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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Venceram–Francisco Cândido Xavier

Índice do Blog

 

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VENCERAM

 

Francisco Cândido Xavier

e

Carlos Ramacciotti

 

(Espiritos Diversos)


 

 


VENCERAM

 

 

                                    Os romanos popularizaram a expressão de César: “Cheguei, vi e venci”, quando participava ao Senado a sua vitória sobre Pharnace, rei do Ponto.

*

                             Neste livro, porém, cinco jovens desencarnados nos fazem perceber que não apenas chegaram ao Mais Além, descortinando-lhe a elevação e a beleza, mas venceram, pela força do amor, as dificuldades que se lhes antepunham ao intercâmbio com os entes queridos, demonstrando-lhes a inexistência da morte e a sustentação da identidade pessoal que lhes é própria.

*

                             Acresce notar que este livro se constitui de uma correspondência de longo curso, em alguns casos, através de vários anos, na qual evidenciam a verdade de que não basta desencarnar-se alguém para se reconhecer, imediatamente, em plena renovação.

*

                             Cada um dos comunicantes revela-se neste volume, tal qual é, com as peculiaridades que lhes caracterizam ainda as aspirações e pontos de vista trazidos da Terra, entremostrando que superaram as barreiras que os distanciavam dos familiares, mas prosseguindo a vencer a si mesmos, no domínio dos próprios hábitos e escolhas.

*

                             Outra ocorrência, digna de menção, nestas páginas, é o depoimento dos generosos genitores dos filhos inesquecíveis que lhes dirigiram a palavra em múltiplas circunstâncias, através do tempo, identificando-lhes a presença pessoal nos comunicados que formam o presente volume.

*

                             Cada leitor ajuizará por si, quanto a importância da correspondência inequívoca, entre os dois planos – o Plano Físico e o Plano Espiritual – que este livro apresenta, formulando as próprias conclusões, com respeito aos assuntos da personalidade e da experiência pessoal, da vida e da morte.

*

                             Eis porque finalizamos aqui o nosso despretensioso intróito, rogando a Jesus, o nosso Divino Mestre, nos ilumine e nos abençoe, impelindo-nos a buscar o nosso próprio aperfeiçoamento, a fim de que estejamos à frente dos devedores que nos competem, seguindo adiante e fazendo de cada dia um passo a mais.

EMMANUEL

Uberaba, 15 de outubro de 1982

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CARLOS  ALBERTO  DA  SILVA  LOURENÇO

 

(TATO)

 

 

Santos (SP) – 25 de junho de 1956

São Bernardo do Campo (SP) – 17 de

Setembro de 1974

 

Estudante de Engenharia, 18 anos, filho de

Severino Domingos Lourenço e Dirce Pessoa da

Silva Lourenço.

 

                                    Durante a estruturação deste livro, em uma de nossas entrevistas, perguntamos o seguinte à genitora do Tato:

                                    - D. Dirce, de que modo estão as coisas, depois de quase 10 anos de separação?

 

                                    “Não houve separação, Dr. Caio. No início, quando o desespero me toldava o raciocínio, quando a dor me imobilizava no leito, tudo pareceu perdido. Mas houve um sol em nossas vidas – Chico Xavier, o amigo a quem tudo devemos.

                                    Por seu intermédio, voltamos a conversar com o Tato; as mensagens tão autênticas de nosso filho trouxeram-nos a convicção de que apenas houve a separação física, mas o querido Tato continua existindo no Plano Espiritual e continua sempre conosco, visitando-nos, orientando-nos e participando dos problemas, das dificuldades e alegrias de nossa casa.

                                    Eu e Severino nos vinculamos ativamente a tarefa junto aos que sofrem, qual nós sofremos e, de certa forma, procuramos ser mais úteis ao nosso semelhante.”

 

 

 

 

 

CAPÍTULO I

  

CARLOS  ALBERTO  DA  SILVA  LOURENÇO

 

 

                             Querida Mãezinha Dirce e meu querido papai Severino, minha Mãezinha Amélia e meu paizinho Olavo, com todos os nossos e o meu irmão André Luiz, peço a Deus nos abençõe1.

                             Estamos agradecendo a festa de aniversário2. A meu ver, outro companheiro deveria tomar o lápis e traduzir a nossa gratidão; entretanto, o nosso irmão Tedy3, a quem pedi escrevesse, deixou a mim este encargo.

                             Agradecemos, em nosso nome, tudo de bom que os amigos dividiram hoje, lembrando-nos na pessoa de nossos irmãos em obstáculos materiais maiores do que os nossos.

                             As jovens Maria Helena e Maria Célia se nos associam ao reconhecimento e o nosso Augusto Cezar4, com tantos outros amigos, nos compartilha o júbilo.

                             Muito gratos pelos cobertores que distribuíram, sob o amor de nossos amigos Domenico e Elda5, em benefício dos nossos amigos que estão duelando com o frio da noite; pelos bolos e doces com que tantas crianças nos endereçaram sorrisos de paz e felicidade, pelos materiais de alimentação que aliviaram tantas famílias afetuosas e amigas e por todas as alegrias que souberam criar no ânimo dos pequeninos que receberam o leite em pó encharcado de beijos da saúde.

                             E, acima de tudo, Mãezinha Dirce, nós agradecemos o carinho com que nos recebem os apelos de fraternidade, porque todos somos uma só família perante Deus.

                             Sabemos que todos vocês, nossos pais e mães, nossos irmãos e nossos amigos, se o quisessem, poderiam estar gastando as moedas invisíveis do tempo, em distrações e prazeres, à distância dessas obrigações iluminativas da alma.

                             Não ignoramos que todos trabalharam durante a semana inteira e mereciam o repouso em casa nos chinelos macios, mas vocês nos ouviram e estamos felizes. Nossa alegria é muito grande e, avalizados por Jesus, afirmamos a todos que o esforço de cada um será recompensado com as bênçãos de Deus.

                             Mãezinha, você sabe que andei estudando para escolher atividades e a Engenharia com a Eletrônica me chamaram a vocação. Agora, porém, estou aprendendo que a beneficência é a faculdade do bem, na qual aprendemos as maneiras de servir.

                             Agora, sei que podemos contar quantas lágrimas verte um pai de família ou um coração materno, a fim de criar-nos para a vida; quantos minutos foram arrebatados pelo trabalhador sincero aos horários de rotina para as visitas fraternas aos que pedem socorro; quantas horas são gastas com os doentes sem ninguém; quantos sacrifícios se exige daqueles que se dispõem a servir aos semelhantes, tanto quanto hoje não ignoramos a importância das pontes de atendimento que nos cabe construir entre as pessoas, para que a solidariedade reine sobre a Terra; quantos refúgios de consolo precisamos levantar para a conversação mais íntima com os nossos irmãos sofredores, orientando-lhes os passos para a vida e, sobretudo, quanto nos cabe fazer para que nossos obreiros apareçam e nos ajudem.

                             Por isso, aprovo o desejo de trabalharem e servir, cada vez mais.

                             Até hoje, no mundo, temos vivido atentos às edificações materiais, mas nem sempre nos lembramos de que, por dentro de nós, necessitamos erguer muitos valores para a nossa mais ampla tarefa do bem na Terra.

                             Tenho acompanhado as nossas lutas, mas peço ao meu paizinho Olavo e à Mãezinha Amélia muita serenidade e coragem. Basta fazer esforço pelos outros para que os outros se esforcem a nosso favor. As lutas passarão.

                             Sei que o nosso caro amigo Dr. Marins6 vem atravessando uma fase difícil da vida, mas estamos pedindo a Jesus para que ele e a esposa reencontrem o caminho da paz. A luta na Terra é uma série de problemas constantes, um vai e outro vem, mas não pode ser diferente.

                             Agradeçam a ele, Dr. Marins, o que faz por mim e espero manifestarem ao nosso caro amigo José da Fonseca7 os meus agradecimentos pelo carinho com que sempre nos acompanha desde o princípio de minha transferência para o Mundo Espiritual.

                             Estava presente em nossa palestra quando o nosso Fonseca se referia a minha palavra que ele sempre nobremente aguardou. Ele, papai Severino, tem sido um amigo fiel e peço-lhe falar a ele de minha amizade e gratidão.

                             Não tenho escrito mais frequentemente, porque me achava seguindo os problemas do paizinho Olavo e agora que as tempestades vão se acalmando, quero dizer-lhe que estamos a postos, unidos nas mesmas preces, para que a tranqüilidade nos favoreça. Um abraço à Vovó Deolinda e aos primos e tios8.

                             Nosso irmão João Luiz Palatinus9 solicita-nos transmitir à Mãezinha presente o seu carinho e gratidão, informando que vem fazendo quanto pode, a fim de ver a irmãzinha dele sempre mais feliz.

                             Hoje, Mãezinha Dirce, escrevo esta carta, tão-só no intuito de transmitir-lhes nossos agradecimentos pelo bem que estendem em nosso nome.

                             O padre Galdino 10 está comigo e pede a Deus para que todos nós, os cristãos, estejamos unidos no bem, para que o bem com Jesus seja realizado plenamente.

                             Nosso André Luiz receba um beijo de muito carinho nosso e vocês, pais queridos, recebam o coração reconhecido que sempre lhes segue todos os passos.

 

 

CARLOS ALBERTO

(TATO)

25, JUNHO, 1977

 

 

 

1) Tato sempre considerou os tios Olavo Jorge Bonfim e Amélia da Silva Bonfim, quais seus próprios pais. André Luiz Pessoa da Silva Lourenço, irmãos, atualmente com 7 anos.

2) A mensagem foi recebida no dia do natalício de Tato.

3) Tedy, jovem desencarnado que ainda não identificamos.

4) Augusto Cezar, já o conhecemos de JOVENS NO ALÉM, SOMOS SEIS, FALOU E DISSE e AUGUSTO VIVE, livros psicografados por Chico Xavier e editados pelo GEEM.

Maria Célia Marcondes e Maria Helena Marcondes, irmãs, filhas do casal Dioscórides Marcondes dos Santos Freire e Maria José Caetano Marcondes. Faleceram, respectivamente, em 1975 e 1976.

5) Juntamente com o casal Domenico e Elda Orlandi e na companhia de amigos outros, os pais do Tato organizaram distribuição de cobertores, alimentos e doces a famílias carentes, lá em Uberaba, no dia da recepção da mensagem.

6) Dr. José Marins, médico amigo da família.

7) Abnegado militante espírita de Santos.

8) Avó materna, Deolinda Glianda da Silva.

9) Co-autor espiritual deste livro.

10) Padre Galdino Viliotto, amigo de Carlos Alberto, desencarnado em 1973. Professor de química do Colégio Santista.

 

 

 

 

CAPÍTULO II

 

 CARLOS  ALBERTO  DA  SILVA  LOURENÇO

 

                       

                             Querida Mãezinha Dirce, peço ao seu querido coração de Mãe abençoar-me as esperanças de filho.

                             Agradeço, Mãezinha Di, o seu concurso de presença nestes dias, junto às tarefas em que nos achamos envolvidos, na lembrança de nosso amigo Augusto Cezar, que se converteram em abençoados encontros de trabalho na oficina do bem.

                             Religo-me aos seus sentimentos de carinho, na cooperação com os amigos, e, de meu lado estou na turma daqueles que se irmanam para cooperar nos contatos de outros companheiros em nossos momentos de oração.

                             Graças a Deus, estamos sempre juntos. Não me creia esquecido de nossas datas e lembranças. Felizmente, vejo-a mais tranqüila e ajustada às nossas realidades presentes e, durante as suas reflexões, conserve a certeza de que o seu carinho me registra a presença com precisão quase que absoluta.

                             Nos dias que passaram, ambos desconhecíamos de que modo nos cabia controlar o sofrimento que raiava quase no desespero, mas, agora, no curso dos dias, pouco a pouco, convencemo-nos de que a aceitação é o melhor estado de prece, a fim de acumularmos forças para a caminhada.

                             Agradeço a paz com que você, querida Mãe Di, tem sabido orientar o papai Severino e a consolar os paizinhos outros, tio Olavo e tia Amelinha. Muitas lutas foram já superadas e esperamos que o seu equilíbrio continue harmonizando a todos os nossos no caminho a ser percorrido.

                             Faça os nossos compreenderem que ninguém se realiza e nem realiza algo de bom na Terra sem problemas e sem lutas. Quando o calor das crises subir ao clima de alta tensão, proceda como vem fazendo, interpondo a sua palavra de serenidade e de harmonia, paz e segurança, entre os argumentos menos felizes que os nossos entes amados apresentem, e tudo seguirá bem, com as bênçãos de nossos Benfeitores da Vida Superior.

                             Tenho acompanhado a evolução do Andrezinho e envio a ele os meus parabéns. É um garoto assombroso esse meu irmão, que tenho sob os melhores votos de amparo espiritual.

                             Mãezinha Di, sei quão difíceis são os problemas para a sua sensibilidade no tempo que se desdobra, sem que a minha presença mais imediata e mais concreta esteja a oferecer-lhe o suporte preciso à confiança em si mesma, no entanto, Mãezinha, observe que isso acontece imaginariamente.

                             Digo isso porque tenho sido, com a bênção de Jesus, e embora eu não mereça, a esperança em suas horas difíceis, o seu apoio nos momentos de incerteza, a resposta às suas indagações e sobretudo, aquela voz que lhe fala por dentro do coração, induzindo-a a calma e à coragem necessárias para atravessar todos os obstáculos.

                             Não se deixe vencer pelos empeços e aflições das experiências na vida material. Eleve sua fé para os cimos da vida e observará que Deus é amor que nunca se esgota e luz que não se extingue.

                             A Vovó Zezé1 tem estado junto de mim compartilhando de nossas tarefas, tanto quanto a outra avó, sempre atenta ao carinho de que necessitamos para reforçar os nossos recursos no trabalho do cotidiano.

                             Temos colaborado, quanto possível, em benefício da Vovó Deolinda e da tia Amélia, no setor da saúde, rogando a Jesus as conserve satisfeitas e felizes. Peço dizer ao papai Severino e ao papai Olavo que nos tempos mais difíceis, quais os nossos agora, o pensamento circunscreve os próprios vôos às atividades julgadas mais simples, a fim de não provocarmos falsas impressões a nosso respeito.

                             Quanto mais simplicidade nas situações, maior será o apoio que recolheremos do Mais Alto, porque os Espíritos Superiores igualmente encontram com isso mais amplas oportunidades para o auxílio em nosso favor.

                             Agradeço à tia Alzira que nos dispensa tamanho amor, conservando na memória as recordações do seu filho que deseja a todos os nossos o Maior Bem. Alzirinha e Alexandre me falam alto ao coração, como também todos os nossos que nos honram com o seu habitual carinho2.

                             Peço a você, Mãezinha Di, e ao Papai Severino, transmitirem ao nosso irmão Fonseca, os nossos agradecimentos pelos estímulos que nos tem doado aos corações, a fim de prosseguirmos em nossa jornada para a frente.

                             Com tantos amigos ao nosso lado e considerando as bênçãos que temos recebido, de maneira incessante, não temos senão motivos para sermos gratos a Deus.

                             Mãezinha Di, tenho tido a alegria de continuar trabalhando em nossa equipe juvenil de serviços cujas atividades se ampliaram intensamente depois dos nossos livros de parceria e agora tenho minhas tarefas acrescentadas com uma boa ponta de trabalho em favor dos doentes, com a supervisão do nosso estimado médico Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho3, orientador de grande escola de realizações beneméritas em toda a orla de que a nossa querida cidade de Santos é uma parcela das mais importantes.

                             Dou para o seu carinho estas notícias por saber que a sua dedicação materna se sentirá feliz em saber seu filho trabalhando com esperança e alegria.

                             Agradeço as suas preces e flores de sempre e estou encantado com as suas conversações comigo, junto de meu retrato. Nada fiz por merecer tanto carinho de sua ternura e da confiança de meu querido Papai Severino, mas creiam os dois que tudo farei por ser digno do crédito com que me honram.

                             Estamos felizes com as lembranças oferecidas ao nosso querido amigo Augusto e envio a meu pai, ao Andrezinho, à tia Amélia e ao tio Olavo, com a vovó Deolinda e todos os nossos as alegrias destes momentos de paz e encorajamento que estamos desfrutando na união espiritual completa, uns com os outros.

                             Mãezinha Di, não posso alongar-me. Agradeço ainda aos nossos amigos da experiência diária por todas as preces e referências confortadoras que formulam em meu benefício. Com os pensamentos de carinho concentrados em meu pai e em nosso Andrezinho, peço ao seu coração de Mãe e à sua alma querida de Estrela do Meu Caminho, receber todo o amor e toda a gratidão do seu filho e companheiro de todos os momentos, sempre o seu

 

 

 

TATO

CARLOS ALBERTO DA SILVA LOURENÇO

30, SETEMBRO, 1979

 

 

 

1)     Vovó Zezé ou, também, vovó Pessoa, Maria Josefa Pessoa dos Santos, bisavó desencarnada em Portugal há algumas décadas. A outra avó é a vovó Bonfim, Alvarina Jorge Bonfim, também domiciliada no Plano Espiritual, desde a década de 40.

2)     Alzira Bonfim da Silva Vitorino, irmã de D. Dirce. Alzirinha, Alzira Maria Bonfim Faria Santos, genitora do Alexandre, é prima do Carlos Alberto.

3)     Grande vulto da Medicina Brasileira, fundador da Faculdade de Medicina de São Paulo.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO III

 

 CARLOS  ALBERTO  DA  SILVA  LOURENÇO

 

                       

                            Querida Mãezinha Dirce, aos Céus dirijo a minha oração, rogando a paz em nosso auxílio.

                             Estou muito edificado com a sua corajosa ternura, varando a distância para as nossas  possíveis entrevistas. Compreendo quanto isto custa ao seu coração.

                             O lar foi sempre o reino encantado em que a sua dedicação vela por meu pai, tanto quanto velava por mim e se empenha hoje pela tranqüilidade do nosso André Luiz.

                             A saudade é uma alavanca prodigiosa. Acionada pelo amor, remove os próprios mundos que nos abrem caminhos de trânsito necessários ao reencontro, através de todos os processos ao nosso alcance para a reciprocidade de comunicação.

                             E creia, Mãezinha Di, que isso não funciona em estrada de mão única. Estamos no mesmo circuito de idéias e realizações.

                             Muitas vezes, em suas palavras inarticuladas de esperança e sofrimento,é que vou recolher a necessária motivação para trabalhar com devotamento mais amplo, na Causa do Bem na qual fomos engajados.

                             Rogo-lhe nunca se sentir a sós ante os problemas do caminho. Através dos fios invisíveis da intuição, estamos reunidos na mesma jornada. Pareceres de sua experiência na solução dos assuntos de meu pai Severino e de meu pai Olavo, da mãezinha Amélia e de familiares outros, são peças em que funcionamos a dois.

                             Graças a Deus que assim é, porque quanto mais nos edificamos um com o outro pelos laços do sentimento e do espírito, mais fortalecido me reconheço para a continuidade das construções novas às quais me empenho na atualidade.

                             Tenho tido a felicidade de prosseguir colaborando, embora modestamente, nas equipes de trabalho em que o nosso benfeitor Dr. Arnaldo se fez orientador e isso me alegra muitíssimo.

                             O trabalho, Mãezinha Di, pode ser, às vezes, difícil ou menos leve, mas é justamente nele que encontramos o melhor refúgio para nos esquecermos, marginalizando o fardo de nós mesmos para repô-lo nos próprios ombros, mais moderadamente, à medida em que se nos amplia o desejo de satisfazer os nossos compromissos com o bem dos outros.

                             Compreendo a inquietação e a ansiedade com as quais muitos de nossos amigos aguardam as mensagens do nosso plano de ação, mas nos compete seguir assim mesmo: intercâmbio menor para realizações sempre maiores.

                             Envio muitas lembranças para Alzirinha, para a Regina, para o nosso caro amigo Dr. Marins e todos os nossos1.

                             Desejaria formular uma lista grande em que especificássemos os nomes de cada um, no entanto, a nossa quota de tempo já não mais nos permite maior extensão de noticiário.

                             Continuo cooperando com o André Luiz que me substitui no lar e o seu coração pode estar contente com as suas atitudes adotadas nas quais a vejo temperando a bondade com a energia.

                             Não esmoreça com os conselhos nobres e dignos em nosso favor. Mãezinha Di, será falando que nos entenderemos. Fale sempre nos moldes da palavra amiga e feliz.

                             O mundo pode estar receando acontecimentos graves, mas nós, com as nossas atividades de cada dia, estaremos em paz. Prossigamos trabalhando, quanto se nos faça possível na extensão do bem.

                             Querida Mãezinha Dirce, a querida Vovó Deolinda tem recebido muito auxílio de nossos Benfeitores Espirituais. Deus nos abençoe.

                             Contando com o seu zelo em auxílio à sua própria saúde e desejando à sua bondade um Feliz Natal e um 1980 repleto de alegrias e bênçãos, juntamente de meu pai e de nosso André Luiz e de todos os nossos, com o carinho de todos os instantes, como sempre, sou o seu

 

TATO

CARLOS ALBERTO DA SILVA LOURENÇO

13, DEZEMBRO, 1979

 

 

 

 

CAPÍTULO IV

  

CARLOS  ALBERTO  DA  SILVA  LOURENÇO

 

                       

                          Mãezinha Dirce e querido Papai Severino, um momento a fim de rogarmos juntos a bênção de Deus, em nosso favor.

                             Reunidos com a família espiritual que os Mensageiros do Mais Alto nos concederam, agradeço a oportunidade com que me facultam a satisfação de me dirigir não somente aos pais queridos, mas a todos os corações amigos que nos integram a assembléia da fraternidade.

                             Querida Mãezinha Di, em muitas ocasiões posso parecer ausente ou talvez algo modificado em vista da falta de notícias mais assíduas. Entretanto, isso não acontece. Sou o mesmo Tato, o mesmo filho agradecido que lhes consagra imperecível amor. O que sucede é a extensão dos encargos crescentes, com que fomos felicitados pela Infinita Bondade que nos rege os destinos.

                             Mãezinha, estamos juntos, como sempre, mas legião imensa de criaturas sofredoras se nos agregam presentemente à vida, buscando em nós aquele mesmo socorro que Jesus nos concedeu. O serviço ampliou-se, as áreas de nossas atividades alcançam agora regiões de trabalho, com as quais no princípio de nosso intercâmbio, talvez não pudéssemos contar.

                             Sigo as dificuldades da Mãezinha Amélia e do Papai Olavo, com os melhores esforços a fim de auxiliá-los a resolvê-las; no entanto, a dor de tantos irmãos em Humanidade nos concita a refletir na colaboração que se nos faça possível, em favor deles.

                             Sigo o trabalho abençoado a Vovó Deolinda, contudo, há que atendermos a outras almas queridas que atravessam nuvens de preocupação semelhantes àquelas que a Vovó está vencendo valorosamente; não perco de vista as tarefas de amigos e parentes queridos, quais os nossos caros Dr. Marins e Fonseca, Alzirinha e nosso caro Dr. Olindo1, entretanto, o quadro se fez mais vasto, à minha frente, trazendo-nos a visão de outros companheiros em conflitos maiores a nos solicitarem apoio.

                             Penso, Mamãe Di, que entrei num outro Pronto Socorro, em continuidade ao serviço assistencial a que meu pai Severino se entregou, com o melhor espírito de compreensão e boa vontade2.

                             Expresso-me aqui sobre o assunto, considerando que somos em nossa reunião uma grande família de representantes das nossas idéias, atuando em diferentes setores. E creio seja meu dever rogar aos amigos todos para que nos auxiliem construindo ambiente adequado à nossa cooperação espiritual.

                             Muitas vezes, tolerar carinhosamente uma ofensa ou desconhecer esse ou aquele agravo que se nos faça, constituem o campo em que será possível agir, para melhorar situações que se afiguram intrincados problemas, sem pontos de abordagem para serem convenientemente resolvidos.

                             Abençoar alguém que outros reprovam ou guardar paciência, diante de um conflito lançado à nossa consideração, no intuito de confundir-nos, representam aberturas de amor pelas quais se nos possibilitam as providências indispensáveis à paz.

                             Tenho hoje a convicção de que a Lei da Vida me transferiu dos estudos de São Bernardo para a vivência prática das lições de relacionamento e harmonia de que eu necessitava para a conquista de mim próprio. Isso não quer dizer que me desinteressei do trabalho de apoio à família querida em que Deus me situou; significa somente que nos vamos deslocando da órbita doméstica, a fim de nos colocarmos ao encontro daqueles que suportam obstáculos maiores do que os nossos.

                             E com isso, convido os pais queridos a nos empenharmos, cada vez mais, à procura do bem para os outros, porquanto é procurando o bem para os outros que encontramos os nosso próprio bem.

                             Agradeço, Mãezinha Di sempre querida, as suas lembranças e as suas flores e peço a Deus transforme em bênçãos de paz e luz as suas lágrimas por seu filho, mas peço-lhe para que nos sintamos sempre mais fortificados para servir.

                             Sei que o seu coração abnegado, tanto quanto o Papai Severino vão atendendo, com dedicação e carinho, os nossos chamados para a Seara do Bem, realizando o possível, em auxílio aos nossos semelhantes, no entanto, se isso lhes for possível, aceitem, na medida dos recursos de trabalho de que disponham, as novas convicções de trabalho que vão surgindo...

                             Por dentro de mim, sou o Tato pequenino dos primeiros tempos da infância, sou o colegial encantado com o mundo dos livros no qual me redescobria, pouco a pouco, e sou o jovem que saía de casa para as aulas da Faculdade...

                             Ainda assim, na intimidade de mim mesmo, reconheço-me igualmente na condição do companheiro mais experiente, numa seqüência de renovações que me surpreende. Especialmente depois do lançamento de nossas páginas em livro, sinto que uma experiência de novo engajamento se cumpriu, em meu favor, porque são muitos os companheiros que me buscam para o trabalho salutar.

                             Estou feliz com isto, porque na vida diferente a que fui trazido, receber incumbências de serviço é o mais alto salário que se pode conquistar. Digo-lhes tudo isso, de maneira a reafirmar-lhes que não tenho descansado e sim avançado sempre, caminho afora, de modo a encontrar a vida crescente e sempre mais bela, pela qual Jesus consiga encontrar algum ponto diminuto de apoio para a sua obra de Redenção Humana.

                             Espero que os nossos amigos e familiares nos sintam nesta maravilhosa transformação, em que o nosso “eu” se expande para ser morada de entendimento para quantos nos buscarem a colaboração e a simpatia. Quanto mais doarmos de nós aos que necessitem, mais receberemos do Senhor – esta é uma lei que ninguém consegue alterar.

                             O nosso André Luiz está naturalmente em meus cuidados. Jesus nos auxiliará a ver o nosso querido irmãozinho crescendo para o bem, a consolidar as qualidades que lhe dignificam o espírito compreensivo e superior. Agradeço todos os carinhos com que seu amor lhe enriquece o coração para as tarefas do futuro. Amparado por amigos Benfeitores da Vida Maior, sinto que é obrigação propriamente minha, dedicar-me ao auxílio dos outros.

                             A bisa Glianda3 veio em minha companhia e a vovó Zezé, igualmente comigo, lhes deseja muita felicidade envolvida de paz e de alegria.

                             Muitos amigos presentes saúdam os corações amigos que nos formam a corrente de solidariedade e de luz. Todos lhes desejam muitas bênçãos de tranqüilidade e progresso.

                             Meus votos muito especiais pela felicidade e segurança dos queiros Paizinhos Olavo e Amelinha que vivem no meu reconhecimento e a reuni-los, a ambos, em meu afeto, sou o filho que lhes pertence pelo coração, sempre e cada vez mais reconhecido.

 

TATO

CARLOS ALBERTO DA SILVA LOURENÇO

10, ABRIL, 1980

 

 

 

 

CAPÍTULO V 

 

CARLOS  ALBERTO  DA  SILVA  LOURENÇO

 

                       

                                    Querida Mãezinha Dirce, com o Papai Severino e todos os nossos corações queridos receba, os meus votos a Jesus para que todos estejamos em suas bênçãos de infinito amor.

                             Longe vai o 17 de setembro, seis anos de saudade que a fé em Deus vai transfigurando em esperança.

                             Felizmente para nós, a angústia foi substituída pelo trabalho que, sob o amparo dos nossos Benfeitores da Vida Maior, prossegue em ampliação crescente.

                             Querida Mãezinha, por alegria maior de nossas lembranças, já que o 17 assinala o meu renascimento na Espiritualidade, encontro-a em serviço ativo em favor das crianças e dos necessitados.

                             Mãezinha, nenhuma dádiva mais valiosa poderia eu receber de seu carinho, além dessa – a felicidade de vê-la a se integrar sempre mais intensamente nas atividades de apoio ao próximo. Justamente assim, é que descobriremos o escoadouro de nossas lágrimas. Auxiliando a outros, reconheceremos, gradativamente, que o auxílio do Céu nos alcança, em forma de compreensão e de paz.

                             Continuo atento ao esforço de colaborar, em benefício dos nossos, se é que posso dizer assim, em minha pequenez – especialmente no que se refere ao Paizinho Olavo e à Mãezinha Amelinha a cuja bondade devo tanto e nas modestas atividades a que me associo, por bênção do Mais Alto, prossigo confiando na Providência Divina no apoio a nós todos.

                             Sei que as provas não têm sido pequenas, em nosso conjunto familiar, mas a nossa confiança em Jesus consegue superar todos os entraves que se nos apresentam em caminho.

                             Mãezinha Dirce, quanto puder, ajude aos nossos parentes queridos a compreenderem que o sofrimento é uma concessão de Deus àqueles filhos que já demonstram afetividades e maturidade maiores, porquanto noto que muito dos nossos esmorecem ante os primeiros problemas que aparecem.

                             Tenhamos coragem e sigamos para diante, distribuindo o apoio e o auxílio que se nos façam possíveis, porque, efetivamente, de tudo o que nos acontece no mundo, o que fica inquebrantável e permanente é o bem que façamos aos outros.

                             A Vovó Glianda e a vovó Pessoa estão aqui, endereçando-me as palavras e sinto nisso grande contentamento, porque ambas se formaram na escola dos obstáculos, legando-nos imperecíveis exemplos de paciência e abnegação – abnegação e amor.

                             Em Santos, continuo tão assíduo quanto possível em seu trabalho que se vai deslanchando de casa, na direção da Humanidade.

                             Querida Mãezinha Dirce, peço-lhe para que o nosso Andrezinho cresça no contato das realidades da vida, observando a luta das outras crianças muitas que sofrem tanto, de maneira a adquirirem a precisa sobrevivência na própria Terra. Isso é muito importante para o futuro dele e nosso.

                             Não quero dizer que se lhe ponha pesada carga nos ombros, mas sim que não lhe falte o preciso conhecimento da vida para desenvolver-se amando ao próximo, como devemos amar.

                             Por hoje, não consigo ser mais extenso, mas, antes de terminar, expresso os meus agradecimentos muitos ao nosso amigo Sr. Fonseca que não nos esquece. Deus o resguarde sempre contra o mal, sustentando-o sereno e firme no trabalho a realizar.

                             Querida Mãezinha Dirce, agradecendo a você e ao Papai Severino tudo o que fazem pelas crianças sofredoras e anônimas que tanto me enternecem, beija-lhes as mãos queridas o filho que sempre necessita do amor dos pais queridos para viver.

                             Sempre o filho reconhecido,

 

 

TATO

CARLOS ALBERTO DA SILVA LOURENÇO

24, SETEMBRO, 1980

 

 

 

 

CARLOS  ALBERTO  DE  TOLEDO

 

 

São Paulo (SP) – 08 de janeiro de 1949

São Paulo (SP) – 23 de dezembro de 1969

 

Estudante de Odontologia, 20 anos,
filho de Olga e Carlos Eduardo de Toledo.

 

 

                             Treze anos separam a família do Carlos Alberto de Toledo das vésperas do Natal de 1969, quando o jovem deixou nosso convívio.

                             Em informal diálogo com o Dr. Toledo, interessamo-nos em saber como a vida está fluindo para ele, a esposa e para os filhos, Antonio Carlos e Heloísa; se já houve alguma readaptação à nova realidade.

                             Textualmente nos disse o seguinte, o pai de Carlos Alberto:

 

                             “A perda de um filho, principalmente quando jovem e de morte repentina, seja por acidente, seja por doença, é o golpe mais terrível que um pai ou uma mãe pode receber. Muitos não resistem.

                             Quando inesperadamente, Olga e eu perdemos as vésperas do Natal de 1969 nosso querido e amado filho Carlos Alberto, jovem, bonito, alegre e bom, em acidente de moto, a nossa dor e o nosso desespero foram indescritíveis e duraram vários anos, sem se falar da saudade que sentiremos até o fim de nossas vidas, aqui na Terra.

                             Baldadas foram, então, as manifestações de carinho e as palavras de consolo de nossos filhos, genro e nora, parentes e amigos, pois estávamos inconsoláveis, e assim permanecemos por muito tempo.

                             Mas Jesus é misericordioso, pois em 1973, na semana do Dia das Mães, minha esposa, repentinamente, manifestou incontida vontade de falar com Chico Xavier, exigindo que fossemos a Uberaba naquele fim de semana, atitude que só se pode explicar em face de uma interferência espiritual, pois Olga era, até então, alheia ao Espiritismo.

                             Levados pelas mãos amigas de D. Zilda Rosin e, posteriormente, de querida amiga, D. Yolanda Cezar, passamos a manter com Chico Xavier estreita e carinhosa amizade.

                             E, graças aos seus ensinamentos e às mensagens de nosso filho por ele psicografadas, e à Doutrina Espírita-Cristã que aprendemos a cultivar em nossa fé religiosa, fomos aos poucos nos conformando com a irreparável perda de nosso amado filho.

                             Hoje, falamos de nosso Carlos Alberto, qual se estivesse ele trabalhando em outro País, enviando-nos cartas de quando em quando, do mesmo modo que ocorre à maioria dos rapazes que passam a viver longe dos pais.

                             As mensagens que o nosso amado Carlos Alberto nos tem, de tempos em tempos, enviado restituíram a mim e à minha mulher a alegria de viver.”

 

 

 

 

CAPÍTULO  I

 

CARLOS  ALBERTO  DE  TOLEDO

 

 

                             Minha querida Mamãe, meu querido Papai.

                             Agora, antes de tudo, a bênção que peço e que sempre foi a minha felicidade. E que tendo sido minha proteção, perante Deus, continua sendo a minha alegria.

                             Não compreendo bem o que está acontecendo. Será um prodígio que eu não esperava. Digo assim, porque a minha aflição por escrever tem sido grande. Roguei tanto estes minutos de papel e lápis para encharcá-los de amor que já nem acreditava na possibilidade que os benfeitores e mestres de meu novo mundo me facultam.

                             Mãos amigas ajudam as minhas e o pensamento vai tomando forma... Se fosse mesmo, querida Mãezinha, dizer tudo o que sinto agora, seria derramar-me em lágrimas de alegria e de saudade, de sofrimento e de esperança. Entretanto, reúno todas as minhas energias para rogar-lhe confiança em Deus e na vida.

                             Meu pai procura acalmar-nos e inclinar-nos para a resistência que, em verdade, nós dois não tínhamos; contudo, meu pedido é extensivo a ele igualmente. Pais queridos, procuremos viver.

                             A morte do corpo abre um período de ausência – de ausência suposta, porque não nos vemos pela força das leis vibratórias que nos separam – mas estamos presentes uns com os outros. A morte não é mais do que isso.

                             Não cogitemos de maneiras e circunstâncias, ocorrências e processos pelos quais isso se verifica. Pensemos tão-somente que a vida continua e é dessa vida que prossegue para mim que lhes falo.

                             Perdoem-me se lhes dei tanto motivo a tantas indagações e tantas mágoas. Quem possuía um carro não precisava de moto. E quem usa moto possuindo um carro, decerto não pensa com segurança.

                             Tudo foi um momento de novidade, se bem saiba hoje que todos os acontecimentos da provação se submetem a leis que nós demoramos a conhecer. Estávamos conversando alegremente, tanto assim que trabalhei quanto pude para retirar dos companheiros a idéia injustificável de culpa.

                             Esperávamos o Natal. Fazíamos planos. Desde o domingo vinte e um, achava-me de idéia dependurada em passeios, férias, recreações e companhias para momentos de paz e restauração que viriam.

                             Atravessei a segunda-feira telefonando1 e combinando, e na terça, antevéspera de nossa data festiva em casa, tudo era alegria e esperança em meu coração.

                             Quando o veículo deslizou desgovernado, com grande susto para mim, não mais tive idéia de tempo. A idéia se esvaiu na cabeça, a tonteira cresceu, caí num abatimento que não sei contar como foi e ainda ouvi muitas vozes.

                             Depois, foi um sono pesado do qual despertei, muito depois.

                             Narrar o que senti é impossível. Se mamãe puder falar o que sentiu em matéria de sofrimento e se meu pai conseguir descrever o que experimentou em aflição, decerto estarão qual me ocorre! Sem palavras e sem qualquer outro meio de expressão.

                             Perguntei por todos, especialmente por vocês, e pelos irmãos; no entanto, minha avó Coleta e meu avô Arthur estavam ali, com médicos e me atenderam2.

                             Não conseguia movimentar-me e nem gritar como desejava porque a cabeça doía muito, mas pouco a pouco entendi tudo...

                             Meu avô Affonso, meu tio Paulo, irmã Cléa Rocha3 e outros amigos de meu avô Arthur me ampararam, mas a sua aflição e a sua dor, querida Mãezinha, até hoje me precipitam em grandes lutas comigo mesmo. As perguntas que faz são as que faço...

                             Por que não me guardei? Por que não pensei em suas lágrimas? E a nossa dor se agiganta como se nós dois, à frente de meu pai, nos entrelaçássemos a cada dia, nas mesmas algemas de prantos que precisamos deixar.

                             Ajude-me, querida Mamãe! Abençoe-me em paz como das outras vezes. Fite meus retratos com alegria. Sou o mesmo. Seu filho, aquele filho hoje mais velho de quem vocês esperavam tanto! Mas com a sua fortaleza, melhorarei para tornar-me mais útil.

                             Por agora, estou trabalhando, mas trabalhando com rendimento deficitário.

                             Ajudemos nosso irmão Carlinhos a superar as dificuldades em que se encontra. Façamos nossa Heloísa e nosso Flávio mais felizes4. Ainda agora procuro, de qualquer modo, colaborar com os três, na execução das tarefas que abraçam.

                             E creia, Mãezinha, que se você não chorar tanto e ficar mais tranqüila, surgirá uma vida nova para nós todos. Meu pai necessita de sua força, de sua fé, e meus irmãos não podem dispensar o seu apoio. As crianças precisam de seu carinho e mais... Querida Mamãe, os filhos de outras mães contam conosco. Creia, estarei em suas mãos para o trabalho do bem ao próximo, orarei com as suas preces e cooperarei a favor dos outros com a sua cooperação.

                             Sempre estivemos em harmonia. Parece que os filhos transferidos para Cá são os mais lembrados, mas o próprio Papai sabe que nós dois fomos sempre assim; os seus pensamentos nasciam em minha cabeça e as minhas palavras terminavam em seus sentimentos.

                             Não pode ser de outro modo, agora, Mãezinha, que preciso tanto de você. Seu filho ainda está cansado e doente, muito doente e cansado de saudades de vocês todos, mas esse sofrimento é agravado pelos seus sofrimentos.

                             Ajude-me. É tudo o que peço ao seu carinho, ao qual nunca precisei solicitar coisa alguma. Entretanto, hoje, Mãezinha, conversamos como que separados por muro alto. Mas ouça. A minha voz é a mesma e o perfume das flores de confiança e ternura que plantamos nos dois lados não é diferente.

                             Meu pai, meu querido papai, desculpe esses arrebatamentos de seu filho, mas precisamos ver Dona Olga reajustada.

                             Querida Mãezinha, perdoe a seu filho e busque viver. Nosso amor cresceu tanto que precisa agora se encaminhar para o serviço aos outros, nas oficinas do bem, para que nos reencontremos nele, o amor bendito que Deus nos concedeu.

                             Ore, Mãezinha e auxilie-me. Não posso escrever mais.

                             Agradeço as amizades queridas que nos favoreceram a realização do entendimento em que me conforto e beijo-lhes as mãos, queridos pais – meus queridos pais – com todo o coração agradecido, cada vez mais agradecido do filho que lhes deve todas as alegrias da vida e que lhes deixa, nestas palavras, todo o coração.

 

CARLOS ALBERTO

14, junho, 1974

 

 

 

 

 

CAPÍTULO  II

 

CARLOS  ALBERTO  DE  TOLEDO

 

 

                             Querida Mamãe, querido Papai, estamos aqui todos juntos. E peço a Deus nos abençoe, em nome dos corações que se reúnem aos nossos.

                             Abraçamos a querida tia Helena1 em nosso carinho e estendemos esse nosso carinho a todos os que, nesta hora, se fazem aqui a nossa família espiritual.

                             Venho, Mãezinha, na idéia de trazer-lhe a renovação de meu devotamento e de minha lembrança. O amor deve ser mantido sempre por chama viva na memória e a distância, no campo da presença ou da palavra que se faz presença em nossa vida, é como se essa chama viesse a esmorecer.

                             Creia, porém, com meu pai, que o filho em renovação não se acha ausente. Estamos naquela bendita integração de todos os dias, em que os nossos sentimentos se nutrem na mesma fonte de confiança e ternura. Não se deixe, querida Mamãe, abater pela saudade. Eu sei, sua abnegação me procura com a beleza e a persistência de um imã.

                             Maternidade é Deus no amor mais elevado que o mundo pode conhecer. Por isso, compreendo a insatisfação convertida quase que em dor permanente. Guarde, no entanto, a certeza de que prosseguimos juntos, nas mesmas esperanças e nos mesmos anseios, compartilhando experiências e provas.

                             Papai sabe disso. Muitas vezes, em nossos diálogos, procuro infiltrar-me e falar por ele, auxiliando o seu pensamento a raciocinar com seu filho, porque, em verdade, Mãezinha, a sua fortaleza é a nossa segurança e a sua paz é a nossa alegria.

                             Tão belo é o apostolado das Mães, que a nossa querida Vovó Coleta está conosco, abraçando-nos e afirma ao seu coração e à querida Tia Helena que as mães são realmente assim: na Terra, são anjos escravizados aos filhos ausentes e na Vida Espiritual se fazem estrelas gravitando ao redor dos filhos que ficam entre os homens. Com elas, benfeitoras da vida, permanece a vigilância de Deus que é amor e paz, dedicação e luz, em todos os momentos da vida.

                             Ela, igualmente Mãe, pede à senhora, querida Mamãe, para restaurar-se na tranqüilidade precisa; enquanto no mundo, estamos na escola bendita do trabalho alusivo ao nosso progresso. Perdoe a luta da existência pelas alegrias que futuramente colhemos de todas elas, assim como agradecemos aos espinhos pelas rosas que nos ofertam.

                             Tudo, queridos pais, vai passando na Terra, com a rapidez do calendário. Hoje as anotações de tempo são diferentes das de ontem e amanhã tudo será transformação. O tempo, no entanto, é uma força silenciosa, exigindo proveito e os dias que se convertem na felicidade de viver são aqueles em que temos o privilégio de fazer a felicidade dos outros.

                             Sofrer com serenidade é também fazer os outros felizes e, por isso mesmo, de minha parte, vou carregando igualmente o meu fardo de saudades, mas sempre iluminadas pela alegria de nosso reencontro.

                             Temos nossa Heloísa e nosso Antonio Carlos. E com eles as nossas crianças, Fanny, Marcelo, Ricardo são três amores que o Senhor nos concedeu para seguir de perto, de modo que amanhã possam traduzir no mundo os nossos propósitos melhores perante Deus2.

                             Mãezinha, peço-lhe; viva querendo viver. Viva para a felicidade maior de meu pai e de meus irmãos com todos nós que buscamos em seu devotamento a força necessária para seguir adiante, com a fé guiando-nos o caminho.

                             Agora, reconheço, estou mais animado, mais forte. Sinto em meus pais queridos aquela presença do bem que é luz para todas as circunstâncias.

                             Tenho seguido os passos com que se dirigem na construção do auxílio ao próximo. Agradeço a intenção com que o fazem. Noto-lhes a recordação fixada no filho que os antecedeu na Grande Mudança e fico reconhecido e feliz.

                             Essas crianças que abraçam ou das quais se lembram com o apoio abençoado da assistência fraterna, a me configurarem o rosto, nos encontros de caridade, sou eu mesmo; essas criaturas, por vezes, cansadas e abatidas pelas agruras redentoras da Terra, a que endereçam concurso e beneficência, a me retratarem a presença no coração, também sou eu.

                             Um dia, Jesus explicou aos amigos que as migalhas de amparo que dessem a qualquer necessitado no mundo, seria a ele que o fariam e hoje entendo essa lição.

                             Em verdade, não apresento confrontações. Jesus é Jesus e o filho pequenino que os abraça é o companheiro pequenino que busca hoje aprender onde todos nós encontramos os mais belos ensinamentos da Vida. Entretanto, refiro-me ao Senhor para reiterar a certeza de que os gestos de amor e paz, naqueles que mais amamos, em auxílio àqueles que necessitam de nós, são também nossos.

                             Mãezinha querida, meu querido pai, continuemos. O serviço aos semelhantes é um santuário invisível na Terra, mas claramente palpável no Mundo Espiritual. Entre as mãos que auxiliam e as mãos que recebem, brilham as mãos de Jesus multiplicando os bens da vida, na exaltação do amor que é Deus em nós.

                             Agora que reafirmo a presença constante em que me reúno aos pais queridos, sinto-me mais leve. É como se uma nuvem de saudade rebentasse no céus de meus pensamentos em chuva de reconforto e alegria.

                             Querida Mãezinha, agradeço a compreensão para com nosso Antônio Carlos. Pais queridos, cada um de nós possui um roteiro a seguir. O meu era curto, e nos referimos à existência na Terra e o do nosso Antônio Carlos é diferente. Estou satisfeito, observando o respeito com que vai sendo estimulado a realizar-se.

                             Querida Mãezinha, prossiga abençoando a nós todos. Se pudesse, diria quanto vale para seus filhos a sua bondade e seu entendimento, mas a palavra desfalece no raciocínio quando procuro filtrar impressões de filho, através do lápis. Por isso, Mãezinha, beijo as suas mãos e consolo-me da incapacidade em que me vejo para externar o que sinto. Deus a engrandeça em sua missão de luz e amor.

                             Agradeço à tia Helena, os pensamentos de reconforto.

                             Conosco, outros amigos se encontram aqui, prometendo auxiliá-la. O irmão Cassiano, um amigo entre nós, pede para agradecer à tia Helena os votos de paz em favor do neto José Roberto que voltou, há pouco tempo, para a Vida Maior. A família receberá notícias dele, em momento oportuno3.

                             Queridos pais, o tempo vai seguindo, sem pausa. O relógio parece o coração da própria vida e os segundos obedecem a compasso certo, qual ocorre ao coração robusto no corpo são.

                             É verdade. As horas passam, entretanto, termino esta carta com o amor que nunca se altera. Modificam-se as situações e as formas se modificam, no entanto, nós em espírito, somos sempre os mesmos, nos laços de união em que Deus nos criou, uns para os outros.

                             Pais queridos, recebam minh’alma, guardem meus pensamentos. Lembranças a todos os que o Senhor nos concedeu como sendo nossos tesouros no mundo, e recebam, querida Mãezinha e meu querido Pai, todo o amor e todo o agradecimento do filho que, hoje e sempre, lhes entrega o próprio coração.

                             Sempre o filho e companheiro reconhecido.

 

CARLOS ALBERTO

13, SETEMBRO, 1975

 

 

 

 

CAPÍTULO  III

 

CARLOS  ALBERTO  DE  TOLEDO

 

 

                             Querida Mamãe e papai querido, Deus nos proteja sempre.

                             O tempo nos amadurece o raciocínio, mas, em verdade, o amor nos conserva na simplicidade da infância.

                             Quase nove Dezembros sobre a minha vinda para cá, os ensinamentos se acumularam por dentro de meu coração, a existência assumiu aspectos novos, as lutas me renovaram; no entanto, ao revê-los, mais de perto, nas faixas da vida física, anseio regressar à intimidade de nossa casa de minha meninice para ser o afeto dos pais queridos nas alegrias de nossa união.

                             Creio hoje que o espírito mais sábio terá um grande momento em que retorna pelo amor à felicidade do princípio. Deve ser por isso que Jesus nos haverá dito que ninguém entrará no Reino dos Céus, sem observar-se criança.

                             Quero, desse modo, esquecer todas as escolas beneméritas pelas quais tenho passado, desde o meu regresso, com todo o respeito pelos mentores que me ampararam, a fim de me identificar novamente menino para agradecer a Deus essa doce dependência em que me doaram tanto amor e me enriqueceram de esperança e de carinho.

                             Mãe, não se deixe vencer pelo desânimo. Parece que a solicitação é repetida, mas as palavras, qual acontece com os dias, nunca se refazem inteiramente.

                             Cada dia apresenta um semblante próprio e cada frase, conquanto se nos assegure semelhante a outras na estrutura em que se entretece, é muito diversa das outras, articuladas anteriormente, porque, de modo especial, entre os filhos e os pais, os vocábulos são carregados de emoções novas e o meu apelo de hoje tem quase nove anos de carinho e confiança, a esperar que o coração querido do anjo-mulher que me trouxe ao mundo esteja erguido a Deus nas luzes da alegria e da paz.

                             Mãe querida, em me dirigindo à sua ternura, tenho os pensamentos em meu pai a reuni-los num só abraço de reconhecimento. Rogo a Jesus para que ambos estejam felizes.

                             Indiscutivelmente a saudade tem a força implacável do tempo. Ainda assim, embora saiba que a nossa carência afetiva no relacionamento a três não mudou no aspecto, espero que permaneçamos conscientes de que Deus não nos abandona. A ausência de minhas notícias escritas não significa omissão.

                             A nossa integração nunca se altera e somos os três um só coração de tríplices esperanças, contando com a Divina Providência, a fim de vencermos qualquer dificuldade que se nos apresente no caminho.

                             Sei quanto fazem para que nossos deveres estejam fielmente cumpridos e creiam que vou aprendendo a trabalhar mais, de modo a edificar para nós todos um futuro melhor.

                             Penso que ambos percebem a nossa presença nas pequenas ocorrências da vida diária, porque, em todos os lances de nossa estrada, quanto possível, estou a postos, procurando, de algum modo, colaborar a fim de que estejamos em paz. E enquanto cedem tempo e recursos no conforto aos corações que sofrem na terra, desconsolados e infelizes, vou adestrando sentimentos e forças no aprendizado novo.

                             Com a supervisão dos meus queridos avós Affonso, Arthur e Coleta, vou aprendendo a ver nos companheiros sofredores de Cá, o retrato de meus queridos irmãos Antoninho e Marília1, Heloísa e Flávio e nos meus e nossos queridos Ricardo, Fanny e Marcelo, vejo outras crianças que me cabe auxiliar. A família ampliou-se. Por isso, Mãezinha querida, é que lhe peço alegria e serenidade.

                             Na própria dor da saudade encontramos o bálsamo da fé e confiando em Deus venceremos as masmorras da morte que, a rigor, não são cárceres, senão pela falta que experimentamos uns dos outros, no campo das emoções que se materializam aí e aqui, de maneira diferente.

                             Sigamos Jesus, trabalhando. Em todos os apelos do Mestre Divino, encontramos a receita do trabalho e da ação, soerguendo-nos do chão de nossas mágoas para o Alto de nossas melhores aspirações.

                             “Levanta-te e anda”!, “Toma a tua cruz e segue-me” – são convites imortais que nos impulsionam a erguer o sentimento e a seguir sempre – sempre adiante procurando servir mais, a fim de merecermos maiores oportunidades de trabalho sem esmorecer nas estradas para a frente...

                             Pai querido, rogo dizer ao nosso Antônio Carlos que estamos juntos, buscando associar-nos às novas iniciativas em que ele e a nossa estimada Marília surpreendem novos horizontes para melhores realizações.

                             Quanto ao nosso Flávio, com o auxílio de nossos Maiores, vemo-lo desfrutando de mais saúde ao lado de Heloísa e das crianças, construindo felicidade e progresso.

                             Meu avô Affonso solicita seja a Mãezinha informada de que a Tia Affonsina chegou muito bem ao nosso campo de ação e enquanto se restaura, quanto às próprias forças espirituais, nossa tia Filomena é agora o ponto essencial de nossas atenções2.

                             A família não desaparece. Lutemos pela felicidade uns dos outros e amar-nos-emos cada vez mais até que nos integremos todos na família humana, junto da qual o Senhor nos ensina a exercer o amor sem limites.

                             Não disponho de muito tempo a mais, no entanto, amigos de nosso grupo de orações recomendam seja dito aqui aos amigos Pedro Valvano e à sua esposa que a irmã Doca esperou o Eddie que se encontra em repouso terapêutico. O aviso procede da nossa própria irmã que presente às nossas preces nos solicita a transmissão de semelhante noticiário3.

                             E, conquanto a limitação do tempo, devo ser portador do pedido de coragem e paz que a irmã Iolanda Cotrim dirige ao coração materno da irmã Diva, crucificado em saudades que lhe dilaceram a alma toda4.

                             Outros amigos presentes me fazem o modesto mensageiro de saudades e lembranças. Que os pais e mães, filhos e amigos presentes não nos recordem na morte e sim na Vida, porque somente a vida brilha e reina em toda parte.

                             Pais queridos, o meu afeto aos familiares todos – Sanzi e Toledo5. Nosso Nasser abraça o papai presente conosco, João Luiz beija as mão de nossa irmã Elizabeth e todos os companheiros, jubilosos, oram em cores de alegria e de esperança6.

                             Mamãe querida e querido papai, mais uma vez recebam todo o amor com a imensa gratidão do filho reconhecido, neste momento mais criança, para demonstrar-lhes mais confiança e mais amor no carinho de sempre.

 

 

CARLOS ALBERTO

28, JANEIRO, 1978

 

 

1)     O irmão Antônio Carlos e a sua esposa, Marília de Toledo Braga.

2)     Tias maternas, Affonsina Sanzi Mendes e Filomena Sanzi Lopes, filhas do avô Affonso. Como o leitor observa no texto, Tia Affonsina já se encontrava no Plano Espiritual quando Carlos Alberto escreveu a mensagem. A Tia Filomena desencarnou meses depois.

3)     Irmã Doca, Maria Aparecida Sica, amiga do casal Valvano, também lembrado por Carlos Alberto. Irmã Doca faleceu em 1975. Eddie desencarnou no Rio de Janeiro em 1977 e sua mãe Francisca Odete Barroso Valvano, com o padrasto Pedro Valvano, se encontrava em Uberaba, quando da recepção desta mensagem.

4)     D. Diva Cotrim, também presente à reunião. Iolanda, sua filha, domiciliada no Plano Espiritual.

5)     Sanzi pelo lado materno e Toledo do lado paterno.

6)     Elisabeth, genitora de João Luiz Palatinus, co-autor espiritual deste livro. Nasser Miguel Haddad, filho de Shirley e Miguel Nasser Haddad, deixou nosso convívio em 1974. Seu genitor, na época ainda encarnado, veio a falecer em 1979.

 

 

 

 

CAPÍTULO  IV

 

CARLOS  ALBERTO  DE  TOLEDO

 

 

                             Querido pai, querida Mãezinha, o coração pede-lhes a bênção.

                             Sou eu mesmo. Por vezes, somos compelidos a longos intervalos, no espaço de tempo que nos marca as notícias do Mais Além para o ninho de amor da retaguarda. Isso não significa esquecimento.

                             O trabalho, em muitas fases do caminho, se intensifica de tal modo que, embora vinculados aos entes queridos que nos tomam a memória, reconhecemo-nos induzidos a serviço árduo.

                             Quero dizer à Mãezinha para que não se aflija. Estou na condição do filho escalado para atividades à distância e, assim mesmo, essa distância não é um fenômeno de quilometragem e, sim, problema de padrão vibratório, de vez que vivemos no clima do longe-perto, sempre integrados espiritualmente nas realizações uns dos outros.

                             Compreendo. Corações maternos são continentes de amor no oceano da vida. Aí, nesses campos abençoados de esperança e carinho, ao que me parece, os filhos possuem vida própria, acima de todas as outras existências.

                             Por isso mesmo, a saudade é sentida e experimentada com a lupa do sofrimento que nasce com a imaginária separação. Creia, porém, querida Mãezinha, que a lembrança em mim permanece cada vez mais viva.

                             Quando em meus momentos de meditação e silêncio, o seu pensamento registra uma alegria interior, ao modo de flor no espinheiral da aflição, alegria, às vezes, rápida e quase imperceptível, frequentemente sou eu mesmo a lhe pedir coragem e fé, paciência e serenidade.

                             O tempo de cada um na experiência física apresenta medidas próprias. E se os meus dias não deveriam ultrapassar o Dezembro de quase nove anos passados, esperamos que a sua preciosa existência se alongue por muitas e muitas oportunidades de trabalho e paz, de carinho e dedicação, junto do papai e dos irmãos, além dos demais familiares que lhe rogam presença e auxílio, convivência e compreensão.

                             Não me cansarei de pedir-lhe mantenha o seu propósito de viver com alegria. A saudade mora igualmente aqui neste Outro Lado das vivências humanas, no entanto, essa bênção que, no fundo, é o sinal azul da felicidade que passou no trânsito de nossas vidas, vem até entre nós para que a transformemos em esperança e certeza no reencontro.

                             Coragem, Mãezinha! Estamos juntos num trio de forças, a trabalhar pela tranqüilidade de Heloísa e dos filhinhos Fanny, Marcelo e Ricardo que hoje já não são tanto as crianças tenras de ontem, tanto quanto nos compete agir em benefício do nosso Antônio Carlos e da nossa Marília, credores do nosso devotamento e do nosso amor.

                             Mãezinha, nem sempre o auxílio é aquele apoio amoedado que vale sempre por bênção de Deus, na solução das necessidades humanas, porque, muitas vezes, o socorro de profundidade se realiza em algumas palavras de entendimento e bondade e na atitude de imanifesta cooperação, com que se levanta a fé e o bom ânimo nos corações desfalecentes. Não esmoreça.

                             O carinho materno tem sempre enormes encargos a cumprir e precisamos de sua paz e de sua fé em Deus para que estejamos mais fortes sob o ponto de vista de grupo. Não nos separaremos. Conserve a certeza disso.

                             Auxilie ao papai com a sua fortaleza espiritual e com a ternura de sua colaboração. Reconheço em meu pai um tronco verdejante, a produzir frutos de bondade e serviço ao próximo, no entanto, sei que nas raízes esse tronco vigoroso e abençoado necessita de seu amor no qual simboliza a fonte oculta que lhe sustenta a seiva.

                             Agradecemos a Deus todas as alegrias que nos visitam constantemente e entreguemos aos Céus as provas pequeninas que, porventura, nos visitem. Deus nos resguardará.

                             Querido Papai, o vovô Arthur tem sido para mim um mentor e amigo constante. Ele e os irmãos Armando e Fontes1, que conheço por amigos desse coração generoso que nos ama tanto, muitas vezes, me oferecem ensejos valiosos de trabalho e instrução que, por agora, não saberia definir.

                             As nossas tarefas prosseguem aqui num ritmo que nos acompanha o esforço na assimilação dos talentos recebidos e, graças a Deus, vamos cooperando nas realizações de que necessito, a fim de ser um filho mais útil e um amigo capaz de oferecer mais proveito àqueles que o amam.

                             Agradeço por todo o amor que me ofertam, amor que é, ainda e sempre, a minha maior riqueza. Peço seja dito ao nosso Antônio Carlos para que não desanime nas faixas novas de trabalho a que se viu conduzido. Pouco a pouco, os problemas serão afastados e a perseverança nos confirmará a edificação do melhor que sonhamos para a Terra e para o Mais Além.

                             Vários amigos estão conosco, dentre os quais os dois Robertos, Beto e Shabi, o Nasser, o Paulinho2 e outros companheiros que dividem conosco a felicidade de aprender a trabalhar. Todos se recomendam aos entes queridos, de coração reconhecido às bênçãos que nós todos incessantemente recebemos.

                             Querida Mãezinha Olga, as tias vão bem3 e a família de Cá nos assiste a todos com a devoção afetiva de sempre.

                             Agora, devo terminar. Pai querido, o Vovô Arthur em nossa companhia o abençoa, com o mesmo carinho no qual lhes peço me abençoem.

                             E, reunindo a ambos, meu querido pai e minha querida Mãezinha, no abraço filial que lhes envio diariamente no sem-fio da lembrança, beija-lhes as mãos queridas o filho de sempre cada vez mais reconhecido.

 

 

CARLOS ALBERTO

11, NOVEMBRO, 1978

 

 

 

 

CAPÍTULO  V

 

CARLOS  ALBERTO  DE  TOLEDO

 

 

                             Querida Mãezinha Olga e querido papai, estamos unidos nas mesmas preces a Deus por nossa paz e bom ânimo.

                             Não me suponha ausente. O trabalho, nos dias de agora me absorvem, impelindo-me a responsabilidades, nas quais preciso me alegrar.

                             Desejo, porém, afirmar-lhes que não me desligo de nossos quadros de carinho e paz em família. Felizmente, vejo a mamãe Olga menos traumatizada. A saudade é uma cicatriz dolorida em nossos corações, mas a esperança formou sobre a nossa ferida de separação a película de confiança em Deus. Com isso, vamos entesourando mais segurança.

                             Mãezinha, é preciso facear as ocorrências da vida com essa coragem de que o papai se nos fez constante doador.

                             Lutemos por nós mesmos dentro de nós e com todas as nossas forças, para edificar aquele estado espiritual de fé viva que conhecemos sob o título de aceitação, no dicionário de nossa vida interior.

                             Os pais queridos não me perderam. Contam na atualidade com um companheiro atento na Vida Espiritual que a todos nos reunirá no futuro, no mesmo clima de paz. Ao lado de ambos venho colaborando para o êxito de nosso Antônio Carlos e de nossa Marília nas tarefas que empreendem. Busquemos encorajá-los a que perseverem, unidos, como sempre, na realização do serviço para o bem.

                             Relativamente à nossa Heloísa e a nosso Flávio, diligenciamos estender aos dois as nossas modestas possibilidades de irmão e, assim, vamos colhendo os frutos de nossas aspirações, encontrando-se cada um no melhor que se lhes faz possível realizar.

                             Em tudo isso, não tenho estado só, como é natural. O vovô Arthur é um companheiro infatigável, apontando-me caminhos certos e cooperando na solução de problemas de que participo com a finalidade de auxiliar para o bem de todos.

                             Queridos pais, a nossa irmã pelo coração Teresa Cuppoloni indagou pelo filho e posso adiantar-lhes que ele prossegue sob amparo seguro1.

                             Muitas vezes, simples contatos amistosos ou diálogos entre amigos surgem aqui em nosso meio por apelações agradáveis de trabalho e, por esta razão, estamos juntos não apenas em tudo aquilo que nos diga respeito à equipe doméstica, mas em todo extenso mundo de nossas relações.

                             E somos gratos por todas as oportunidades de ação que se nos apresentam, porquanto, onde vivo agora, as tarefas complementadas no bem valem promoções e salários espirituais que nos cabem buscar, não pensando em benefícios aos outros, mas sim em apoio e vantagem para nós mesmos.

                             Agradecemos todas as portas que nos descerraram ao exercício de nossos conhecimentos edificantes, que, afinal, de nós todos, onde estivermos, aguardam a prática precisa.

                             Meu querido Papai e querida Mamãe, aos irmãos, e a todos os nossos entes queridos, as minhas lembranças de servidor que se sente hoje amplamente servido com a possibilidade de servir e recebam os dois num só abraço, o respeitoso beijo de gratidão e de muito carinho do filho sempre companheiro e sempre amigo.

 

CARLOS ALBERTO DE TOLEDO

23, MAIO, 1981

1) D Teresa e o marido, Dr. Edmundo Rossi Cuppoloni, encontravam-se presentes à reunião. O filho, Marco Aurélio Pedroso Cuppoloni, desencarnou no Guarujá – SP, aos 15 anos de idade, em 1980.

 

 

 

 

JOÃO  LUIZ  PALATINUS

 

 

São Paulo (SP) – 16 de junho de 1948

São Paulo (SP) – 18 de dezembro de 1974

 

 

Vinte e seis anos, Técnico de Administração,

filho de João Palatinus e de Elisabeth Kolya

Palatinus. Casado com Mara Lílian Batista Palatinus.

 

 

                             D Elisabeth, sete anos após a partida de João Luiz, para o Mais Além, como se sente a Senhora?

 

                             “Devo muito à Providência Divina que me permitiu encontrar a Doutrina Espírita e Chico Xavier.

                             As mensagens que o muito querido Chico recebeu de meu filho João Luiz trouxeram-me ao coração de mãe um grande conforto e me fizeram compreender que a vida não termina aqui na Terra.

                             Hoje, graças a Deus, a Chico Xavier e a meu filho, sinto-me diferente, com mais fé, mais confiança, sabendo que um dia todos nós nos reencontraremos no Plano Espiritual.

                             Minha fé na sobrevivência do Espírito é, hoje, inabalável e já vejo as coisas de outro prisma; voltamos a ter alegria em casa e consigo transmitir às muitas mães que me procuram, por terem lido as cartas mediúnicas de João Luiz, um pouco de paz e um novo alento para a Vida.”

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO  I

 

JOÃO  LUIZ  PALATINUS

 

 

                             Querida Mamãe, abençoe seu filho.

                             Este é um pouso de paz no caminho.

                             Sinto-me ao seu lado e imagino-me em seu colo.

                             Estou criança outra vez, mãezinha! Cante para mim para que o sono de outro tempo seja aquele da meninice em que despertava para ouvir o seu carinho em palavras de amor.

                             Mãezinha, estou bem. Nosso encontro é uma bênção. Calmante da alma. Não sei dizer quanto a amo!

                             Muito grato a todos os que me ajudaram, no entanto, Deus a recompense por suas lágrimas, por suas lembranças, por suas dores, por seus pensamentos. Graças a Deus, o seu pranto agora e uma fonte de esperança.

                             Mãezinha, você e Cristina1, comigo, esqueçam toda prova. Benditos os instantes em que a tempestade de sofrimento nos purifica os corações. A vida na Terra é uma escola. Há quem penetre nesses cursos de aprendizado e há quem saia para tomar instruções em outros graus.

                             Sinceramente, não sei como dizer que tudo aconteceu de improviso, com a minha retirada do corpo em processo de violência.

                             Agitei-me, através de movimentos impensados e vidros se partiram... Caí, caí, tão de repente, num vácuo, que não tive tempo de perceber.

                             Mamãe, perdoe-me. E nesta hora em que nos lembramos de Jesus, rogo para que a companheira não seja julgada em culpa.

                             Mara é uma filha de Deus, qual me acontece. Às vezes, discutíamos, inexperiências de casal jovem que precisava se ajustar. Estava cansado, Mãezinha. O Banco, fim do ano, a vizinhança do Natal e os serviços de muito esforço na mente2.

                             Oh! Deus de Bondade, porque nos desgastamos tanto se podemos economizar as próprias forças!...

                             Cheguei em casa fatigado... É verdade, Mamãe, seu filho esta excitado, nervoso... Ao desinibir-me, falando alto e sem calcular meus gestos, deu-se a ocorrência, mas tudo passou3.

                             Ainda me vejo sob certa exaustão. Não compreendo com segurança o que me ensinaram e nem consigo concatenar os meus pensamentos para assimilar tudo o que aprendo.

                             Entretanto, Mãezinha, estou melhorando com as suas melhoras, fortalecendo-me com o seu encorajamento. Graças a Deus, não fiz mal a ninguém e de ninguém posso me queixar.

                             Se sofremos sem fazer que outros sofram, estamos com Cristo que sofreu para que os outros se livrassem do sofrimento. E nesses “os outros” estamos nós, Mãezinha querida, a quem Ele, o nosso Eterno Amigo auxilia incessantemente.

                             Mãezinha, beije a irmãzinha por mim e receba o coração de seu filho.

                             Ore por mim. Ore por meu pai e sigamos agora trabalhando pelos que ainda não podem trabalhar ou ainda não entenderam a felicidade de servir. Tenho muitos amigos aqui e, em breve, estarei nas condições precisas para tudo definir com mais clareza o que sinto.

                             Não posso escrever mais.

                             Se minhas lágrimas de gratidão puderem falar, escute-as querida Mamãe, porque por elas você compreenderá que estamos juntos. O irmão Luiz e o nosso querido tio João me auxiliam aqui4.

                             Guarde, Mãezinha, o coração muito reconhecido e encerrado, como sempre, no carinho total de seu filho

 

 

JOÃO LUIZ

18, MAIO, 1975

 

 

1)     A irmã, Maria Cristina Palatinus Milliet.

2)     João Luiz era, quando de sua partida, subgerente do Banco Lar Brasileiro.

3)     Refere-se a rusgas domésticas que não tiveram certamente qualquer relação com sua queda acidental.

4)     Luiz Kolya, avô, e João Domenico de Deus, tio, desencarnados, respectivamente, em 1947 e 1964

 

 

CAPÍTULO  II

 

JOÃO  LUIZ  PALATINUS

 

 

                             Querida Mãezinha, Deus nos fortaleça.

                             Estou melhor, mais sereno. Venho com a devida permissão rogar a sua calma diante da vida. Mamãe, os problemas do mundo são lições. Somos, todos, apontamentos de ensino de uns para os outros.

                             Provação, hoje, a meu ver, é uma das bênçãos maiores.

                             E, regressando ao nosso lar espiritual, é que, pouco a pouco, vamos refazendo o discernimento próprio. Agora, vou compreendendo. A queda do alto e a luta conseqüente estavam marcados pelo “antes do berço”, para que funcionassem por luz no caminho “depois da existência material”.

                             Abençoemos todos os instrumentos de inquietação, fatores de trabalho redentor em nossas almas, porquanto de semelhantes recursos é que recolhemos o auxílio mais eficiente ao nosso progresso.

                             Dia 18 se aproxima do Dezembro novo. E, peço a Deus para que o seu carinho esteja iluminado pelas melhores consolações da vida. Quanto possível, selecionemos as nossas lembranças para conservar somente aquelas que nos possam renovar as forças para as alegrias da Vida Imperecível.

                             Rogo a Deus igualmente por nossa Mara, a fim de que ela se faça sempre feliz.

                             No mundo, às vezes, os nossos conflitos se ampliam com o entrechoque das lições uns dos outros, mas, no fundo, querida Mamãe, somos todos companheiros, procurando a elevação e, de mais alto, é possível enxergar melhor as situações para a justa penetração dos problemas e das coisas.

                             Mara é nossa irmã companheira de esperança, diante de Deus. Estejamos gratos à Providência Divina pela felicidade de compreensão em que nos reconhecemos sempre mais unidos.

                             Nossa Cristina está em meu coração como sempre. Um aniversário a mais e uma alegria mais ampla pela vitória do tempo. À querida irmã, os parabéns fraternos com que a vejo emergindo das nossas dificuldades para recuperar a tranqüilidade que nos antecedia a transitória separação. As lutas cedem lugar à paz e a paz é o triunfo com Deus.

                             Espero que o nosso irmão Octavio1 seja um irmão no lugar que deixei, apoiando-nos na caminhada para diante.

                             Sabemos, Mamãe querida, que não se pode prever essa ou aquela ocorrência diante perante o futuro. Mas, de qualquer maneira, nosso caro Octavio é um amigo e, nessa condição, poderemos tê-lo sempre conosco, suavizando a tela de nossos obstáculos construtivos, amparando-nos os corações na execução de nossas tarefas.

                             E a vida se desdobra. Ontem, aflição e pranto. Hoje, porém, a esperança e a alegria renascem de nossas saudades como luz na sombra do alvorecer, anunciando paz e reencontro.

                             Mãezinha, venho com o tio João e com o vovô Palatinus2 e todos nos rejubilamos com os patrimônios de fé viva que o seu carinho vai entesourando. Confiemos em Jesus, querida Mãezinha, e esperemos o melhor.

                             Aqui, as aulas de renovação se fazem constantes para seu filho. A contabilidade nova me ensina quantas bênçãos temos recebido e, por isto mesmo, vou aprendendo a descartar nuvens e a dissipá-las no calor da oração. Que Deus nos abençoe e nos sustente na estrada a percorrer são os meus votos. Rogo a bênção de Jesus para meu pai.

                             E, reunindo o seu coração querido com a nossa querida Cristina em meu abraço afetuoso, beija-lhe a face querida o filho do coração, sempre em seu coração,

 

 

JOÃO LUIZ

15, NOVEMBRO, 1975

 

 

 

 

CAPÍTULO  III

 

JOÃO  LUIZ  PALATINUS

 

 

                             Querida Mãezinha Elisabeth, Deus nos fortaleça.

                             Estas palavras rápidas se destinam a assegurar-lhe o continuísmo de nossa presença, Mãezinha.

                             Cristina e Octavio estão a seu lado, encorajando-a.

                             Estamos tranqüilos. Temos aqui um amigo, o médico Dr. Octávio1, que vem medicando as suas forças. Peço a sua fé constante em Deus.

                             Sobre o problema de documentários, tranqüilize o seu coração e permaneça na altura em que o seu coração sempre esteve. Não se aflija por mim. O que a sua bondade decidir, seu filho aprova sempre. Isso será assim sempre. Quando nossa Mara procurá-la, receba-a com a sua bondade.

                             Tudo, Mamãe, vai passando. Permanecem somente Deus e nós; cada um de nós com o que fez de si mesmo. Agradeço a sua bondade, nos gestos em favor de minha memória.

                             Com o tio João, peço receba um beijo de seu filho e seu companheiro de lutas, constantemente a seu lado e em seu coração.

 

 

JOÃO LUIZ

22, OUTUBRO, 1977

 

 

 

 

 

CAPÍTULO  IV

 

JOÃO  LUIZ  PALATINUS

 

 

                             Querida Mãezinha Elisabeth, ao seu carinho e ao querido papai, hoje presente em nossa reunião, peço a bênção.

                             Aos queridos irmãos Octavio e Cristina, o meu abraço, que se estende a nossa querida Maria Carolina1.

                             Mãezinha, peço-lhe transmitir ao papai a sua coragem; compreendo que ele se abateu bastante, com o problema circulatório que atualmente o importuna, porém, o tratamento está muito bem conduzido e, com o amparo de nossos Maiores, tê-lo-emos restabelecido em breves dias.

                             Naturalmente que as providências e remédios da Medicina valem muito, mas sempre quando estão emoldurados em nossas cautelas e esperanças; conservo a certeza de que ele, o querido Papai, saberá transitar nesse campo, com a prudência e com a força de ânimo que sempre lhe caracterizam a vida.

                             Quero dizer, Mãezinha, que o meu avô Luiz está presente e lhe agradece as lembranças. O nosso irmão Guizard2 está em nossa companhia e promete ao Octavio que prosseguirá zelando pelo Pedro e pela irmã Gizela3, que ele não esquece. Estamos todos interligados na mesma onda de carinho e confiança. Entreguemo-nos a Jesus e Jesus, com mais facilidade, se entregará a nós outros na pessoa de seus Mensageiros, conduzindo-nos em rumo certo.

                             Querida Mãezinha, estou grato à sua poesia de Mãe, enfeitando com tantos pensamentos de carinho e beleza a data de aniversário do meu retrato físico, porque, afinal de contas, chega para nós todos um tempo em que o corpo físico não passa de uma foto esculpida em material terrestre de nossa personalidade que jamais se desintegra.

                             Graças a Deus estamos agora servidos por uma fé, que nos escora com segurança, por dentro de nós próprios, e isso representa muito em nossas vivências de hoje.

                             Formulo votos para que meu pai se restaure tão breve quanto possível, abraços aos queridos irmãos Cristina e Octavio e reúno os pais queridos no coração que lhes pertence, como sempre pertenceu e pertencerá agora e sempre.

 

JOÃO LUIZ PALATINUS

15, JUNHO, 1979

 

 

 

1)     Maria Carolina, sobrinha, filha de Octavio e Cristina.

2)     Avô do cunhado Octavio.

3)     Pedro Guizard Milliet e Gizela Guizard Milliet, irmão e genitora do cunhado Octavio.

 

 

 

 

LUIZ  ADAMO  NUCCI

 

 

São Paulo (SP) – 01 de janeiro de 1947

São Paulo (SP) – 11 de julho de 1976

 

Poliglota, apaixonado por viagens e por motos,

29 anos, filho de Adamo Nucci e de Aracy Galleto Nucci.

 

 

                             Seis anos após a partido do Zumbeta, sua genitora, D. Aracy, prestou-nos o seguinte depoimento:

 

                             “Depois de tanto desespero, comecei a viajar para Uberaba, em busca de paz. Minha vida, então, foi se transformando e em cada mensagem recebida sentia a presença de meu querido filho, qual se nunca ele tivesse partido para o Além.

                             Senti que a morte não é o fim e sim o começo de uma nova vida, a saudade é muito grande, mas a certeza de que ele está bem junto de Deus, faz com que eu sobreviva.

                             As palavras do Zumbeta, por Chico Xavier, trouxeram muito conforto para o meu coração magoado. Compreendi, também, que a vida não tem apenas o seu lado material e que a parte espiritual é muito mais importante.

                             Foi difícil viver com a perda deste filho, contudo, no momento em que fui recebendo suas cartas, um luz desceu sobre minha vida, meu caminho foi se tornando mais suave.

                             As pessoas que comigo convivem foram sentindo a paz que surgia e todos foram se conformando, agradecendo a Deus os recados do Zumbeta que nos trouxeram muita coragem de continuar vivendo.

                             Obrigado, Chico Xavier!”

 

 

 

          Todos compreendemos em Doutrina Espírita e, conforme os bons costumes, que jovens e adultos devemos observar a máxima prudência na condução e manejo de máquinas e veículos do trânsito, mas registramos aqui as observações que D. Aracy Nucci, digna Mãezinha do comunicante, que nos disse, com maternal franqueza, que o filho querido era ardentemente dedicado ao uso de motos, esclarecendo ainda que os conceitos dele, nas mensagens transmitidas, coincidem surpreendentemente com as opiniões e predileções do filho, quando no Plano Físico.

          Entendemos, assim, que é nosso dever respeitar-lhe as notícias e pareceres, de modo a apresentar-lhe os comunicados com a precisa e justa autenticidade.

          NOTA DA EDITORA.

 

 

1)     Luiz Adamo Nucci despencou de sua moto do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, em São Paulo.

2)     Tataravô, desencarnada no século passado.

3)     A madrinha Ana Vacaro e o avô Américo Galleto, domiciliados no Plano Espiritual, respectivamente, desde 1960 e 1975.

4)     Avó materna, Thereza Galleto.

5)     D. Aracy sempre acalentou sonhos de escrever um livro sobre o filho, daí a referência do Zumbeta.

 

 

 

CAPÍTULO  I

 

LUIZ ADAMO NUCCI

 

                            

                             Mãe Cy1! A bênção para seu filho.

                             O coração está chorando de saudade, mas está firme no peito, batendo por você e pelo velho sem qualquer mancada. Não sei se o hábito da aventura me fez um habitante calmo do Mais Além2.

                             Estou arquitetando trabalho, conservo aquela inquietação da vinda inesperada, mas no fundo de mim mesmo, a calma me possui.

                             Minhas viagens foram tantas e tamanhas que o meu vovô Américo e a vovó Thereza destas paragens me observam que o salto da moto foi mais um pulo entre dois mundos, tal qual me acontecia quando me via atravessando de um país para outro. Por isso mesmo, creio que você, mãe Aracy, já se habituou igualmente com o meu modo de ser.

                             Às vezes, quando longe de casa, matutava de mim para comigo se não havia nascido para ser um andarilho sem direção. A existência foi curta, mas as viagens superaram em muito qualquer espécie de sonho que eu viesse a alimentar. Aquela insatisfação de seu filho que me fazia varar céus e caminhos, águas e terras, continua aqui, mas a verdade é que tenho responsabilidades de que não posso me omitir.

                             Venho aqui, pedir para você desarmar o espírito do Carlos para mim, dizendo a ele que não tenho qualquer motivo de queixa; briga de irmãos, na essência, são elos mais fortes na corrente de nossa união perante a vida. Devo a ele e à nossa estimada Sandra gentilezas que nunca resgatarei3.

                             Existem contas na alma que somos incapazes de liquidar. Que o irmão me lembre tranqüilo é o que desejo, de vez que entre ele e eu a harmonia sempre se destacou por agente de primeira ordem no relacionamento feliz que desfrutamos.

                             E diga, Mãe Cy, à nossa Jeanette4 que não a esqueceria. Não a desejo gamada em nossos assuntos íntimos. Hoje sou um cara de outro mundo sem possibilidade de assumir encargos neste. E porque a motoca resolvesse partir pra salto do Elevado, não estamos com sinal vermelho para que ela não seja feliz. Jeanette é aquela menina maravilhosa que você, Mãe Cy, ficou por felicidade nossa conhecendo no dia dos camarões esparramados5.

                             Depois do choque, sobre o amparo de meu Avô Américo, vi todo o acontecido. Dona Benê a fazer a notícia e o resto da tribulação, até que a motoca chegasse antes do meu pobre corpo ao velório.

                             O negócio é de amargar. Felizmente, me achava num sono que parecia o dos anjos nem tão bons e nem tão maus. Os anjos – crianças quando se refugiam no colo da mãe para descanso e tempo de espera, até que se façam gente grande.

                             Pois andei assim, estava naquela modorra de dia quente. E era um tal de sonhar que parecia me achar de novo em avião planando por cima das nuvens.

                             Mas acreditei, você, querida Mamãe, que havia viajado tanto e fizera tamanho reboliço com a minha curta vida que a viagem para cá não me deixou mais surpreso que as outras de amanhecer no Equador e dormir na Bolívia e sair da Bolívia para tomar algum alimento no Brasil.

                             Ignoro até hoje, mas por dentro de mim, uma voz falava que o meu tempo era ligeiro e que devia varar os minutos voando...

                             Quando me preparava, a fim de tomar acordo de mim próprio, de vez que a Jeanette me empolgara de todo até a idéia de estacar numa casa própria, eis que a Dolorosa me apanha num golpe de cem metros. Nem que eu trabalhasse em trapézio conseguiria resistir.

                             Tudo devia ser assim mesmo.

                             De seus braços dos braços da Vovó Thereza cabia-me passar para o regaço de minha tetra Thereza e o salto involuntário não me furtou do caminho familiar.

                             Tudo por aqui continua e de minha parte, sou o mesmo, sem diferença; apenas a mudança de pensamento; o meu desejo de ver a nossa Jeanette feliz com outro companheiro. Ninguém na Terra deve ficar cultivando tristeza e achando espinhos com lágrimas que não adiantam.

                             Parto do seguinte princípio: se fosse Jeanette quem viesse para cá, não acho que ela se zangaria se me desse na telha a escolha de outra menina que a substituísse. Isso, Mãe Cy, não é falta de amor. É compreensão. Não temos o direito de colocar algemas nos pulsos de ninguém.

                             Se eu puder, vou auxiliá-la a descobrir um amigo ideal que lhe faça a felicidade que não pude realizar. Temos de encarar a vida pela frente e deixar a morte pra trás.

                             Sou muito grato a ela por todas as alegrias que me proporcionou e desejo estender os meus agradecimentos às minhas tias e ao meu tio Francisco7.

                             Nomes para identificar não sei bem como fazer. Escrevo com tão pouco tempo para pensar que, de pronto, recordo tia Alice7 e os demais.

                             Você, querida Mamãe, escreva para mim nesta mensagem os nomes dos parentes e amigos que deseje. Isso me livrará do ciúme que porventura possa aparecer. Você dirá que ficou incumbida de fazer minha lista. E ninguém pode reclamar.

                             Agradeço à querida Vovó Thereza Galleto a presença conosco. Olhe que a viagem terrestre no corpo físico é sacrifício na certa. Agora, digo isso de cadeira, porque pra mim, excursão só com a velocidade ignorada do mundo.

                             Não é à toa que me dediquei a motos. Elas pareciam moscas, conduzindo-nos com leveza tal que a gente guardava a idéia de viajar em acolchoado de nuvens.

                             Mas por hoje chega.

                             Ao meu querido velho, o abraço apertado do filho vivo que volta para casa depois de ausência compulsória. Para a vovó Thereza, um beijo na testa e para você, Mãe Cy, todo o coração do seu filho, sempre seu,

 

 

ZUMBETA

LUIZ ADAMO NUCCI

14, OUTUBRO, 1978

 

 

 

 

 

1)     Carinhoso apelido que o Chico ignorava.

2)     Zumbeta cultivava o hábito da aventura, com a inseparável moto. Viajava muito, tendo conhecido, além do imenso território brasileiro, muitos outros países.

3)     Carlos Alberto Nucci, seu único irmão, e a cunhada Sandra Maria Laudane Nucci.

4)     Jeanette Wess, sua namorada.

5)     D. Aracy chegava do supermercado, quando recebeu a notícia do falecimento do filho. Trazia consigo camarões que se esparramaram ao chão, por cair o embrulho de suas mãos, ao saber do doloroso acontecimento. Jeanette estava presente naquele momento de desespero.

6)     Benedita Almeida Amaral, vizinha que trouxe a notícia do acidente à D. Aracy.

7)     Francisco Galleto Neto e Alice Galleto Mordini, irmãos de D. Aracy.

 

 

 

 

CAPÍTULO  II

 

LUIZ ADAMO NUCCI

                            

 

                             Querida Mamãe Cy e querida Vó Thereza, abençoem-me na passagem rápida nestes pagos para um beijo no coração.

                             Prossigo bem, tentando ampliar os caminhos do conhecimento.

                             Escrevo ligeiramente apenas para lavar do querido irmão Carlos Alberto1 qualquer idéia de ressentimento que não conheci.

                             Mamãe Cy, peço seja dito ao irmão que as brigas em família fazem parte do ritual da felicidade e que a nossa rixa nada teve a considerar no capítulo dessa ou daquela situação, com o meu salto final em que não fiquei sabendo onde estavam o corpo que usava e o cavalo de aço de que me servia.

                             Nada me induzia a pensar em qualquer mágoa. Aliás, quero dizer para o Carlos Alberto que no Minhocão eu imaginava como devia ser espetacular um vôo de moto, começando mo Pico do Jaraguá e parando no Sol. De tanto me fixar nessa idéia extravagante, caí no piso da rua, talvez para lembrar que ainda sou da Terra mesmo.

                             De qualquer modo, estou satisfeito. E, se aí pude revirar alpercatas de andarilho por esse Mundão de Deus, aqui não faço por menos. Estou aprendendo e viajando...

                             Onde estará o ponto final de tantas excursões? É possível que isso se verifique em alguma nova reencarnação em que não me decidirei a parar, mas na qual com certeza forças estranhas ao meu modo de ser me auxiliarão a aquietar-me para retomar as experiências na Terra.

                             Não digo que isto é certo. Unicamente creio que isso talvez aconteça. Continue, Mãe Cy, amparando-me com os seus bons pensamentos de Mãe. Estou contente, sentindo a Vó Thereza mais serena e mais confiante na vida.

                             O nosso tio Francisco2 está recebendo o apoio de muita gente boa desta nossa estância nova em que a vida é tão leve e os deveres prosseguem tão pesados.

                             A todos da família o meu abraço. Rogo para que não me acreditem mais prosa do que já sou. Acontece que não vou com a morte a pano roxo. Impossível que o pássaro se despenque do espaço a chorar quando se lhe abre a gaiola.

                             A alegria vem de Deus e, se não fosse assim, o Sol não seria em todas as manhãs um disco voador a brilhar nos céus e nem as árvores seriam vestidas de esperança;

                             É com esta confiança em Deus e na vida que pede a bênção da Vó Thereza e espera sempre por seu carinho e por seu amor, o seu filho e companheiro que a conserva no coração por namorada feliz da sua vida inteira.

                             Sempre o seu filho, sempre mais seu com todo o coração.

 

 

 

ZUMBETA

LUIZ ADAMO NUCCI

14, SETEMBRO, 1979

 

1)     Às vésperas do acidente, os irmãos tiveram pequena rusga que Zumbeta registra na mensagem. Prova objetiva da exuberante participação mediúnica de Chico Xavier, pois tal fato se circunscreveu ao restrito ambiente doméstico.

2)     Trata-se do tio Chico identificado anteriormente.

 

 

 

CAPÍTULO  III

 

LUIZ ADAMO NUCCI

 

 

                             Mãe Cy, estamos juntos. Vejo-a com a Vó Thereza e faço-me criança de novo a pedir-lhes proteção e bênção.

                             Querida Mãezinha Aracy, numa frase solta de rapaz incrementado na aventura não pode ser confissão.

                             Aquilo de falar que havia ultrapassado o meu próprio mundo é cascata. Até porque o mundo nunca foi meu. Pretensão de Zumbeta, você é que sabe melhor.

                             Aquele salto do Minhocão foi realmente uma transferência de pasmar. Havia vencido tantas barras que aquela do Elevado me pareceu brincadeira de primário. O negócio é que não controlei a máquina e quando não se governa a máquina é justamente ela que se impo a qualquer de nós...

                             Não pense que seu filho tivesse vontade ou medo de morrer. Motoca era minha paixão. Cavalo leve e fácil de transpor as distâncias.

                             Pra mim aquilo era verdadeira mágica. Entrar pelas brechas de espaço e deixar os melhores corredores do volante pra trás. Devorar o espaço e voar mais que o próprio vento.

                             Como vê, Mãe Cy, meu caso não era deste mundo em que Deus nos situou.

                             Creia que tive momentos de tamanha excitação para criar novos meios de locomoção na moto amiga que, muitas vezes, fitei do asfalto o terraço do Itália1, querendo sair lá de cima pelo espaço afora e correr onde me projetasse ou voar onde o pulo me alteasse pra cima.

                             Muita gente receia os veículos, mas você que é minha mãe e minha melhor amiga, não tema isso. Em novembro passado, aqui chegou o Tio Neno2, meio lelé, como se tivesse tomado uma coleção de tragos fortes. Para nossos parentes, o tio morreu e para nós, o tio Neno voltou a viver. E não houve qualquer motoca no problema.

                             É isso aí, ninguém pode escolher o gênero da viagem em se tratando de chamadas daqui pra aí. A pessoa vem de qualquer maneira. De moto, de carro, de trem, de trator, de queda, de doença, de raiva e até de micróbio.

                             Você que é mãe não concorda com isto, pois sei com que amor você me criou e nosso Carlos para sermos rapazes acomodados e sempre quitinhos. Mas a criatura nasce no mundo com marcas no sangue. Os meus sinais foram aqueles – respeitar com muita dificuldade os sinais de trânsito. Pra mim vermelho amarelava e amarelo era um verde diferente. Não sei explicar. Ainda hoje penso do mesmo jeito.

                             Isso não me diminui o amor de filho e o carinho de neto. Você a vó Thereza estão emplacadas em meu coração. Onde eu estiver – e olhe que eu ando muito – as duas estão comigo.

                             O vovô Américo ao meu lado desenha um sorriso no semblante e concorda comigo, porque não há outro meio de me conter.

                             Ele crê que voltarei mais tarde à Terra dos Homens e ficarei seguro num corpo mais forte para aprender lições que a minha vocação de andarilho ainda não me permitia fixar na memória.

                             Mãe Cy, a Jeanette igualmente vive em minha lembrança e todos os meus tios e tias possuem um pedaço de meu afeto. A vida é diferente para cada um. Aceitei essa realidade que me faz respeitar nos outros o que desejo venham os outros a respeitar em mim.

                             De qualquer modo, fique tranqüila. Tudo segue bem.

                             Um beijão na face querida de minha avó Thereza e para você, querida Mãezinha Aracy, o coração inteirinho do seu filho, sempre seu devedor e seu amigo de todas as horas.

 

 

ZUMBETA

LUIZ ADAMO NUCCI

14, MARÇO, 1980

 

 

1)     O Terraço Itália é um edifício de grandes proporções, situado no centro de São Paulo; de sua cobertura tem-se notável vista panorâmica da cidade.

2)     Arlindo Mordini, padrinho do Zumbeta, desencarnado em 1979.

 

 

WADY  ABRAHÃO  FILHO

 

 

São Paulo (SP) – 16 de fevereiro de 1956

São Paulo (SP) – 06 de julho de 1973.

 

Estudante, 17 anos, filho de Wady Abrahão e Jandira do Amaral Abrahão.

 

 

                             Após nove anos da partida do Wadyzinho, com as numerosas cartas mediúnicas do filho, através de Francisco Cândido Xavier, com sua integração em tarefas de socorro e esclarecimento, enfim, com toda essa nova vivência que se reestruturou sobre o sofrimento, a compreensão e a esperança, perguntamos a D. Jandira, a respeito de como se encontra ela situada ante a vida.

                             Eis a resposta:

 

                             “No início foi tudo muito difícil, mas com a graça de Deus, depois das mensagens de meu filho e também de outros jovens maravilhosos, hoje me sinto feliz, apesar da saudade.

                             Visito regularmente instituições beneficentes, não falto aos meus compromissos no Centro Espírita Perseverança, procuro ajudar os que necessitam mais do que eu e, sobretudo, às mães que se me dirigem, em busca de consolo e alento, mostro-lhes o quanto Deus me ajudou e o quanto elas podem ser ajudadas, se compreenderem que nossos filhos desencarnados continuam conosco.”

 

 

 

CAPÍTULO  I

 

WADY  ABRAHÃO  FILHO

 

 

                             Querida Mãezinha, meu querido pai, festa de aniversário, mesmo fora do dia exato, mas dentro do mês, exige do aniversariante mais efusivo agradecimento1. É por isso que rogo a Deus os enriqueça de luz e alegria, saúde e paz.

                             Estamos à frente de generosa assembléia. Maioria de mães e pais tomados de saudade e compreensão.

                             Eles perdoam ao Wadyzinho, se me utilizo do lápis para comentar as nossas alegrias do 16 de fevereiro corrente a amigos trouxeram flores que deponho no coração da Mãezinha, com a gratidão que me cresce na alma.

                             Pai querido, você pensa em maioridade de seu filho, mas o problema, sobretudo, é de maturidade em Jesus. Agradeço-lhes a formação que me deram em casa, a devoção com que me conduziram ao gosto de orar e aquela persistência com que me falava de Deus, para que pudesse de minha parte amar a Jesus que nos ama tanto.

                             Mãezinha, se fosse falar de mim, explico-lhe que nunca estive tão bem, quanto agora, em matéria de mais trabalho. Realmente a noite é de festa porque o Henrique nos trouxe a presença daquela portadora da rosa de julho, nossa querida irmã Augustinha2 que o trouxe à Terra com o eterno carinho das mães que se fazem mensageiras de Deus, guardando-nos o lar e a vida para Deus.

                             Pois é, meu pai. O Henrique para seu filho agora é semelhante ao Cláudio, o amigão inesquecível3. Companheiro de serviço e ideal, de fé e realização.

                             E não somente esse acontecimento nos alegra e muito. Temos também o nosso editor e amigo, o mesmo companheiro do “Jovens no Além”, como também do “Somos Seis”, e sempre mais de seis, a nos enfileirarmos agora por verdadeira escola de aprendizes do Evangelho. Nosso amigo Rolando4 e os companheiros nos recebam o reconhecimento.

                             E agora, a família. Desejo rogar de nosso Wilson paciência e coragem. Afinal, tudo se processou em nossa casa com toda a assistência dos Mensageiros de Jesus.

                             A criança não conseguia afirmar-se para a reencarnação, por enquanto, em vista de compromissos espirituais que por agora não podemos revisar, mas a saúde de nossa querida Axima não sofreu qualquer comprometimento. Nada nos faltou quanto a providências cabíveis e temos uma grande família a tratar e a proteger. Nada de desânimo ou tristeza5.

                             Peço à nossa irmã Maria Helena, em nome da Tia Clotilde6, a ela que atualmente está mais familiarizada com a Medicina, para zelar pela recuperação mais intensiva das forças do mano Wilson.

                             E, gostei de ver o meu coroa iluminado de amor ao trabalho, assumindo providências e abraçando mais trabalho, principalmente, perante os nossos amigos de Sumaré7, porque meu pai diante de nós se engrandece com os janeiros e fevereiros que vão passando.

                             Quem disse que os mais velhos no tempo da contabilidade terrestre se tornam quadrados com as horas que avançam, enganam-se totalmente. Meu pai cada dia volta a ser mais jovem e é justamente isso que eu e Wilson precisamos reconhecer.

                             Quando me chamam a mais serviço espiritual, notadamente em São Paulo, em Sumaré e em nossa querida outra cidade, a de Santo André, onde me matricularam numa oficina de trabalho que me proporciona grande satisfação8, penso na trabalheira de meu pai a fazer mais trabalho para que os outros se façam mais felizes e fico envergonhado de pensar em descanso.

                             Mãezinha, peça ao nosso Wilson aquela alegria que ele sempre estocava em tanta quantidade no coração amigo para nos dar. E sigamos em frente.

                             Os meninos necessitados de proteção e de amor são igualmente nossos. Aí na Terra, muitas vezes, pensei que, se fosse da permissão de Deus, queria ser um companheiro do Padre Zezinho9 para ter comigo muitas crianças, especialmente aquelas que sofrem rejeição.

                             Papai, perdoe-me se digo isso, porque eu sei que você me esperava na indústria. Entretanto, sei que a grandeza de coração me perdoará se eu disser que aprendi com o senhor e com minha mãe a indústria de Deus – ou melhor – a indústria da caridade.

                             Vi muitas vezes o senhor reunindo os fios de lágrimas dos pais e das mães de família que pediam trabalho, tecendo com esses fios o pano da felicidade em que se agasalhavam no calor bendito das necessidades atendidas. Papai, muito obrigado por tudo e muito obrigado por não ter ido mais passar a noite naquelas pedras frias, julgando que o seu filho estivesse ali10.

                             Tanto tenho a agradecer que ofereço o meu coração inteiro com a promessa de continuar trabalhando sempre mais feliz com os pais e com os irmãos que Deus me concedeu, e falo assim porque o Wilson não é só o marido de nossa querida Axima e, sim, meu irmão de verdade.

                             Agora, a noite avança, mas antes de terminar quero dizer à nossa irmã Sebastiana que o Jhuly11 está muito bem, sem que esse “muito bem” seja liberação da saudade que é uma flor de oração orvalhada de lágrimas, tanto aí quanto aqui.

                             Com a fé em Deus, venceremos.

                             Abraços para Wilson e para Axima. Meu avô Abrahão12 e minha tia Clotilde, aqui comigo, deixam-lhes muito agradecimento e muito carinho e eu entrego à Mãezinha e ao Paizinho, hoje como sempre, o coração pobre do filho Wadyzinho, pobre pelo meu imenso anseio de trabalhar, mas muito rico de Jesus, porque Deus me colocou na Terra ante os melhores e mais queridos pais que eu poderia encontrar no mundo.

                             Termino, agradecendo ainda à nossa irmã Guiomar13 pelo bem que nos faz e nos deseja, pedindo ao nosso Wilson para não se afastar daquela bendita seara de Perseverança no Amor de Jesus Cristo.

                             Recebam, queridos pais, todo o amor e toda a gratidão do filho que os acompanha sempre com a alma e o coração.

 

 

WADYZINHO

04, FEVEREIRO, 1977

 

 

1)     A mensagem foi recebida dias antes de seu aniversário de nascimento, comemorado a 16 de fevereiro.

2)     Tocante fato narrado com detalhes no livro SOMOS SEIS, edição GEEM, página 197.

3)     Henrique Grégoris, jovem desencarnado em Goiânia – GO, filho de D. Augustinha, Augusta Soares Grégoris, protagonista do fato descrito no livro SOMOS SEIS e lembrado nesta mensagem por Wady. Cláudio Marcelino da Silva é o inseparável amigo de Wadyzinho, colega de escola.

4)     Rolando Mário Romacciotti, editor do GEEM, que viria a desencarnar em dezembro de 1979.

5)     Wady se refere ao falecimento da filha de Axima e Wilson, Sara Abrahão Oliveira, ocorrido 48 horas após o nascimento, em agosto de 1976.

6)     Maria Helena Oliveira e Clotilde Eugênia Briguente Oliveira, irmã e genitora do cunhado Wilson. D. Clotilde faleceu em 1973 e Maria Helena, quando da recepção da mensagem, estudava Psicologia, daí a observação do Wady: “...a ela que atualmente está mais familiarizada com a Medicina”.

7)     Cidade paulista onde o Sr. Wady Abrahão matem atividade empresarial.

8)     Em Santo André – SP, foi fundado um grupo de jovens com o nome do Wady.

9)     Padre José Luiz, amigo do Wadyzinho, muito dedicado à causa da infância e adolescência.

10) Alusão às noites em que o pai permanecia a seu lado no cemitério. Veja-se a propósito no livro JOVENS NO ALÉM.

11) Jhuly Alessandra Arana, jovem desencarnada em 1975; Sebastiana Arana, sua genitora.

12) Jorge Abrahão, desencarnado em 1945.

13) Guimar de Oliveira Albanese, dirigente espírita e amiga da família.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO  II

 

 WADY  ABRAHÃO  FILHO

 

 

                             Querida Mãezinha e querido Papai peço-lhes a bênção de todos os dias.

                             Aniversários entre dois mundos. Natalícios de flores e lágrimas. Aniversário da Mãezinha e tempo inesquecível para mim1.

                             Estou reconhecido e peço a Jesus que os recompense.

                             Não posso escrever uma longa carta, porque as tarefas da nossa Comunidade Unida a Cristo, por aqui, se ampliaram muito. Entretanto, pais queridos, em cada oportunidade de trabalho em que nos vemos, a lembrança de ambos, no amor que nos conserva permanentemente unidos, está sempre viva em mim. É preciso trabalhar e servir com Jesus, tal qual me ensinaram.

                             Agradeço à nossa irmã Guiomar o carinho que dispensa constantemente à nossa casa. Espero que o nosso Wilson continue procurando maior aproximação com luz do serviço espiritual e esse desejo é, também, o da tia Clotilde que o abençoa e ampara sempre.

                             Temos zelado quanto possível pela tranqüilidade do nosso querido Wilsonho2 e pedimos à nossa querida Axima tratar-se quanto à saúde. O corpo físico é semelhante ao arado que Deus nos empresta de modo a trabalharmos com segurança no solo da vida humana. Qualquer ferrugem ou estrago que apareçam, precisam de corrigenda para conservarmos em nossas mãos o precioso instrumento, tanto quanto possível.

                             Transformo os meus agradecimentos desses primeiros dias de julho corrente, em preces de gratidão e felicidade por todas as bênçãos com que me acompanham nas jornadas novas em que me ensinaram a procurar por Jesus.

                             Querida Mãezinha e meu pai, recebam com a nossa Axima, com o nosso Wilson e com o nosso Wilsinho, o carinho e a gratidão no abraço de muitas saudades e de muitas esperanças do filho sempre e cada vez mais reconhecido.

 

 

WADYSINHO

08, JULHO, 1978

 

 

1)     Referência a 5 de julho, aniversário da Mãezinha e a 06 de julho, data de sua desencarnação.

2)       Wady propositadamente troca o nome do sobrinho, chamando-o por Wilsinho e não Wadyzinho, para homenagear o cunhado.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO  III

 

WADY  ABRAHÃO  FILHO

 

 

                             Querido Papai e querida Mãezinha Jandira, rogo abençoem o filho que vive sempre, cada vez mais identificado com a nossa casa de paz e amor.

                             As flores do aniversário me comovem! Recebi em pensamento quanto me ofertam e noto que todas as nossas rosas desta noite estão orvalhadas de lágrimas.

                             Mãe, confie em Deus. Papai, não desanime. A Terra é um campo de trabalho que atravessamos com várias diferenças de tempo na viagem, através dos caminhos que ela mesma nos descerra. Estão comigo, além de meu avô, a vovó Luzia e a vovó Maria José, confirmando-me as palavras1.

                             Sinceramente, queria escrever-lhes mais frequentemente, entretanto, à medida que nos comunicamos com entes amados do mundo, amplia-se a esfera de ação, com múltiplos serviços a nos exigirem presença e subordinação.

                             Não tenho estado ausente dos assuntos de nossa casa e se não me aprofundo neles é unicamente para dizer-lhes que compartilho das inquietações.

                             Nosso Wilson é aquele amigão que conhecemos e guardo para mim a certeza de que ele não se afastou de nós. O homem, por vezes, encontra fases de luta, nas quais se vê compelido a pensar e sei que o nosso Wilson está meditando para voltar às atividades espirituais com mais firmeza.

                             Noto a nossa Axima um tanto triste, mas rogo à irmãzinha confiança e otimismo. O nosso Wadyzinho2, novamente em seus braços, está consolidando a própria existência. E as dificuldades passarão.

                             Aqui se encontra a nossa irmã Guiomar com alguns dos corações queridos do nosso “Perseverança” e persistiremos com o nosso Wilson para que ele retome o arado das bênçãos espirituais. Sabemos que ele está prensado no campo dos negócios, mas a tia Clotilde auxiliará o querido irmão para a volta.

                             Queridos pais, peço para que estejam felizes. Nada de novo aconteceu que possa dilacerar-lhes a fé e com a fé venceremos todos os obstáculos.

                             Não perco de vista os nossos amigos da nossa Comunidade Unidos a Cristo e aguardo a bênção do trabalho para nós todos, aí e aqui, neste Lado Diferente da Vida, espero venceremos todos os óbices a fim de servir ao próximo com pelo menos algumas migalhas do Infinito Amor com que o Cristo nos serve em todos os nossos dias.

                             Papai, peço-lhe para que se reanime. O senhor não pode render-se à solidão e à tristeza francamente impróprias ao serviço que abraçamos.

                             Agradeço todas as bênçãos que o senhor e a minha querida Mamãe distribuíram em meu nome. Muito feliz com a nossa festa transformada em alegria para os nossos irmãos necessitados, rogo a Deus os recompense.

                             Para Wilson, Axima e Wadyzinho o abraço em que os três se acomodem por dentro de meu coração e para os Paizinhos abençoados que sempre me enriquecem de profundas alegrias, fica palpitando nestas páginas o coração do filho sempre e cada vez mais reconhecido.

                             Sempre o filho que lhes deve o mundo das bênçãos, nas bênçãos que me iluminam os passos na direção de Jesus.

 

WADYZINHO

16, FEVEREIRO, 1979

1)     Vovô Abrahão, já de nosso conhecimento e as avós Luzia Livignali do Amaral e Maria José Salgado Abrahão que se acham na Vida Maior, respectivamente, desde 1979 e 1945.

2)     Wady Abrahão Oliveira, sobrinho, filho de Axima.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO  IV

 

WADY  ABRAHÃO  FILHO

 

 

                             Queridos pais, peço-lhes que me iluminem com a bênção de sempre.

                             Mãezinha, passamos o aniversário de Julho com a preocupação de recuperar-lhe as forças orgânicas, e, por isso, a nossa palavra de agosto é como se fosse dita no mês passado1.

                             Fico feliz de vê-la mais forte, com meu pai sempre firme no trabalho e na fé em melhores dias. Rogo-lhes serenidade perante as lutas que, por vezes, desabam na viagem da experiência humana.

                             Continuo na certeza de que o Cristo de Deus é o nosso companheiro de todos os instantes. Em qualquer crise ou dificuldade, lembre-se de que trazemos esse Amigo Divino e Eterno por dentro de nós. Prossigo, graças a Deus, ampliando o trabalho que me foi confiado.

                             Os setores agora são muitos, mas não me esqueço de nossa área afetiva e tenho procurado auxiliar a nossa querida Axima no desenvolvimento do Wadyzinho. O sobrinho se esforça para consolidar posição e nós estamos diante do gramado a torcer por ele, a fim de que a vitória da saúde o habilite a estar mais seguro na vida que recomeça.

                             Nosso estimado Wilson é aquele pai amoroso e amigo e me sinto contente ao ver os irmãos queridos, cumprindo a missão do lar com a fé em Deus orientando a família.

                             Mãezinha Jandira, espero que o seu tratamento de saúde prossiga sem alteração, tanto quanto rogo ao Papai para que não despreze o concurso da Medicina. O corpo é um barco e a Terra é um grande mar. Temos que atravessar as águas da experiência, sem permitir que elas nos inundem a embarcação, a fim de afundá-la fora de lugar e fora de tempo.

                             Peço não se incomodarem com manifestações nossas em outros campos de atividade espiritual2. De fato, a pesquisa e o tentame são nossos, buscando sempre novos caminhos de intercâmbio para o bem, mas consideramos que é tão difícil fazer isso, como não é fácil abrir uma vereda em manta ainda inexplorada e de acesso difícil.

                             Continuemos fazendo o melhor que pudermos na caridade, sem esquecer as diretrizes que nos são traçadas no Centro Perseverança. Bússola não falta. Luz não se apaga. Caminhos se mostram abertos. Facilidades nos acompanham. Sendo assim, a solução do problema está sempre em nós mesmos.

                             Perseverar é escolha nossa e espero que prossigamos persistindo na direção do bem aos outros, a reverter-se invariavelmente em benefício a nós mesmos.

                             Papai, peço seja comunicado aos companheiros de Sumaré que estamos agindo e que a obra terá condições para se ampliar como é preciso. Aquela gente boa é uma equipe de trabalhadores valorosos e agradeço as suas atenções de amigo para com nossos irmãos de trabalho e de ideal. É preciso construir e construir sempre para benefício de todos3.

                             Mãezinha, o nosso irmão Benedito Schmidt4 está presente e se mostra agradecido pelas lembranças e preces que lhe são dirigidas.

                             A querida tia Clotilde e o vovô Abrahão aqui se encontram conosco e deixam-lhes saudações afetuosas. E Eu, na gratidão de sempre, peço ao querido Papai e à querida Mãezinha abraçarem por mim o nosso querido Wilson, a nossa querida Axima e os queridos sobrinhos.

                             Desejando-lhes muita fortaleza e paz, beija-lhes as mãos queridas o filho que continua trabalhando, a fim de ser melhor para fazê-los mais felizes./

                             Sempre o filho muito grato.

 

WADYZINHO

14, AGOSTO, 1980.

 

1)     Habitualmente D. Jandira vai a Uberaba no início de julho, época que corresponde ao aniversário de desencarnação do filho e ao seu próprio natalício. Dessa vez, impedida por enfermidade que a manteve internada durante parte do mês de julho, a genitora do Wady somente pôde estar com Chico Xavier em agosto, daí a observação do filho.

2)     É muito comum chegarem até D. Jandira informações de que o Wady se comunicou nesse ou naquele centro, através de outros médiuns.

3)     Grupo Espírita wady Abrahão Filho, da cidade de Sumaré – SP

4)     Jovem falecido em acidente aéreo ocorrido no ano de 1973, próximo do aeroporto de Orly, Paris.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO  V

 

WADY  ABRAHÃO  FILHO

 

 

                             Querido Papai e querida Mãezinha Jandira, envolvendo-me nas bênçãos com as quais me recordam, volto ao nosso ritual de alegria e de saudade, a fim de agradecermos a Deus todas as concessões que temos recebido.

                             Mãezinha Jandira, o tempo atravessa o campo de nossas vidas, com asas invisíveis, deixando-nos entrever a transitoriedade de tudo o que nos cerca no mundo.

                             Lembro-me de duas situações distintas: a de nossa felicidade em família com o seu natalício, emoldurada no calor de nossa união em casa, e aquele frio de julho, quando tive que separar-me dos pais queridos por imposição da grande mudança.

                             Lembrar-se-ão comigo de que estávamos numa bela campanha de inverno, coletando cobertores e roupas para a nossa distribuição, quando fui obrigado a entregar todos os meus projetos a Deus, legando-lhes os nossos serviços1.

                             Festa e amargura, risos e lágrimas, preces de louvor e súplicas de socorro, em dois dias se misturavam e eu, no centro de tudo aquilo, mais me capacitava de que a nossa confiança em Jesus valia, naquelas horas, mais do que todos os recursos de que fôssemos capazes de mobilizar para um imaginário retorno à normalidade.

                             Hoje, em companhia da irmã em Jesus, Maria Albertina2, já consegui bom começo de nossas comemorações. Por nós mesmos, não registramos os sopros frios da noite, mas sentimos o frio gelado atravessando as paredes estragadas de tanto pouso de amor e penúria, rogando a Jesus aqueça os doentes e as crianças, as mães sofredoras e os desabrigados que visitamos, sem encontrá-los na companhia de alguém que os assista e os ame, a fim de suportarem com mais coragem o caminho que lhes foi indicado a percorrer.

                             Pais queridos, perdoem-me se alinho recordações em telas de enternecer nesta noite, mas não seria possível falar da tristeza absoluta quando a mamãe Jandira atravessa mais um natalício feliz e nem efetuar explosões de alegria, quando a lembrança de nossa despedida aparente ainda nos dói tanto aos corações.

                             Reportamo-nos, assim, à felicidade que o Divino Amigo nos ensinou a procurar – a felicidade de fazer a possível felicidade para os outros.

                             Querido Papai, o vovô Abrahão está em nossa companhia e nós ambos lhe pedimos confiança no amanhã. Não existe retrocesso na indústria da caridade e se vemos máquinas paradas por alguns dias e companheiros suspirando por serviço, em nossos corações a fábrica da bondade não pode e nem deve parar3.

                             Estamos satisfeitos em lhe observando as reações construtivas, ante os quadros atuais dos encargos que são nossos e esperamos que o seu ânimo de lutador não esmoreça, já que a Mãezinha Jandira não se imobiliza à distância das tarefas espirituais e orgulho-me de vê-la sempre fiel aos compromissos assumidos para com as obras de paz e amor ao próximo, sustentadas pela fé viva de nossa irmã Guiomar4.

                             O nosso Wilson, pouco a pouco, retornará ao trabalho espiritual e a nossa Axima continua sob o amparo de muito benfeitores. Vemos que o violão5 por ela dedicado à exaltação do Evangelho de Jesus foi substituído por meus pequenos e queridos sobrinhos e estimo vê-la sempre mais consagrada aos seus encargos de esposa e Mãe.

                             Papai querido e querida Mamãe, as dificuldades e os sofrimentos do mundo são testes que avaliam a nossa fé em Deus e, com Deus, venceremos todos os obstáculos da estrada, convertendo-os em abençoadas lições.

                             Muito obrigado pela oportunidade que me proporcionaram para que lhes mostre quão feliz me sinto em continuar sendo para a nossa querida família, o filho e o irmão, o amigo e o servidor sempre reconhecido.

                             Com um beijo aos irmãos e sobrinhos queridos, entrega-lhes, como sempre, o coração repleto de esperança e gratidão o filho que prossegue pedindo a Jesus nos faça sempre confiantes e felizes em seu Infinito Amor.

 

WADYZINHO

04, JULHO, 1981.

 

 

1)     A campanha de agasalho que Wady coordenava teria o seu clímax no dia 7 de julho, com a distribuição das roupas e cobertores arrecadados; na véspera, o jovem foi chamado para o Plano Espiritual.

2)     Jovem desencarnado cujo nome serve de denominação a entidade beneficente de São Paulo.

3)     Menção a transitórias dificuldades por que passa a indústria do pai, em Sumaré.

4)     D. Jandira, desde a desencarnação do filho, passou a ter incansáveis atividades, consolando mães aflitas e socorrendo famílias carentes.