte); Claramente Vivos  (Capítulo 3, 4, 19, 20, 21 e 22) e Vitória (capítulo 7) (ambos de Espíritos Diversos, F. C. Xavier, Elias Barbosa, IDE); e Retornaram Contando (Espíritos Diversos, F. C. Xavier, H.M.C. Arantes, IDE, capítulo 12).

 10 – Jane Furtado Koerich -  “Nasceu em Florianópolis, em seis de maio de 1960.  No colégio, na sociedade, em família deixava transparecer um belo sorriso, acompanhado de um olhar triste. Sempre foi amorosa com todas as pessoas, principalmente com as crianças.  Desde menina tinha muita fé no Padre Reus, fé esta que sua avó materna Maria Goulart lhe transferiu, através de belas histórias que lhe contava, referentes ao Padre, onde a bondade era o fator primordial da vida. Desde a infância demonstrou muito interesse pelos estudos.  Aos 18 anos, ingressou na Universidade Federal de Santa Catarina, onde cursava letras.  Depoimento muito expressivo, de seu comportamento escolar, nos foi enviado logo após seu passamento, mais precisamente no dia 20 de abril de 1980, por um dos seus professores da Universidade.  Através de um manuscrito, o professor manifestou o seu pesar por tão trágico acontecimento, e nos enviava cópia do trabalho feito por Jane, no dia 9 de abril, no qual havia”. conquistado a nota máxima,” (Texto de seus pais.)

“Quatro anos se passaram sobre as atribulações que nos esperavam em Florianópolis.”

 

Mensagem

 

 Querida mãezinha Ony, abençoe-me com o papai Antonio, em nosso reencontro de paz e alegria.

Quatro anos se passaram sobre as atribulações  que nos esperavam em Florianópolis. E a idéia da provação se esbate, cada vez mais, em nosso íntimo, convertendo-se em harmonia e compreensão ante as Leis de Deus.

Sou eu mesma quem lhes trago a mensagem do nosso carinho, pois a Rose e a Soninha acreditam que eu lhes possa interpretar os sentimentos.  A nossa Rose prossegue auxiliando o Sidnei na recomposição de caminhos, e a Sônia, em minha companhia, prosseguimos estudando e melhorando-nos para  o aprendizado de sermos úteis.

A vovó Maria Goulart veio comigo, associando-se às nossas lembranças, e o vovô Eugenio, qual me habituei a chamá-lo, recomendou-nos lhes transmitisse as suas lembranças.

Mãe Ony e papai Antonio, o sofrimento de quatro anos passados, hoje é alegria de recordar a nossa constante união.

Estejamos felizes. Um abraço aos irmãos queridos, e para os pais sempre amados todo o carinho e reconhecimento da filha, que não os esquece, sempre mais afetuosamente,

                                               Jane

                            Jane Furtado Koerich.

 

"Estamos mais nós mesmas, mais identificadas com a vida e com as tarefas de amor ao próximo que a vida solicita de nós."

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha Ony e querido papai Antônio, estamos a lembrar.

Amanhã teremos a marca dos seis anos de vida espiritual.  Tantas renovações se deram em nossos caminhos que, em companhia da bisa Maria Goulart, estou aqui para felicitá-los.  Para nós, Rose, Soninha e eu, as transformações foram muito grandes; no entanto, as aquisições novas de trabalho, pelos pais queridos, não foram menores.

É verdade, cai um avião, liberam-se várias vidas e cada qual tem o conteúdo diferente.  Ainda pergunto a mim própria se não foi melhor assim.  Como seríamos nós, as suas filhas, no transcurso destes seis anos de saudade e indagação? Não poderíamos saber.  Mas não ignoramos que a Rose e eu fomos substituídas por muitos corações necessitados a quem os pais queridos prestam valiosa assistência.  Nossa família ampliou-se.  Os meus irmãos se fizeram mais irmãos de quantos nos compartilham da convivência e nós, ambas, nos regozijamos ao vê-los buscando a oportunidade de servir.

Mãezinha Ony, muito grata por seus pensamentos e planos de serviço ao próximo.  Hoje vejo que a saudade não pode ser inércia, porque vou aprendendo em companhia dos pais amigos que a vida se ampliou em tantas outras vidas!

As lágrimas de alegria, me lavam a face ao abraçá-los.  Estamos mais nós mesmas, mais identificadas com a vida e com as tarefas de amor ao próximo que a vida solicita de nós.

A Rose prossegue amparando o Sidnei com a abnegação de uma esposa que a desencarnação transfigurou em mãe dedicada e vigilante, e a nossa amiga Sônia está na execução de ideais que lhe falam ao coração.  Quanto a mim, fixei-me temporariamente ao lado de minha avó Maria Goulart e de meu avô Eugenio, de modo a lhes ser útil no trabalho que realizam.

Não estou inativa na residência na qual ainda nos achamos e freqüento um instituto de espiritualidade de nossa região, aproveitando as lições de luminares do bem, quais são o Padre Reus e o irmão senhor Osvaldo Melo, catedráticos de renovação e fé com os quais tenho adquirido novos e belos ensinamentos em torno da vida. Com isso, pude obter igualmente pequena dependência, na qual procuro transmitir as instruções com que sou agraciada, junto de outros irmãos de boa vontade que aprendem não só para si, mas também para distribuir com os mais fracos e inexperientes nas questões do espírito.

Sou feliz porque me aceitaram no trabalho, e, com isso, adquiri o certificado de acesso a outros setores de conhecimento, nos quais vou entesourando as informações com que me renovo.

Aqui, onde me encontro, a pessoa vale o que produz no campo do bem aos semelhantes, e me fortaleço cada vez mais, para guardar as minhas saudades da família querida sem perder a disciplina através da qual preciso crescer em aquisições espirituais, humildes embora, mas que me auxiliam a ser eu mesma acrescentada pelos conhecimentos que busco resguardar comigo; e espero que a nossa querida Rose igualmente se interesse, oportunamente, pela matrícula na instituição venerável a que foi conduzida.

Claramente, não estou fazendo vantagem alguma, porquanto, já devia estar de posse das instruções que me auxiliam a vencer os meus estados psicológicos menos felizes.

Mãezinha Ony, muito grata por seus impulsos generosos, sentido as mãos de suas filhas, dentro das suas, ao distribuir consolação e bênção com os companheiros necessitados do mundo.

Agradeço também ao Papai Antônio a adesão aos nossos propósitos, de vez que o vejo mais tranqüilo e feliz, espalhando paz e alegria com os nossos irmãos no trabalho que ele sustenta com carinho e segurança.

Pais queridos, a noite avança e devo terminar. Muito grata pelos seis anos de carinho duplicado com que se lembram de nós, desde aquele difícil doze de abril que ficou na contabilidade de 1980.

Trago-lhes as flores do nosso afeto, cujo perfume espero lhes envolva os corações queridos, e com as lembranças da Rosa e da Sonia, no abraço da vovó Maria Goulart, aqui ficam os muitos beijos de ternura e reconhecimento da filha que os ama com todo o coração,

                                                        Jane.

                                      Jane Furtado Koerich.

 

Identificações

 

11 - Padre Reus - Padre João Baptista Reus, S.J., (Pottenstein, Baviera, Alemanha, 1868 - São Leopoldo, Rio Grande do Sul, 1947) foi virtuoso sacerdote, muito lembrado, até hoje, no sul do país, por inumeráveis devotos, especialmente doentes e sofredores.  O Processo de sua Beatificação foi iniciado em 1953. Vários fenômenos marcaram a vida sacerdotal do Padre Reus, tais como: êxtases, estigmatizações, aparições, comunicações íntimas, etc., " narrados por ele mesmo no seu Diário Espiritual e na Autobiografia (compilada por imposição dos Superiores)". (O Servo de Deus Padre João Baptista Reus, S.J., P. Cândido Santini, S.J., sexta edição, Editora Metrópole, Porto Alegre, R.S.).

 12 – Osvaldo Melo – Luiz Osvaldo Ferreira de Melo, mais conhecido nos meios espíritas por Osvaldo Melo.  Nasceu e desencarnou em Florianópolis, Santa Catarina, respectivamente em 21 de julho de 1893 e 25 de julho de 1970. Diretor da Assembléia Legislativa do Estado, cargo exercido até sua aposentadoria em 1959. Foi jornalista, escritor e tribuno.  Integrou a Academia Catarinense de Letras.  Escreveu as seguintes obras espíritas: Sobrevivência e Comunicação dos Espíritos (FEB, 1935); Epístola dos Espíritos; e a novela Heroísmo e Humildade.  Em 1945, com um grupo de companheiros fundou a Federação Espírita Catarinense, a qual presidiu por 23 anos consecutivos, só deixando o cargo por motivo de saúde, em 1969. “Doutrinador, médium e de uma dedicação a toda prova, sempre defendendo a causa dos desvalidos e sofredores, realizou obras de amparo e benemerência no Movimento Espírita”. (De uma biografia de Antônio de Souza Lucena.)

 

 

 

 

 

 

III

 

A vida nova de ilustre médico recém-desencarnado

 

Doutor José Fonseca Guaraná de Barros nasceu em Aracaju, capital sergipana, a 23 de agosto de 1911.  Em 1935, formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e nove anos depois fixou residência em Campos para o exercício de sua nobre profissão, não mais deixando essa cidade fluminense até o seu último dia de vida terrena, a seis de agosto de 1985.

Médico sanitarista e dermatologista, sempre exerceu com grande dinamismo a chefia do Distrito Sanitário, em Campos, implantando "Serviços de Leprologia" (hoje, de Hansenologia) em várias cidades.  Dedicou-se com afinco à sua especialidade, sendo sócio fundador da Associação Brasileira de Hansenologia.  Em seu consultório particular sempre foi humanitário.  Em 1974 e 1975, exerceu a função de Instrutor de Ensino da Faculdade de Medicina de Campos.

Muito culto, Dr. Guaraná de Barros falava fluentemente francês e inglês. Traduzia também textos em espanhol, italiano e alemão.  Deixou mais de uma dezena de contos inéditos, chegando a publicar, porém, em 1984, uma coletânea repentista de " casos diversos."

Em 1981, merecidamente, recebeu o título de Cidadão Campista.

 

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Dr. José Fonseca Guaraná de Barros

 

Três anos após sua desencarnação, em reunião pública do GEP, na noite de 15 de outubro de 1988, Doutor Guaraná de Barros voltou a dialogar com a esposa, Dona Elza, revelando-se de "corpo inteiro", ou melhor "de toda a alma", merecendo dela, ao se expressar sobre a mensagem mediúnica, o seguinte parecer: "é total e absolutamente verídica."

Ao lado de questões íntimas, familiares, ele relata interessantes momentos de sua nova vida de médico, ainda dinâmico e estudioso no Mundo Maior, agora a serviço de Jesus, utilizando-se de recursos da própria alma em benefício dos mais necessitados.

 

Mensagem

 

Querida Elza,

Iniciarei este comunicado, pedindo a Deus que nos abençoe.

Veja bem: a desencarnação nos descortina uma vida nova. 

O ateísmo que me caracterizava, cede agora lugar a uma idéia mais nobre da vida.  É verdade.  Por aí costumamos estadear um conhecimento que não temos e, ao fazer isso, provocamos discussões inúteis e esnobamos uma superioridade ilusória.

Hoje lamento, tarde embora, a inutilidade de seus esforços em conjunto com os nossos amigos, para que eu estudasse os princípios do espiritualismo, até encontrar o caminho para Jesus.  Não teria perdido tanto tempo se o fizesse; entretanto, a presunção de saber me atacou o cérebro, à maneira do cupim no telhado e me reencontrei aqui na vida espiritual, quase que absolutamente desvalido de ânimo ativo para viver construtivamente.  Lembrava-me de sua paciência e da oportunidade dos conceitos que emitia quando nos diálogos comigo; no entanto, achava-me, tanto quanto me vejo agora, em outras faixas de vibração.

Falar com você, e para os nossos aí, era o meu desejo imenso, mas como? Não havia colocado na cabeça a mínima idéia de religamento com a existência terrestre.

Confesso-lhe que chorei sobre as ruínas dos meus castelos de palavras vazias, pressionado pela saudade que me tomou o coração redivivo. Esperneava entre as minhas contradições, quando recebi a visita do nosso benfeitor Doutor Alpheu Gomes, que soubera das minhas condições menos felizes no hospital em que me refugiara, e reanimou-me as fibras da fé em Deus, e em mim mesmo.  O venerável amigo assinalava no trabalho, o melhor clima para  minha recuperação espiritual, pois me via arrasado por indescritíveis depressões  e eu, que supunha haver trabalhado muito, conquanto não registrasse qualquer mal-estar na consciência, reconheci, de imediato, que todas as minhas tarefas no mundo não passavam de iniciação para tarefas maiores.

A sós de novo, considerava, comigo mesmo, que me cabia a iniciativa de procurar o meu próprio lugar nas atividades do setor em que me encontrava e não hesitei.  Rememorei as suas lições de coragem e paciência, humildade e fé, e busquei as autoridades que me poderiam  favorecer com a bênção do trabalho e me engajei.

Fui surpreendido com o reconforto de reencontrar o nosso amigo Severino Rosa, que, em Campos, se notabilizar pelo humanismo e não me envergonhei de lhe pedir instruções.  Severino abriu-me as da nova oficina e comecei a vida nova, aceitando a assistência aos enfermos semi-abandonados da periferia.

Atravessava todos os dias o nosso hoje magro Paraíba e dediquei-me, quanto se me fez possível, à necessária renovação.

Mas você não pode avaliar a minha alegria ao colaborar na recuperação de uma criança de seis meses, que se achava perto da última fase da vida corpórea.

Dedicara-me a estudos de imunização do ambiente em que o doente se achasse, e fiquei imaginando a felicidade de Pasteur, ao reaver a vida normal para uma pequenina vítima de pneumonia, com todos os lances de suposto triunfo para as colônias viróticas que a martirizavam.

Em lágrimas agradecia a Jesus, a quem me recomendava diariamente, e da criança salva da morte certa, parti para outras realizações.

Você sabe que sempre tive muitos corações amigos ligados ao Estado em que nasci, mas longe de me voltar para Aracaju, elegi em Campos a minha tenda de ação, sobretudo porque, ao lado da comunidade campista, possuía você e nossos filhos mais acessíveis à minha presença.

A saudade se fizera uma ferida em meu coração de esposo e pai; no entanto, afogava as minhas mágoas de médico recém-desencarnado, no serviço que se tornava mais intenso.

Naturalmente procurei aproximação com os nossos familiares domiciliados na Vida Espiritual, e não tive dificuldades para localizar o estimado sogro, para quem guardava sempre os meus cuidados filiais. O nosso pai, ou melhor, Augusto Machado Vianna Faria, se via hospitalizado para refazimento de forças e mantivemos longo entendimento.  Seu pai, no entanto, ainda se reconhecia longe do próprio estabelecimento. Tivera uma existência longa e se prendera a múltiplos afetos, dizia ele, tentando justificar a demora da própria restauração espiritual, e ainda assim, mostrava-se animado com as melhoras obtidas.  Passei a visitá-lo, quase que diariamente, e posso asseverar a você que as nossas conversações, ao que me parece, funcionavam para ele, na condição de exaustores dos pensamentos amargos que ainda trazia.

O mesmo não sucedeu ao nosso prezado Renato Tinoco, que por aqui sente muita dificuldade para desarraigar-se das impressões negativas que ainda traz da experiência terrestre; mas o Severino Rosa, médico e psicólogo de recursos admiráveis, em minha companhia, tomou-o à  conta de cliente que vem reavendo a posse dele mesmo, vagarosamente.

Outros amigos e parentes constituem campo de trabalho minucioso para nós, Severino e eu, e continuamos em nossa luta abençoada na qual os beneficiados somos nós, os médicos desencarnados, surpreendidos com a maravilha da mente humana, especialmente quanto ao trato de si mesmo.

Sei como são grandes os obstáculos que você tem a vencer, mas não se constranja diante da vida.  Observe que as provas são sendo minimizadas e você já consegue viver sem chumbar-se aos nossos filhos, que possuem obrigações diferentes da nossa.

Apesar de me reconhecer consciente quanto a isso, visito a Heloísa, Ricardo e a Beatriz sempre que isso se me faça possível.  A princípio, tudo era excessivo para mim. Agora, porém, dispondo de tempo, visito a Rua das Laranjeiras, a Avenida Pelinca e a Rua Tabapuã, em que nossos filhos situaram a residência que lhes é própria, notadamente quando se lembram do papai, atualmente em uma outra vida.  Todos estão bem e peço a Jesus para que não se percam por excesso de conforto.

Desculpe-me se me expresso com notícias pessoais tão íntimas; no entanto, esta é a primeira vez que posso escrever longamente sem maiores preocupações.

Continue, querida companheira, nas suas tarefas que eu não compreendia. Prossiga ligada às amizades queridas que lhe possibilitam acesso ao serviço de assistência aos nossos irmãos menos favorecidos.

Este comunicado vai excessivamente longo e preciso de ponto final sem encontrá-lo. Os que se amam precisariam de nova pontuação para se comunicarem mutuamente.

Perdoem-me se termino aqui as minhas pobres notícias e receba nas mãos abnegadas, o beijo mais abençoado e carinhosos que eu possa ter no coração.

Sempre seu,

                   José Fonseca Guaraná de Barros.

 

                            Notas e Identificações

 

1.- Querida Elza – Elza Faria Guaraná de Barros, esposa, residente à Rua Salvador Correia, 21, Campos, Rj.

2.- Dr. Alpheu Gomes – Em Campus, Dr. Alpheu Gomes de Oliveira Campos (Carangola, MG, 29/8/1885 – Niterói, RJ, 19/9/1929) foi médico homeopata e professor da antiga Escola Normal.  Deixou escrito o livro espírita Amor à Verdade.  É patrono de um grupo espírita em Campus.

3 – Severino Rosa – Médico, patrono de um Centro Espírita em Campos,

4 – atravessava todos os dias o nosso hoje magro Paraíba – O rio Paraíba corta a cidade de Campus.  Na ocasião da mensagem, havia longa  estiagem  e o rio estava bem menos caudaloso.

5 – Dedicara-me a estudos de imunização do ambiente em que o doente se achasse (...) ao reaver a vida normal para uma pequena vítima de pneumonia – A propósito, destacaremos um tópico de uma das cartas mediúnicas de Lineu de Paula Leão Júnior, no qual ele assim esclareceu sobre a assistência espiritual prestada a seu pai, meses antes, quando se submeteu à operação cirúrgica para implantação de pontes de safena, no Instituto do Coração, em São Paulo: Durante a intervenção de que foi objeto, formamos na própria sala em que cirurgiado um grupo de orações em prece com o desejo de inflar-lhe energias renovadoras.  Éramos nós os amigos e familiares de sempre: o Aristides Waldomiro Nery e esposa, Dona Agripina; o vovô Aristides  de Paula e a vovó Alayde Silveira; a nossa querida Etelvina Augusta e eu mesmo.  Explicou-nos o irmão Aristides que as nossas orações teriam fins bactericidas para a limpeza completa do ambiente hospitalar em que se encontraria as medidas providenciais de que necessitava.  Até então, não sabia que, carregadas pelas forças de nossos desejos reunidos, as preces que iríamos formular em silêncio, atuariam no âmago do estabelecimento, afastando os corpúsculos negativos suscetíveis de interferir em  sua posição orgânica. Aprendi mais essa lição: que a prece funciona como recurso preservativo, garantindo a higienização integral do meio ambiente em que nos reunimos ao seu lado, com o firme propósito de extinguir quaisquer focos ambulantes de bactérias que não se harmonizavam com as suas necessidades de cura (Vida Além da Vida, Francisco C. Xavier, Lineu de Paula Leão Júnior, CEU, S.Paulo, SP, primeira edição, 1988, páginas 54 a 55.)

6 -  o estimado sogro (...) O nosso pai, ou melhor, Augusto Machado Vianna Faria – Ambos, genro e sogro, quando na Terra, cultivavam grande amizade, sempre saboreando longas conversas.  Augusto Machado, nascido em Portugal, a 9 de outubro de 1896, desencarnou em Campos, a 16 de maio de 1987.

7 – Renato Tinoco – Renato Tinoco Faria, cunhado, desencarnou a 8 de fevereiro de 1987, no Rio de Janeiro, com 57 anos.

8 – visito a Heloísa, Ricardo e a Beatriz (...) visito a Rua das Laranjeiras, a Avenida Pelinca e a Rua Tabapuã – Seus filhos, Heloísa de Barros Spaggola Hermida, Ricardo Faria G. de Barros e Beatriz – citados na ordem cronológica dos nascimentos; e, corretamente, a relação dos endereços respectivos, nas cidades de Rio de Janeiro, Campos e São Paulo.

9 – esta é a primeira vez que posso escrever longamente – Dona Elza entendeu que ele não teve oportunidade de escrever-lhe, nas vezes anteriores que ela esteve em Uberaba, após a desencarnação dele.  Ele gostava de escrever longamente, tendo deixado muitos contos sem publicação.

10 – Continue nas suas tarefas que eu não compreendia – Refere-se às atividades espirituais espíritas de Dona Elza, adepta do Espiritismo desde a idade de 13 anos. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

         

IV

 

Deus tem caminhos para todos os filhos extraviados

 

 

Pedro Augusto Souza Gonçalves, jovem de 22 anos, inconformado com sua moléstia crônica – sofrendo desde os oito anos de idade, com certa freqüência, de fortes convulsões epilépticas, resistentes a tratamento médico constante, pôs um ponto final em sua vida física, com certeiro projétil, a sete de junho de 1988.

Residia no Rio de Janeiro, RJ, sua terra natal, com seus pais João Francisco Gonçalves Netto e Elza Souza Gonçalves, em Copacabana, à Avenida Atlântica, 4022 apartamento 502.

*

Porém, apenas três meses após o lamentável episódio, Pedro Augusto, em Uberaba, comunicou-se novamente com seus queridos progenitores, em longa e confortadora mensagem, “relatando fatos de que apenas ele, seus pais e irmãos tinham conhecimento”, conforme esclarecimento de seu pai.

 

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Pedro Augusto Souza Gonçalves

 

Agora, mais consciente de sua provação terrena, ele sofre, submetendo-se a “severo tratamento”, e sente-se profundamente arrependido, mas otimista diante do futuro, ao afirmar que “a esperança já está em meu coração” e “Deus tem caminhos para todos os filhos extraviados”.

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha Elza e meu pai João.

Estou informado de que pude vir até aqui, trazer-lhes as minhas notícias, pela concessão de amigos que consideraram o merecimento dos pais queridos, porque, de mim mesmo, ainda me encontro nas faixas de severo tratamento.

Perdoem-me a tribulação que lhes causei com a minha deserção da vida. Confesso-lhes que tudo fiz para evitar aquele amargo desfecho de minhas inquietações. Nervos doentes substituindo a fé que me cabia acalentar, a fim de vencer em minha provação. Estava longe de compreender que todas as criaturas suportam o fardo de que precisarão se desvencilhar, um dia, para se encontrarem consigo mesmas.

Mãezinha Elza, lutei muito. Assim pensei, admitindo erroneamente que milhares de pessoas não sofriam muito mais do que eu mesmo.  Detinha a vantagem de viver ao lado dos familiares queridos e parecia cego para não reconhecer que nada me faltava para ser tranqüilo e feliz.

Um ponto, porém, me atormentava o pensamento. Cedo reconheci que eu não poderia constituir uma família como desejava e deixei-me iludir com isso, quando há tantas crianças doentes e desajustadas esperando o amparo de alguém que lhes tutele a existência infortunada. Esqueci-me de que eu poderia incorporar-me no trabalho de uma instituição das muitas que amparam os pequeninos sofredores... E, porque não me seria possível uma vida igual à vida de outros rapazes, a idéia de revolta contra a vida se apoderou de mim.

Estou aqui nesta mesma sala onde estive um dia, buscando orientação e esclarecimento, e se não me foi possível a demora de mais alguns dias para ouvir os amigos que me reconfortariam, explicando-me o que seja a provação na vida de alguém, agora vejo todos e ouço a todos os que trocam opiniões, reconhecendo que me seria tão fácil suportar a carência de meus recursos genésicos, abraçando a vida que a Divina Providência me reservara.

Penso, atualmente, na legião de jovens aos quais algumas frases bastariam para esclarecê-los e traçar-lhes novos rumos!

Não sei explicar-lhes o conflito que passou a possuir-me, desde que alguns companheiros me informaram de que as minhas dificuldades orgânicas eram irreversíveis! Criando nomes supostos para disfarçar-me, tentei ouvir muitos médicos ou acadêmicos de Medicina que me ouviam com atenção.  Todos eram unânimes na opinião de que eu era vítima de problema sem solução.

Ao mesmo tempo, inflamava-me com o propósito de casar-me e ser feliz num lar, em que pudesse usufruir a vida de um homem comum. No entanto, a depressão, de que me vi acometido, ganhou todas as minhas resistências e entreguei-me à desencarnação voluntária, ignorando que a vida continuava.

Não tenho recursos para evadir-me da realidade e, por isso, preciso assumir o meu gesto infeliz. Sou claro em minhas afirmativas porque estou diante dos pais queridos, aos quais não posso enganar, conquanto reconheça que me competia uma entrevista com ambos na intimidade da família, e com isso, talvez, conseguisse um caminho para a minha própria libertação.

Pais queridos, perdoem-me aquele projétil que eu devia ter evitado, perdoem-me a ingratidão a que me entreguei quase inconscientemente, e continuem nas orações por mim, de vez que me envergonho de expor aqui a minha fragilidade.

No instante terrível em que me vi arrasado pelas próprias mãos encontrei rente comigo aquele benfeitor, que ainda me segue as experiências, fornecendo-me as chaves do conhecimento superior – esse amigo humanitário e abnegado que me colheu nos braços, quando já não possuía qualquer recurso de auto-sustentação. Ele me solicitou chamá-lo pelo nome de vovô Francisco, e me abençoa e socorre em todos os meus obstáculos, e me afirma que Deus tem caminhos para todos os filhos extraviados.  Estou consolado com a possibilidade de dizer-lhes isso.

Estou melhorando, porque os meus primeiros dias, aqui na Vida Espiritual, foram momentos do alucinado que já deixei de ser.

Muito grato por virem até aqui, na idéia de que colheriam alguma notícia do filho devedor que sou eu, sensibilizando-me com a decisão de romperem com os empeços da viagem, a fim de que eu pudesse rogar-lhes a bênção.

Pais queridos, do meu amanhã ainda nada sei, mas a confiança em Deus está novamente comigo e, com isso, compreendo que todas as minhas lutas serão superadas sem que eu, por enquanto, saiba como. Peço-lhes desculparem o filho infeliz  que era tão feliz em nossa família e não sabia.

Deus me favorecerá com oportunidades de trabalho para que me sinta reposto no caminho da segurança e do bem.  Sofri muito e ainda sofro, mas a esperança já está em meu coração e sei que aprenderei a viver e a servir.

Não posso continuar porque a emoção me constringe a garganta e o pensamento, mas seguirei adiante com a certeza de que me desculparam a leviandade e a doença, e me amam com o mesmo carinho dos dias passados. Mãezinha Elza, as suas lágrimas me lavaram a alma, e com o seu amor me sinto à frente de novo dia.

Pais queridos, a todos os nossos entreguem as minhas lembranças, e recebam o coração do filho que não  soube compreendê-los, mas que os ama com todas as forças da própria vida.

Até que eu volte melhor amanhã do que hoje me sinto, guardem as saudades e o imenso carinho do filho sempre mais reconhecido,

Pedro Augusto.

 

Notas e Identificações

 

1 – Psicografada em reunião pública do GEP, na noite de 17 de setembro de 1988.

2 – ainda me encontro nas faixas de severo tratamento – Refere-se ao tratamento médico do corpo espiritual (Ver item cinco do Capítulo 9).

3 – Estou aqui,  nesta mesma sala  onde estive um dia – De fato, esteve no GEP, em Uberaba, em março de 1986.

4 – vovô Francisco – Trata-se, provavelmente, do bisavô paterno, desencarnado no Estado do Espírito Santo, no início do século.

5 – Pedro Augusto – Pedro Augusto Souza Gonçalves nasceu no Rio de Janeiro, a oito de outubro de 1965.  Dedicava-se à arte fotográfica, possuindo um laboratório completo, e pretendia estabelecer-se nesse ramo de atividade ou similar.        

 

 

V

 

Confidências de coração para coração

 

Quando Juraci Borges Mendonça de Almeida, de 43 anos, desencarnou na UTI do Hospital Santa Helena, de Uberaba, Minas, a quatro de setembro de 1987, em conseqüência de angioma cerebral, não só seus familiares mais próximos sofreram  com a sua passagem.  Também Magda Borges Terra, sua prima de primeiro grau, muito padeceu, pois já acompanhava, hora a hora, a evolução daquela enfermidade que teve um triste final.

Elas não foram apenas primas ligadas por laços consangüíneos e uma amizade comum. Um afeto mais profundo entrelaçava esses corações, propiciando confidências recíprocas; cultivavam uma estima que vinha de há muito, com certeza desde encarnação anterior, nas posições de mãe e filha, segundo esclarecimentos de Chico Xavier. Observemos, por exemplo, que Magda foi madrinha do primeiro casamento de Juraci e madrinha de crisma de Lara, filhinha de Juraci.  E Juraci foi madrinha de casamento de Magda, tanto no civil como no religioso.

 

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Juraci Mendonça de Almeida

 

Com este pequeno preâmbulo, poderemos entender os afetuosos tópicos das cartas de Juraci, psicografadas em reuniões públicas do Grupo Espírita da Prece, nas noites de 27 de fevereiro, 04 de junho e 03 de setembro de 1988, tais como: “Conto isso a você, rememorando nossas confidências recíprocas”; “sinto o seu coração palpitando junto ao meu”; “Estamos unidas, coração a coração”; “Você resguarde a sua saúde”; “qual se neste momento, de profunda emoção, você fosse, acima de tudo, a minha própria filha a falar-me por dentro do coração”.

 

Mensagem

 

Minha querida prima e comadre Magda, peço a Jesus nos fortaleça e abençoe.

Estou cumprindo o que prometi.  Dar notícias e mostrar que a união das criaturas afins não desaparece.

Digo a você que apenas passei por um remanejamento de hospital para hospital, com a diferença justa de ambiente.  É  que neste lugar abençoado onde  me encontro, com auxílio de amigos e protetores queridos, o regime é diverso. Não estou entre as quatro paredes da cela curativa de nosso acolhedor Santa Helena, mas sim numa instituição mais ampla, na qual os convalescentes, entre os quais me vejo, podem sair em determinados horários, cada dia, para espirar o ar puro do grande parque que nos rodeia.

Isso me consola e fortalece, porquanto surpreendo grandes doações de silêncio para refletir a sós, comigo mesma, quanto aos meus novos caminhos.

Curioso, minha querida Magda, é que a pessoa, pelo menos aquelas que se reconhecem na faixa de conhecimento parcial na qual estou estagiando, nada sente com referência ao temor da morte,  que aí na vida física tanto nos atormenta.

Estamos desencarnados, mas não desvinculados, porque o amor é um laço de luz que nos prende uns aos outros, libertando-nos ao mesmo tempo pelas idéias novas que nos insufla.

Do que passou, no meu desprendimento do corpo cansado de preocupações e medicamentos: Um torpor muito grande me dominou e perdi a consciência de mim própria, durante horas, cujo número não estou, por enquanto, habilitada a dizer.  Despertei-me num aposento espaçoso e acolhedor, e a enfermeira que me atendeu era a nossa Maria Amélia, uma revelação viva de paciência e tolerância.

Não acreditava que tudo de novo que caiu-me sob os olhos fosse uma paragem diferente, tamanha a similitude com os nossos pertences domésticos no mundo.  Eu teria sido transferida de uma instituição para outra.  E somente, pouco a pouco, percebi que me achava num ambiente diverso do nosso.

Quando consegui me movimentar, comecei a tomar conhecimento daquele pedaço de solo, recoberto de vegetação balsâmica que parecia destinada, pelas exalações que destilava, a complementar minha cura.

Procurei os refúgios de oração e num deles me entreguei a revisar os últimos dias no corpo doente. Minha estrutura emocional estava mais leve e a acuidade dos meus sentidos me impressionava, despertando-me para a vida nova que eu começava a partilhar com outras pessoas, portadoras de remanescentes  da condição enfermiça de que haviam sido acometidas nos tempos finais do corpo.

Mas creio que essas impressões você terá adivinhado. Por isso, passo às notícias a que me referi.  Pensei no papai Geraldo e na mamãe Antônia, nos meus irmãos Lia e Valtinho, num misto de saudade e carinho que me envolvia a alma toda.  E nesse contexto de lembranças, você e a nossa Larinha estavam juntas de mim.

À parte para mim difícil era a ausência do filho Pedro Geraldo, que parecia longe.  Compreendi que o Hélio o retinha junto dele e o filho querido não podia gastar atenção e tempo, a recordar-me, segundo os meus desejos egoístas de mãe, ainda profundamente apegada à vida que eu deixara ou que me deixara, compelindo-me a aceitar outro clima e criar outras afeições.

Confesso a você que sofri com a perspectiva de ser esquecida por um filho, mas o diálogo com amigos improvisados me impeliu a reconhecer que eu não tinha razão. Conto isso a vocês, rememorando nossas confidências recíprocas.  O ciúme passou de imediato e a compreensão voltou a me possuir os pensamentos.

Entendo que não posso me dirigir à nossa gente, com a espontaneidade dentro da qual trago a você o que penso agora e como penso; no entanto, não tenho o direito de me queixar.  Toda realização exige preparo e se pude felicitar-me com alguma preparação, essa vinha de nossas conversações, que acabei lamentando fossem tão curtas.

Agradeço a você tudo o que vem fazendo por nossa Lara, a querida filha que atualmente passou à tutela de meus pais.  Medito no Hélio e peço a Deus o abençoe.

Acontece que nos dias últimos, sinto o seu coração palpitando junto ao meu.  Pedi permissão aos mentores que nos assistem para vir ao encontro da família, mas com o firme propósito de revê-la e ouvi-la.  Doe-me observar o que você tem sofrido e peço-lhe coragem e fé em Deus.

Roga ainda pela saúde e paz do nosso Paulo, a quem devo tanta dedicação.  Que o nosso André Luiz seja o pequeno companheiro capaz de renovar as suas forças.  Ele estampa na face o rosto paterno e, não obstante a infância verde em que se encontra, é um filho e amigo para todas as suas horas.

Rogo a você agradecer, por mim, à mamãe Antônia e à nossa querida Lia as preces que fizeram e ainda fazem pelo meu descanso.  Recebo, comovida, todos esses benefícios, mas entendo o descanso solicitado por nossa gente, em meu favor: a palavra descanso é, naturalmente, substituída pela palavra fortaleza, porque não posso compreender que as mães consigam repousar.  Os filhos são cordas vibrantes no coração e não consigo ser diferente das outras mães. Você me compreende isso me reconforta.

Impossível pensar em céus, quando a alma está doente de saudade daqueles que se fazem amores de nosso amor, quanto sangue do nosso próprio sangue.

Qual você pode imaginar, estou coerente com as idéias que trocávamos e esteja convencida de que não a esqueço.

Nada posso fazer ainda, em vista do meu reajuste demorado, mas a oração consegue tudo aquilo que ainda não temos e me firmo nas preces com que suplico a Jesus o seu fortalecimento, ao lado do nosso estimado Paulo e das nossas crianças.

Querida, lastimo ser obrigada a interromper o fluxo de meus pensamentos, mas devo terminar em concordância com as disciplinas que nos regem aqui as manifestações.  Saiba que não nos separamos.  Estamos unidas, coração a coração.

Peço a bênção de meus pais e envio lembranças aos meus irmãos e amigos.

Logo que me for permitido, voltarei a comunicar-me, empenhando minhas forças, ainda frágeis, para entregar ao seu ânimo a chama do otimismo e da fé atuante e viva. Meus agradecimentos ao nosso prezado Paulo e destaco o nosso André Luiz para representar o meu amor, junto de nossas crianças.

Agradeço ao Valtinho os cuidados com minha filha e fico magoada comigo mesma por não saber alinhavar o meu reconhecimento a todos os nossos como desejaria fazer.

Esperando que você prossiga em seu abençoado caminho de entendimento da vida e de serviço ao próximo, beija-lhe a face, a prima e comadre que lhe devota todo o amor que se me represa no espírito, qual se neste momento, de profunda emoção, você fosse, acima de tudo, a minha própria filha a falar-me por dentro do coração.

         Sempre a sua

                                                                  Juraci.

Juraci Borges Mendonça de Almeida.

 

                                       Notas e Identificações

 

1 - Magda - Magda Borges Terra, residente em Uberaba, a Av. Jesuíno Felicíssimo, 138.

2 - a nossa Maria Amélia - Maria Amélia de Souza Borges, avó de Juraci e Magda, desencarnada em Uberaba, a 18/9/1955.

3 - papai Geraldo e mamãe Antônia - Seus pais, Geraldo Mendonça e Antônia de Souza Borges Mendonça, residentes em Uberaba.

4 - irmãos Lia e Valtinho - Seus irmãos, Maria Aparecida Mendonça Toledo, Lia na intimidade, e Valter Borges Mendonça.

5 - a nossa Larinha - Sua filha Lara, do primeiro casamento, afilhada de Magda.

6 - Pedro Geraldo - Pedro Geraldo Borges Mendonça de Almeida, filho do segundo casamento, com Hélio de Almeida.

7 - André Luiz - André Luiz Borges Terra, filho do casal Magda e Paulo Terra.

8 - Agradecimento - "Meu eterno agradecimento ao estimado médium Chico Xavier, que permitiu reencontrar-me com a inesquecível prima e comadre Juraci, através de cartas tão fiéis, lindas e confortadoras. Agradeço também a dedicação de seu devotado colaborador nas atividades do Grupo Espírita da Prece, Dr. Eurípides Humberto Higino dos Reis.  Que Deus os abençoe cada vez mais nessa sublime tarefa de consolar e orientar tantas criaturas necessitadas.  (assinado) Magda Borges Terra".

Equilíbrio é  o melhor caminho para a Saúde do corpo e da alma.

 

Mensagem

 

 Querida Magda, Jesus nos abençoe.

Estou ouvindo suas indagações e registrando suas vibrações de amor.  Muito grata por todo esse mundo de encantamento que sua dedicação me suscita  no âmago do Espírito.

Hoje é o dia do aniversário de meu Pedro e peço a você abraçá-lo em meu nome, tanto quanto a Lara que está sempre em meu pensamento.

Você resguarde a sua saúde. Não permita que leviandades alheias lhe furtem a tranqüilidade.

Sei que muitos dos nossos não puderam crer em minhas palavras, nas primeiras notícias que me fora possível trazer, mas isso não tem importância.  A mamãe Antônia e o Papai Geraldo me aceitaram com reservas; no entanto, fizeram muito.  O Hélio não conseguiu pensar nas páginas que escrevi; entretanto, ele é bom e a generosidade e a compreensão formam a religião dos que desejam ser corretos e dignos.  A paz, Graças a Deus, está comigo e quem possui a paz sabe esperar.

Esta carta ligeira visa notadamente a solicitar-lhe cuidados, a benefício de você mesma.  Não se entregue às preocupações e emoções sucessivas.  Equilíbrio é o melhor caminho para a saúde do corpo e da alma.

Agora, termino pedindo a você transmitir a todos os nossos o meu carinho envolvido em muitas saudades.

E você, receba os meus votos de paz e alegria, em todos os seus passos.  Muito amor e reconhecimento da prima e amiga de todos os momentos,

Juraci

Juraci Borges Mendonça de Almeida

 

(...) os únicos mortos que conheço são os esquecidos e, mesmo assim, não são eles desconhecidos ou deslembrados de Deus. 

Querida prima e querida comadre Magda, Jesus nos abençoe e fortaleça.

Amanhã teremos o primeiro aniversário de meu renascimento na Vida Espiritual.

Estou sentindo, desde ontem, as suas impressões de saudade e tristeza, e peço a você não se mostrar inconformada com a nossa separação.  Rogo-lhe viver e cumprir a obrigação de viver feliz, conforme os desígnios de Deus.

Você sabe.  Trouxe comigo muitos problemas; no entanto, sei que a Bondade Infinita de Jesus não há de me desamparar.  Deixei você num recanto de inquietações variadas e entrei noutro maior do que aquele em que você me conheceu, chorando e lutando por acertar com os preceitos que recebemos de Jesus.

Meu pai Geraldo e minha mãe, tanto quanto meus dois filhos, lembram-se de mim qual se estivesse viajando por outras paragens, quando estou ao lado deles fazendo tudo o que a Bondade dos Céus me permite em minha fraqueza, que é fraqueza mesmo ou insuficiência espiritual.

Mas aquelas nossas conversações e nossas preces estão vivendo comigo, revigorando-me para aceitar os desígnios do Pai Supremo, em meu próprio benefício.

Peço-lhe coragem e paz, a fim de que a vejamos menos doente e mais reanimada para o desempenho de sua missão, junto do Paulo e do filho querido.  Não deseje morrer porque as suas melhoras talvez pareçam tardias.  Use os seus remédios com a certeza de que Jesus os abençoa.

Sou pequenina trabalhadora do Bem e quase nada posso fazer por enquanto, mas a Infinita Bondade dos Céus ouve primeiramente os mais fracos e mais sofredores.

O esposo Hélio segue o caminho que Deus lhe assinalou, e espero que ele seja sempre feliz.

Todos os nossos estão vivos em minha lembrança e, naturalmente você, tendo abraçado uma fé sincera e constante, muito me auxilia a caminhar.

Querida Magda, os únicos mortos que conheço são os esquecidos e, mesmo assim, não são eles desconhecidos ou deslembrados de Deus.  Anime-se e suporte as dificuldades do corpo físico, sem perder a sua paciência e espere por Jesus, que não nos abandona.

Mantenha no Espírito a convicção de que tudo vai melhor e de que você está melhorando. Os pensamentos positivos são âncoras que nos garantem a segurança. Recorde a nossa amizade e reconhecerá que essa bênção não pode ser destruída.  Trate o corpo com o carinho que ele requer, qual se fosse o barco de que você necessita para viajar no mundo físico, e guarde a convicção de que um porto de paz e renovação nos espera a fim de sermos felizes como sempre.

Quatro de setembro! Dizem que teremos a primavera em breves dias.  Para você ofereço as mais belas flores, e peço a Jesus para que o perfume da primavera próxima enriqueça o seu coração e o seu lar de muita alegria e paz.

Confiando no seu espírito de aceitação dos Desígnios de Deus, num grande abraço, com muitos beijos de irmã para irmã, sou muito mais do que a prima e a comadre a que você se refere com tanto carinho, sou a sua irmã da Espiritualidade, sempre juntas numa amizade real e no carinho sem adeus.

Sempre a sua

Juraci.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VI

 

Jovens em ação assistencial na terra

 

Kalil José deixou a vida física com apenas 21 anos, em acidente automobilístico na RJ-116, em Banquete, Distrito de Bom Jardim, RJ, a 6 de março de 1981.

O jovem residia em Niterói, RJ, com seus pais Dr. Nacyr e Therezinha Chicaybam, e naquele acidente fatal passeava de carro com sua namorada Márcia, que se recuperou das lesões sofridas.

Após um intervalo de quatro anos, enquanto "preparava seus sentimentos para escrever com a serenidade necessária", escreveu longa carta à sua mãe, presente à reunião pública do GEP, em Uberaba, na noite de 16 de março de 1985, expondo detalhadamente os lances e as emoções de sua desencarnação, bem como a luta de adaptação nos primeiros tempos de Vida Nova.

Após um ano (15/3/86), redigiu outra afetuosa carta, abordando a assistência espiritual à família durante a enfermidade de seu progenitor, cantando um hino de louvor à medicina humanitária.

Nas duas cartas seguintes (21/6/86 e 09/11/ 86), Kalil teceu interessantes considerações sobre o trabalho realizado no Núcleo Assistencial Escola Irthes Therezinha, localizado no Bairro Fazendinha, em Niterói, tanto pelos encarnados, como pelos Espíritos, inclusive por ele próprio e jovens amigos, junto aos irmãos mais necessitados.

 

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Kalil José Barbosa Chicaybam

 

Mensagem

 

Querida mãezinha Therezinha, depois de tanto tempo, eis-me aqui para beijar-lhe as mãos.

Não foi ausência, nem separação. Estive preparando meus sentimentos para escrever com a serenidade necessária. A princípio, me vi por dentro de um vulcão emocional que me destrambelhou todas as energias.

Escrevo, pensando igualmente no Chefe, nas irmãs queridas, na Márcia e no Ciso, pois associo todos os nossos familiares ao amor e à saudade que me prendem a todos, conquanto me sinta agora mais livre para exprimir os meus pensamentos.

Muito grato por suas preces e suas flores no dia 6 deste mês, quando a nossa memória se fixou no dia inolvidável do choque fulminante que não esperava.

Saíra com a Márcia para alguns momentos de refazimento e diálogo, e quando a carreta nos atirou para fora da pista, senti que minha coluna se quebrava, tão violento foi o golpe do carro em luta sobre minha garganta. Imaginei que devia prestar o socorro necessário à nossa estimada Márcia; entretanto, o meu raciocínio rodopiou e me vi incapaz de qualquer movimento a fim de amparar a companheira. O turbilhão de idéias que me acudiram ao cérebro apossou-se totalmente de mim. Quis gritar, pedir assistência; no entanto, algo me desligara do corpo inerte. Percebi a chegada de pessoas que se propunham a auxiliar-nos, ouvi os gemidos de Márcia e, no íntimo, chorei, lamentando aquela imobilidade dos meus recursos de manifestação. Notei que me transportavam para alguma parte que soube depois ser o hospital, onde o meu coração parou de bater.

Eu sabia pelas preleções do Chefe, que um caso de medula estrangulada era o prenúncio de morte próxima, e lembrei-me das suas preces. Mãezinha, por que há de chegar um momento na vida em que só a oração consegue prevalecer em nosso cérebro bombardeado pelo sofrimento? Esse instante havia chegado para seu filho.

Ouvi as palavras de amigos asseverando que o fim chegara para o meu corpo e deixei-me tomar por um anseio indefinível. Intimamente, notava todas as minhas faculdades ativas, muito embora nada pudesse dizer com os lábios hirtos. Vivia profundamente por dentro de mim; entretanto, reconhecia-me cego, sem conseguir explicar a mim próprio aquele arrasamento de meu próprio ser. Vagamente, mas com certeza, notei que me separavam de mim mesmo. Onde alguém que me pudesse esclarecer, quanto àquela dualidade que me atribulava e destruía? Apenas mais tarde, vim a saber que o meu corpo físico fora transportado para outro lugar, mas eu mesmo permanecia ainda no leito do hospital, à espera do socorro que me parecia tardar.

Depois de alguns minutos, que me pareceram longos demais, senti que alguém se sentara a meu lado e me afagava a cabeça dolorida com mãos carinhosas, que me faziam lembrar as suas, quando a sua dedicação me sabia doente. Aquelas mãos falavam de entendimento a respeito da minha aflitiva situação. - Quem me socorre? - indaguei no pensamento atormentado. Mas a pessoa que me trazia o bálsamo do alívio através de suas mãos leves e carinhosas, respondeu de maneira que ouvi distintamente as suas primeiras palavras: - Kalil, pois você não é o filho de Therezinha? Sou a sua avó Emília, talvez muito distante no tempo para que você me reconheça.

Talvez registrando a minha ansiedade, a querida benfeitora continuou:

- Vim buscá-lo para que você possa dormir.

Não sei se as minhas lágrimas de reconforto e gratidão me saltavam dos olhos ou se ficavam concentradas por dentro de mim. A comoção me invadiu de novas sensações de paz e calor, que me davam a idéia de que me reanimaria. A senhora que me amparava me pedia para dormir, dormir... Tomou-me o corpo sobre o colo, qual se fosse a mamãe e me aconchegava, de tal modo ao próprio peito, que a sonolência não demorou a transformar-se em sono profundo...

Depois de tudo isso, despertei, não sei depois de quantos dias, num aposento em que consegui respirar como queria. Respirar, respirar... Tentei abrir os olhos com receio de que não reagissem, mas, como num prodígio de Deus, a visão se me fazia presente.

Via a benfeitora que me buscara, ao meu lado, à feição de um anjo convertido em enfermeira que me guardasse. A voz não veio tão depressa. Comecei por fazer movimentos labiais, rememorando palavras que ficavam mudas em minha boca. Médicos vieram em meu auxilio e depois de aplicações, que acredito sejam de magnetismo curativo, me devolveram vida e vibrações às cordas vocais.

Atendendo-me à insistência, aquela que se declarava minha avó ou tataravô Emília, passou a me informar de todo o ocorrido, enquanto a escutava, sem disfarçar meu espanto. - E Márcia? - perguntei.

- Sim, - explicou-me. -Para Márcia não houve chamado para a vida espiritual. Ela se restaurará em breve tempo. Espere e eu mesma lhe farei companhia no regresso à casa...

Mãezinha Therezinha, compreendi que me cabia aguardar com paciência, até que chegou o momento de voltar. Voltar numa condição desconhecida para mim. A protetora deu-me uma das mãos, qual se conduzisse uma criança e entrei em nossa residência para a qual os meus olhos do corpo físico se haviam cerrado. Encontrei-a no quarto chorando à frente de um dos nossos retratos e compartilhei de suas lágrimas qual se os seus olhos estivessem pranteando nos meus.

Quis rever meu pai e fui encontrá-lo em outro aposento, com os olhos vermelhos de chorar, encerrado ali, naquele pedaço de nossa casa, como se quisesse poupá-la à dor de vê-lo amargurado e abatido. Foi um novo abraço de profunda emoção que a nossa dor traduzia em gotas ardentes. O Chefe sempre tão forte, também estava ali à minha frente, qual se trouxesse uma lâmina fincada no peito. Grande papai! Sabia dar expansão à nossa dor, fora de sua presença, decerto para não lhe agravar o estado de silenciosa desesperação.

Percorri a casa e encontrei a roupa da Teca e da Maria Emília, uma bola do Ciso que levei à altura do peito, com as saudades do querido irmão. Depois fui visitar a nossa querida Márcia, que se sentia quase restituída à normalidade orgânica, e outras emoções me barraram a palavra, porque não sabia senão exprimir-me através da linguagem do pranto, de vez que os meus pensamentos atribulados se misturavam por dentro de meu cérebro, inibindo-me quaisquer manifestações.

Foram assim os meus primeiros tempos na vida espiritual. A vó Maria Dulce veio várias vezes visitar-me e os nossos diálogos se faziam cada vez mais esclarecedores. Tudo atingira o estado ideal em que devia agora viver, mas as saudades da Mamãe e do Chefe, as saudades da Márcia e de meus irmãos ainda se adensavam por muito tempo dentro de mim. A paisagem que me rodeava era plena de beleza, mas o poder da mente nos insensibiliza para a renovação espiritual, quando não queremos ver as maravilhas que nos cercam, e a nossa vida em Niterói palpitava em meu Espírito. Minhas avós assinalavam a minha dor de rapaz, contrariado nos planos que arquitetara para o futuro e souberam conduzir-me à conformação construtiva, sem palavras de compaixão que me humilhassem os brios.

E a vida nestes quatro anos tem sido de reeducação e despertamento para outro gênero de existência. Trago-lhe, porém, as minhas saudades inalteradas. Muitos aspectos de nossa vida se modificaram principalmente em relação às meninas e o nosso Ciso está mais homem, prometendo ser o companheiro de que o Chefe necessitava.

Mamãe Therezinha, é tudo o que lhe posso dizer, pedindo em preces a Jesus para que a nossa Márcia encontre alguém que lhe envolva na felicidade que não lhe pude dar. Estou feliz ao vê-la ligada à nossa casa, substituindo-me junto aos queridos pais e, de minha parte, caminho para diante com estudos novos a me desafiarem a imaginação e a criatividade.

Agradeço, querida Mamãe, tudo o que a sua generosidade vem realizando em matéria de assistência em meu nome. Muitas vezes surpreendo-a distribuindo esse ou aquele benefício sentindo as minhas mãos nas suas, como se eu já tivesse algo para dar.

Não tenho ainda condições para ser útil aos meus entes queridos e aos nossos irmãos da caminhada humana, mas tenho o seu coração materno para aprender a doar o seu amor à necessidade de tanta gente. Mãe querida, muito grato.

O Ricardo Tunas está comigo e me recomenda agradecer por ele o que se faz em seu nome.

Compreendo a vida por outros prismas. A morte é um banho de renovação por dentro de nós mesmos.

Mãezinha Therezinha, perdoe-me haver escrito tanto. Isso é saudade, porque a saudade não conhece o ponto final. Se lhe posso dar qualquer segmento de mim mesmo, entrego-lhe o meu coração que lhe deve tanto!

Meus respeitos ao Chefe e meu abraço às irmãs e ao Ciso, e porque a emoção me tolda o olhar, termino esta carta assim longa, que os amigos presentes compreenderão, porque sou um filho a falar com a mãezinha que Deus me deu e a quem devia narrar tudo o que me sucedeu. Sei que os amigos nesta sala não me reprovarão ante o tempo que tomei a todos, porque o amor à Mãezinha Therezinha falou mais alto em mim, do que a cortesia que devo aos que nos recebem aqui com tanta amizade e carinho.

Receba, deste modo, as imensas saudades e os agradecimentos do filho que vem aprendendo consigo a transfigurar o mundo num céu para a caridade e para o serviço ao próximo.

Em sua alma querida, toda a minha alma, e em seu coração, todo o coração do filho, sempre seu,

Kalil José.

Kalil José Barbosa Chicaybam.

 

Notas e Identificações

 

1 - mãezinha Therezinha (...) pensando no Chefe - Casal Dr. Nacyr Chicaybam (chamado Chefe, pelo filho, na intimidade) e Therezinha Barbosa Chicaybam, residente em Niterói, RJ.

2 - Ciso - Apelido carinhoso de Nacyr Barbosa Chicaybam, irmão.

3 - avó ou tataravô Emília Emília Rita dos Santos, tataravô materna, desencarnada em 02/11/1943.

4 - Teca e Maria Emília -Irmãs. Teca é o apelido, em família, de Maria Thereza.

5 - vó Maria Dulce -Maria Dulce Mizher Chicaybam, avó paterna, desencarnada em 10/5/1950.

6 - O Ricardo Tunas está comigo - Ricardo Tunas Costa Leite, também de Niterói, filho do casal Ronaldo M.C. Leite e Carmen T.C. Leite, regressou ao Além aos 17 anos, em 23/12/1981. E amigo de Kalil e companheiro de tarefas no "Núcleo Assistencial" da Fazendinha. Sua participação nesse Núcleo é descrita na obra Gratidão e Paz (Francisco C. Xavier, Espíritos Diversos, IDE, 1ª. ed., 1988, cap. 4.), da qual é co-autor.

 

Segunda Mensagem

 

Querido Chefe e querida mamãe Therezinha, estamos juntos. Não me seria possível renunciar ao desejo de estabelecer o contato desta hora.

Querido Chefe, estou quase em forma a fim de servi-lo, segundo os meus deveres. Creia que ao ver aqui os pais queridos, penso em como seríamos felizes se estivéssemos todos aqui reunidos, o nosso Ciso, a nossa Maria Emília, a nossa Teca e a nossa Márcia para o nosso diálogo aberto, em que lhes falasse a todos de minhas saudades e de minhas alegrias. Tanta gente do coração, queríamos ao nosso lado; no entanto, é preciso contentar-nos com o possível.

Agradeço os pensamentos de carinho e as flores de amor que recebi de casa, no dia 6 deste mês, e prometo esforçar-me para crescer em méritos espirituais, que ainda não tenho, para retribuir-lhes tantas demonstrações de afetuoso apreço.

Querido Chefe, estas minhas páginas têm sobretudo o objetivo de saudá-lo por suas melhoras de saúde e de comunicar-lhes que a Vovó Maria Dulce esteve, em todo o tempo de seu tratamento, ligada à mamãe Therezinha, infundindo-lhe as forças precisas para doar-lhe toda a assistência que o Chefe querido merece de todos nós.

Pai, a sua missão no auxilio dos doentes é um encargo de origem sublime. Medicina em sua abençoada vida é um apostolado, e Deus nos permitirá a felicidade de vê-lo sempre identificado com a ciência do bem, amparando aos que necessitam de apoio e sobretudo aos companheiros desvalidos que contam apenas com Deus e com os homens de bem e os médicos humanitários a fim de sobreviverem. Tenho acompanhado as suas tarefas, e orgulho-me de ser o seu filho, conquanto a minha pequenez para ombrear consigo em suas realizações.

Tenho procurado inspirar ao nosso querido Ciso quanto às oportunidades que ele usufrui ao seu lado, e contamos que Jesus auxiliará ao irmão querido para que ele se lhe faça o companheiro dedicado que não pude ser.

Chefe querido, receba as nossas felicitações pela sua resistência em todo o tratamento de sua saúde que seguimos, dia-a-dia, formulando nossos votos ao Céu por sua volta às atividades normais. Agradeço à mamãe Therezinha tudo quanto faz no meritório serviço de assistência, atribuindo a mim a auto-ria de serviços que efetivamente não são meus, e sim dela própria, cujo coração irradia entendimento e bondade.

A vovó Maria Dulce veio comigo abraçá-los, mas a Vó Emilia nos fez mensageiros do carinho que lhes consagra. Digo Vó Emília, porque eu mesmo admito que nessa questão de nomenclatura, em árvore genealógica, o título dos antepassados não deve passar de avô e avó, porque buscar designações recuadas no tempo seria uma tarefa desagradável e até mesmo ingrata, de vez que não compreendo se considerem velhos aqueles corações aquecidos de amor e sempre jovens no esforço de auxiliar-nos e compreender-nos.

Querido Chefe, com a mamãe Therezinha, receba o que eu possa trazer de bom em meu coração, e se trago qualquer migalha do que seja bom na vida, devo isso aos pais queridos, aos quais a Divina Providência me confiou. Com muito carinho à nossa Márcia e às irmãs queridas, com o Ciso sempre em minha lembrança, entrego-lhes aqui, ao querido Chefe e a querida mamãe Therezinha, todo o coração do filho sempre mais reconhecido,

  Kalil José.

Kalil José Barbosa Chicayban.

 

Terceira Mensagem

 

Querida mãezinha Therezinha, abençoe-me.

Não esperava fosse eu o servidor designado para escrever-lhe, pois temos conosco outros amigos de Niterói. Acontece que mentores nossos julgaram oportuno me expressasse sobre os encargos de assistência na Fazendinha, porque lá me integro na equipe de trabalho, e não pude faltar ao dever da obediência.

O nosso Ricardo está em nossa companhia e abraça a irmã Dona Carmen com alegria. E também de minha parte, alem da satisfação de abraçá-la, lembro-me do amor ao querido Chefe, meu amigo e meu pai,e tenho no coração o querido Ciso, e as queridas irmãs Teca e Maria Emília, com todos os nossos de imagens fixadas em minha memória, entre os quais a nossa Márcia, possui no meu íntimo uma foto permanente. Isso tudo é natural, diz a Vó Maria Dulce que nos acompanha, porque todos nós temos no Espírito um cantinho reservado aos corações que se nos fazem mais queridos.

A Vó Emília continua zelando pela saúde do nosso querido Chefe, esperando que ele permaneça em dia com os tratamentos e regimes necessários à preservação de suas energias. Há muita gente que acredita serem os médicos um tanto descrentes dos remédios que aconselham aos pacientes, motivo pelo qual a cirurgia vem ganhando terreno nas cidades mais populosas; entretanto, sei que meu pai não pensa desse modo e sabe assimilar as medicações de que se reconhece necessitado.

Mas venho agradecer a oportunidade de serviço que me ofereceram na Fazendinha, que se tornou, aos poucos, um aldeamento ou subúrbio da bondade pelas tarefas que tantos corações queridos ali desempenham com alegria.

Com apoio de vários mentores nossos de Niterói, a turma operosa está ampliando o espaço para socorro adequado às mães e crianças desvalidas, e agora que achamos todos os servidores concentrados na obra em realização, estamos colaborando para que os nossos ser-viços ali se façam cada vez mais eficientes e mais amplos.

De meu lado, exerço atividades no grupo de companheiros que manipulam recursos bactericidas, em favor das crianças, e sinto-me satisfeito, dentro do novo mister que me faculta o necessário ensejo para treinar em trabalho de assistência, conseguindo prosseguir em meus estudos ao mesmo tempo.

A obra é extensa e Jesus nos permitirá que novos cooperadores apareçam. O serviço em andamento chama outros amigos às ações do bem, que é sempre um monte de obrigações por atender. Peço ao seu carinho de mãe, saudar as nossas irmãs e irmãos que se dedicam com tanto empenho ao serviço por amor aos semelhantes. Alguém dirá que uma realização sozinha não resolve os problemas da Terra; no entanto, quando outras realizações congêneres se estabelecerem, teremos conquistado vasta faixa do mundo para a vitória do bem.

Temos igualmente os críticos que sorriem do nosso esforço modesto, alegando, por exemplo, que aparece muita gente embriagada no Morro do Cavalão, onde a Fazendinha mantém concurso admirável e constante. Mas somente aqui, na Vida Espiritual, conseguimos enxergar a provação do homem ou da mulher que se embriaga. Depois de conhecer-lhes os problemas, falha-nos de todo o desejo de recriminá-lo, porque em maioria são eles tristes irmãos nossos que não possuem a precisa coragem para enfrentar a precariedade dos meios de que dispõem para garantir a própria subsistência.

Não estamos justificando hábitos infelizes; entretanto, colocando-nos em lugar deles. Que faríamos nós se víssemos um filhinho doente, em condições graves, sem recursos para assegurar-lhe o socorro preciso? Que comportamento seria o nosso, enxergando a nossa própria mãezinha enferma, suportando provas orgânicas irreversíveis sem que lhe pudéssemos minimizar os sofrimentos? Como procederíamos na provação de uma criança que saísse de casa, com o desejo de encontrar qualquer resto de prato, que lhe servisse à guisa de almoço? Problemas que a turma da Fazendinha vem estudando com atenção e que está solucionando sem alarde, em nome de Jesus, o Amigo Celeste.

Mamãe Therezinha, o Ricardo e eu nos engajamos na obra, e estamos cooperando quanto possível para que as exigências da alimentação, especialmente para o grupo infantil, não sofram qualquer corte, de modo que os nossos pequenos cresçam fortes e felizes.

Sei que o seu coração está sempre decidido a doar o que possa e quanto possa, nessa bendita seara de amor ao próximo, e agradeço-lhe os exemplos que valem para mim por estímulos santos para que não nos enfraqueçamos no ideal de servir.

E agradeço também ao querido Chefe, que nunca sonegou colaboração gratuita aos companheiros doentes e infelizes. Sou um filho sem justificação para perder tempo e oportunidade para trabalhar, porque nos pais amigos vejo espelhos, nos quais devo enxergar a minha própria imagem e melhorar a pequenina parcela de ação que me cabe no setor de serviço em que me encontro.

Agradeço a Jesus por todas essas bênçãos, que erradicaram de meu pensamento as lembranças amargas do acidente, no qual a Márcia e eu fomos vítimas de compulsórias renovações. O trabalho com Jesus é vida nova e por isso, escrevo estas notas sem a preocupação de salientar nomes, porque isso nos faz cair nas omissões lamentáveis, já que todas as criaturas maravilhosas que agem e concretizam o bem, por dentro do nosso campo de trabalho, nos merecem especial apreço pela dedicação com que se conduzem.

Deus nos ilumine e nos abençoe, para que possamos filtrar os ensinamentos de Cristo, através de nossas mãos e corações irmanados para o bem.

Aqui ficam as nossas palavras despretensiosas, em que mostramos a nossa felicidade de aprender a servir.

 Meu abraço ao querido Chefe, e muito carinho à Márcia e às irmãs que estão sempre hospedadas em minhas saudades grandes.

O Ricardo envia muitos amor à Mãezinha Dona Carmen, e eu, Mamãe Therezinha, lhe entrego todo o meu amor filial, rogando a Jesus fazê-la com meu pai sempre mais fortes e mais felizes. Com o meu respeito de sempre, receba a ternura e a saudade do seu filho e companheiro de sempre,

  Kalil José.

Kalil José Barbosa Chicayban.

 

Notas

 

7 - assistência na Fazendinha - O Núcleo Assistencial Escola "Irthes Terezinha", instalado na Fazendinha, um bairro carente de Niterói, "é um trabalho espírita com evangelização para adultos e crianças, assistência médica, distribuição de gêneros alimentícios, material escolar, e enxovais para recém-nascidos, além do reforço escolar para as crianças carentes. Também são confeccionados uniformes escolares e bonecas, estas distribuídas por ocasião do Natal. Foi fundado em 27/4/1980, por inspiração do nosso querido Chico Xavier, e congrega hoje uma equipe composta de 90 colaboradores que dão atendimento a 100 famílias e 400 crianças. Faz parte da tarefa, o ensino de trabalhos manuais às mães assistidas, sendo que a renda obtida com a venda, em bazares beneficentes, do material elaborado por elas, é revertida às próprias mães.

 

 

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O Núcleo Assistencial Escola "Inhes lherezinha" fica localizado na

Fazendinha, um Bairro carente de Niterói, RJ.

 

O Núcleo Escola está subordinado ao Grupo Espírita da Fé, que funciona à Rua Doutor Sardinha, 149, Santa Rosa, Niterói."

8 - exerço atividades no grupo de companheiros que manipulam recursos bactericidas, em favor das crianças, - E uma interessante atividade, semelhante à descrita pelo Dr. José F. Guaraná de Barros, no Cap. 3 desta obra. Na próxima Carta, Kalil apresenta explicações mais detalhadas do seu "posto de trabalho bactericida."

 

Quarta mensagem

 

Querida mamãe Therezinha, estou aqui, em companhia do Ricardo e de outros amigos, a fim de agradecer-lhe, tanto quanto à nossa irmã Dona Carmen, pelo que vem sendo realizado na Fazendinha, em Niterói.

O progresso da escola de Irthes Therezinha é manifesto aos olhos de todos os que visitam a oficina de trabalho e, sobretudo, desejo destacar o nosso entusiasmo com os trabalhos de artesanato, fio e costura levados a efeito por nossas irmãs, as senhoras assistidas que se promoveram à condição de partícipes na administração, pelo serviço que realizam em tarefas contabilizadas pela instituição com a participação de todas as que trabalham na vida salarial de nossa casa.

É importante para mim que, enQuanto jovem na vida física, nunca me interessei pela atividade de irmãos da Humanidade, a ponto de auxiliá-las na defesa da própria saúde. A Fazendinha se reveste agora de funções específicas valiosas, como seja a alimentação suficientemente controlada, a alfabetização de crianças e adultos, erguendo almas e vidas para o nível de normalidade a que todos aspiramos.

Perguntasse aí uma de minha irmãs, a Teca ou a Maria Emília, como se achava o açúcar ou o óleo usados em casa para a nossa família e não saberia responder, considerando a pergunta desnecessária e inconveniente, de vez que me escorava em seu carinho de mãe e na previdência do querido Chefe; no entanto, agora fiscalizo por obrigação e igualmente por amor os pratos em que o alimento é administrado às crianças, e acompanho a água potável com atenção, para cumprir os deveres que me foram confiados, com a pontualidade do servidor que não deseja se desmoralizar.

A Márcia, talvez não teria um esposo tão exigente, em assuntos de nutrição e saúde, qual me acontece presentemente. Ela pode sorrir um tanto de minhas informações e afirmar que o nosso casamento se faria sem tantas preocupações com a higiene dos meninos desvalidos; no entanto, mais tarde, a querida Márcia verificará quão significativo se faz agora semelhante trabalho para mim, de vez que, na palavra da avó Emília, é preciso aprender a nos encarregarmos de tarefas consideradas pequeninas para que possamos abraçar as grandes empresas de serviço qual se fossem insignificantes. Aqui, reconhecemos que o espírito de seqüência deve estar presente em todas as nossas organizações e partilhando as atividades singelas de nossa instituição, no posto de trabalho bactericida humilde, embora vou seguindo em frente, na esperança de especializar-me e ser mais útil.

Mãezinha Therezinha, muito grato por seu entusiasmo quando lhe comunico a minha alegria por estar aprendendo a servir. Conjuntamente com o trabalho singular a que fui chamado, consigo igualmente assimilar a verdade de que todos somos filhos de Deus e de que o mais instruído deve ensinar ao companheiro que ignora os mínimos princípios da convivência humana; e as ilações que retiro de meu esforço ainda humilde, me impelem a refletir na grandeza do ensino na Terra, quando no currículo de lições estiver incluindo a prática do amor ao próximo e da proteção à Natureza.

Mãe querida, sei que o Chefe se mostrará satisfeito, porquanto meu pai possui bastante compreensão da tarefa pequenina de seu filho, que se faz servidor dos irmãos mais necessitados do que nós mesmos, e se reconhecerá mais satisfeito com isso do que se me soubesse transferido para urna das grandes cidades do exterior, exercendo o tráfico clandestino de certos valores do comércio e palmando muito dinheiro.

A nossa Márcia igualmente saberá entender-me, e se orgulhará do companheiro que abraçou o serviço considerado desprimoroso pelas convenções na Terra, mas de alto valor na Vida Espiritual.

Muito amor à nossa Milita, ao Vicente e ao Léo. Ricardo e eu felicitamos a todos os corações amigos daquele pedaço de Niterói que nos fala muito alto aos corações.

Ao Ciso, envio o abração de sempre. Às meninas nossas e à nossa Márcia as minhas saudades e o meu carinho habitual. Um abraço respeitoso ao querido Chefe, a quem peço não desconsiderar as melhoras da saúde e prosseguir com a medicação precisa, e para o seu coração de mãe, ofereço os meus melhores sentimentos com todo o reconhecimento por tudo quanto devo à sua infatigável bondade, sempre o seu filho reconhecido,

Kalil.

Nota

 

9 - O progresso da escola de Irthes Therezinha - Irthes Therezinha Lisboa de Andrade, nascida e desencarnada em Ubá, MG, respectivamente, em 27/8/1921 e 15/ 7/1977, foi espírita atuante, inclusive, no campo mediúnico, recebendo instrutivas páginas do Além. Diplomou-se professora primária. Três meses após o desenlace, enviou a sua primeira mensagem, pelo lápis mediúnico de Chico Xavier, endereçada aos seus amigos, integrantes da União da Mocidade Espírita de Niterói, publicada no Anuário Espírita 1984, p. 75/80. Em 1983, a Casa Espírita Cristã (Edições CORDIS), de Vila Velha, ES, lançou o belo livro Irthes & Irthes, de autoria mediúnica de Júlio Cezar Grandi Ribeiro, com mensagens do Espírito de Irthes, bem como outras, anteriormente psicografadas por ela mesma, agora enviadas pela Irthes após revisão dos próprios autores espirituais. Irthes, Espírito, é também co-autora da obra Cura, de Francisco C. Xavier, Autores Diversos, GEEM, 1988.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VII

 

Primeiros momentos de desencarnação

 

Quando o Dr. Aluísio Maciel e sua esposa Laudelina, residentes em Igarapava, SP, resolveram, após duas semanas de adiamento, dirigir-se a São Paulo em viagem de passeio, não poderiam imaginar que sérios e surpreendentes acontecimentos os aguardavam.

Na 'Capital paulista, foram convidados para um almoço pela irmã do Dr. Aluísio, Vânia, lá residente, esposa do Dr. Carlos Mendes Coelho. Na data marcada, 23 de maio de 1985, na residência dos anfitriões, estando os dois casais assentados à mesa para o almoço, num ambiente familiar de paz e amizade, deu-se o inesperado, com os fatos assim narrados por Dona Laudelina:

"Estávamos almoçando, quando Aluísio, ao meu lado e de Carlos, se inclinou para a mesa já sem vida. Carlos ergueu a cabeça de Aluísio e constatou que ele não estava reagindo. Passaram-se, creio eu (e segundo o Atestado de Óbito), cinco minutos, e Carlos caía em meus braços também sem vida."

*

Naturalmente, a desencarnação de ambos, de forma tão surpreendente e quase simultânea, embora portadores de sérios problemas cardíacos, muito traumatizou os familiares.

Mas, apenas cinco meses após o acontecimento, a 18 de outubro de 1985, Dr. Aluísio Antônio Maciel voltou a dialogar com a família, pela psicografia de Chico Xavier,na noite em que sua filha Maria Helena compareceu à reunião pública do GEP, em Uberaba. Foi a "dádiva consoladora que Jesus nos premiou, concedendo-nos esse bálsamo para nos aliviar um pouco nesta dura separação", segundo palavras de Da.Laudelina em sua atenciosa carta.

Confirmando o que sempre dizia à esposa: "Laude, a morte não existe...", Dr. Aluísio veio historiar a sua passagem para o Além, expondo muitos lances daquele almoço inacabado, ocorridos após o seu desfalecimento total, e portanto, já na condição de Espírito liberto da matéria!

 

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Dr. Aluísio Antônio Maciel

 

Mensagem

 

Querida filha Maria Helena, Deus nos abençoe.

Ainda me encontro sob o trauma daquela visita aos nossos. O meu cunhado Carlos e eu estávamos tão contentes que nos assemelhávamos a duas crianças de regresso à casa dos pais. A sua tia Vânia não podia ser mais atenciosa. Tudo disposto com segurança e alegria para que o Carlos e eu pudéssemos conversar à vontade.

Lembro-me, vagamente, de que o almoço nos esperava e a minha felicidade era tão grande que me senti, repentinamente, transtornado. O coração me pareceu imobilizado. Creio que deixei transparecer para meu cunhado aquele aborrecimento súbito, porque não conseguia mover-me. Ele me chamou em voz alta, enquanto a Vânia buscava álcool para me umedecer os pulsos, assim acreditei, mas o coração, no peito, se me figurava um motor repentinamente imobilizado, sem possibilidades de conserto imediato.

Alguém disse: "- O Aluísio está morrendo..." Escutei estas palavras com espanto, porque embora não conseguisse falar, estava pensando com acerto.

O Carlos, no mesmo instante, foi retirado da sala em que nos achávamos e ouvi vozes aflitas anunciando que meu cunhado estava no fim. Mensageiros, recados, telefonemas e pedidos era expedidos com urgência, mas a verdade é que ambos estávamos destinados à mesma renovação. Ciente de que o cunhado estava, igualmente, passando pelo mesmo fenômeno que me assombrava, não mais tive forças para sustentar-me em posição certa, e somente não cai no piso do recinto porque mãos de pessoas amigas seguraram-me o corpo inerme.

A luta foi muito grande, dentro de meu cérebro, até que me veio a impressão de que eu tombara no desconhecido. Não sei se foi desmaio ou sono compulsivo. Sei apenas que, nos últimos lampejos de lucidez, vi uma senhora que chegava para me socorrer. Não tive dificuldade para identificá-la. Era a querida mãe Maria Moreira, que se abeirou de meu corpo e me recolheu, como em outro tempo, quando na meninice me via estatelado no chão. Junto dela, compareciam enfermeiros que me carregaram e nada mais vi.

Acordar daquela inconsciência foi outro prodígio que não compreendi. Queria que a nossa Laudelina estivesse comigo e com muito custo pude retomar a voz para saber de Mãe Maria Moreira o que vinha ser tudo aquilo. Soube, com evidentes expressões de medo e de incredulidade que o coração do Carlos e o meu haviam parado à feição de dois relógios, em cujo bojo a corda não mais funcionasse. O resto, minha filha, você pode entender, sem que eu tenha necessidade de entrar em pormenores.

Estou ainda abatido e atônito. O tempo ainda não me devolveu todas as faculdades, e falo a você com a fidelidade do pai que não deseja que a família fique sem informações.

Sei que a morte não existe, mas não sei explicar isso tanto quanto nunca soube explicar como foi o meu nascimento no mundo. Se tento compreender tudo o que está me ocorrendo, noto que me atropelo mentalmente, e acabo absolutamente incapaz de prosseguir em elucidações para mim próprio.

Limito-me, aqui, a lhe agradecer o interesse pelo pai amigo, para sossegar igualmente a inquietação da mamãe Laudelina, que me foi a companheira dedicada, cujo carinho ignoro de que maneira agradecer.

Sei que o Carlos está em condições iguais às minhas, e agradeço à Vânia toda a caridade que me dispensou.

Querida filha, por favor, faça-me lembrado aos queridos filhos Ângela e Aluísio Filho. Console a nossa Laudelina, e transmita esperança e paz ao coração da nossa estimada Vânia.

Agora me retiro, em companhia de Mãe Maria Moreira, que me auxiliou a escrever o que pude, satisfazendo ao seu pedido de notícias. Pedindo a Jesus abençoar toda a nossa família, e muito grato à sua bondade de filha atenciosa, deixa-lhe aqui um grande abraço, o papai e seu servidor sempre grato,

Aluísio Maciel.

 

Notas e Identificações

 

1 - Maria Helena - Filha. É fisioterapeuta e reside em Piracicaba, SP.

2 - Carlos - Dr. Carlos Mendes Coelho, cunhado, Juiz de Direito aposentado.

3 - Escutei estas palavras (...) O Carlos foi retirado da sala (...) Ciente de que o cunhado estava, igualmente, passando pelo mesmo fenômeno que me assombrava, não mais tive forças para sustentar-me em posição certa, e só não caí no piso do recinto porque mãos de pessoas amigas me seguraram o corpo inerme. (...) A luta foi muito grande dentro de meu cérebro (...). - Pela narrativa de Da. Laudelina, conclui-se que o Dr. Aluísio, já estando totalmente desfalecido, no mínimo há 5 minutos, só poderia ouvir, enxergar e permanecer algum tempo, sem apoio, em "posição certa", graças ao seu corpo espiritual (ou perispírito), que tem igualmente um cérebro (espiritual) como cabine de comando, sentindo-se como se ainda comandasse o corpo físico. Essa impressão, que ele descreve com fidelidade, ainda "sob o trauma daquela visita aos nossos", é freqüente nos recém-desencarnados.

4 - querida mãe Maria Moreira - Sua genitora, Da. Maria Moreira Maciel, Lica na intimidade, desencarnada em 07/9/1970, aos 70 anos de idade. Seu esposo, Francisco Antônio Maciel, também já desencarnado, agricultor e político, ex-Prefeito Municipal, foi figura de destaque em Igarapava.

5 - Sei que a morte não existe - "Aluísio sempre se interessou pela Doutrina Espírita. Lia muito, freqüentou bons Centros em São Paulo, quando lá morávamos. Respostas para seus problemas ele sempre as encontrou no Espiritismo, e disse-me, em várias ocasiões: Laude, a morte não existe...

 6 - Ângela e Aluísio Filho - Filhos. Ângela, dentista, reside em São Paulo; e Dr. Aluísio Maciel Filho é médico cardiologista em Igarapava.

7 - Aluísio Maciel - Dr. Aluísio Antônio Maciel, natural de Ribeirão Preto, SP, foi advogado e agricultor. Deixou a vida física aos 63 de idade. Com seu habitual dinamismo, teve ativa participação na comunidade igarapavense, destacando-se dentre suas inúmeras atividades: Presidente da Associação de Plantadores e Fornecedores de Cana, por dez anos; Presidente do Rotary Clube; e Fundador do Sindicato Patronal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VIII

 

"Com certeza passei pela prova que era minha dívida."

 

Num momento em que conversava descontraidamente com familiares, em seu lar, na cidade de Rancharia, SP, Jairo Coutinho da Rocha foi procurado por um rapaz desconhecido, que lhe oferecia uma perua Brasília, à venda, naturalmente informado por terceiros do interesse do jovem pelo veículo. E, diante das boas informações, Jairo não teve dúvida em se dirigir ao local onde estava guardado o veículo, levando o rapaz na garupa de sua moto XL.

Não demorou muito e os familiares de Jairo, profundamente surpresos, foram avisados de que ele dera entrada no Hospital local, em estado grave, atingido por um tiro quase fatal. E a família veio a saber, nas horas seguintes, que aquele rapaz desconhecido, nunca mais encontrado, baleou-o antes de roubar-lhe a moto.

Apesar do tratamento médico intensivo, ele veio a desencarnar no mesmo hospital, a 17 de setembro de 1983, dezoitos dias após o assalto.

Cinco anos depois, a 18 de fevereiro de 1989, o próprio Jairo regressou, em Espírito, trazendo aos familiares muito conforto e paz, permitindo à sua mãe, Da Matilde, realizar o seu "maior sonho: o de receber uma mensagem psicografada por Chico Xavier", segundo suas próprias palavras escritas.

Em sua curta, mas expressiva carta, ele revela bela evolução espiritual ao perdoar seu algoz, e elevada compreensão da Justiça e Misericórdia Divinas ao afirmar: "Com certeza passei pela prova que era minha dívida."

 

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Jairo Coutinho da Rocha

 

Mensagem

 

Querida mamãe e querido papai Agenor, peço a Jesus nos abençoe.

Agora que a tempestade espiritual de minha saída do mundo físico está amainada, venho dizer-lhes que estou bem, conquanto as saudades que me torturam os sentimentos.

Peço-lhes que continuem valorosos e serenos. Não desejo falar do projétil que me arredou da existência. Quem pode dizer que não passará pela crise que atravessamos? Caí baleado sem que tivesse qualquer noção de culpa.

Quem teria manejado a arma que me apanhou o corpo desprevenido? Sinceramente não sei. Tiros ao acaso acontecem todos os dias, em muitos lugares. Com certeza passei pela prova que era minha dívida.

Nada tenho contra ninguém. E peço mesmo aos pais queridos me auxiliem na manutenção da paz com todos. Se eu souber quem me abateu com a bala fatal, pedirei a Jesus que o abençoe; e se esse alguém precisar de um companheiro para qualquer serviço que lhe seja útil, estarei pronto, desinteressadamente, para cooperar.

Tudo vai passando e Deus nos fornece coragem para a travessia de quaisquer provações que devamos superar.

Querida mãezinha e querido papai, peço-lhes a sustentação da paz em que os vejo sempre, e saibam que a tia Geny lhes deseja o mesmo.

Aqui termino, com todo o meu amor de sempre, pedindo-lhes receber a alma reconhecida do filho que não os esquece, sempre saudosamente,

Jairo Rocha.

 

Identificações

 

1 - querida mamãe e querido papai Agenor - Casal Matilde Tomaelo Rocha e Agenor Coutinho da Rocha, residente em Rancharia, SP.

2 - tia Geny - Geny Tomaelo Bunder, tia, desencarnada na cidade de Ourinhos, SP, a 20/10/1988.

3 - Jairo Rocha - Jairo Coutinho Rocha, nascido a 05/2/1957, trabalhava como produtor de pastagem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

IX

 

Custa-me confessar-lhes que estou cego

 

Mesmo com o nascimento do primogênito, não houve melhora no relacionamento do casal Décio e Rosele, residente em Uberaba, Minas. Aliás, no relacionamento de Décio com todos os seus íntimos, em face de seu comportamento, sempre muito prejudicado pelo uso abusivo de alcoólicos.

E apenas três meses após o nascimento do garoto, a 27 de novembro de 1985, Décio Márcio Carvalho, de 25 anos, pôs fim à vida física utilizando-se de um revólver.

"Não queria que a minha esposa viesse a sofrer qualquer desfeita em casa, em razão de algum deslize meu. (...) Não queria dar ao meu filhinho qualquer exemplo de viciação, e resolvi retirar-me do mundo." Estas foram às justificativas do ato extremo que ele mesmo, em Espírito, relacionou em sua carta mediúnica de 14 de março de 1986, sentindo-se, na época do fato, derrotado diante do vício. Também revela-se, na mensagem, profundamente arrependido, e esclarece que encontra-se doente, ao exclamar: "Custa-me confessar-lhes que estou cego."

Sua carta trouxe muita tranqüilidade à família, pois, além de mostrar que ele está bem amparado no Plano Espiritual, desfez dúvidas quanto ao desenrolar dos fatos que antecederam o doloroso acontecimento.

 

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Décio Marcio Carvalho

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha Alda e querida Rosele, estou presente e escrevo, mas escrevo sob a mão vigorosa da vovó Maria Rezende, e com a assistência do meu pai Antônio Batista.

Assim é porque estou aqui sem possibilidade de vê-las e nem de ver os amigos que me recebem. Custa-me confessar-lhes que estou cego.

 Até hoje não sei que forças entraram em meu Espírito, impelindo-me ao suicídio.

Se eu pudesse tomar a postura mais cabível para mim, estaria de joelhos a fim de lhes pedir perdão. Eu não sabia que a vida continuava e que não nos transfiguramos de um momento para outro.

Mãezinha, perdoe-me a leviandade a que me entreguei, sabendo que o meu filhinho já estava aí no mundo a pedir-me amparo sem palavras. Devia, de minha parte, mostrar mais compreensão e mais maturidade acerca de nossa vida.

Rosele, você igualmente me desculpe se a deixei tão só como nosso filho. Tantos ideais caíram por terra, à maneira de monumentos roídos por insetos daninhos.

Mamãe, o seu coração me compreenda e me auxilie como sempre.

Naquele dia fatal, ergui-me como quem transportava a morte no próprio corpo. Tivera uma das minhas rusgas com a nossa querida Rosele, uma rusga sem importância da qual dei conhecimento à minha irmã Eliana, e que foi a chamada gota d'água no cântaro de minhas queixas.

Tudo me parecia perseguição e suplício. Até mesmo a minha sogra, dona Dagmar, está no meu arquivo de amarguras injustificáveis. Se ela, por vezes, implicava comigo, era por mim, não por ela.

Mãezinha, você sabe que, às vezes, parava aqui ou ali para uns momentos de cerveja, ou mesmo de agentes mais fortes; entretanto, não admitia conselhos de ninguém.

Minha sogra queria que eu fosse perfeito, mas muito depressa se convenceu de que consertar-me seria impossível. E eu não queria que a minha esposa, a sua filha Rosele, viesse a sofrer qualquer desfeita em casa, em razão de algum deslize meu. Pensei muito e resolvi acabar com meu corpo. Não queria dar ao meu filhinho qualquer exemplo de viciação, e resolvi retirar-me do mundo.

Porque foi tudo assim, ainda não sei, mas parecia que um inferno de fogo se me implantou na cabeça, e sentindo que a sogra, embora muito digna pessoa, não me suportaria em tempo algum, deliberei acabar com tudo aquilo que nos cabia suportar com união.

Mãezinha, quando a vi chegando à porta de nossa casa, temi as suas repreensões chamando-me à realidade, e antes que pudéssemos entrar num diálogo pacífico, acionei o gatilho contra a minha cabeça. Sei que caí num lago de sangue, enquanto o seu amor, em aflição, fazia preces por mim, encomendando-me a Deus. Escutava o que seus lábios me diziam, mas não compreendia as minudências do que se passava. Em breve tempo, os homens do rabecão entraram a socorrer-me por imposição porque me sabiam desencarnado e até hoje a sua dor de mãe se me insinuou no coração à maneira de um tormento de que não consegui me desvencilhar, e aqui estou incapaz de controlar os meus impulsos, controlados por meu pai Antônio Batista, que se compadeceu de mim para liberar-me da condição deprimente a que fui levado por mim próprio.

Não sei explicar o fenômeno que se passa comigo, porque vejo apenas os quadros de dor em que adquiri minha culpa maior, mas espero voltar numa apresentação menos infeliz.

Querida Rosele, se você puder, dê ao nosso filhinho a saúde e a paz de que ele necessita. Peça à minha sogra para criá-lo qual se fosse o próprio filho. Este é um pedido arrojado, de minha parte, a quem reconheço não haver conquistado o mínimo grau de simpatia, mas uma petição de um homem que atravessou as portas do suicídio achará eco não somente no amor de dona Dagmar, mas, também, no coração de qualquer pessoa que procure penetrar nos sentimentos de uma criancinha.

Quanto a mim, querida mamãe e querida Rosele, seguirei como a Lei de Deus determina, tentando a minha recuperação que não sei quando surgirá. Os fracos de vontade são iguais a mim: indecisos e omissos.

Querida Mãezinha e querida Rosele, isso é tudo que lhes pode dizer o filho e companheiro infeliz. Orem por mim. A prece, em casos dolorosos, tanto quanto o meu, constitui valioso tranqüilizante para a alma cansada de pensar.

Não as vejo, mas sinto-as aqui, sem possibilidade de localizá-las. Compadeçam-se de mim, perdoem-me e ajudem-me.

O meu beijo de pai no nosso pequenino que parece residir em meu coração, e recebam todo o arrependimento e toda a dor, mas não sem esperança e sem fé em Deus, do filho e companheiro sofredor e reconhecido,

Décio.

Notas e Identificações

 

1 - Mãezinha Alda - Alda Gomes Carvalho, residente em Uberaba, MG.

2 - querida Rosele - Rosele de Jesus Alkmin Carvalho, residente à Rua Padre Zeferino, 1220, Uberaba.

3 - vovó Maria Rezende - Avó materna, desencarnada em Uberaba, há mais de 40 anos.

4 - pai Antônio Batista - Antônio Batista Carvalho, seu progenitor, desencarnado em acidente na Via Anhangüera, entre Ribeirão Preto e Jardinópolis, SP, a 10/8/1969.

5 - estou cego. - Observa-se que o corpo espiritual (ou perispírito), após a desencarnação, apresenta-se lesado nos órgãos ou regiões correspondentes aos mesmos locais traumatizados do corpo físico, exigindo tratamento médico. No caso de Décio, o projétil atingiu uma zona cerebral ligada à função visual. Atualmente, seu filhinho, com a idade de 3 anos, o tem identificado pela vidência. Pelas descrições da criança, Décio está bem melhor, com recuperação de sua visão.

6 - Até hoje não sei que forças entraram em meu Espírito, impelindo-me ao suicídio. (...) Porque foi tudo assim, ainda não sei, mas parecia que um inferno de fogo se me implantou na cabeça - Com estas expressões, Décio dá-nos a impressão de que ele esteve sob o jugo de grave processo obsessivo, freqüente entre os alcoólatras.

7 - meu filhinho - Antônio Batista Carvalho Netto, nascido a 27/8/1985.

8 - irmã Eliana - Eliana de Carvalho Borges, irmã, residente em Uberaba.

9 - minha sogra, D Dagmar (...) muito depressa se convenceu de que consertar-me seria impossível. - Sua sogra, Dagmar de Jesus Alkmin, sendo espírita, sempre o alertava sobre a Verdadeira Vida, no Além, e as conseqüências dessa realidade, mas ele não acreditava.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

X

 

Regresso de familiares queridos

 

Atraído pelo progresso da região Norte do país, o jovem Domingos Donizetti, Zetti na intimidade, residente em São Carlos, SP, dirigiu-se à cidade paraense de Tucuruí, onde conseguiu um emprego como Supervisor de Segurança de Trabalho. Apesar de trabalhar tão longe do carinho materno, estava contente com a nova função, conforme seus telefonemas semanais à sua progenitora, Da. Lourdes.

Mas, na manhã de 14 de agosto de 1983, um domingo de muito sol, todos os seus sonhos de progresso profissional foram desfeitos: ao mergulhar no rio Tocantins, ele não mais voltou à superfície.

O drama de Da. Lourdes, já viúva desde 1978, não cessou com esse doloroso acontecimento. Seu filho Dimas Luiz, já casado, com o falecimento do irmão entrou em depressão, quadro que se agravou ao perder o emprego. E, profundamente abatido, num momento de desespero, baleou a própria cabeça, vindo a desencarnar no hospital a 08 de janeiro de 1984.

Apesar desses duros impactos sucessivos, Da. Lourdes e seu filho Valdo têm revelado muita fé e admirável resignação, sentindo-se fortalecidos com o recebimento de várias cartas dos próprios jovens desencarnados, psicografadas no Grupo Espírita da Prece, desde setembro de 1984.

Transcreveremos as últimas cartas de Dimas e Zetti, e a única do sr. Abílio Zornetta, pai de ambos, que destacou, com sabedoria, em sua mensagem, o valor do estudo doutrinário, especialmente da evangelização, para todos os servidores da seara espírita.

 

 

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Dimas Luiz Zornetta

 

Mensagem

 

Querida mãezinha Lourdes, abençoe-me.

Estou escrevendo em letras grandes e vagarosas para facilitar a leitura

Venho até o seu coração, querida, desejar-lhe um feliz Dia das Mães, em nome do Donizetti e em meu nome, pedindo a Jesus lhe conceda, junto a toda a nossa família, muita saúde e paz, encorajamento e alegria.

Sentimo-nos felizes com a presença do nosso Valdo, que em si, vale por nós três, os seus filhos. Valdo tem sabido honrar os seus compromissos e promessas, e concedeu-nos grande contentamento assumindo a nossa nova moradia.

Mãezinha Lourdes, agradecemos o seu esforço que a sua dedicação tem desenvolvido, na prática do bem. A sua compreensão vem obtendo novas luzes e estamos contentes ao vê-la sempre buscando a oportunidade de servir, o que ocorre desde os seus primeiros dias de enfermeira.

Pessoalmente expresso-lhe minha gratidão por ter abraçado a esposa que deixei, e recolhendo no colo a criança querida que devia ter recebido de seu filho, e que recebe outro pai em meu lugar. A senhora adotou-a por neta do coração e, de minha parte, tenho-a comigo por filha do coração.

Graças a Deus e ao seu amor de mãe, todos os meus problemas essenciais encontraram solução, muito embora, em pessoa, ainda sofra as conseqüências de meu gesto impensado.

A senhora varou a barreira dos preconceitos e a nossa criança ficou sendo realmente nossa. Deus seja louvado!

Os meus agradecimentos se estendem ao nosso Valdo, que não perde ocasião para mimosear e afagar a sobrinha querida. Muito grato, meu irmão, por sua bondade fraterna. Estou ainda pobre e sem recursos para ser útil tanto quanto desejo, mas espero que futuramente eu possa retribuir-lhe com muito amor.

      Mãezinha Lourdes, perguntei ao meu tio Luiz sobre a possibilidade de ser trazida até aqui a nossa irmãzinha Vera Lúcia, filha do senhor Lupércio; entretanto, ele me disse, com autorização dos Mentores que nos orientam as atividades, que será importante esperar mais tempo, de vez que a nossa irmã, pelo coração, ainda tem o Espírito traumatizado pelas emoções trazidas. Não pude discutir e transmito a notícia.

      Peço ao Valdo abraçar a vovó por mim, e distribuir minhas lembranças de amigo reconhecido com todos os nossos amigos e familiares.

      Para o seu querido coração, mãezinha Lourdes, deixo aqui neste papel simples, todo o meu coração de filho reconhecido no Dia das Mães e sempre.

Sempre o seu filho devedor,

Dimas.

Dimas Luiz Zornetta.

Notas e Identificações

 

    1 - Psicografada na noite de 02/5/1987.

    2 - mãezinha Lourdes - Lourdes Formenton Zornetta, enfermeira aposentada, residente à Rua República do Líbano, 30, Jardim Cruzeiro do Sul, S. Carlos, SP.

    3 - Valdo (...) assumindo a nossa nova moradia. - Demevaldo Zornetta, Valdo na intimidade, irmão. Ainda solteiro, juntamente com sua mãe, assumiu a direção do lar, realmente nova construção.

    4 - esposa Maria B.C. Zornetta.

    5 - A senhora adotou-a por neta do coração (...) tenho-a comigo por filha do coração. (...) Os meus agradecimentos se estendem ao nosso Valdo. - Refere-se à garotinha Michele, nascida em 08/9/1985, filha da ex-nora Maria, que reside em casa vizinha de Dona Lourdes. "Hoje, ela é o tesouro das nossas vidas" (que também é o pensamento do tio Valdo), afirmou-nos a vovó adotiva.

    6 - muito embora, em pessoa, ainda sofra as conseqüências de meu gesto impensado. - Em sua primeira mensagem, de 07/9/1984, oito meses após o suicídio, apresentou-se com visão parcial, dizendo-se em tratamento das conseqüências da lesão por ele mesmo provocada, que atingiu o cérebro do corpo físico e o cérebro do corpo espiritual. Na segunda mensagem, de 07/9/1985, contou que esteve, por seis meses, totalmente cego, apesar de tratamento constante. Naquela época, já freqüentava uma escola na Espiritualidade. Nessas duas mensagens primeiras, destacou a "pressão de inimigos invisíveis", que atuaram para que voltasse para o Além "na posição de um suicida desventurado."

    7 - tio Luiz - Luiz Zornetta, tio, desencarnado na cidade de S. Carlos, em 15/10/1949.

    8 - Vera Lúcia - Vera Lúcia Pilla, filha de Lupércio Pilla e amiga de Valdo, desencarnou vítima de acidente automobilístico dentro da cidade de s. Carlos a 08/07/1985.

     9 – vovó – Maria Ocana Formenton, avó materna.

    10 – Dimas Luiz Zornetta – (S.Carlos, 19/04/1958 – 08/01/1984). Era marceneiro e fazia curso de especialização, nessa profissão, no Senai.

 

Mensagem

 

Querida mãezinha Lourdes, peço a Jesus nos inspire e nos proteja.

O nosso Dimas não pôde vir hoje ao seu encontro, mas recomendou-me traduzir-lhe o reconhecimento por todo o amparo que a sua bondade vem dispensando à nora e à pequena Michele, que continua crescendo em afeto e em inteligência para consolo de nossa família.

Mãezinha Lourdes, a saudade é que lhe forneceu passagem para vir de São Carlos até aqui e, por isso, me vejo na obrigação de responder-lhe com a mesma saudade que nos reside nos centros mais íntimos do Espírito.

A senhora não desanime. Não deixe que o pessimismo se lhe infiltre na alma, porque o pessimismo gera a tristeza e a tristeza como que nos aposenta à distância do serviço que precisamos desenvolver. Trabalhar para o benefício dos outros é alcançar a paz e a felicidade para nós mesmos.

A senhora tem a nossa família e a família dos necessitados, que lhe solicitam apoio, e o auxílio dos Mensageiros de Jesus que estarão colaborando em todas as suas tarefas, a fim de que sua vida se mostre plena de nobres ações que a enobrecerão cada vez mais.

Agradeço ao nosso caro Valdo quanto faz pelo bem de todos os nossos, e espero que ele continue sendo o irmão e filho incansável a substituir-nos, ao Dimas e a mim, nas obrigações de nossa casa, que o seu amor converteu em refúgio de tranqüilidade para quantos nos batam à porta buscando paz e consolação.

Nosso Valdo tem crescido bastante no ideal de agir e servir, e formulo votos para que ele prossiga sempre leal aos seus propósitos, em nossa Doutrina de Paz e Amor.

Peço ao seu querido coração, informá-lo que o nosso irmão Antônio está mais forte e caminha para a recuperação necessária que se lhe faz precisa, de modo a retomar o arado de seus deveres ao pé da família e dos numerosos que deixou no mundo. Refiro-me ao nosso irmão Antônio Sentanin, cujo progresso nas melhoras precisas continua em franca ascensão.

Mãezinha Lourdes, desejando-lhe junto ao nosso Valdo, e junto a todos os nossos amigos queridos, muita saúde e paz, alegria e bom ânimo, as minhas muitas saudades de sempre, sou o seu filho sempre reconhecido,

Zetti.

Domingos Donizetti Zornetta.

 

 

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Domingos Donizetti Zornetta.

 

Notas e Identificações

 

11 - Psicografada na noite de 05/3/1988.

12 - Antônio Sentanin - Grande amigo da família, desencarnado a 25/ 8/1987, em São Carlos.

13 - Domingos Donizetti Zornetta - (S. Carlos, SP, 13/5/ 1956 - Tucuruí, PA, 14/8/1983) - Concluiu os cursos de Supervisor de Segurança de Trabalho e Auxiliar de Enfermagem. Em sua primeira carta mediúnica, de 07/9/1984, ele desfez as dúvidas da família com respeito aos fatos que envolveram seu afogamento no Tocantins: "Os amigos convidaram-me para alguns momentos de distração em Tucuruí e não hesitei no mergulho, no qual o coração parou de repente. Quando alcancei o fundo das águas não tive forças para retornar." E na segunda carta, de 08/9/1985, complementa: "Afogamento por afogamento, e parada cardíaca por parada cardíaca, encontraria no Estado de São Paulo mesmo, sem aquela ansiedade de tentar vida nova no Pará."

 Pão e ensino são duas bênçãos para quem os distribui e para quem os recebe.

 

Mensagem

 

Querida Lourdes,

Peço a Jesus nos fortaleça.

Sei que a saudade dos filhos é o ímã que a estimula para viagens assim longas para a sua saúde, mas o nosso Dimas e o nosso Domingos estão na disciplina do serviço espiritual em que se renovam, e me incumbiram de trazer-lhes, a você e ao nosso Demevaldo, as suas lembranças de carinho e agradecimento.

Peço dizer ao Demevaldo que as tarefas no Gonzaga estão bem; no entanto, ao lado da assistência de ordem material, é preciso estudar para que a mente dele e dos companheiros de tarefa se lhes clareie suficientemente. Pão e ensino são duas bênçãos para quem os distribui e para quem os recebe.

O nosso amigo Oswaldo tem razão quando destaca a necessidade da evangelização. Creia que essa dupla de bênção - alimento e lição, - igualmente a fortificará.

Querida companheira, muito grato aos seus pensamentos de paz e auxílio em meu benefício. Deus a recompense.

Com a respeitosa estima de sempre, sou o seu servidor e esposo, amigo e companheiro que tanto lhe deve a dedicação,

Abílio Zornetta.

 

Notas e Identificações

 

14 - Psicografado na noite de 06/12/1986.

15 - tarefas no Gonzaga - Favela do Gonzaga, bairro pobre de S. Carlos, onde Valdo, Da Lourdes e amigos auxiliam.

16 - Oswaldo -Oswaldo Caetano, confrade e médium, amigo da família.

17 - Abílio Zornetta - Esposo de dona Lourdes, desencarnado em Jaú, SP, de parada cardíaca, a 24/6/1978.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

XI

 

Deus permite que a vida nos faça o melhor

 

Aldarico Montaldi Filho, jovem esportista e muito estudioso, cursava engenharia mecânica em São Paulo na Fundação Armando Álvares Penteado quando grave acidente automobilístico na Marginal Pinheiros, vindo a desencarnar quatro dias após a 1 de dezembro de 1987, em um Hospital da própria capital paulista.

O drama familiar, com a perda de ente tão querido foi muito agravado, já no dia seguinte (2 de setembro) com um fatal colapso cardíaco sofrido pelo vovô Probo Montaldi, ao receber a notícia do neto amado.

Seus pais, Aldarico Montaldi e Vera Montaldi residentes em Campinas, SP, têm encontrado consolo em Uberaba, através de afetuosas cartas dirigidas pelo próprio filho, sendo a primeira delas, a seguir transcrita, recebida em reunião pública de 09 de abril de 1988.

Observa-se que, ao lado do carinho filial, ele transmite preciosos ensinamentos que tem recebido na Vida Maior, especialmente da bisavó Maria, como por exemplo, este pensamento da mais alta importância para a nossa meditação, em face dos graves problemas que enfrentamos ou venhamos a enfrentar: "Estou aprendendo que Deus permite que a vida nos faça o melhor."

 

Mensagem

 

Papai Aldarico e Mãezinha Vera, com os meus irmãos Probo e Araí, recebam a minha alegria pela possibilidade de lhes trazer algumas notícias.

Compreendo que não é fácil afastar de nossa memória o acidente na Marginal do Pinheiro, no qual me vi despojado de tudo, inclusive de meu corpo, quando mais desejava viver.

Estou ainda na convalescença do enfermo que se acomodou com a doença, sem aceitá-la; no entanto, a esperança não nos abandona. Por enquanto, não tenho conquistas fáceis ou espontâneas, de vez que preciso esquecer os meus ideais de moço que esperava encontrar, no próprio trabalho, os degraus de acesso a uma vida melhor.

Entendo que, se o acidente na Marginal me podou os anseios, estou aprendendo que Deus permite que a vida nos faça o melhor e, assim, penso que se Deus determinou que me transferisse para a Vida Espiritual, tão verde na idade física, decerto terá modificado o meu rumo para que tentações não me viessem anular os bons propósitos.

Minha bisavó Maria tem sido a minha enfermeira, desde as primeiras horas em que as tentativas da ciência médica se propunham a prolongar-me a existência, duramente frustrada, e estes meus raciocínios reproduzem neste papel o que a querida Bisa Maria vem me ensinando.

Por que me revoltar com o sucedido, se o melhor me aconteceu? Quem poderá afirmar que não enveredaria através de caminhos tortuosos, quando a minha juventude amadurecesse? Creio que vemos unicamente as realizações imediatas, mas a Bondade de Deus verá todo o nosso caminho adiante...

Devo conformar-me e farei o possível para que isso aconteça. Peço à querida Mãezinha Vera reconfortar-se com os ensinamentos que tenho recebido, e que estou procurando transmitir-lhes com as minhas pobres palavras.

Rogo ao Papai Aldarico não se preocupar com o caminhão pesado que me tocou pela retaguarda, sem qualquer culpa do motorista. Quanto maior a velocidade num veículo pesado, mais ampla se faz a dificuldade para deter-lhe os movimentos. Ninguém, a meu ver, provoca desastres, conscientemente.

Assim observando, peço a todos os meus para que me auxiliem, sustentando a paz a benefício de nós todos. Estou bem melhor e, em breve, segundo as promessas de minha protetora, espero uma chance de me dedicar aqui aos estudos, que me habilitarão para agir e servir em favor do próximo mais necessitado do que nós mesmos.

Peço ao Probo e à querida Arai me lembrarem com vibrações de compreensão e paz, com o que me estenderão muito apoio.

Estimaria escrever-lhes longamente, de maneira a contar-lhes como dói a saudade dos pais, dos irmãos e do lar que ficaram à distância, mas a Bisa Maria me aconselha terminar este comunicado em que o coração está pulsando acima das palavras; no entanto, em outra ocasião tentarei esforçar-me para que a facilidade de expressão me favoreça.

Minhas lembranças a todos os nossos entes queridos e aos nossos amigos.

Reunindo o Papai Aldarico e a Mãezinha Vera, a irmãzinha Araí e o irmão Probo num abraço do coração, deixa-lhes aqui os melhores sentimentos que sou capaz de acalentar, o filho e irmão reconhecido que lhes dedicará todo o amor, em todos os dias, com os bons votos de sempre.

Registrando ainda o carinho do vovô Montaldi a toda a nossa família querida, subscrevo-me com as minhas saudades e com o meu afeto de sempre,

Darico.

Aldarico Montaldi Filho.

 

 

Identificações

 

1 - Probo e Arai - Irmãos.

2 - Bisavó Maria - Maria Faelli, bisavó materna, desencarnada em 1945.

3 - Darico - Na intimidade, assim era chamado Aldarico Montaldi Filho.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

XII

 

Filho amoroso regressa com a mesma linguagem

 

Ao desligar-se do Plano Físico de forma inesperada, com apenas 11 anos de idade, Maurício Sacheto Zuardi deixou profundas saudades no seio familiar, pois era um menino amoroso, expansivo, alegre e até brincalhão.

Hospitalizado em sua cidade, Jaú, SP, com um quadro de infecção intestinal, apresentou choque pirogênico ao receber soro na veia. Após este episódio, ainda internado, apresentou outras complicações, vindo a desencarnar no pós-operatório de uma cirurgia intestinal (volvo), quanto teve uma parada cardíaca, a 23 de abril de 1987.

Mas, o filho querido, pouco mais de um ano após esse doloroso acontecimento, vencendo a barreira da morte, voltou a dialogar com seus entes amados através de breve carta, pela psicografia de Chico Xavier.

E, mais recentemente, na noite de 22 de abril de 1989, também em reunião pública do GEP, em Uberaba, novamente Maurício empunhou o lápis mediúnico para redigir consoladora carta, que a seguir transcreveremos, empregando expressões que habitualmente usava quando encarnado, tais como: grilos, O.K., legal, mãe Linda (que muito emocionou sua pro genitora, pois, de fato, ele criou esta expressão e sempre a usava no trato com Da. Fátima), além de se identificar pelo nome Mau, assim carinhosamente chamado na intimidade do seu lar.

 

 

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Maurício Sacheto Zuardi

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha Fátima com o meu pai, receba meu pedido de bênção.

Estou escrevendo este bilhete para afirmar-lhe que dei o meu recado sem grilos. Apenas errei ao escrever o seu nome querido, porquanto o tempo de minha preparação era muito estreito e, só agora, é que vou me conscientizando para tratar de nossos assuntos com otimismo e alegria.

Mamãe, o seu coração sabe que eu tinha os meus intervalos de meditação, em meio de minhas alegrias e isso levou alguns companheiros a acreditar que eu seria vítima de autismo, por simples brincadeira. O que eu sentia, muitas vezes, era dor na região cardíaca, mas eu não podia falar muito nisso.

Desejo informar ao seu carinho que o soro que me foi administrado estava legal e foi muito bem preparado pelos médicos amigos. Não fique aflita ao pensar que seu Mau teria viajado para cá fora de época. A Lei de Deus determinara que o meu período de aprendizado na Terra fosse curto, mas creia que eu também desejaria ter ficado, tantas alegrias encontrei na família querida em que a Bondade de Deus me colocou.

Ana Paula e Flavinho continuam comigo em pensamento e, afinal, a nossa felicidade era tão grande que a saudade extravasa de meu coração, em forma de lágrimas. Isso porém, é rápido porque não tenho o direito de chorar e sim de rejubilar-me com todas as bênçãos que vivi sempre enriquecido.

Querida mãezinha, agradeça por mim ao papai por tudo de bom que recebi dele em cada dia de minha vida.

Muitas lembranças aos meus irmãos e companheiros.

O otimismo está morando em minha companhia e peço-lhe lembrar-me em minhas alegrias improvisadas e esqueçamos a idéia do autismo inexistente. Estou O.K. começando a compreender esta vida nova para a qual fui remanejado.

Agora, mãe Linda, quero que o seu carinho receba o título que lhe dei, para vê-la sempre contente e feliz. Com todo o meu amor e com as minhas saudades, sou o seu filho sempre agraciado pela Benção de Deus por tê-la na condição de minha mãe cada vez mais querida.

Mãezinha, beije-me e abrace-me, estou sentindo muita falta de sua presença e de sua ternura. Em seus passos e agradecendo as suas orações em meu benefício, estará sempre o seu Mau, sempre seu pelo coração,

Maurício Sacheto Zuardi.

 

Notas e Identificações

 

1 - Mãezinha Fátima com o meu pai - Flávio Zuardi e Fátima R.S. Zuardi, seus pais, residentes à Rua Albino Busnardo, 141, em Jaú, SP.

2 - o seu coração sabe que eu tinha os meus intervalos de meditação. - Maurício gostava de admirar, durante algum tempo, belezas da Natureza, especialmente pássaros e estrelas. "- Mãe, olha aquela estrela... olha a nebulosa...", exclamava em certas noites de céu límpido.

3 - sentia, muitas vezes, dor na região cardíaca, mas eu não podia falar muito nisso. - "Maurício tinha um probleminha cardíaco, definido pelo médico como pequeno sopro. Devido a um reumatismo infeccioso, tomava 1 ampola de Benzetacil por mês." (Da. Fátima)

4 - Ana Paula e Flavinho - Irmãos. Maurício era o filho caçula.

5 - Maurício Sacheto Zuardi - Nasceu em Jaú, a 29/7/1975. Estudioso, cursava a 5.ª série do 1º Grau. Esportista, praticava natação, karatê e futebol.

6 - Premonições - Poucos meses antes do passamento de Maurício, sua mãe teve dois sonhos com características premonitórias: num deles, Maurício havia sido atropelado fatalmente por um ônibus (11/ 86); e no outro, viu o filho deitado, sem vida física, não se lembrando da causa do desencarne. Também nesse período, ocorreu um fato curioso com Dona Fátima, igualmente sugestivo de premonição: ao comparecer a um enterro de um menino, meditou muito, sem nenhum motivo, como ela se comportaria num enterro do próprio filho Maurício.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

XIII

 

Do além, Clovis Tavares analisa sua

obra "Mediunidade dos Santos"

 

Quando o Professor Clovis Tavares deixou seu vaso físico, que o serviu por 69 anos, em Campos, RJ, a 13 de abril de 1984, estava encerrando um ciclo de atividades das mais meritórias, em diversas áreas das lides doutrinárias, especialmente como renomado escritor.

Agora, para nossa alegria, esse estimado confrade redigiu sua Terceira Mensagem aos familiares queridos, em reunião pública do GEP, em Uberaba, na noite de 28 de maio de 1988.

As duas Mensagens anteriores, igualmente portadoras de conceituações valiosas e oportunas para todos nós, enriqueceram as obras Caravana de Amor (cap. 12) e Vozes da Outra Margem (cap.18), ambas psicografadas por Chico Xavier, edições IDE.

Em sua nova missiva, Clovis redigiu preciosos lembretes aos dirigentes da Escola Jesus Cristo, Instituição Espírita de Cultura e Caridade que ele fundou na cidade de Campos, igual-mente úteis para todos os que labutam na seara de Jesus e Kardec. E não se esqueceu de alinhar apontamentos interessantes a respeito da importante obra Mediunidade dos Santos, que deixou incompleta, mas concluída pelos familiares e lançada pelo IDE, duas semanas antes do recebimento desta terceira mensagem:

 

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Professor Clovis Tavares

 

Mensagem

 

Querida Hildinha, que você, Gilda e Celsinho, estejam, com todos os nossos companheiros aqui reunidos, usufruindo a paz do Senhor.

Não me seria possível o silêncio, diante de vocês, que me trazem a alegria e as tarefas de nossa Escola. Quanto possível, estou ali naquele refúgio de paz e amor, rearticulando lembranças ou de espírito dedicado à oração, rogando a Jesus nos mantenha íntegros na execução do esquema traçado. Estou satisfeito ao vê-la com o Celsinho, assessorando o nosso amigo Rubens, no serviço da palavra aos nossos irmãos de esperança e realização.

Já faz tempo que fui desligado de nossas tarefas, em Campos, para abraçar outras similares no Plano Espiritual. Falar a você de saudades seria repetir que prossigo nesse caminho que é tão nosso. Não pude, entretanto, efetuar qualquer intervalo, em minhas obrigações, nem mesmo para descansar ou chorar. Compreendi o que solicitavam os Mentores da Causa e da Casa. Descansar seria impróprio do trabalhador que me habituara a ser, conquanto as minhas deficiências, e chorar seria incompreensão dos benefícios que temos recebido.

Abracei o arado que me apresentavam e com o nosso Virgílio de Paula e outros amigos, continuei em ação aprendendo sempre, a fim de burilar-me e assinalar as bênçãos de que temos sido os felizes usufrutuários.

Agradeço o esforço que você e o nosso Celso despendem, a fim de manter o nosso plano de reconstituir as interpretações fiéis do Evangelho, tanto quanto se nos faça possível, à maneira dos operários conscientes que buscam, no dia-a-dia, estar quitados com os deveres assumidos.

Não preciso minudenciar as necessidades da vida comum, em nossos dias terrestres. As faixas do desequilíbrio se superpõem. Sabem que o mundo é uma grande nave de Deus, cujo Timoneiro é o Cristo, Nosso Senhor. Acontece, porém, que as investigações do cérebro atingiram tais complicações que o coração sofre, desvalido de recursos que lhe garantam a estabilidade.

A inteligência na Terra de hoje sabe muito, no entanto, realiza muito pouco no campo do sentimento. Promover o retorno à simplicidade é um empreendimento quase que exclusivamente para gigantes.

Estamos certos, porém, de que somos pigmeus à frente de tanta grandeza, mas somos pigmeus de Jesus, somando iniciativas que Ele, o Divino Mestre, abençoa para a nossa felicidade.

Não me será possível olvidar a Natureza que foi para Ele um livro de ensinos nutrientes e libertadores. Os lírios do campo, o amor às crianças, uma dracma perdida, a candeia sob o velador, os grãos de trigo e tantas imagens outras com as quais nos induziu a viver com a bênção da realidade, acima das ilusões, são símbolos que a riqueza terrestre de agora não pode distanciar-nos, a fim de nos centralizar nos farrapos dourados de uma civilização, ameaçada de extermínio, pela insânia dela própria.

Penso que a coerência deve presidir as nossas instituições doutrinárias e, então, disporíamos dos recursos positivos para conjurar os perigos que pesam sobre os destinos humanos. Refiro-me a isso unicamente para preservar em vocês e em nossos companheiros da Escola, a certeza de que sem Cristo toda a pompa dos domínios humanos da atualidade se destinam ao pó.

Não posso, entretanto, alongar-me nestas considerações pessoais, de vez que aspiro manifestar a você e ao Flavinho, à Margaridinha, ao Luisinho e ao Celsinho, quanto fizeram para que o nosso livro,relativo à vida autêntica dos santos do Cristianismo, viesse a lume. Muito grato pela cooperação com que me asseguraram a paz. O livro ficou sendo realmente nosso, porque vocês participaram decisivamente.

Desencarnado, presentemente, nada tenho a acrescentar aos textos que vocês encontraram no volume. Os acontecimentos narrados coincidem com os apontamentos de nossos arquivos daqui e me rejubilo por isso.

Ainda não tenho méritos para seguir além do que pude coligir na constituição da obra que, na essência e na supervisão, pertence ao apoio indireto de nossos Maiores.

De tudo que ficou exposto, até agora, somente consegui visitar a maravilhosa estância de Dom Bosco, que ainda é o gênio apostólico, dedicado à educação.

Apesar disso, tenho encontrado muito auxílio dos nossos queridos biografados, que me conferem forças contra qualquer desfalecimento.

Em outra oportunidade falaremos disso.

Desejo seja dita a nossa promessa à Margaridinha no sentido de cooperar com ela e a nova criança que vem buscar nos seus braços de amor a mãe que lhe falta.

Confiemos no socorro do Senhor e sigamos para diante.

Peço a você para que a nossa Margaridinha esteja consciente de nossa presença junto dela.

Todos os nossos companheiros trabalhadores da Escola, junto de nós, se conscientizem quanto ao nosso amor a todos e de mim hoje agradeço muito aos que me auxiliaram de coração.

Querida Hildinha, eis o que me ensina a nossa legião de serviço - servir sempre.

A novidade do que lhe falo, querida Hildinha, é que tenho modificado bastante o meu temperamento e digo-lhe algo dessa renovação para confirmar-lhe que a nossa convivência não foi vã.

Tudo se modifica para melhor, quando nos voltamos para Jesus, e, embora as imperfeições de ontem estejam ainda em mim e que hoje são as mesmas, reconheço-me algo modificado para trabalhar mais na Seara do Bem, com os nossos Maiores.

Reúno você, com os nossos filhos, no campo de nossos agradecimentos que estendo à Gilda, que se dispôs ao sacrifício da viagem no intuito de ajudar-nos, e guarde em seu coração devotado o coração sempre seu do seu

Clovis.

 

Notas e Identificações

 

1 - Hildinha - Professora Hilda Mussa Tavares, esposa, cooperadora na Escola Jesus Cristo (EJC), residente em Campos, RJ, à Rua Benta Pereira, 112. Seu valioso depoimento sobre a mediunidade de Chico Xavier integra o livro Luz Bendita (Testemunhos Diversos, Emmanuel, F.C. Xavier, R.S. Germinhasi, IDEAL, p. 65-72).

2 - Gilda e Celsinho - Sra. Gilda Duncan Tavares e Professor Celso Vicente Tavares, filho, cooperadores da EJC, presentes à reunião pública de Uberaba.

3 - Rubens - Dr. Rubens Fernandes Carneiro, Diretor Doutrinário da EJC.

4 - Virgílio de Paula - Foi o primeiro Presidente da EJC, desencarnado em 07/02/1960. Hoje dá nome ao Coral da Mocidade dessa Escola.

5 - Flavinho, Margaridinha, Luisinho - Dr. Flávio Mussa Tavares, médico, Margarida Maria Tavares Gomes, arquiteta e Dr. Luís Alberto Tavares, médico, todos cooperadores da EJC.

6 - somente consegui visitar a maravilhosa estância de Dom Bosco, que ainda é o gênio apostólico dedicado à educação. - Em Mediunidade dos Santos, são descritas as seguintes mediunidades de Dom João Bosco (1815-1888), célebre sacerdote e educador italiano: clarividência, clariaudiência, premonitória, onírica, curativa e de efeitos físicos.

7 - Clovis - Sebastião Clovis Tavares, nascido em São Sebastião, distrito de Campos, RJ, a 20/01/1915. Profissionalmente, embora diplomado em Direito, pela Faculdade Nacional, em toda sua vida dedicou-se somente ao magistério, lecionando História e Direito Internacional Público. Autor dos livros: Sementeira Cristã (3 volumes), FEB; Vida de João Batista, Ed. do G.E. João Batista, de Campos; Os Dez Mandamentos, LAKE; Histórias que Jesus contou, LAKE; Vida de Allan Kardec para as Crianças, LAKE; Meu Livrinho de Orações, LAKE; Trinta Anos com Chico Xavier, IDE; Amor e Sabedoria de Emmanuel, IDE; Tempo e Amor (em co-autoria com Francisco Cândido Xavier e Espíritos Diversos), IDE; De Jesus para os que Sofrem, IDE; e Mediunidade dos Santos, IDE.

 

 

 

 

XIV

 

Em jornada homeopática, filho querido também se empenha no combate à aids

 

Com apenas 15 anos, Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça deixou o Plano Físico, na manhã de 22 de novembro de 1980, em Niterói, RJ, vítima de uma parada cardíaca em seu próprio leito. Embora sofresse de arritmia cardíaca importante, ele estava muito bem, sob controle médico e, assim, sua desencarnação provocou em seus entes queridos a dor pungente de uma separação totalmente inesperada.

Carlos Eduardo sempre foi uma criança alegre e meiga, angariando muita simpatia de seus colegas e familiares. "Dotado de inteligência invulgar, expunha com desassombro seus pontos de vista, chegando a corrigir os próprios professores em algumas ocasiões."

      Criado em ambiente espírita pelos seus pais - Dr. Aurilio Morais de Mendonça, engenheiro, e Dra. Edda Frankenfeld de Mendonça, médica -, no seu último ano de vida física passou a freqüentar com entusiasmo o Grupo Espírita Regeneração, dedicando-se ao estudo da Doutrina e visitando, periodicamente, velhinhos e crianças abrigados em casas de caridade do Rio de Janeiro. E, na semana derradeira no Plano Material, vivendo uma fase premonitória de um próximo desenlace, revelou aos pais "que observava em si um total desligamento das coisas do mundo..."

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Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça

 

Em face da grande dor, a família do jovem não tardou a receber grande auxilio e consolo do Mais Além. Um mês após a desencarnação, o Dr. Alcides Neves Ribeiro de Castro, que dirigiu o G.E. Regeneração (de 1948 a 1964, quando desencarnou), comunicou-se pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, informando: "(...) o Carlos Eduardo está sob o patrocínio de nossa instituição e, muito valoroso como sempre, já visitou a própria família algumas vezes, em nossa companhia;entretanto, ainda se ressente quanto à estranheza inevitável da passagem para cá e se emocionaria demasiado se tomasse o lápis a fim de escrever. Aguardemos mais tempo. (...)." (20/12/80)

E, a 22 de outubro de 1981, Carlos Eduardo redigiu sua Primeira Carta, também pela mediunidade de Chico Xavier, rica em informações, proporcionando grande felicidade e conforto aos seus entes amados. Esta foi publicada no livro Adeus, Solidão (F.C. Xavier, Caio Ramacciotti, Espíritos Diversos, GEEM.).

Desta época para cá, esse abençoado correio mediúnico continua proporcionando renovadas alegrias aos seus familiares, com sucessivas cartas, treze até o momento, sendo a última psicografada em 30 de novembro de 1989.

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Interessante é que desde a primeira mensagem, somente onze meses depois do desenlace, - já assenhoreando-se de sua cultura adquirida no passado, como médico (provavelmente homeopata) que deve ter sido em existência anterior - ele estimula sua mãe à prática da Homeopatia, campo em que poderão trabalhar juntos: "(...) se puder aceitar-me um pedido, queria vê-la operosa na Homeopatia em auxilio às crianças. O trabalho em semelhante seara de amor aos nossos irmãos pequeninos reconstituiria os nossos vínculos de presença constante. (...) anseio trabalhar ao seu lado na Pediatria exclusivamente homeopática (...) Não desejo estagnar meus estudos e justamente na Homeopatia é que reencontro campo mais propício ao desenvolvimento de minha nova fase de serviço."

E, em todas as demais cartas, o jovem comenta com a progenitora a respeito de sua atuação nessa área médica, chegando a afirmar: "em companhia de mãezinha Edda, prossigo em minha jornada, que posso classificar por jornada homeopática."

Outros temas palpitantes e atuais são abordados na série de cartas de Carlos Eduardo, destacando-se dentre eles a AIDS, a qual tem se dedicado, ingressando-se recentemente numa equipe de estudo e combate ao "mal do século".

Em face do número elevado de cartas, publicamos a Segunda, na íntegra, com as respectivas Notas e Identificações, e, a seguir, os principais temas das demais, colocados em ordem alfabética:

 

Mensagem

 

Querida mãezinha, querido papai e querida Lívia, com as nossas queridas irmãs presentes Leda e Rosina.

Estas páginas breves se destinam a lhes endereçar o meu reconhecimento por haverem transformado as minhas modestas palavras numa bandeira de fé. Graças a Deus, o trabalho agora é para mim mais intenso. Serviço gera serviço e o carinho que dedicaram às minhas notícias significa muitas oportunidades para mim, no acesso a corações que sofrem. A certeza da sobrevivência além da morte é mensagem de esperança que não devemos sonegar aos que nos procuram.

Estou muito contente com os serviços decorrentes do nosso Culto do Evangelho no Lar, onde temos recebido a presença de numerosos irmãos encarcerados no cubículo sem grades das próprias consciências, embora desencarnados, nos quais o ensinamento do Cristo desempenha o trabalho de uma punção benéfica, permitindo que os beneficiários voltem ao cotidiano, sempre mais convencidos quanto à renovação que lhes cabe abraçar.

Continuo sendo o mesmo filho reconhecido e particularmente procuro prestar a assistência máxima à mãezinha em suas novas empreitadas de estudo para a aquisição da homeopatia, qual deve ser um medicamento que, atingindo a alma, se espalhe por todos os campos energéticos do corpo, regenerando-lhes a vida e a alegria de trabalhar e de viver.

Graças ao Senhor, a mamãe tem sabido superar o clima de saudade que nos ameaçou estacionar no tempo. As queridas irmãs me comovem, oferecendo o suporte necessário à recuperação da saúde e da paz em auxílio à mãezinha e, na presença da nossa querida Livinha, agradeço a ela; à Scheilla e à Liliane o que estão fazendo por nós, reconfortando-nos a todos com a compreensão e a diligência no estudo e no trabalho de que nos proporcionam testemunhos sempre mais amplos.

Acompanhei-os na excursão à terra da Boa Esperança e rejubilei-me com os fraternos reencontros e com as alegrias que ali colhemos no jardim da amizade. O nosso irmão Waldemar Barbosa aqui se encontra em minha companhia, expressando o nosso reconhecimento a todos os irmãos queridos da cidade referida, especialmente à querida irmã Eulália. Alegrei-me ao ver que o vovô Silvério e a vovó Maria estiveram conosco por todo o tempo e a vovó Júlia com o avô João, que nos partilharam dos júbilos a que me reporto, aguardam a nossa prometida visita aos irmãos de Vitória.

A equipe de amigos é grande e com a bênção de Jesus, crescerá cada vez mais, para que nos reunamos numa só família consagrada ao bem, dentro da qual todos trabalhem por um e um se esforce por todos. Sabemos que todas as realizações chegam no tempo adequado, bastando, de nossa parte, que lhes preparemos as bases das quais apareçam para a nossa edificação.

Muito gratos a todos, comunicamos à querida irmã Leda que estamos firmes na desincumbência dos compromissos para com a nossa “Regeneração” e, quanto a mim mesmo, faço o possível por ser útil às nossas crianças.

Estão conosco os amigos Tio Henrique e o irmão vovô Karl que se nos associam à realização dos projetos de paz e amor.

Pai amigo, muito grato pela benevolência com que me atende aos desejos, quando preciso falar, de vez que sinto necessidade, vez por outra, de levantar as energias da mãezinha e das irmãs queridas, a fim de que estejamos no Caminho sem vacilar.

Nossos agradecimentos a todos. Flores para Lívia, Scheilla e Liliane, com um abraço às queridas irmãs Leda e Rosina.

E, reunindo os pais queridos no meu amor orvalhado de saudades e preces por nossa paz e felicidade, beija-lhes as mãos queridas o filho muito grato de sempre, sempre o filho que lhes pertence pelo coração,

Carlos.

Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça.

 

Notas e Identificações

 

1 - Psicografada em 04/03/1982.

2 - mãezinha e papai - Seus pais residem no Rio de Janeiro, à Rua Alexandre de Gusmão, 28 - apart. 701 - Cep 20520 - Tijuca.

3 - Lívia - Irmã.

4 - Irmãs Leda e Rosina - Confreiras do Grupo Espírita Regeneração.

5 - Scheilla e Liliane - Irmãs.

6 - excursão à terra da Boa Esperança - Boa Esperança, sul de Minas, é a terra natal do Dr. Aurilio.

7 - Waldemar Barbosa - Pioneiro do Espiritismo em Boa Esperança, onde desencarnou em 1975.

8 - Irmã Eulália - Atual presidente do Centro Espírita Amigos na Dor, de Boa Esperança.

9 - vovô Silvério e vovó Maria - Maria e Silvério de O. Mendonça, avós paternos.

10 - vovó Júlia com o avô João - Júlia e João Frankenfeld, avós matemos.

11 - o nosso "Regeneração" - Grupo Espírita Regeneração, tradicional instituição do Rio de Janeiro, fundada pelo Dr. Bezerra de Menezes, em 1891.

12 - tio Henrique - Henrique Frankenfeld, tio-avô materno, nascido na Alemanha e desencarnado no Brasil, em 1971.

13 - vovô Karl - Karl Lauff, nascido na Tchecoslováquia e desencarnado no Brasil, em 1945.

14 - Pai amigo, muito grato pela benevolência com que me atende aos desejos, quando preciso falar - Refere-se às comunicações pela mediunidade psicofônica de seu pai. A primeira foi três dias após a sua desencarnação.

15 - vovó Maria Lauff - (citada na 1ª Carta e em outras) - Bisavó materna, nascida na Tchecoslováquia e desencarnada no Brasil, em 1970.

16 - amigo Murtinho (citado na 5a. Carta) - Dr. Aurílio acredita que seu filho refere-se ao Dr. Manoel Murtinho Nobre ou ao Dr. Antônio Murtinho de Souza Nobre (1878-1945), ambos renomados médicos homeopatas. Dr. Manoel, um dos mais notáveis pesquisadores da Matéria Médica Homeopática, deixou a obra Homeoterapia, em sucessivas edições há mais de 50 anos, escrita em parceria com o Dr. Antônio Murtinho de S. Nobre. Este, nascido em Corumbá, MS, para continuar seus estudos, quando garoto foi levado ao Rio de Janeiro pelo seu tio Dr. Joaquim Duarte Murtinho (1848-1911)*, ilustre médico homeopata e Ministro de Estado, fundador do Instituto Hahnemanniano do Brasil (com sua Faculdade de Medicina Hahnemanniana) e da empresa Homeopatia Murtinho Nobre. Em 1906, com o objetivo de fundar a filial dessa empresa, Dr. Antônio transferiu-se para São Paulo, onde tornou-se um vulto notável da medicina homeopática, sendo o primeiro presidente da Associação Paulista de Homeopatia. (Fonte - Enciclopédia Mirador e Vida e Obra do Dr. Murtinho Nobre, pesquisa biográfica de Neide Shimabukuro, divulgada pelo Museu de Homeopatia Abrahão Brickmann, de Ribeirão Preto, SP.)

(*) Do Mais Além, Dr. Joaquim D. Murtinho enviou duas belas páginas: "Saúde", publicada em Falando à Terra (F.C.Xavier) e "Solução Ideal", em Seareiros de Volta (W. Vieira), edições FEB.

17 - amigo Dias da Cruz (citado na 1ª e 5ª Cartas) - Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz, ilustre médico homeopata, foi presidente da Federação Espírita Brasileira de 1889 a 1895. Desencarnado no Rio de Janeiro, em 1937.

18 - vovô João Antônio Frankenfeld (citado na 8ª, 10ª e 11ª. Cartas) - Tetravô materno, nascido e desencarnado na Alemanha.

19 - amigo Napoleão Laureano (citado na 8ª Carta) - Dr. Napoleão Rodrigues Laureano, nasceu em Umbuzeiro, Paraíba, em 1915. Desde que foi acometido de câncer, iniciou uma intensa campanha a nível nacional, criando a Fundação Laureano, destinada à pesquisa e ao tratamento dessa moléstia. O seu apelo emocionou o país e ele foi considerado médico-mártir. Desencarnado no Rio de Janeiro, aos 36 anos. (Galeria - O Livro das Biografias, Maria Leonor Alvarez Silva, Canton, S. Paulo, 2ª ed., 1979.)

20 - Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça - Nasceu em Volta Redonda, RJ, a 18/9/1965. Tendo desencarnado na adolescência, só a reencarnação pode explicar a cultura que ele revela em suas cartas, desde a Primeira. E dentre os seus conhecimentos, destaca-se a cultura médica que se evidencia em sua linguagem. Observemos, por exemplo, algumas frases da Primeira Carta, psicografada onze meses após o seu desenlace, com grifos nossos: "Compreendo Mãezinha, a lesão que sofremos. A desencarnação é uma espécie de cirurgia, especialmente em nossas forças psicológicas." "(...) perplexo, vi meu corpo repousando, à maneira de uma escultura de células que estivesse me esperando." "(...) venceremos as nossas dificuldades, cicatrizando as feridas da separação (...)." "Nós ambos temos vivido, nestes onze meses, na clínica das orações (...)." "(...) o serviço ao próximo é a receita mais eficiente para a restauração definitiva de nossas forças." O seu reencontro com o Doutor Dias da Cruz (médico homeopata, desencarnado no Rio, em 1937, do qual o jovem Carlos Eduardo nunca recebeu qualquer informação) é também muito significativo: "(...) um impulso natural me arrastou para o abraço ao Doutor Dias da Cruz que reconheci, de imediato, guiado por uma inclinação irresistível." Na Sexta Carta ele ainda esclarece: "Estou feliz, tendo readquirido os mesmos amigos que se dispunham a orientar-nos com grandeza de alma; não posso queixar-me, de vez que recebo o amparo do campo de ação em que me movimentava antes da volta à experiência física."

AIDS

 Aqui continuamos em nosso aprendizado com a prática de trabalho centralizada nas tarefas da Mamãe Edda, porque vamos descobrindo, gradativamente, os valores da homeopatia no tratamento da saúde humana. O dia, porém, é uma luz que se abre para todas as direções e, com metade do dia disponível, pedi aos Mentores Espirituais me concedessem oportunidade para me dedicar aos irmãos em luta consigo mesmos, na resistência às doenças variadas que os assediam. Tenho estudado como e quanto posso o assunto que nos serviu de tema central no diálogo, de há poucos minutos, e confesso-lhes que a gravidade do assunto, referente à enfermidade na Terra, é suficientemente grande e precisará contar com o nosso esforço máximo.

Além do desequilíbrio que se observa em quase todos os setores da comunidade humana, temos o problema dos hábitos que vão se arraigando no mundo. Embora não disponha da autoridade de instrutor, posso dizer-lhes que não estará longe o dia em que nossos esforços serão convocados no trabalho pela extinção do flagelo. Referimo-nos à síndrome que o povo se habituou a nomear como sendo AIDS e que tem levado muita gente ao término prematuro da existência. Não seria o caso de perguntarmos: por que lhe temermos a agressão? por que não entrarmos prestativos na luta que deve ser mantida ativamente? Não sei se esse agente negativo foi produto do desequilíbrio dos pensamentos. De qualquer modo, creio seja nossa obrigação estudá-lo e combatê-lo como lutamos em outros tempos com a varíola e a tuberculose.

Dói observar tanta gente inserida nesses contágios de proporções que me parecem desnecessárias. Embora reconhecendo a carência de nossos recursos para debelá-los, filiei-me com o vovô João Antônio a uma escola de combate ao vírus psicogênico, e estamos na esperança de que muito em breve haverá recursos para a preparação da vacina adequada. Trata-se, realmente, de um flagelo da provação coletiva que pesa nos ombros dos povos em geral e aqui, na Vida Maior, todos nos movimentamos, os Espíritos de boa vontade, a fim de concentrar esforços na extinção do mal. Não podemos compará-lo à varíola, porque essa moléstia oferecia acesso mais fácil à descoberta de meios para ser debelada.

Atendamos às campanhas de saneamento da vida mental, mas igualmente às que se relacionam com a abstenção de certas manifestações do sexo, inadequadas e extravagantes.

O vovô Frankenfeld e eu freqüentamos um colégio especialmente dedicado à defesa de nossos semelhantes, pois seria inadmissível que Jesus viesse retirar esses corpúsculos da morte prematura, quando temos tantas armas da inteligência por manejar.

(22-6-89)

AMOR FILIAL

Quero reunir papai e Mãezinha Edda em meu abraço marcado de alegria e lágrimas. Alegria pela oportunidade de servir e lágrimas iluminadas de saudades.

Com o imenso amor com que me reconheço um trabalhador feliz, deixa-lhes o coração, que fala muito mais que os vocábulos inventados pelo homem, com ilimitado carinho, o filho e companheiro de todos os instantes, sempre caminhando nos passos em que os queridos pais seguem para a frente, o filho que os tem no íntimo por relíquias sagradas de minha passagem pela Terra, sempre afetuosamente,

Carlos Eduardo Frankenfeld de Mendonça.

(30-11-89)

CARÊNCIA AFETIVA

Vejo que o trabalho no Bem tem balsamizado as nossas feridas de carência afetiva, em nos referindo ao lar terrestre.

(24-3-88)

CARIDADE

Pai, como afirmávamos tantas vezes, de um para com o outro, é na construção do bem aos outros que nos agasalhamos para seguir na direção do êxito espiritual pelos compromissos executados.

(16-6-83)

As lágrimas que enxugamos nos olhos dos irmãos necessitados de socorro e de amor enxugam as nossas, de vez que notamos de quantas vantagens dispomos em confronto com as provas amargas de muita gente. Além de semelhante curso de lições, tenho no "Regeneração" uma escola bendita para a aplicação do que vou entesourando. Agradeço a Deus por toda a felicidade que me confere, porque todos nós, as criaturas da Terra, seremos chamados, agora ou no futuro, à compreensão de Jesus, que a experiência nos ensina a encontrar em cada irmão e em cada irmã do caminho que vamos atravessando gradativamente.

Não sei como transmitir-lhes o que sinto, mas sei que não precisam, tanto quanto eu, do aprendizado em que me encontro, de vez que aí mesmo no mundo ouvi de meus queridos pais as expressões mais belas de elevação, com uma diferença: antigamente eu ouvia, presentemente ouço e sinto o que os Mentores daqui me ensinam com bondade e amor. Estou no mesmo encantamento que aprendi a cultivar em nossa família; entretanto, estou na condição de uma pessoa que, de um momento para outro, experimentasse o desdobra-mento do coração para que o devotamento de Cristo nos penetre mais profundamente na alma.

(24-3-88)

A vida é dar e receber, e agora tenho compreendido isso. Doar o nosso tempo e as nossas possibilidades para o socorro aos outros é fazer-nos dignos de maior suprimento de forças para distribuir.

(15-9-89)

CRESCIMENTO DE CRIANÇAS NO ALÉM

Quero dizer aos pais queridos que o tempo me deu a forma do companheiro adulto, que está deixando os derradeiros vestígios da imaturidade, para raciocinar e viver a tarefa em que me encontro. Do ponto de vista da apresentação, creio que, na fita métrica, sou um rapaz com um tanto mais de altura do que o papai. Refiro-me à altura da forma humana, porque da altura em que meu pai se encontra, estou ainda muito longe.

(30-11-89)

CULTO DO EVANGELHO NO LAR

Agradeço tudo que recebo de casa, especialmente nos cultos do Evangelho no Lar.

(01-9-88)

Creiam que é uma indescritível alegria, a possibilidade de algo se fazer em benefício de doentes que se acham em trânsito para certos pavilhões de refazimento, depois de desencarnados. Devo comunicar o meu trabalho em si, porque os queridos pais podem nos auxiliar nos cultos do Evangelho no Lar, com orações pelos desencarnados, orações essas que se associam às nossas, no rumo dos objetivos a alcançar. Julgo necessário explicar, porém, que, muitos enfermos, colocados sob a nossa assistência, não possuem qualquer conhecimento acerca da morte do corpo, o que lhes dificulta a passagem pelo nosso pouso de trabalho, já que precisamos deixá-los devidamente esclarecidos.

(30-11-89)

DESENCARNAÇÃO PROGRAMADA

Mãezinha, é com prazer que lhe transmito a certeza  de que o seu filho voltou no tempo justo. Doer-me-ia demasiado ficar a fim de lhes impor preocupações maiores do que aquelas que lhe proporcionava por mim mesmo, e sei que atravessaria tempos demasiadamente difíceis para minha sensibilidade.

(28-10-82)

Creio, sinceramente, que não vim para atender aos nossos planos de maneira imediata, mas sim estabelecermos as bases para a continuação de nossas tarefas em Plano Superior. A mãezinha Edda, tendo escolhido a medicina, seguiu fielmente o esquema traçado e, de minha parte, onde me encontro, desenvolvo os conhecimentos suscetíveis de nos trazerem a felicidade entressonhada.

(07-11-86)

DISCIPLINA

O tempo segue voando e precisamos de muita disciplina nos compromissos assumidos para não estacionarmos na retaguarda dos minutos.

(24-3-88)

DOR

O meu desenvolvimento não é algo de espetacular; no entanto, tenho aprendido lições que me ampliaram os pensamentos a dentro de mim próprio. A dor em nossos companheiros de caminhada, a pouco e pouco se transforma na educadora de que necessitamos para penetrar no sentido das instruções de Jesus. E compreendemos, por fim, que se não nos é possível fazer o "muito" que desejaríamos, conseguimos realizar o "pouco" revestido de luz que os nossos Benfeitores Espirituais consideram com o mesmo carinho e entusiasmo, qual se houvéssemos solucionado grandes problemas humanos. Sim, não se nos faz possível resolver as grandes questões que envolvem as criaturas na Terra, mas encontramos a chave adequada à abertura de nossos corações para o grande entendimento.

(24-3-88)

DOENTES NO ALÉM

No Mundo Espiritual, especialmente na região que me serve de moradia, as necessidades não são menores e os doentes se excedem, em longa percentagem, sobre o número dos doentes que conhecemos.

Se os doentes soubessem que continuarão doentes aqui, após a desencarnação, creio que muita gente se livraria de males que se vão cronificando, até que se transfiram para cá, onde mentores severos pedem a atenção para a reforma íntima.

 

(15-9-89)

ESPERANTO

Quero dizer à Mãezinha Edda que o estudo do Esperanto vem ganhando novos simpatizantes, com grande alegria para nós todos. Nesses estudos, incluímos a homeopatia mais especializada e os efeitos são excelentes.

(13-4-89)

ESTUDO DO EVANGELHO

Quanto se me faz possível, consagro-me a estudos outros, relacionados com o Evangelho de Jesus, que me tornem mais acessível aos ensinamentos dos Mentores daqui que, em nos induzindo ao esforço máximo, só nos desejam a prosperidade imperecível do bem, através da qual nos será possível mais amplo investimento de forças na caridade que, por si, representa a Carteira das Bênçãos no Banco da Providência Divina.

(16-6-83)

Papai Aurílio, tenho estudado consigo, quanto possível, as sagradas letras e estou lucrando muito, assimilando lições que nos ampliam os conhecimentos sobre Jesus. Agora tenho tido algumas folgas e espero que meditações criativas somem aos nossos estudos.

        HOMEOPATIA

Apoio a Mãezinha Edda na sua reformulação de conhecimentos mais amplos para a assimilação da homeopatia.

(28-10-82)

A Mãezinha prossegue encorajada no setor da homeopatia, com a qual verifica o tesouro de possibilidades socorristas em nossas mãos e, com o seu trabalho que é igualmente meu, sinto-me renovado.

(16-6-83)

Mãezinha Edda, meus parabéns pela homeopatia em marcha. Prossigo ao seu lado, compartilhando-lhe os estudos e noto que os valores homeopáticos se nos farão cada vez mais valiosos. O tempo se incumbirá de evidenciar a verdade que afirmo. Não temos uma relação adequada do montante das curas e das melhoras que vamos observando, mas nossos amigos Murtinho e Dias da Cruz nos dizem que essas melhoras e curas obtidas por nosso intermédio excedem, graças a Deus, a nossa expectativa do princípio. Estamos muito felizes e Jesus nos abençoou diante de muitos casos em que o nosso esforço se verificou para bem servir.

(01-12-83)

Querida Mãezinha, venho acompanhando as suas tarefas nos estudos e sinto-me orgulhoso de sua dedicação aos nossos ideais. Tudo o que pudermos aprender para facilitar a homeopatia, é para benefício dos sofre-dores. Ainda assim, peço-lhe coragem e paz no prosseguimento dos deveres que o tempo de agora nos impõe: trabalhar muito e sempre para que os nossos credores, os doentes, encontrem o caminho das melhores realizações.

(? – 87)

Estudo a homeopatia com a disposição de aperfeiçoar-me nos conhecimentos que ela nos oferece.

(24-3-88)

Em companhia da Mãezinha Edda, prossigo em minha jornada, que posso classificar por jornada homeopática, estudando a ação e reação de elementos determinados. Ninguém obtém conhecimentos por osmose e sou, naturalmente, chamado a estudar com a diligência habitual, junto dos Mentores do assunto, a fim de me fazer útil.

Desejo comunicar à Mãezinha Edda que venho efetuando estudos especiais sobre o psiquismo das crianças que assistiram agressões violentas em pessoas queridas, inclusive o homicídio, e estimarei que a mamãe estude esses casos separadamente para a medicação especial que requisitam. As crianças que acompanharam de perto crimes e delitos outros se tomam de um estado depressivo ou excitante que é necessário socorrer e normalizar. Não deveriam, em minha opinião, receber tratamento nos padrões habituais, de vez que necessitam de medidas de ingerência mais profunda, na esfera da sensibilidade, a fim de se acomodarem com a vida comum, e isso é problema que nos interessará a todos, no futuro.

Observo que os valores homeopáticos variam com o estado mental dos doentes e todas essas particularidades exigem especial atenção. Para mim tem sido uma grande alegria analisar os casos diferentes que nos são apresentados, e peço a Jesus me conceda a felicidade de continuar estudando e agindo para aprender a servir com mais segurança.

(01-9-88)

Mãezinha Edda, a homeopatia, graças a Deus, vem conquistando área para o seu crescimento maior.

Desejo comunicar-lhes que vovô João Antônio Frankenfeld (creio que para me estimular) se faz aluno comigo no curso novo que a mãezinha vem fazendo, e estou admirado com a lucidez de que ele fornece amplo testemunho. E comovente, para mim, vê-lo sobraçando livros e extraindo conclusões. Um amigo de nome Napoleão Laureano completa para nós o trio de muito esforço, e com isso admito que a homeopatia vai conquistando simpatias e cultores devotados.

(...) na parte da tarde, com o vovô João e o Dr. Napoleão estudamos nossas tarefas, geralmente com as fichas dos enfermos ao nosso lado, devidamente copiadas, a fim de anotarmos com pormenores os medicamentos e a evolução dos doentes. Isso tem sido uma boa prática. A homeopatia funciona sem atritos e sem choques; e isso nos proporciona a alegria de ver muitos enfermos melhorando pacificamente, sem os remanescentes dos medicamentos que protegem certo órgão, mas prejudicando outros.

Preciso de aquisições na homeopatia em suas atuais renovações. Por felicidade minha tenho grande inclinação para o tratamento homeopático e, antecipadamente, já sei que vou obter muitos conhecimentos novos.

(13-4-89)

 Queremos dizer à Mãezinha Edda que temos acompanhado todas as suas atividades na Medicina Homeopática, especialmente as que desenvolvemos na sede do "Regeneração", a casa de paz e amor que nos deu e nos dá tanto carinho e acolhimento. Tenho em nosso Lar dos Lauff, a minha residência predileta, muitos registros de observação sobre casos diversos hauridos de nossos contatos com os doentes do "Regeneração". Desejo coordená-los e ampliá-los quanto possível.

(22-6-89)

Estou bem mais robustecido à medida que coopero nas tarefas da homeopatia com a Mãezinha Edda, a beneficio dos doentes. Permaneço na construção de pontes vivas de cooperação e trabalho, entre a homeopatia e os enfermos.

Querido Papai Aurílio, sem qualquer impulso de propaganda, ficarei satisfeito se a Mãezinha Edda lhe traçar um esquema de tratamento, porquanto considero que o excesso de atividades e trabalho tem diminuído um tanto as suas energias. Trabalhe, porque isso é o melhor que se pode fazer na Terra, mas alimente-se com recursos que lhe restaurem as forças, para que o vejamos sempre alegre e satisfeito com a sua nobre missão. Pai, não se impressione se estou falando em abatimento, o senhor está bem; no entanto, com algumas doses de homeopatia sua saúde estará muito melhor.

(15-9-89)

Meu trabalho na homeopatia continua sendo ativo e, para mim, fascinante. Diariamente, ou quase diariamente. quando possível, vou ao encontro da Mãezinha Edda, tomar informes sobre os que pedem auxílio na casa da "Regeneração" .

Essas primeiras notas do dia seguem comigo para a sede de nossas atividades, que se acham sob a orientação e revisão de assessores do Dr. Dias da Cruz, que se encarregam de visitar a moradia e ver as condições do enfermo que precisa ser medicado. Os membros da família são examinados e o ambiente doméstico é rigorosamente observado pelo colega que foi então designado para anotar os elementos de que o doente faz "inalação".

Se há Entidades em processo obsessivo no lar visitado, esses Espíritos necessitados de luz espiritual são vistoriados e com esses ingredientes informativos, faz-se a ficha do irmão ou da irmã enferma, a fim de que qualquer irregularidade seja sanada. Se há obsessores no caso, a instituição do Dr. Dias da Cruz já possui turmas de Entidades mais ou menos semelhantes a eles, para afastá-los da casa que está sendo socorrida.

O tratamento do enfermo começa com a limpeza do ambiente em que o irmão doente se encontra e, só depois da residência libertada, os agentes medicamentosos da homeopatia passam a funcionar. Se a moradia está excessivamente carregada de pensamentos infelizes, o tratamento é mais difícil e mais longo, entretanto, se o recinto doméstico se mostra limpo e isento de quaisquer influências nocivas, o tratamento encontra facilidade para se revelar.

Os queridos pais refletirão comigo na tristeza de se encontrar uma criança, ou mais propriamente um menor, obsediado, prejudicando o doente que se pretende auxiliar e, muitas vezes, tenho tido o honroso encargo de tornar a criança desvinculada daqueles irmãos desencarnados que a perturbam.

Muito raramente, vejo o Dr. Dias da Cruz, cuja simples presença nos impõe respeito à sua pessoa, mas preciso referir-me a esse tópico porque, nos casos extremamente complicados, a autoridade dele nos impele, sem qualquer violência, a escolher o melhor. Tudo devemos à sua bondade espontânea. Outros médicos, da homeopatia ou não, por vezes simpatizam com os nossos serviços e aderem ao trabalho que estamos desenvolvendo e, vale dizer, que muitos desses médicos são Espíritos corretos, que vieram da Terra na condição de analfabetos das realidades espirituais, à vista do materialismo em que se incrustaram. Esse nosso trabalho, unido ao Grupo Espírita Regeneração e outros setores, possuo pequenas legiões de colaboradores, que se dedicam aos serviços considerados mais pesados do ponto de vista espiritual.

Acreditem que estou feliz por abrir, um tanto, a cortina que vela os nossos trabalhos e desejaria exprimir-lhes o amor com que lhes trago os presentes assuntos.

Pensando que já terei explicado o mecanismo das nossas tarefas, que se processam no "Regeneração" (...).

(30-11-89)

INTUIÇÃO

Mãezinha, muito obrigado pelos esforços que vem fazendo no sentido de centralizar nossas lembranças no serviço a fazer, com o que nos achamos mais integrados um com o outro. Muitas vezes, em seus diálogos com os colegas e autoridades do curso, sou eu mesmo quem, ao ouvir os desafios fraternais que nos são desfechados, lhe busco a palavra sincera e correta a fim de solucionarmos certos problemas pendentes na classe. E depois desse ou daquele entendimento afetuoso, rejubila-me saber que o seu coração se toca das verdades da Vida Maior.

(28-10-82)

IRMÃOS INSATISFEITOS

Papai, agradeço-lhe os cuidados para não entrar em qualquer grupo de irmãos insatisfeitos que estima-riam possuir-lhe a adesão e a presença. Para reclamar o nosso Divino Mestre dispõe de muitas legiões de amigos difíceis, mas, para servir com Ele e sob a luz de Suas bênçãos, temos muito poucos. Quanto pudermos busquemos cooperar com Ele em favor de nossos irmãos, mormente de nossos irmãos infelizes.

(22-6-89)

MEDICINA (FUTURO DA)

Cada caso de provação é diferente pelas causas que lhe traçam a origem, e creio que a Medicina tomará outros rumos quando puder prestar auxílio ao contexto corpo-alma, iniciando o serviço de amor ao próximo através do coração ou do sentimento, para cuja formação e aprimoramento tenho encontrado muitas melhoras e muitas vantagens na avó sensível e afetuosa, que se faz instrumento do amparo aos nossos irmãos.

(28-10-82)

PREMONIÇÃO

Minhas recordações estão seguras. Adormeci, depois das preces habituais, com a intuição de que algo extraordinário estava para acontecer. Antes, havia falado aos pais queridos de minha fase de desligamento natural de todas as questões que me pudessem prender à existência física. Aquilo não era uma fantasia de menino religioso. Lá dentro - dentro de meu íntimo - chegara a certeza de que o meu tempo na estância terrestre estava a escoar-se. O coração me contava toda a ocorrência próxima e não me enganei.

Dormi, como de hábito, e me senti num sonho de alta beleza. Sentia-me leve, respirando certo ar puro a que não me achava habituado no cotidiano. Muitos amigos me assistiam, ou, qual refletia naquela hora, devia eu estar assistindo a muitos amigos. Conheci, para logo, o nosso querido amigo Dr. Bezerra e procurava adivinhar os nomes de outros amigos e benfeitores presentes, junto de mim. (...) Estava consciente e alegre. Entre as paredes de meu quarto havia uma festa de luz para a qual não me preparara. Ansioso, embora tranqüilo, se pudermos dizer que a paz coexiste com a inquietação, notei que uma senhora de semblante calmo e doce veio abraçar-me e disse com voz clara: "- Querido Carlos, você será bem-vindo ao lar dos Lauff.!"

Estranhei o que ouvia, quando, perplexo, vi meu corpo repousando, à maneira de uma escultura de células que estivesse me esperando. Recordei o regaço de Mamãe Edda e o colo da Vovó Júlia, quando criança, e enlacei-me com a senhora cujo olhar me cativara com a ternura irradiante em que se expandia. E fiz isso porque ninguém, naquela festa improvisada, necessitaria explicar-me o acontecido. Minha ligação com a vida física terminara. Não me situava num sonho. Identificava-me por dentro de uma realidade a que não me competia resistir.

(22-10-81)

REENCARNAÇÃO

Querido papai Aurílio e querida mãezinha Edda, estou certo de que as minhas notícias aqui são clara-mente desnecessárias, pois estamos, graças a Deus, em permanente união. Nosso intercâmbio se fez lógico e habitual, de vez que não encontraríamos outra forma de viver, já que a nossa ligação é anterior ao convívio doméstico. No entanto, dou asas ao meu pensamento filial a fim de agradecer-lhe quanto recebo de casa em amor, paz e vida, benefícios que me encorajam na marcha para a frente.

(07-11-86)

De nossa Scheilla, de nossa Liliane e de nossa Lívia me recordo sempre e faço por auxiliá-las em tudo que se me faz possível. Cada irmã está mentalmente no mundo que lhe é próprio e aqui tenho aprendido que todos nós, individualmente, trazemos a soma do que fomos e fizemos nos tempos que se foram.

(22-6-89)

Chego a pensar que quando a Bondade de Deus me determine a volta para nova existência na Terra, terei nos valores homeopáticos excelentes escoras para firmar-me no corpo, que desejamos seja mais forte do que o instrumento de que dispus nas tarefas últimas que pude aprender no mundo físico.

(15-9-89)

REGRAS SOCIAIS

Mãezinha Edda e papai Aurílio, às vezes pensava,quando aí, de que modo conseguiria satisfazê-los porque, evidentemente, não me harmonizava com as regras sociais vigentes. Em muitas ocasiões receei tornar-me diferente e subversivo, verificando o sofrimento alheio sem os meios de lhes atenuar o rigor. Por isso agradeço as preces que me doaram com tanta grandeza de alma, na data de 18 de setembro, com o que consegui revisar os meus próprios caminhos.

(28-10-82)

RESIDÊNCIA NO ALÉM

Aproximando-nos de um decênio para marcar a minha ausência compulsória, quero dizer-lhes que me sinto mais adaptado à Vida Espiritual e mais integrado no trabalho, e tenho por sede o "Lar dos Lauff", segundo a designação de nossa admirável avó Maria. Por enquanto não tenho atividades no Plano Superior, nem se justificaria uma posição dessa. Em compensação tenho muitos afazeres no campo físico, onde acompanho especialmente a Mãezinha Edda nos seus encargos médicos.

(24-3-88)

TAREFAS DIÁRIAS

Coopero nas tarefas do nosso "Regeneração", apoio a Mãezinha Edda na sua reformulação de conhecimentos mais amplos para a assimilação da homeopatia, procuro colaborar com as irmãzinhas nos estudos em desenvolvimento e desempenho, tanto quanto possível, as pequenas tarefas de assistência indicadas pelo nosso próprio Grupo de Oração e Trabalho.

(28-10-82)

Estou com o meu horário pleno de trabalho. Saio do querido Lar dos Lauff muito cedo e vou cooperar com a Mamãe em benefício dos doentes, e procuro fazer quanto possível para ir sempre ver a nossa Liliane e analisar os méritos da fonoaudióloga. Em seguida, na parte da tarde, com o vovô João e o Dr. Napoleão estudamos nossas tarefas, geralmente com as fichas dos enfermos ao nosso lado, devidamente copiadas, a fim de anotarmos com pormenores os medicamentos e a evolução dos doentes. Isso tem sido uma boa prática.

(13-4-89)

TRABALHO SOCORRISTA

Hoje, posso com mais segurança auscultar a vida mental dos nossos jovens amigos, interferindo em favor deles, principalmente no sentido de libertá-los das influências tendentes a induzi-los às paixões e ao suicídio, que se lhes fariam fatais por muito tempo, nas conseqüências que os seguiriam de perto, onde estivessem e como estivessem. Graças a Jesus, a desencarnação não me interrompeu os estudos, nem me retirou a possibilidade de prosseguir aprendendo assistência - assistência que vem a ser o coração de Jesus pulsando no trabalho do homem em favor do próprio homem. Com vovó Maria Lauff venho adquirindo semelhante matéria que, a rigor, não pode ser ministrada teoricamente por professores.

(28-10-82)

A vida em uma encarnação ou em uma existência não termina com a Certidão de Óbito, porquanto prosseguimos junto aos nossos entes queridos com o dever de auxiliá-los e defendê-los.

(07-11-86)

TRISTEZAS

Procuremos transformar as nossas tristezas em esperanças para os outros e, em breve, seremos um grupo invulnerável ao assédio das paixões humanas, para sermos parte da família de Cristo que nos abençoa as esperanças.

(24-3-88)

VIDA SIMPLES

Creio que a vida quanto mais simples, maiores os recursos de resistência e conservação, tranqüilidade e bênçãos que receberá daqueles que nos traçam os caminhos em nome de Deus.

 (15-9-89)

 

 

FIM