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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Novamente em Casa–Francisco Cândido Xavier

Índice do Blog

 

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NOVAMENTE EM CASA

 

FRANCISCO CANDIDO XAVIER

CAIO RAMACCIOTTI

ESPÍRITOS DIVERSOS

 

 

Editora GEEM

 

 

 

 

 

 

Prefácio

Apresentação /04

Álvaro Gonçalves /05

Argemiro Correa de Azevedo Filho /10

Docílio Miranda de Souza /15

Edvar Santana /20

Francisco Eduardo de Oliveira Moraes /25

Geraldo Arantes de Souza /30

Hamílton dos Santos /35

Hélio Manzo Júnior /38

Jose Esmelcerei Bernardo /42

Luiz Alli Fayrdin /45

Marcel Jivago de Faria França /49

Maurício de Lima Basso /53

Meire Adriana Agnello /58

Paula Opípari Ramos /62

Paulo Augusto Signore /66

Tânia Paes Leme de Barros /69

 

 

 

Prefácio

 

Amigo Leitor:

 

Enquanto o progresso avança no mundo, cresce igualmente, entre os homens, a indagação em torno da morte.

-o-

Corações sensíveis e desfalecentes, ante a perda transitória dos entes amados, nos dirigem apelos múltiplos, afirmando-se à espera de manifestações das pessoas queridas que a desencarnação lhes subtraiu à convivência. E, do nosso desejo de atender-lhes as solicitações, nasceu este livro que te colocamos nas mãos.

-o-

Efetivamente, não nos seria possível satisfazer a todos os que choram, sob o guante da saudade; entretanto, este volume despretensioso é uma resposta aos irmãos que anseiam por notícias daqueles que os antecederam na Grande Renovação.

-o-

 Aqui, nestas páginas simples, falam companheiros que pareciam submersos na névoa do Mais Além, esclarecendo, amando, reconfortando e aquecendo corações abatidos pela separação aparente das criaturas amadas, transferidas para a Vida Maior.

-o-

É por isso que, em te entregando este livro, com o apreço e a gratidão habituais, é nosso intuito asseverar que os supostos mortos, não somente se revelam vivos, mas também, tanto quanto se lhes faz possível, estão sempre novamente em casa.

Emmanuel

Uberaba, 08 de junho de 1984

 

 

Apresentação

 

Crianças, jovens e adultos construíram este livro. Do Álvaro à Tânia, dezesseis autores dele participam.

Seguindo, em linhas gerais, a estrutura de trabalhos anteriores, nele o leitor observará sempre antes da mensagem psicografada, o depoimento dos familiares do autor espiritual, expresso de modo mais ou menos sintético, mas invariavelmente trazendo em sua essência extraordinário significado, com lições de renúncia e esperança.

O GEEM se orgulha de oferecera você, amigo leitor, mais um lançamento de Francisco Cândido Xavier.

Caio Ramacciotti

São Bernardo do Campo, 08 de junho de 1984

 

 

 

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Álvaro Gonçalves

 

São Paulo (SP) - 16 de agosto de 1953

São Paulo (SP) - 26 de outubro de 1978

A partida de Álvaro fora um rude golpe para seus pais, Álvaro da Silva Gonçalves e Elza Devecchi Gonçalves.

Família solidamente constituída, três filhos, Álvaro e as irmãs Elza e Denize, "a notícia do acidente que levou de nosso convívio o filho dileto, aos 25 anos", comentou conosco o Sr. Álvaro, "foi daqueles golpes que se absorvem, mercê da Misericórdia Divina".

Além da estrutura familiar muito firme, em verdade, pai e filho eram amigos inseparáveis.

Dois meses após o retorno ao Plano Espiritual, seu pai teve um sonho tão singular em que se encontrou com o filho querido. Foi na noite de 29 de dezembro de 1978, pouco depois de deitar-se.

Com meridiana clareza, o Sr. Álvaro viu o filho no quintal da casa e, surpreso, perguntou:

- Álvaro, você por aqui?

- Sim, pai, estive internado, mas obtive autorização para visitar o lar. E vocês, pai, como estão?

- Como é que poderíamos estar meu filho...

 - Pai, você é mais forte, "pega no pé" da mãe para ela não chorar mais, pois seu desespero está fazendo mal para mim.

Pai e filho conversaram mais alguns minutos, após o que o Sr. Álvaro acordou e relatou o sonho à esposa.

No depoimento que se segue, o Sr. Álvaro nos conta de sua aproximação de Chico Xavier e da expectativa até o recebimento da primeira de uma série de mensagens, uma das quais apresentamos neste livro.

***

Obrigado Jesus, obrigado Augusto Cezar.!

Sim, caro leitor, foi através da leitura das mensagens deste querido jovem que nós chegamos até, nosso querido Chico Xavier, como vocês poderá acompanhar, através de nosso depoimento.

Passados alguns dias da desencarnação do querido Álvaro, uma jovem amiga aconselhou-me a leitura do livro Crianças no Além; dirigi-me a uma livraria espírita, onde o senhor que me atende; aconselhou-me também ler Jovens no Além e Somos Seis.

Era um sábado. Comprei os livros, tomei o ônibus até o serviço e, após sentar-me no coletivo, abri Jovens no Além, ao acaso, justamente na página em que começava uma das mensagens do Augusto.

Durante o trajeto, li algumas vezes a mensagem que tanto me sensibilizou; não via o momento de retornara casa, para mostrar minha esposa os livros e, de modo especial, as palavras do Augusto Cezar.

Algum tempo depois; partíamos rumo de Uberaba.

Aproximava-se o Natal de 1978 e haviam decorrido quase dois meses do inesperado acidente que nos levou Álvaro.

Chegamos a Uberaba, sem nada conhecer, nem mesmo de que modo chegar até o Chico.

Por agradável coincidência, depois de muita expectativa, foi justamente a genitora de Augusto, D Yolanda, que também lá se encontrava, e que ficamos conhecendo naqueles momentos, quem se prontificou a apresentar-nos ao querido médium.

A partir desse encontro, aparentemente casual - hoje creio que os Benfeitores Espirituais nos aproximaram - passamos a participar do grupo de trabalho de D. Yolanda e fomos mais freqüentemente a Uberaba.

As cartas de Álvaro então, se sucederam quais tesouros do alto a enriquecer-nos de paz e alegria.

Chico, de que modo agradecer? Palavras não conseguiriam expressar nosso sentimento de gratidão por você. Deus lhe conserve sempre e sempre a vida tão importante para todos nós, os familiares que pelas suas mãos voltaram a viver.

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha Eira e meu querido Papai Álvaro, rogo-lhes a bênção para o filho amigo de sempre.

Estou na mesma onda de saudade em que se encontram, mas venho pedir-lhes fortaleza. Os dias passam e as lembranças ficam.

Espero, no entanto, que as nossas se façam selecionadas. Conservemos as recordações felizes e as certezas melhores do coração.

A Vovó Marieta (l) está comigo e me recomenda estarmos unidos na mesma faixa de esperança.

1) Vovó Marieta - Maria Celeguini Devecchi, desde 1950 no Plano Espiritual.

E preciso sintonizar a estação da alma na emissora da fé viva em Deus.

Pai compreendo. Ausência de pessoas amadas é lesão no espírito. Dura lesão invisível que os exames do mundo não certificam. Ainda assim, atrevo-me a pedir-lhe, extensivamente à Mamãe, para ficarmos equilibrados na confiança. Não se descuidem da saúde. À hora mais difícil da criatura na Terra é aquela em que indaga de si própria: "viver para quê?".

Auxiliem-me, sustentando o contato com a gratidão a Deus que nos uniu para sermos felizes. Agradeçamos os dias lindos, as horas de união, as bênçãos inesquecíveis da família, e a tranqüilidade que nos alimentava os corações.

Penso em tudo e agradeço, incluindo os planos de amor que a nossa querida Fátima (2), com tanta grandeza de coração, me inspirava e, de todo esse tecido de lembranças, faço um tapete mágico que me transporta ao futuro, no qual nos veremos de novo juntos.

2) Fátima Silveira, noiva do Álvaro.

Entretanto, sei que para merecer tanta ventura, precisamos prosseguir amando e servindo, acolhendo os corações aos quais possamos ser úteis e cooperando na felicidade dos outros. Rogo com insistência para que estejamos corajosos e animados na convicção de que Deus jamais nos abandona.

Espero que o papai continue em seu necessário tratamento de saúde. O corpo é um instrumento com que se trabalha no campo físico. Não nos será licito largá-lo ao acaso e, sim, atendê-lo em todas as requisições de socorro que nos apresente.

Se me ampararem com alegria de viver, sei de mim que estarei mais forte, a fim de apoiá-los, conquanto me reconheça ainda tão frágil. O que peço, no entanto, é muito importante, porque a segurança espiritual na base da fé em Deus é o primeiro medicamento que valoriza qualquer outro.

Conosco, veio nesta noite, o nosso amigo Frei Clemente (3) que promete amparar-nos. Cercados por amigos tão prestimosos, não podemos duvidar de que tudo está bem e de que tudo é o bem a proteger-nos, por ordem dos Céus, muito embora, muitas vezes, na Terra, o bem seja apresentado com o nome de sofrimento.

3) Frei Clemente batizou o Álvaro na Igreja Nossa Senhora da Conceição, bairro do Jaraguá, em São Paulo, nos idos de 1954. Veio a falecer no ano de 1968 em Santo Amaro da Imperatriz, Estado de Santa Catarina. Muito sugestivo o reencontro na Vida Maior de Álvaro com o sacerdote que o batizou.

Querida Mãezinha Elza e querido Papai, reanimem-se e doemos o melhor de nós à vida, para que a vida nos conserve cada vez mais fortalecidos para as tarefas que o Senhor nos chama a desempenhar.

Recebam os dois, o abraço envolvente de amor e gratidão do filho e companheiro de sempre,

Álvaro

27.06.79

 

 

 

 

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Argemiro Correa de Azevedo Filho

 

Goiânia (GO) - 11 de setembro de 1957

Goiânia (GO) - 01 de janeiro de 1983

Filho de Argemiro Correa de Azevedo e Nilza Freire de Azevedo, Técnico em Mineração, aluno de Geografia na Universidade Católica de Goiânia, poeta, estudioso da Língua Inglesa, Argemiro faleceu aos 25 anos, vítima de acidente de trânsito.

Em decorrência do mesmo acidente, faleceram também Josemarcos Antônio Silva Mona e Joelma Alves de Carvalho, lembrados por Argemiro na mensagem.

A carta mediúnica do Argemiro foi recebida quatro meses e vinte dias após sua partida e o depoimento que se segue nos foi enviado por sua irmã, Lanir Freire de Azevedo Blumenschein.

 Dizer de que modo a mensagem calou em meu coração e no coração de meus familiares é impossível.

Uma sensação indescritível de alegria, amor, esperança e paz que nenhuma palavra do vocabulário que usamos na Terra é capaz de retratar.

Tive ímpetos de gritar, chorar, correr, abraçar, fazer tudo o que pudesse realmente retratar o tufão de sentimentos que percorria todo o meu ser.

 

Mensagem

 

Querida Lanir.

Deus nos abençoe. Tentarei resumir o que desejo grafar no papel.

Compreendo com você e com o nosso Blumenschein que este é um grande momento.

Hora de retomar o homem que fui para ser o irmão que você espera.

Efetivamente, ainda não há tempo bastante para que me desagarre da personalidade. Os meses são poucos sobre a transformação a que me vi obrigado.

A verdade, querida irmã, é que eu pressentira todo o choque e toda a inquietação daquele dia em que o poste me recebeu na queda de movimento em que me vide crânio fraturado, numa espécie de ballet de ponta-cabeça.

Não houve ocasião para refletir, nem mesmo a fim de rezar. Aliás, as minhas preces já haviam sido formuladas, porque, desde agosto passado, uma força inexplicável me impelia a pensar no acidente.

Deve ter havido alguma concessão para mim, cuja procedência ainda ignoro.

 O passado estava chegando aos meus dias últimos de rapaz. Um pretérito que não saberia definir. Muitas vezes, a sós com meditações e livros, me reconhecia atirado para longe de algum lugar, que não sabia onde era à frente de um poste imenso que me aguardava, qual gigante de ferro ou de pedra, de encontro ao qual sofreria a grande mudança.

Amanhecia com a visão anterior centralizada no assunto e à noite me abraçava para que semelhante quadro se me acentuasse ainda mais na imaginação.

Os dias rolaram, uns sobre os outros, mas a tela mental não se desfixou, permanecendo, intacta, em minha cabeça. Até que chegou o dia inesperado, embora intimamente soubesse que ele chegaria.

Tenho os derradeiros movimentos do carro na memória. Pobre Leila! (1) Dirigia cautelosamente, sem qualquer sinal de nervosismo ou de aflição, mas surgiu um instante em que o veículo passou a retratar por fora alguma perturbação que o desfigurava por dentro, e, sem que a nossa amiga pudesse controlá-lo, diante de nossa ansiedade, rodopiou sobre si mesmo e atirou-nos para longe.

1) Leila, a amiga que dirigia o veículo, quando do acidente.

Nada mais vi no momento da crise, porque me apaguei inteiramente. Depois, creio que muito depois, é que despertei sentindo dores fortes em toda a região intracraniana e imaginei que fora colhido por algum refúgio de pronto socorro a fim de sanar os resultados do acidente.

A consciência me dizia que o desastre não era uma ilusão, no entanto, nada sabia quanto às conseqüências. Creio que tudo sucedeu conforme a previsão que fora inexplicavelmente transmitida.

Alguém me amparava e vim a saber que esse alguém era e continua sendo a vovó Augusta (2), agindo minha proteção.

2) Augusta Freire Vieira, avó materna, já desencarnada.

Recebi tratamento, à maneira de qualquer acidentado, numa internação de hospital, e, quando me senti livre dos sofrimentos periféricos que me aturdiam, pude visitar a nossa casa e abraçar os nossos entes queridos.

Diga à Mãezinha Nilza e ao Papai Argemiro, que se realmente me afligi foi justamente pelo fato de observar a flagelação de que se tomara toda a nossa família.

Consegui, porém, volver a fases esquecidas: as fases da confiança em Deus nas preces do tempo de criança.

Reconquistei um bálsamo que perseverava comigo e eu não sabia.

Coloquei minh'alma toda no anseio de me apropriar das bênçãos de Deus que nunca nos faltam e melhorei rapidamente.

Pude visitar os nossos amigos Josemarcos e Joelma, cientificando-me de que também haviam sido vítimas do acontecimento infeliz.

Informei-me quanto aos dias em que se demoraram, preparando a largada final do corpo e inteirei-me afinal de quanto haviam sofrido.

Em compensação, o período de desencarnação gradativa e dolorosa igualmente fora o tempo em que me vi liberado do corpo físico, mas sob as conseqüências daquele golpe imprevisto. Golpe naturalmente decorrente de meus débitos atrasados.

Teríamos de saldar contas que pretendemos revisar no momento oportuno e nada tínhamos de que nos queixar.

Felizmente, tudo está claro agora e tenho motivos para me deter nos agradecimentos às Leis de Deus sem qualquer disposição de pedir isso ou aquilo.

Aproveito estas páginas para afirmar-lhes que a nossa amiga Leila não teve culpa alguma, acredito que ela será portadora de traumas psicológicos de grande penetração dos quais se descartará com a benção de Deus. Ela continua sendo a pessoa notável pela bondade e compreensão que os companheiros e eu passamos a reverenciar.

Agora, querida Mana, é encerrar o palavrório e conservar a lição. Já que devíamos, o resgate foi frito. Digo isto, porque as Leis de Deus são justas e não nos será lícito duvidar do Poder que nos dirige os caminhos.

Expressando-me assim, rogo à nossa família, a todos os nossos para que não se detenham de modo tão profundo nos problemas da Lei do Carma.

Há sempre tempo para que se nos renove o caminho e o instrumento para semelhante transformação é a nossa própria vontade, porque a prática do bem nos exonera de compromissos com o mal.

Quem puder compreender esta realidade, vivenciando o bem, de modo incessante, recolherá surpresas e bênçãos sempre maiores.

Não posso alongar-me. Devo terminar o que faço pedindo-lhe expressar aos nossos familiares e amigos a certeza de que estamos quase perfeitamente bem, se não fosse a saudade a se interpor entre nós e os que ficaram. Entretanto, já sabemos que não pode ser de outro modo e aqui deixo a você o meu abraço de irmão e amigo.

Querida mana, para você, extensivamente a todos os nossos, aquela imensa estima de sempre do

Argemiro Filho

Argemiro Correa de Azevedo Filho

21.05.83

 

 

 

 

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Docílio Miranda de Souza

 

Palame (BA) - 28 de novembro de 1925

Salvador (BA) - 08 de fevereiro de 1965

Casado com Zurete Muniz de Souza, pai de quatro filhos, Ivonete, Carlos Alberto, Ana Angélica e Jailson, Docílio desencarnou, vítima de agressão física.

D. Zurete, hoje residente no Rio de Janeiro, é dedicada colaboradora da Fundação Marietta Gaio, tradicional Instituição Beneficente carioca, fundada por Manoel Jorge Gaio em 1932.

A filha Ivonete faleceu em 1962, com 13 anos, três anos antes da partida do pai.

Neste livro, publicamos a mensagem enviada pelo Docílio, através do Chico, em 1981, e, a respeito, vejamos o depoimento de D. Zurete.

 Estive em Uberaba, visitando Chico Xavier, pela primeira vez em 1980, retornando no ano seguinte, quando recebi a primeira mensagem de meu marido.

Devo ressaltar que foi com muita surpresa que ouvi o Chico proceder a leitura da mensagem, após psicografá-la, pois, os assuntos nela relacionados não eram de seu conhecimento.

Fiquei muito feliz e emocionada, ao receber os esclarecimentos e orientações particulares, relativos aos problemas de meu círculo familiar.

Agradeço a Chico Xavier, de todo o coração, por ter-me proporcionado o reencontro com meu marido.

Muita paz é o que lhe desejo, querido Chico!

 

Mensagem

 

Querida Zurete, peço a Jesus nos abençoe e nos fortaleça.

Sempre unidos na Seara de Trabalho que a Divina Providência nos concedeu, mesmo assim, é um reconforto ensaiar na escrita, a confirmação do meu reconhecimento.

Com você, tenho atravessado os caminhos diferentes daqueles que supunha dever trilhar, quando nós ambos atingíssemos a maturidade no lar. Quanto choramos na separação, sabe Deus!

Perdoe-me por havê-la deixado na luta sem o apoio dos meus braços físicos; no entanto, logo que me vi despojado do corpo, roguei ao Senhor da Vida me fizesse merecer acompanhar os seus passos, a fim de me empenhar à vida nova. Então, adquiri os conhecimentos do bem que nos ensinam a desculpar as ofensas e esquecê-las.

Foi seguindo as suas próprias tarefas que me renovei gradativamente e compreendi que todos aqueles que aniquilam a vida dos seus semelhantes são dignos não só de lástima e, sim, igualmente de nosso entendimento, na certeza de que eles, supostos inimigos nossos, são igualmente Filhos de Deus e nossos irmãos em provas e experiência, na escola da Humanidade.

Muitas vezes, quando a mágoa ou o ressentimento me vinham das profundezas da alma, lamentando a oportunidade que perdi na construção de nossa felicidade, procurei ansiosamente asilar-me em seu clima de orações, suplicando a Deus me ensinasse a perdoar, tanto quanto você sempre exercitou e exercita constantemente essa prática de luz e apaziguamento.

Agora, bendigo as mãos que me ofereceram a dor do resgate e, livre de quaisquer acusações, posso, com o auxílio de Jesus, cooperar com aqueles que se fizeram instrumento da nossa quitação com as Leis de Deus.

Compreendo a extensão das tarefas que você abraça, no entanto, rogo ao seu coração fraterno bom ânimo e confiança.

Querida Zu, onde aparece a caridade, aí estão as notícias de Deus. As inscrições e os nomes vão passando na marcha do tempo, no entanto, o bem permanece. Abençoe os ensejos de servir que lhe são concedidos.

Esses amigos beneméritos, seja da cultura, ou seja de humanidade, amparam seus passos e seguiremos adiante. Por vezes, a incompreensão pode surgir, em torno das tarefas que esposamos, no entanto, aceitemos quaisquer observações em silencio e passemos na direção dos trabalhos que os mensageiros do Bem nos reservam.

Quanto se me faz possível, venho colaborando em apoio de todos os nossos entes queridos.

Nosso Carlos Alberto está sendo sustentado em suas melhoras positivas. Deus nos auxiliará a vê-lo aceitar-se, nas dificuldades que experimenta assim tal qual se vê, de modo a fazer o melhor de si mesmo.

As análises psicológicas são todas respeitáveis, mas se podemos efetuar a auto-observação, colocando nisso todo nosso cabedal de boa vontade e de calma, convertendo as nossas forças em serviço do bem ao próximo, conseguimos traçar os nossos próprios esquemas de revisão íntima, a fim de emergirmos sempre mais seguros de nós mesmos de qualquer mergulho, no mundo imenso de nós próprios.

De meu lado, quando mais obstáculos se me antepunham às melhoras que se me faziam necessárias, busquei esquecer-me e aprender que as minhas tribulações não eram maiores do que as de muitos irmãos nossos positivamente desvalidos na Terra de qualquer proteção, excetuando-se o amparo de Deus que, à maneira do Sol, abrange a nós todos.

Relativamente à nossa Ana, compreendo as suas preocupações maternas, no entanto, peço a você confiá-la, como sempre, à tutela de Deus, nosso Criador e Pai.

Em muitas fases da existência, aqueles que mais amamos por nossos filhos são induzidos a caminhos de trânsito difícil, mas, a Sabedoria Divina encontra os recursos precisos do socorro de que carecem.

Deus abençoará nossa querida Ana Angélica nas trilhas em que se encontra, com o seu generoso coração, tantas vezes oprimido de aflições e problemas que o Céu nos auxiliará a desfazer na ocasião oportuna.

A nossa Ivonete é para ambos uma companheira dedicada e constante e vela pelos irmãos queridos, tanto quanto nos estende as mãos abnegadas e afetuosas.

Agradeço a nossa irmã pelo coração, nossa Marinetti, pela bondade com que nos compartilha dos caminhos no cotidiano. A nossa Mafalda, hoje obreira dedicada ao socorro fraternal em auxílio dos que sofrem, deixa-lhe nas mãos um beijo filial, acrescentando que se reconhece agradecida por todo o carinho materno que a nossa Marinetti lhe endereça e promete prosseguir prestando o auxílio possível ao nosso irmão Mário. (1)

1) Marinetti Martins Ribeiro, professora, espírita militante no Rio de Janeiro, mãe de Mafalda e de Mário, Mafalda Martins Ribeiro e Mário Martins Ribeiro Filho, falecidos respectivamente em 1956 e em 1983. Mário faleceu dois anos e oito meses após a recepção desta mensagem.

Em vista das circunstâncias do momento, vieram conosco familiares da nossa irmã Eunice Ferreira (2) que solicitam de seu carinho a continuidade das vibrações de auxílio em favor dela, especialmente, a nossa irmã Nair Firmino, que lhe foi a mãezinha afetuosa no mundo, com o filho Beraldo que se fazem presentes, através de minhas palavras pobres, acentuando que desenvolverão o concurso possível, no amparo à nossa companheira de trabalho e ideal.

2) Eunice Maria Ferreira, colaboradora da Fundação Marietta Gaio, filha de Nair Firmino e irmã de Beraldo José Ferreira. D. Nair partiu de nosso convívio em 1976 e Beraldo em 1979.

Querida Zurete, conquanto o meu desejo de prosseguir, é preciso terminar. Nossos irmãos Luiz Machado e João Viana (3) estão presentes conosco e registram o carinho com que nos observam o desejo de acertar no desempenho dos nossos compromissos.

3) Benfeitores Espirituais ligados às atividades da Fundação Marietta Gaio. Luiz Machado é genitor de Sebastiana da Silva Machado, colaboradora da Fundação.

Creia que de sua coragem na edificação do bem ao próximo, continuo haurindo a energia precisa para a renovação de meu próprio ânimo e de seu devotamento à felicidade de todos os nossos entes que-ridos recolho a inspiração necessária para tudo compreender e aproveitar a fim de que se faça o melhor para cada um de nós.

Muito amor ao nosso Jailson.

E com muito carinho e gratidão por toda a sua devoção de companheira, no dia-a-dia de nossas experiências, e pedindo a Jesus recompense a você com multiplicadas bênçãos de luz por todo o seu esforço incessante na garantia de nosso equilíbrio e de nossa tranqüilidade, no trabalho que a Bondade de Deus nos concedeu realizar, deixo para você, nestes fragmentos de papel, todo o calor do meu afeto e de meu reconhecimento com todo o coração do companheiro sempre seu, cada vez mais agradecido.

Docílio

Docílio de Miranda Souza

06.02.81

 

 

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Edvar Santana

 

Goiandira (GO) - 20 de agosto de 1925

Goiânia (GO) - 08 de fevereiro de 1978

Professor Universitário, médico conceituado, Edvar Santana, formado pela Escola de Medicina do Rio de Janeiro em 1951, clinicou no Estado de Goiás, desde 1952 até sua desencarnação.

Em seu currículo respeitável, o Prof. Edvar anota as seguintes atividades, entre outras:

- Desde 1962, professor da Universidade Federal de Goiás.

- Desde 1953, médico da Organização Estadual de Saúde de Goiás.

- Responsável pelo setor de Clínica Médica do Hospital do Pênfigo de Goiânia.

- Médico do Serviço Nacional de Lepra.

- Especialista em Gastroenterologia.

Casado com D. Aída Mattos Santana, pai de dois filhos: Carlos Augusto, economista e Carlos Alberto, administrador de empresas, o Prof. Edvar faleceu aos 52 anos, por ruptura de aneurisma cerebral.

Casal muito unido é natural que após a longa convivência de mais de 25 anos, a separação, já por si difícil, provocasse em D. Aída a angústia compreensível da saudade. E, levada por amigos de Goiânia, D. Aída foi até Chico Xavier. Desse encontro nos fala a esposa do Prof. Edvar:

Devo dizer que em Chico, não encontrei unicamente o fiel instrumento da espiritualidade consoladora, nem, tampouco, apenas o portador de uma missiva confortadora, segura e verídica em todos os detalhes, mas também, a paciência, a humildade e o amor personificado, símbolo de arrimo e amparo a todos os que sofrem.

A grande felicidade que hoje sinto, a resignação que aprendia cultivar, chegaram-me através dos esclarecimentos dessa abençoada Doutrina; mas a certeza, aprova de tudo o que aprendi; veio-me através de uma carta simples, poucas páginas descortinaram-me a realidade sem véus. A morte não existe, a vida, o amor continuam sempre.

 

Mensagem

 

Querida Companheira, Deus nos abençoe.

Aída! E o nome que me ilumina sempre. A esposa e a irmã, o apoio e a bênção.

Não me suponha distante. Desde que me vi na companhia do Papai Francisco José (1), você tem sido a minha idéia constante.

1) Francisco José de Santana, genitor do Dr. Edvar, desencarnado em 1941.

Quisera ter permanecido em nossa felicidade, que realmente sempre nos pareceu um sonho - um sonho bom que a realidade se encarregou de desfazer...

Isso, porém, sucede apenas no plano das composições transitórias da matéria densa. Muito para lá de tudo isso que constitui a paisagem física do mundo, outra vida nos espera, palpitante de beleza e de alegria.

Certamente que me vejo dentro da nova situação, à maneira de um homem transportado sem querer a maravilhoso país, a fim de se iniciar em estudos e tarefas diferentes, mas estranho aos prodígios que o cercam.

Impraticável a felicidade sem você a compartilhar comigo dos caminhos novos, nos quais a sabedoria de Deus se manifesta em mais altas expressões de sabedoria da vida.

Companheira querida, se encontro algum reconforto, ainda é aquele mesmo de ouvi-la, agora através da melodia de nossas lágrimas unidas nas saudades, juntas no mesmo diapasão de conformidade e de esperança na Bondade do Criador que não nos criaria para separar-nos.

Sei quanto esforço lhe custa a separação aparente e louvo a sua decisão de procurar em mais trabalho o esquecimento impossível.

O serviço ao próximo é um dom de Deus que nos balsamiza as feridas do sentimento, conquanto não as cure de vez. Entretanto, ainda é esse o único medicamento suscetível de sustentar-nos as forças, para que nenhum ato de rebeldia, contra as Leis do Senhor, nos venha tisnar a limpidez da fé viva que sempre nos uniu ao respeito para com Deus, em nossas horas de união e de júbilo indestrutíveis.

Por isso, peço-lhe: continue...

Continue com as nossas irmãs que se consagram aos enfermos, notadamente aos nossos companheiros que a doença deforma. A hanseníase será talvez a provação maior na Terra e, por isso mesmo, fortalecer e consolar as criaturas sitiadas no vale das chagas, quase sem remédio, é um ato de amor profundo ao próximo necessitado.

Tanto quanto se me faça possível, segui-la-ei em suas peregrinações de fé e de abnegação.

Aqueles amigos e aquelas irmãs dilapidados no corpo e na alma são agora a nossa nova família. Sou grato à nossa irmã Elba (2) por incentivá-la à execução dessa tarefa de bênçãos ocultas.

2) Elba Consort de Melo Álvares, dedicada militante espírita em Goiânia, juntamente com seu marido, o ilustre Professor Múcio Melo Álvares.

Sei que nossos filhos continuam sendo os nossos amores e não me desinteresso deles. Os nossos dois Carlos são nossas estrelas, tanto quanto a Mãezinha Tereza (3), em nosso recanto interior cercada por meus caros irmãos. No entanto, estamos nós dois numa estrada nova, onde o sofrimento alheio nos socorre o nosso difícil caminho de inquietações, florido de preces e de esperanças.

3) Os filhos do casal, Carlos Alberto e Carlos Augusto Manos Santana.

Tereza Rosa de Jesus, mãe do Dr. Edvar e que faleceu posterior-mente à recepção da mensagem, no dia 14 de janeiro de 1982.

Peço que diga ao nosso Carlos Alberto que estamos confiantes nele, tanto quanto temos os nossos pensamentos em oração pelo êxito de nosso Carlos Augusto, com a família, mas, acima de tudo, desejo que você saiba que prosseguimos de mãos dadas no mesmo caminho de ontem e de sempre.

Aída, trabalhemos pelo bem dos outros. Aí temos o nosso segredo - o segredo da construção de nossas alegrias para o reencontro.

Viva e viva contente por ser útil. Doemos aos companheiros em provação as energias do nosso amor e de nossa alma. Hoje sei que a gente se ama até encontrar o lenho do Cristo para que nosso amor escale a cruz da resignação para atingir a suprema união no Indefinível.

Se essa é a nossa realização de agora, saibamos nós dois efetuá-la de ânimo forte, na certeza de que o Senhor nos vê e nos apóia na jornada para os cimos. Toda subida exige cansaço e suor.

Que saibamos pagar semelhantes tributos, para atingirmos os bens imperecíveis.

Com estes pensamentos de confiança e de amor, aqui termino, com a frase que repeti tantas vezes e que você não pode esquecer:

Aída - você é a criatura mais amada na Terra, porque eu, seu esposo e companheiro, "te amo muito".

Em seus passos, todo o carinho e a imensa gratidão do seu

Edvar

Edvar Santana

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Francisco Eduardo de Oliveira Moraes

 

Barretos (SP) - 26 de novembro de 1958

Barretos (SP) - 31 de agosto de 1980

Filho de Crescendo Moraes e de D. Aida de Oliveira Moraes, Francisco Eduardo, estudante de Engenharia, faleceu, tragado pelas águas do Rio Grande, quando junto com amigos se dedicava a uma pescaria. Contava 21 anos.

Era o primeiro de seis irmãos, sendo os outros, Ana Beatriz, Paulo Fernando, Maria Olívia (Olivinha), Cláudia Regina, e Juiz Henrique, por ele lembrados na mensagem.

Seu pai assim expressou-se a respeito da mensagem mediúnica:

Com a mensagem recebida e posteriores contatos que tivemos com o nosso querido filho, nada mais nos falta para comprovara certeza da continuação da Vida no Além.

Mesmo antes de recebermos a mensagem, as pequenas notícias que o Francisco Eduardo nos enviava, através do Chico, quando de nossas idas a Uberaba, muito nos fortaleceram e fizeram com que eu e meus familiares despertássemos para um novo conceito a respeito da Vida: o de que ela existe aqui e no Plano Espiritual

Gostaria de destacar ainda um pormenor muito significativo:

Numa das entrevistas com Chico Xavier, ele nos disse que no Além, entre alguns familiares que ajudavam Francisco Eduardo em seu refazimento, havia uma senhora de nome Ana.

De momento, não nos lembramos de alguém no círculo familiar com esse nome. Voltando a Barretos, falei com meu pai que a identificou como minha bisavó, há muito falecida, e de quem jamais tivera notícias.

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha Aida e querido Papai Crescencio, peço para me abençoarem.

Por muito se queira parecer homem forte em momentos como este, a verdade é que a gente aparece na condição da criança que se é por dentro.

Vejo a nossa Gilsela, a nossa Olivinha (l) e a tela familiar como que se alonga na direção de Barretos para que me veja ao lado de todos os familiares queridos.

1) Olivinha, irmã, e Gilsela, na época, noiva de Francisco Eduardo.

Pai perdoe-me pelo domingo sem proveito, no qual o passeio sem significação me transportou para a vida diferente em que me encontro.

A vovó Ambrozina e o vovô João Rodrigues da Cunha, (2) aqui comigo, me declaram que não me cabe dizer o domingo sem proveito, porque o dia da desencarnação igualmente pertence a Deus.

2) Avós já desencarnados.

Reajusto o que disse e desejo falar-lhes que o barco cedeu sobre as águas e as águas que tínhamos a idéia de estar dominando acabaram por dominar a mim e ao Tadeu (3), que perdemos as forças.

3) Antonio Ribas Tadeu Freitas Baston, companheiro que faleceu no mesmo acidente.

De momento, lembro-me do Luizinho e do Murilo (4) a chamar-nos com aflição.

4) Amigos que se encontravam com Francisco Eduardo e com Tadeu na pescaria, naquela manhã de 31 de agosto. Ambos salvaram-se do afogamento.

Queridos e bons amigos, como devem ter sofrido por nossa causa.

Desejava, de minha parte responder a eles, mas me reconheci tonto e sem iniciativa...

Sem que eu conseguisse julgar os movimentos que fazia inconscientemente me perdi num sono violento, como se alguém me houvesse ministrado um anestésico irresistível...

Não vi mais detalhe algum.

Despertei num lugar de tratamento sobre vasta mesa, na qual um homem, compreensivelmente um médico para mim, me aplicava certas massagens, qual se me obrigasse a uma ginástica incômoda que não conseguia entender.

Mais tarde, fui informado que se tratava do médico Dr. Urbano de Brito (5), que me auxiliava na volta ao meu estado natural de consciência...

(5) Medico da família já no plano espiritual.

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha Aida, saber que não me achava mais no corpo físico me apavorou o coração, a princípio...

Queria tanto haver ficado, no entanto, o meu avô João, mais tarde acompanhado por meu avô Crescencio, me solicitam compreensão e paciência.

Gilsela, a nossa querida Gilsela, estava em meu coração, como a me pedir, junto da Mamãe para que voltasse...

Confesso que me fiz menino novamente e chorei sem que ninguém me pudesse acalmar...

Agora, mais forte na fé em Deus, venho dizer à querida Gilsela, aqui à minha frente, que se não posso ser o noivo, posso ser o irmão e companheiro que tudo fará para que ela seja feliz.

Diz-me a vovó Ambrozina que não me seria permitido vir até aqui conversar com os queridos pais e com a querida noiva do coração, se ainda estives-se apegado a paixão possessiva.

Compreendo hoje, querida Gilsela, que você não deve cultivar qualquer traço de tristeza improdutiva por minha causa.

Recorde que a vida se renova sempre, outras flores desabrocharão no jardim de nossos sonhos e serei feliz com todas as alegrias que o Céu lhe enviar.

Quanto estiver em minhas mãos cooperarei para que o futuro sorria para você com o lar iluminado de bênçãos de que farei parte em espírito, amando a todos que o seu coração venha a querer bem.

Tantos esportes praticamos no plano físico, a resistência nos remos, a agilidade no futebol, a força no salto, a energia nas corridas a pé; entretanto, agora reconheço que estou aprendendo um esporte mais importante, o esporte da renúncia, no qual devo entender que você é uma valorosa menina de Deus e não propriamente minha.

Peço-lhe não veja em minhas afirmações qualquer falta de amor, é que o amor subiu muito em meu coração e presentemente amo a você com uma visão diferente da vida.

Querida Gilsela, rogo a você viver feliz para auxiliar a todos aqueles que os Céus nos concederam para os caminhos do mundo.

Nossas esperanças cresceram e se transformaram em estrelas que clarearão as nossas estradas ante os dias melhores que virão...

E peço igualmente ao Papai Crescencio e à Mamãe Aida para que vivam sempre alegres por se reconhecerem cada vez mais úteis. Em case não era eu unicamente o filho a requisitar-lhes presença e carinho...

A Olivinha, a Cláudia, a Beatriz, o Paulo e o Luiz Henrique são também filhos e maravilhosos irmãos em nosso amor.

Deus nos auxiliará.

Sei que o amigo Tadeu prossegue amparado, tanto quanto eu, em nossa situação, mas não veio até aqui em minha companhia.

Pais queridos, querida Gilsela e querida Olívia, agora devo terminar.

Perdoem-me, se algo expressei que não devia; ainda não estou tão senhor de mim próprio que possa criticar ou corrigir a mim mesmo, mas saibam que lhes deixo aqui, com as lembranças da vovó Ambrozina, o coração inteirinho do filho e irmão, companheiro e servidor que está aprendendo a orar, rogando a Deus por nossa felicidade e por nossa paz.

Sempre afetuosamente.

 Francisco Eduardo Moraes

10.04.81

 

 

 

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Geraldo Arantes de Souza

 

Rio Verde (GO) - 14 de abril de 1929

Bela Vista de Goiás (GO) - 18 de janeiro de 1980

Geraldo faleceu em seu sítio, localizado em Bela Vista de Goiás, por morte violenta, aos 50 anos de idade.

Casado com Olívia Rodrigues de Souza, pai de cinco filhos: Silcio, Silma, João Cícero, Geraldo e Kênia.

Sobre sua partida e a mensagem que enviou pelo Chico, assim se expressou a esposa:

Em minha primeira visita ao Chico Xavier, em maio de 1980, obtive apenas uma afirmação que em breve receberia uma comunicação do meu Geraldo.

Já em Agosto recebi notícias de que ele estava reconstituindo as próprias forças espirituais, junto de abnegados Benfeitores da Vida Maior

Nesta ocasião, elevei meu pensamento a Jesus e pedi com muita fé que, se fosse possível, queria ir até lá onde estava o Geraldo. Graças a Deus fui levada até o Plano Espiritual e encontrei-me com meu esposo. Dialogamos com muita felicidade e paz, sem, contudo, posteriormente, recordar as palavras que trocamos.

Em janeiro de 1981, recebia mensagem que nos trouxe, a mim e aos nossos filhos, parentes e amigos, um enorme conforto, inclusive eliminando dos nossos corações a dor da separação brusca e inesperada e levando-nos a compreendera Vida Espiritual, retirando dos nossos corações a revolta e a idéia de vingança.

 

Mensagem

 

Querida Olívia, peço a Deus nos abençoe.

Estamos nós dois como quem rema contra a maré, no entanto, acima de nós reina o amor infinito de Deus. E Deus não permitirá que os nossos filhos recebam uma herança de ódio que não acumulamos nos corações.

Ainda não pude efetivamente usufruir o repouso a que aspiro, depois da erradicação de meu pobre espírito do corpo amigo que me servia por tenda de trabalho e tenda de fé.

Em verdade, querida esposa, eu queria ter continuado a viver.

Não supunha que os braços de amigos que estimamos tanto se erguessem contra mim, a ponto de furtar-me a existência.

Nos primeiros instantes, a dor do inesperado me dominou a vida íntima; você e os nossos filhinhos me povoavam os últimos pensamentos.

Chorei à maneira da criança que inutilmente roga pelo regaço materno, mas uma doce sensação de calma me envolveu de todo...

E dormi, conquanto me esforçasse por sustentar-me vigilante e atento, quanto se me fizesse possível.

Ansiava reagir contra aquele torpor que me paralisara os movimentos, no entanto, creio que a perda de minhas forças acentuava o desmaio em que me vi arrasado, de um instante para outro...

Quis rezar, pensar em Deus, suplicar proteção em nosso benefício, contudo, os meus pensamentos me pareciam pássaros a fugir da gaiola de minha própria cabeça...

O sono foi profundo...

Depois, sem que me fosse permitido perceber quanto tempo gastara em semelhante inconsciência, despertei num quarto de hospital.

Minha angústia, em não enxergando a presença de vocês, foi natural...

Gritei por você, por minha mãe.

Quando tudo me parecia silêncio e indiferença nas figuras vestidas de branco que me amparavam, ao modo de enfermeiras prudentes, surgiu o meu pai Joaquim e a minha avó Placidina, (l) solicitando-me calma.

1) Joaquim Elói de Souza, genitor de Geraldo, falecido em 1975. Placidina Maria de Jesus, bisavó de D. Olívia, desencarnada há um século.

O resto pode você adivinhar...

Ouvi seus pedidos de esposa e mãe, nas preces do quarto, encharcadas de lágrimas, implorando a Jesus por meu repouso, no entanto, ao mesmo tempo, escutei as vezes da ira de quantos convidavam seu coração a vingança...

Não seio que mais me doeu nas fibras mais íntimas, se o seu sofrimento de quem se via a sós para solução de tantos problemas ou a tristeza de verificar a revolta reinante em tantos dos nossos corações mais queridos.

Agora que me expliquei quanto pude, rogo ao seu devotamento de esposa e filha, suplicar da mamãe Lázara para que se compadeça de nossos irmãos que não conseguiram compreender a extensão de nossa confiança e de nossa estima.

Amargo seria para nós todos se fosse eu quem houvesse perdido a bússola da razão, convertendo-me no adversário gratuito de pessoas dignas de nosso apreço.

Peço a meus filhos esquecerem os fatos em si.

Não desejo que o Silcio cresça armazenando idéias de ressentimento ou de impulsos outros que fariam dele um coração incompatível com a formação que nós ambos procuramos plasmar para o bem com sinceridade e carinho.

Querida Olívia, rogue aos seus irmãos olvido e desculpas, mas desculpas e olvido que lhes nasçam do peito, diante dos nossos companheiros infelizes.

Não creio que me tivessem atacado em sã consciência.

O delito é uma forma de delírio que precisamos compreender e perdoar, entendendo que o nosso cérebro é igualmente capaz de cair em sombras e alienar-se à frente da realidade.

Continue a pensar com grandeza de coração em nossos imaginários ofensores.

Eles são dignos da bênção de Deus, tanto quanto nós.

E prossiga doando ao Silcio, à Silma, ao Geraldo, ao João Cícero e a nossa Kênia, os sentimentos de amor com os quais precisarão viver com a bênção de Jesus.

Rogo a você dizer à querida Mãezinha Lazara (2) para que me lembre em seu colo quando menino.

2) Lázara Marques Arantes, genitora do Geraldo.

A mamãe me colocava, então, de joelhos e me fazia repetir as palavras santas do "Pai Nosso". Recordo-a afirmando: "e perdoa, Senhor, às nossas dívidas, assim como' nós perdoamos aos nossos devedores".

Agora, querida Olívia, sou eu e o Papai Joaquim, os companheiros que tentamos avivar-lhe a memória a fim de perdoar e esquecer tudo aquilo que possa surgir na estrada da vida, sob o nome do mal.

A vovó Placidina e a vovó Emerenciana (3) me fazem companhia para escrever a você esta carta que devo terminar.

3) Maria Emerenciana Arames, avó, desencarnada há meio século.

Mais uma vez rogo a você recusar todas as propostas de acusação e vingança contra os nossos irmãos sofredores e desorientados.

Basta viver para que uma criatura se redima aos próprios olhos com relação a quaisquer culpas.

E se passei pelo resgate, naturalmente devia...

Por enquanto, não tenho memória suficiente para minudenciar o meu passado de espírito consciente, mas graças a Deus, reconheço que estamos regidos por leis inalienáveis.

A todos os nossos, especialmente à Mãezinha Lázara e aos queridos filhos, as minhas lembranças e você receba neste papel que me reflete o pranto de agradecimento a Jesus pela possibilidade de falar com você, todo o coração do seu esposo e companheiro sempre seu,

 Geraldo Arantes de Souza

23.01.81

 

 

 

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Hamílton dos Santos

 

São Paulo (SP) - 31 de dezembro de 1957  

São Bernardo do Campo novembro de 1977

Aprovado no Vestibular de Engenharia, Hamílton não pôde contudo fazer o curso, em virtude da grave moléstia que o acometeu. Ao desencarnar, estava prestes a completar 20 anos.

Filho de Odilon dos Santos e de Thereza Campanharo dos Santos, era o segundo de três irmãos, Donizetti, o mais velho, e Rosângela.

Após a partida do Hamílton, passeia ir todos os meses a Uberaba, sempre na esperança de receber uma carta do querido filho. Na 14 ° viagem, um ano e três meses depois de sua desencarnação, nosso que-rido filho escreveu-nos, através do Chico.

Meu marido ficou comportadíssimo, foi a coisa mais maravilhosa que a gente teve, pois, recomecei a viver.

 

 

 

Mensagem

 

Mãezinha Thereza, abençoe-me.

Venho com a minha protetora Thereza Genaro (1) que me acolheu por mãe espiritual na vida nova em que me encontro. Ainda não consigo escrever muito.

1) Bisavó materna falecida há meio século em Minas Gerais.

Tenho a impressão de que esta mesa é um telégrafo que ainda não sei manejar. Desejo, no entanto, aproveitar o ensejo para pedir à senhora e ao meu pai Odilon para que me auxiliem ficando menos tristes em se referindo ao meu regresso à nossa casa espiritual.

Peço-lhes para aceitarem os fatos da vida com alegria e fé no poder Divino.

Temos nossa Rosangela e nosso Donizetti precisando tanto de assistência e de orientação, que não me esquivei da obrigação de traçar estas linhas, de maneira a confirmar-lhes que continuo sem alteração.

Perder o corpo quando a pessoa não provoca isso ao meu ver é o mesmo que nos desfazermos de uma capa, seguindo para diante com a mesma identidade.

Ainda não estou versado em muitos assuntos e problemas de comunicação, motivo pelo qual me satisfaço com estas frases, nas quais o meu objetivo principal é rogar-lhes para que vivam.

A existência no mundo é muito importante para o nosso progresso espiritual e estarei confiando em que saberão prosseguir com as nossas tarefas para a frente, na certeza de que a desencarnação não nos separou.

Aí na Terra, parecemos todos com as cartas a caminho do endereço, mas fora do envelope do corpo físico, somos impulsionados para a direção exata em que se acham aqueles aos quais nos reconhecemos vinculados pelo amor que é uma luz eterna nos caminhos da vida.

Mãezinha continue orando por mim. Ainda preciso desse auxílio. A oração me faz lembrar um documento de crédito pelo qual conseguimos encontrar muito auxílio, até que nos firmemos na segurança espiritual com a possibilidade de auxiliar igualmente a outros.

Minhas lembranças a todos os nossos e receba em seu carinho a confiança total de seu filho,

 

Hamilton

Hamilton dos Santos

15.12.78

 

 

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Hélio Manzo Júnior

 

Itatiba (SP) - 09 de abril de 1961

São Paulo (SP) - 23 de outubro de 1982

Filho de Hélio Manzo e Maria de Lourdes Santoro Manzo, casado com Adriana Campos Francischetti Manzo, Hélio faleceu em acidente na Via Anchieta, quando regressava da casa dos sogros, residentes em Santo André, município vizinho da capital.

Dois filhos, Rafael e Gabriela; quando Hélio partiu, Rafael estava com dois anos e meio e a esposa grávida de Gabriela que nasceu dois meses depois da desencarnação do pai.

Cursava o terceiro ano de Prótese, no Instituto Metodista de Ensino Superior, em São Bernardo do Campo, e deixou também os irmãos, Eda, Helides, Helieda, Heliomar e Hedalis.

Após o depoimento de sua genitora, apresentaremos uma das cartas mediúnicas que Hélio enviou, através de Chico Xavier.

 Nós acreditávamos na sobrevivência do Espírito, mas foi muito difícil a separação.

O que as duas mensagens representaram para nós é indescritível significaram tudo, ajudando-nos a continuar vivendo

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha, meu pai e querida Adriana, eis-me de volta, se realmente não tivesse permanecido com vocês em casa.

Impossível afastar-me de todo. O acidente foi aquele tumulto de morte. Um ranger de ferros a se retorcerem e eu assombrado sem a possibilidade de ensaiar qualquer providência, porque me vi parado e inerte, embora o anseio de me locomover.

A mamãe querida, o pai, os irmãos e os filhinhos na cabeça...

Adivinhei num pensamento relampagueante que a morte me abraçava com uma força irremediável e fiquei com a visão do Rafael e da Gabriela na imaginação prestes a desaparecer, segundo julgava.

Não sei se dormi, sei que me vi apagado e inútil. Pensei que não seria possível largar a vida sem qualquer idéia de proteção, quando vi uma jovem ao meu lado, procurando acalmar-me.

Não identifiquei, no entanto, ela se deu pressa em podar-me qualquer receio e me disse que era a Eda (l), a querida irmã que nos deixara tão cedo e da qual somente possuía vagas referências dos pais queridos.

1) Eda Matizo, tia paterna, desencarnada em 1956, com 13 anos.

Agora é outra a vida a me renovar, como se eu pudesse ser renovado com a argila da saudade que me esculpe tristes figurações na cabeça; ainda assim vamos em frente e Deus nos socorrerá.

Querida Adriana, perdoe-me se a deixei quando a nossa felicidade apenas começara a viver. Tenho-a constantemente na memória e espero que da Divina Providência virão os recursos de que precisamos para seguir adiante, sabendo embora que a mãezinha está conosco, que meu pai nos estenderá braços fortes e que os irmãos velarão também por você e por nossos dois anjos de esperança e carinho.

Peço a você e à mamãe não chorarem, chamando por minha presença, com a angústia do amor na ausência que hoje nos reúne. Chamem-me, sim, mas com tranqüilidade para que não me descontrole. Digo isso, porque vê-las chorando me corta a alma por dentro e fico ansioso, querendo vencer o tempo, sem meios para isso.

Tudo melhorará, assim espero. E crescerei nos recursos de auxiliar aos nossos adorados pequeninos. E preciso confiar; no entanto, eu também estou aprendendo a conjugar esse verbo difícil de ser vivido, quando nos reconhecemos nos domínios do inevitável.

Querida Mãezinha, agradeço tudo o que faz por nós quatro, por Adriana, por nossos filhinhos e por mim. A vida é uma coleção de surpresas e, em meio das novidades, devo saber que Deus não se oculta.

Auxilie-me a ser perseverante na certeza dos dias melhores que virão.

Querida Adriana, agradeço a você e aos meus pais nada haverem reclamado contra ninguém. Acidentes são ocorrências para todos. Nem maquinas e nem pedestres conseguem escapar, de vez que a vida nos exige marchar e não podemos imobilizar as manifestações da vida.

O que me aconteceu, já foi visto por milhares de pessoas que também se viram detidas no caminho pela pausa final. Foi melhor o que me sucedeu, porque muito me doeria a cadeira de inércia com a inquietação de não conseguir trabalhar, embora eu saiba de muitos companheiros corajosos que sabem viver felizes nos pequenos tronos da paralisia irremediável.

Estejamos otimistas, conquanto as nossas lágrimas que um dia se transformarão em flores de reencontro. Muitas lembranças para Eda, Helides, Heheda, Heliomar e Hedalis.

A irmãzinha Eda que me faz companhia me faz ponderações sobre horários e aqui termino.

Querida esposa do coração, beije por mim as nossas crianças queridas, muitas lembranças ao meu pai e às irmãs e para a querida Mãezinha o carinho e a gratidão imensa do filho que tanto lhes deve a todos.

Hélio Manzo Junior

09.04.83

 

 

 

 

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Jose Esmelcerei Bernardo

 

Bernardino de Campos (SP) - 15 de maio de 1956

Itanhaém (SP) - 16 de fevereiro de 1978

Filho de Geraldo José Bernardo e Aparecida Bicheri Bernardo, Zezinho, como era chamado, faleceu aos 21 anos em Itanhaém, no litoral paulista.

Cursava o terceiro ano colegial e especializava-se em Programador IBM. Deixou uma irmã, Therezinha Bernardo.

Assim se manifestou o genitor, a respeito de sua mensagem:

Ao recebê-la, não dormimos a noite toda, chorando, rindo, ao mesmo tempo. Trouxe muita paz em nossas vidas.

Não fosse a mensagem, não seio que iria acontecer, pois, nosso sofrimento era muito grande.

 

Mensagem

 

 Querida Mãezinha Aparecida, peço a sua bênção de paz e amor.

Venho até aqui de modo imprevisto. Aliás, trouxeram-me.

A vovó Júlia e o vovô Bicheri (l) me disseram que isto era necessário, a fim de pedir-lhes para considerar-me ausente e não morto.

1) Júlia Teófila da Conceição e Luiz Bicheri, já falecidos.

Mamãe, as suas lágrimas são estrelas que me iluminam; entretanto, quando essas estrelas refletem a inconformação e desespero, as luzes que se derramam delas me queimam o coração.

Mãe querida, não pense que Deus nos abandonou, estamos juntos. Tantas semanas já se desdobraram sobre a ocorrência de Itanhaém que estou saudoso, mas, de algum modo pacificado, pela fé viva no Poder Maior que nos governa.

Não foi um afogamento que me afastou do corpo. O coração parou repentinamente, lembrando-me um relógio do qual a corda ficou esquecida.

Colapso aparece também na gente jovem, e por que a gente jovem não pensa em coronárias doentes, o desenlace de que me vi objeto se transformou para nós todos num acontecimento infeliz de praia.

As águas, porém, não tomaram a mínima interferência em meu caso, caí sem forças para não mais erguer-me, senão em outro lugar multo diferente, depois de breve travessia de um pesadelo em que me sabia inconsciente.

A Senhora e meu pai com a nossa Valquíria (2) comandaram meus pensamentos, quando me identifiquei por aqui e não preciso descrever o que para nós é passado, e passado que se deve esquecer.

Venho particularmente rogar-lhe tranqüilidade e conformação, compreendendo que para as mães não existem filhos crescidos ou transformados. Para todas elas somos as crianças queridas que não se lhes afastam do coração...

2) Sua noiva.

Entendo mãezinha, tudo o que já vencemos em matéria de angústia e de indagação, mas peço-lhe retomar a sua fé em Deus. Tão simples e tão viva como no tempo que eu, menino ainda, aprendia em seu colo a pronunciar o nome bendito de Deus.

Reconheço que no íntimo nada de nós se modificara, mas, precisamos recolher as telas de nossa felicidade no aposento cenado de nossa união mais profunda e esperar pelo tempo em que consigamos alinhar de novo os quadros de nossa perfeita alegria.

Se posso rogar-lhe alguma coisa, além do muito que sempre recebi de seu carinho, peço-lhe não conservar recordações minhas, a não ser os nossos retratos, porque os retratos em qualquer ocasião se fazem testemunha de nossas alterações.

Mamãe querida, ore com fervor, com o fervor que a perda de um ente amado não pode empalidecer.

Sinto-me vivo ao seu lado, auxiliando-a a reformar-se em sua paz.

Querida mãezinha, a Senhora e meu pai possuem outros filhos que considero como irmãos. Auxiliem quanto possível aos rapazes menos favorecidos e creiam que me encontro neles todos.

A bondade iluminada é uma oficina de bênçãos inesgotáveis, pelas quais a criatura estará sempre recebendo, quando julgar doar de si o melhor de que dispõe.

Felizmente vou melhor. As saudades não faltam, mas vejo por aí tantas saudades atiradas na penúria que me animo a pedir-lhe conservarmos as nossas, na certeza da vitória com o reencontro numa vida maior e mais feliz.

Se me fosse possível, estimaria entretecer novas considerações em derredor de nossos assuntos, mas devo terminar.

Nossa querida Valquíria está em meus pensamentos, e pedindo a Jesus faça descer sobre o seu coração querido e sobre o meu querido papai uma chuva de rosas sem espinhos, em que o perfume reine sobre os nossos caminhos para sempre, peço-lhe receber a alma toda de seu filho, sempre mais seu,

José Esmelcerei Bernardo

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Luiz Alli Fayrdin

 

São Paulo (SP) - 17 de fevereiro de 1959

Rio de Janeiro (RJ) - 02 de janeiro de 1977

 Terceiro filho do casal Alli Fayrdin e Nair Fayrdin, Luizinho dividia o convívio familiar com as irmãs, Fátima e Sônia.

Aos seis meses de idade, em função de quadro infeccioso, surgiu-lhe como decorrência uma limitação motora, com severo prejuízo à deambulação, tendo com ela convivido até sua desencarnação, o que fez com grande estoicismo, evidenciando sua personalidade firme, seu espírito alegre e descontraído, cooperando com sua extraordinária figura humana para que o lar dos Fayrdin se constituísse num pouso de paz e harmonia.

Aos 15 de idade, submeteu-se a cirurgia neurológica, na esperança de que as dificuldades motoras fossem atenuadas, mas, desde então, complicações pós-operatórias, que exigiram mais duas intervenções, foram desfigurando a saúde de Luiz que passou por difícil calvário até sua libertação do corpo físico que ocorreu um mês antes de seus 18 anos, na Casa de Saúde São Sebastião, no Rio de Janeiro.

No rastro da saudade do filho extremoso e do irmão tão dedicado, ficaram a dor e a esperança que a irmã Sônia descreve com palavras candentes em nome dos pais e de Fátima.

Após o depoimento de Sônia Fayrdin, das inúmeras mensagens do Luizinho psicografadas pelo Chico, vamos apresentar a primeira, recebida dois anos e meio após sua partida.

Os dias que se seguiram foram de agonia e desespero arrastando-se lentamente. De concreto, havia a falta do ente querido que era o equilíbrio de toda a família.

Chegou-nos às mãos um exemplar do livro JOVENS NO ALEM e, através de sua leitura, nasceu o anseio do reencontro com Luizinho.

Muitas viagens foram feitas a Uberaba, na expectativa de que através de Chico Xavier o Luizinho se manifestasse, até que em 16 de junho de 1979 aconteceu o primeiro e maravilhoso contato, com a revelação de fatos de que somente a família tinha conhecimento, na clara demonstração de que a vida continua...

O amor transcendeu a existência terrena, mantendo unidos pelo coração o filho e irmão querido com sua família. Mensagens sucederam-se com o correr do tempo e pudemos trocara dor pela saudade, compreendendo, afinal, que o Luizinho não morreu, tendo, apenas, se libertado das limitações que lhe impunha o corpo material.

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha, estou feliz, pedindo a sua bênção.

Vejo a sua presença com a nossa querida Zizi (l) e me sinto esfuziante de alegria ao traçar-lhes estas notícias.

1) Apelido carinhoso da irmã Sonia.

Sou trazido até aqui por amigos dedicados. Quem são? De nomes terrestres não sei, porque não pude reconhecê-los.

Para mim, agora, chamam-se tia Maria, tio Joaquim e irmão José (2), no entanto, compreendo que são meus amigos e estou agradecido.

2) Maria, Joaquim e José - avós, Maria Ferreira da Silva, Joaquim Ferreira da Silva e José Andrezuka, desencarnados respectivamente em 1976, 1930 e 1959.

Noto que a minha recuperação está seguindo, gradativamente. Ainda não posso agüentar muitos pensamentos de uma só vez; preciso disciplinar as minhas próprias idéias e traduzi-las em palavras e frases.

Creio, por isso, não me permitem por enquanto, muitos exercícios de memória. Posso, no entanto, participar que meu corpo adquiriu a harmonia que eu sonhava, meus pés estão perfeitos, meus braços bem postos eminha voz está fácil, tão fácil, como não poderia imaginar acontecesse.

Tenho a felicidade de contemplar os horizontes novos e viajar sem dificuldade, conquanto acompanhando instrutores que nos transmitem novos ensinamentos.

Sinto saudades, muitas saudades, mas peço a você, querida Mãezinha, tanto quanto rogo às irmãs queridas, me perdoarem se digo que me vejo melhor aqui, onde os meus movimentos se libertaram.

Às vezes, penso que morei num casulo trancado e, depois, consegui sair dele, numa forma diferente, na qual me reconheço mais tranqüilo e mais leve.

Agradeço, Mãezinha, por todo o amor que a sua dedicação me proporcionou. Sei que pensam em mim também, nossa união era e é ainda completa. Minhas namoradas foram três: você, Mamãe, e as irmãs queridas. (3)

3) Quando encarnado, assim Luizinho se expressava, com relação à genitora e às irmãs.

Conhecia o mundo pelo carinho que me doavam e aprendi na escola de paz e amor em que me receberam.

Hoje, em preces, rogo aos Mensageiros de Deus para que eu tenha recursos a fim de retribuir. Logo que as melhoras de meu mundo de expressão estiverem consolidadas, estou na certeza de que vou lhes ser útil, terei então os meios de trabalhar e cooperar na solução dos problemas de casa, como sempre desejei.

Ouço as preces com que me recordam e agradeço. Nossas saudades são feitas de lágrimas em que brilham os seus sentimentos, Mamãe querida, e, por isso, nelas encontro maior claridade para iluminar-me por dentro.

Estou feliz com a possibilidade de entregar-lhes estas notícias do coração. Ainda não posso fazer muitas operações mentais, porque os amigos aqui me recomendam calma e paciência para reformar-me espiritualmente como devo; por esta razão, ao escrever-lhes com limitações da memória, fico a imaginar que, sem saber, aí na Terra, temos em nós o pensamento fácil e ativo como sendo certa mágica que ninguém define com segurança.

Espero que um dia, lhes possa falar com desembaraço; hoje é só um pedaço do coração em forma de letras.

Receba querida Mãezinha e querida Zizi, com todos os nossos, muitos abraços e beijos do filho muito agradecido e irmão de sempre.

Luizinho

16.06.79

 

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Marcel Jivago de Faria França

 

Belo Horizonte (MG) - 06 de maio de 1972

Goiânia (GO) - 16 de dezembro de 1982

Filho de Romualdo França e Idéa de Faria França, Marcel Jivago faleceu em decorrência do mesmo acidente com veículo escolar, ocorrido na capital goiana, a 27 de outubro de 1982 e que levou de nosso convívio a Paulinha, cuja mensagem também apresentamos neste livro.

Tinha 10 anos completos e deixou três irmãos, Romêne, Bethina e Túlio. Outro irmão, José Edgard falecera em 1973, aos 14 anos.

Senti Deus reinando novamente dentro de mim. A mensagem passou a representar o testemunho do "Amor de Deus" e da "Vida de meus dois Filhos': Agora sentimos que estamos separados apenas pela matéria.

Tenho o original em casa e uma cópia em minha mesa de trabalho. Nos dias em que a saudade se faz insuportável, recorro a ela como a um analgésico.

Para o pai, irmãos e familiares, a mensagem foi recebida com o mesmo carinho.

Membros da família e amigos diziam que esse falho era a menina dos olhos do pai, tamanha a afinidade que os unia. Quando regressamos de Uberaba com a mensagem, meu marido disse que Deus havia dobrado seus joelhos.

Abençoado Chico Xavier. Mensageiro de Deus entre Mães e Filhos desencarnados. Remédio de nossas dores. Exemplo de renúncia, humildade e amor.

 

Mensagem

 

Querida mãezinha Déa e querido papai, estou aqui, com o tio José Barbosa e com a vovó Deolinda (1) para dizer que vou indo bem.

1) José Barbosa de Faria e Deolinda de Faria, já desencarnados.

No começo, o estrondo das máquinas me envolveu a cabeça e ignoro quantos dias estive numa espécie de sono no qual não conseguia mover-me, no entanto, ouvia tudo o que se falava junto de mim.

Queria saber alguma notícia do acontecido, entrar em contato com algum colega para saber precisamente que desastre fora aquele em que os meus pensamentos pareciam arrebentados.

Foi um conflito muito grande querer falar sem voz e andar sem apoio. Sentia-me estirado por cima de algum amparo que não compreendia...

Tempo enorme estive assim, como quem caíra em algum despenhadeiro de que não podia me afastar, até que um momento veio em que, através de uma nuvem ou de alguma neblina que me pareceu uma nuvem, vi um rosto risonho, irradiando uma paz que me acalmava.

Notei que os meus pensamentos se arrancavam do lugar em que estava detido e concentrando a minha atenção na figura que enxergava, escutei distintamente um chamado e uma intimação ao mesmo tempo:

"Venha e levante-se, Marcel. Agora chega de esperar, ignorando o que está acontecendo. Sou a sua avó Deolinda e, por isso mesmo, de algum modo, posso também ser outra mãe para você. A nossa Idéa e o nosso Romualdo não se oporão. Eles sabem que você já sofreu bastante e precisa descansar..."

Mamãe, a lembrança de casa me dominou e chorei. Estava entre duas forças, uma que me prendia, outra que me libertava....

A senhora e meu pai, o Túlio, a Romêne e a Bethina, os irmãos queridos me seguravam em pensamento, mas a energia que me retirava muito vagarosamente do lugar em que me achava, venceu todas as minhas vacilações...

Dormi nos braços protetores da vó Deolinda, à maneira de um passarinho que houvesse sofrido muito, depois de apedrejado, e encontrava, de novo, o ninho em que poderia repousar...

Despertei não sei após quanto tempo, e não foi difícil para mim conversar com o avô Romualdo (2), com a vovó Deolinda e com o irmão José Edgard que eu não conhecia.

2) Romualdo França, falecido em 1917.

Não conhecia a ninguém mas era conhecido por eles e senti-me agradecido pelo bem que me estenderam.

Hoje, a vovó Deolinda me disse que a senhora estava com muita tristeza e muito receio de passar o próximo Dia das Mães sem nós todos juntos e me recomendou viesse até aqui para dizer ao seu coração que desejo ao seu carinho um Dia das Mães muito feliz.

Mamãe, não me acredite longe, porque, à medida que os dias se seguem uns aos outros, estou mais forte e posso com mais facilidade ir revê-los a todos.

Tenho visto a Paulinha e ambos conversamos sobre as novidades que nos aguardavam naquele dia em que havíamos comentado o Natal que se aproximava.

Queridos pais, sei que voltarei à escola daqui e prosseguirei estudando. Não posso ser fraco e nem rebelde. Meu pai sempre nos ensinou que a vida nos pede coragem com fé em Deus e que não devemos chorar demonstrando vacilação ou fraqueza.

Estou escrevendo, como se estivesse fazendo os meus exercícios da escola, mas hoje eu queria que Deus iluminasse o que escrevo para que os pais queridos se sintam contentes como filho que foi remanejado de situação para continuar aprendendo...

Agradeço todos os recursos que me enviam e ofereço à Mãezinha Déa as minhas flores pelo Dia das Mães.

Note, Mamãe, que estão todas orvalhadas. São rosas sem espinhos do meu amor e do meu reconhecimento, que lhe alcançarão a alma querida pelo perfume que exalam, já que não posso tomá-las visíveis...

Pai querido, com os meus irmãos, receba o meu carinho de sempre e a querida Mamãe Déa fique com todo o meu coração de filho sempre agradecido, sempre o

Marcel

Marcel Jivago de Faria França

29.04.83

 

 

 

 

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Maurício de Lima Basso

 

Tanabi (SP) - 10 de agosto de 1951

Catanduva (SP) - 05 de dezembro de 1972

Maurício desprendeu-se do Plano Físico, por acidente rodoviário, aos 21 anos.

Filho de Tranquilo Basso e de Anísia Lima Basso, partilhava o ambiente familiar com os seguintes ir-mãos: Maristela, Mariângela, Marícia e Marcos.

A época de sua desencarnação, Maurício estudava e trabalhava na capital paulista.

A seguir, antes da mensagem, publicamos o depoimento do genitor de Maurício.

A emoção, as lagrimas, foram tão grandes que eu não pude dizer nada, emudeci.

Agora relembrando esse quadro abençoado, ainda não me contenho e choro de emoção.

A minha esposa, que ia ao túmulo do Maurício diariamente levar flores e chorar, achando que o mundo acabara para ela, após a mensagem conformou-se, resignada, e ama a vida novamente.

 

Mensagem

 

Papai, ao senhor e mamãe estas palavras.

.Começo, rogando me abençoe, amparando-me com as vibrações da paciência e da paz.

Papai, eu sei que a sua presença é um apelo. O senhor pede notícias, as notícias de seu filho. E, de muitos dias, escuto os seus pensamentos, formulando a idéia de buscar a esperança que tento lhes transmitir.

Acompanhei a sua viagem até aqui. E tenho seguido os seus comentários com os amigos, quanto às notícias de pessoas queridas em outro mundo.

E o senhor e mãezinha pensam e repensam, buscando o filho...

Como quisera exprimir-me de modo a lhes arrancar todas as dúvidas, entretanto, se esta for lida por seu coração mais do que por seus olhos, verá com mãezinha que o seu filho está pedindo socorro.

Um ano e meio com tantos dias de sobrecarga e estou na mesma, sem forças e sem recursos de refazer-me, porque todas as minhas energias são gastas experimentando achar em mim os recursos de falar-lhes.

Melhoro e restauro-me, de leve, precisando mais forças para consolidar-me de pé, mas quando isto acontece, ouço-lhes os chamados em casa, nas preces, nas lembranças, nos apontamentos domésticos e, até mesmo, naquele retângulo de paz em que o corpo se transformou para auxiliar-me a libertação...

Venho, por isso, rogar ao senhor e à mamãe não chorarem mais assim, com tanto peso no coração. Deus não erra e se a morte não foi resultado de rebeldia de nossa parte, da rebeldia em que sempre erramos tanto, a morte vem das leis de Deus.

Não me suponham distante, inacessível, indiferente ou tão renovado que me esqueça do lar. Seria preciso arrasar o meu coração para que eu fosse outro. Estou vivo, meu pai, e peço a sua conformação.

Continuarei estudando aqui e realizarei o seu ideal. Trabalharei, também, para ser digno do amor que o senhor e mãezinha me puseram no espírito.

Ajudem-me, para que eu possa ajudá-los. Não me recordem caído na estrada ou naqueles gemidos quando me despedia da Terra no hospital de Catanduva.

Estou melhor, quase bom mesmo, se não estivesse encharcado de lágrimas. Digo assim, papai, porque quando choram fitando o meu retrato ou recompondo os meus objetos não consigo estancar o pranto que me verte do peito, complicando as melhoras que obtenho e perco, que consigo e destruo, que levanto e atiro no chão da inutilidade.

Aí em casa, os meus queridos se afligem por mim e aqui me arrebento por eles, querendo comunicar-lhes o meu novo modo de ser com absoluta impossibilidade para fazer isso.

Vovô Caetano (l) me trouxe. Ele tem muitos amigos da nossa família Basso que nos auxiliam. Ele também lhes pede paciência e serenidade.

1) Caetano Basso, avô paterno.

Naquela manhã de Finados, logo após a meia noite, quase que já me sentia em casa. O companheiro e eu conversávamos sobre os dias feriados juntos que nos possibilitariam remover saudades e descansar a cabeça longe de muitos livros.

Embora aqueles trinta e três dias no abençoado hospital de Catanduva, até hoje não sei o que sucedeu. Tudo se verificou de improviso e ainda não posso deter-me em muitas recordações, porque, se o faço, noto o cérebro alterado como se estivesse com a cabeça rodopiando. E preciso repousar para reviver. Tanto venho aprendendo aqui.

Alguns amigos julgaram que nós no carro estivéssemos abusando no trânsito ou menos competentes para guiar, com sentidos talvez alterados por alguma droga qualquer. Mas isso não é verdade. Estávamos claramente lúcidos e seguros de nós mesmos e, por isso, rogo-lhes confiança.

Não sei se foi a noite que houvesse atrapalhado a nossa visão ou a visão do motorista que desconheço, mas posso dizer, pelo que vou aprendendo aqui, que as Leis de Deus se cumpriram.

Nada temos para reclamar e nem nos será lícito acusar ninguém.

Papai, ao senhor e à mãezinha rogo a paz de que necessito. Pensem no Marcos (2) que aí ficou em meu lugar e pensemos nos outros que sofrem muito mais do que nós.

2) Marcos, irmão caçula.

Vivam meus queridos pais. Vivam para fazer o bem. Quando os seus recursos estiverem amparando outros rapazes, podem crer, o senhor e mamãe, que estão ajudando a mim.

Hoje tenho sede de mais fraternidade e mais vida. Ajudem-me, auxiliando aqueles que puderem amparar.

Abracem o Marcos por mim e agradeça a nossa Adélia (3) as orações com que me auxiliou e ainda auxilia.

3) Adélia, noiva do Maurício, quando de sua desencarnação.

Daqui faço votos para que ela seja feliz. Nada de tristeza ou desolamento. O amor vence a morte e o amor é uma luz que segura e ilumina, alimenta e abençoa a todos os que se amam.

Adélia é sempre a estrela de bondade e compreensão que conhecemos e Jesus construirá para ela o céu em que a nossa querida companheira merece brilhar.

Papai, como vovô Caetano e nossa querida Tia vou me despedir...(4)

4) Tranquila Basso, já falecida há muito tempo. Chico citou-lhe o nome no rápido contato que tivera com o pai do Maurício, antes da recepção da mensagem.

Queria escrever-lhe mais, muito mais, entretanto, nossos benfeitores que me apóiam aqui afirmam que é preciso terminar.

Agradeça aos nossos médicos em Catanduva e em nossa querida terra de Tanabi quanto fizeram por mim. Eles fizeram tudo para me recolocarem de pé, mas o tempo era mesmo de mudança e mudei-me...

Papai, meu querido papai, não chorem mais. Peço-lhes, se as lágrimas aparecerem, que elas sejam de alegria, por estarmos juntos e por sabermos que não existe a morte como a imaginávamos.

Não conservem tantas lembranças minhas. Aquilo que tiver utilidade para os outros, que os outros as desfrutem. Estou quase feliz pois estou confiante agora.

Vovô lhe pede:

- Meu filho, meu filho, você e a nossa Anísia não chorem mais. Tenhamos fé em Deus.

E eu, querido papai, beijando-lhes as mãos, digo-lhes ate logo, com uma prece a Deus para que os recompense ao senhor e à minha querida mãezinha, aos quais devo tudo o que sou e tudo o que posso pensar de bom.

Muita saudade, muito carinho no abraço de seu filho reconhecido,

Maurício

25.01.74

 

 

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Meire Adriana Agnello

 

Campinas (SP) - 29 de Novembro de 1963

Campinas (SP) - 25 de março de 1982

Filha de Domingos Agnello, genitor que perdera aos cinco anos de idade, e de Adair Fabrini Jaconi, Meirinha ganhou um pai adotivo, Douglas Jaconi, a quem considerava pai pelo coração.

Juntamente com a irmã de criação, Maria de Fátima, Meire Adriana desencarnou em acidente de moto, aos 18 anos; Maria de Fátima contava 14.

Era aluna da oitava série do Colégio Orozimbo Maia em Campinas, e, além de Maria de Fátima, irmã adotiva, compartilhavam-lhe o ambiente doméstico, os seguintes irmãos: Marcos Alberto, Márcia Aladir, Mércia Anair, Douglas Júnior e Mariela Adair.

Após a partida de Meirinha só nos restava a esperança de um dia poder chegar até Chio Xavier, pois, ele representava para nós um bálsamo consolador.

Após recados dos Benfeitores a respeito de minha filha, finalmente a 13 de novembro de 1982, tive a felicidade (que felicidade!) de recebera tão esperada comunicação da Meire.

Que alegria, ficamos mais fortes, mais esperançosos, mais certos de que a vida realmente continua, e de que ela, Meirinha, está sempre ao nosso lado.

 

Mensagem

 

Querida mãezinha Adair, estou a reuni-la com o meu pai pelo coração, num abraço que a saudade domina.

As dificuldades para sua filha e para a nossa Fátima, a outra filha que Deus lhe deu, já passaram.

Mãe entendemos tudo. Quando a máquina enorme nos pareceu insegura, ameaçando-nos, fizemos força para ganhar distância, mas era tarde.

Fomos atiradas cada uma de nós por sua vez, a grande distância, mas no íntimo estávamos conscientes de que a ocorrência não fora premeditada.

Instintivamente, sabíamos que o motorista fizera o possível para salvaguardar-nos, mas quem pode no mundo prever o inevitável?

Aquilo tudo deveria ser o que foi. Hoje, sabemos que certas leis funcionam sem que lhes conheçamos o mecanismo.

E quando acordei em outro lar, em cuja intimidade Fátima e eu encontramos a bondade de vó Emilia e do nosso querido Alberto, além da proteção de meu pai Domingos (l), fiquei a pensar nas borboletas que o meu sapato esmagava sem querer, em minhas caminhadas, com o peso do meu corpo.

1) Emilia Jacometti Fachinelli, bisavó materna, desencarnada em 1947, Alberto Fabrini, avô materno, falecido em 1981 e Domingos Agnello, pai da Meirinha que faleceu quando ela tinha cinco anos.

Quantas vezes isso aconteceu comigo, não sei. As companheiras aladas se curvavam diante de mim, com humildade, como se esperassem a minha compreensão, a fim de poupá-las e quando menos refletia nisso, eis que o meu pé calçado as deixava sem vida.

O ônibus ou a máquina que nos apanhou de assalto, atirando-nos para a morte, não seria um sapato da vida amassando conosco, as duas irmãs, semelhantes a borboletas, aguardando a preservação que não pôde vir?

Agora com mais calma posso formular estes raciocínios e vir até aqui em companhia da vó Emilia pedir-lhe resignação e valor suficientes para agüentar sem reclamações o que aconteceu.

A verdade, Mamãe, é que estamos vivendo de outra forma.

A aceitação do acontecimento, a passagem pelos tratamentos difíceis não nos vieram espontaneamente; choramos e queríamos gritar por aquilo que acreditávamos fosse nosso direito de viver como queríamos; no entanto, os diálogos da vovó Emilia foram seguros.

Passamos a perceber que estávamos armadas de boas notas.

Enquanto tanta gente fere os pés descalços nos espinhos das estradas, reconhecemos que estávamos a procura de conhecimentos superiores de escola, quando há tantas pessoas que morrem suspirando pelo alfabeto e hoje posso dizer-lhes que estamos conformadas no bom sentido, resignadas para entendermos a vida com mais altura de visão e dispostas a esforçar-nos para noves desenvolvimentos aqui.

Por esta razão, rogo-lhe serenidade. Graças a Deus você foi e será sempre valorosa e podemos aguardar de suas atitudes a fé nas leis do Supremo Pai, sem a qual a pessoa na Terra estará sempre insegura e abatida.

Por favor, desejamos rogar a sua proteção para que ninguém se faça acusador de alguém e esperamos que o acidente fique na coleção das experiências que surgem na Existência mais para serem esquecidas do que para nos serem úteis.

E não deixe a tristeza corroer os seus pensamentos, lembre-se dos outros filhos que ficaram, Marcos, Márcia, Mércia, Martela e o nosso querido Douglas estão aí reclamando os seus carinhos e a sua vigilância de Mãe.

Recorde-nos em suas preces, porque isto nos faz muito bem, mas não permita que alguém nos considere vítimas, porque não nos falta amparo da Providência Divina.

Chorar a gente sempre encontra esse ou aquele motivo para lágrimas, no entanto, se contarmos as nossas alegrias e os nossos sorrisos na vida, as lágrimas deixam de existir.

Mãezinha, não posso ser mais explícita. Se cartas na Terra devem ser curtas para não furtarem tempo, imagine como devem ser resumidas as notícias que se transmitem de um mundo para outro.

Fiquemos concentradas no Amor que é o nosso e entreguemo-nos à Bondade Infinita dos Céus.

A nossa Fátima virá igualmente um dia para escrever-lhes o que sente e pensa em nossa nova situação.

E, confiando em seu equilíbrio e em seu entendimento, com lembranças aos irmãos todos e um beijo em nosso Douglas, envolvo o meu pai pelo coração e você mesma com todo o meu carinho e reconhecimento.

E, peço-lhe crer na presença constante e na afeição sem limites da sua filha, sempre mais sua filha do coração.

Meirinha

Meire Adriana Agnelid

13.11.82

 

 

 

 

 

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Paula Opípari Ramos

 

São Paulo (SP) - 31 de julho de 1974

Goiânia (GO) - 30 de Outubro de 1982

Filha de Sílvio de Paula Ramos e Sônia Marízia Opípari Ramos, Paulinha contava oito anos, quando faleceu devido a acidente ocorrido com um veículo escolar, no dia 27 de outubro de 1982. No mesmo acidente, desencarnou outra criança, o Marcel, também co-autor deste livro.

Princesa do lar, Paulinha dividia o carinho dos pais com os irmãos, Fábio e Sílvia.

Três meses e 11 dias após sua partida, nossa Paulinha já nos dava seu recado! Pessoas presentes à reunião, e que sabiam de nosso problema, também se surpreenderam. Foi uma mistura de surpresa, susto e expectativa. Ali; de pé ao lado do Chico, ouvimos atentamente palavra por palavra.

Diante da mensagem de nossa filha, sentimos uma ternura imensa por tudo aquilo que estávamos ouvindo, com muito carinho, muito enlevo, muito amor; comovidos, também sentimos não poder estar junto dela, cercando-a de todo o apoio, segurança, amor e carinho de que necessitasse, e que tínhamos de sobra.

Comoveu-nos, principalmente, o trecho da mensagem em que a Paula pedia para voltar a seus pais e a resposta de sua bisavó dizendo que a saudade, para ela, começara assim tão cedo. Todavia, ficamos mais confortados pelo conteúdo que sua mensagem nos trouxe, mostrando que é um espírito evoluído e procurando adaptar-se à nova vida.

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha, peço a sua bênção. Estou aqui, sob a proteção da vovó Carmela (l).

1) Carmela Consentino Opípari, bisavó materna, desencarnada em 1968.

Sei que você, Mãezinha, está com a nossa estimada amiga Dona Idéa, procurando notícias.

Estou muito bem, mas nesse "muito bem" estão incluídas as muitas saudades de seu carinho, do papai Sílvio, do Fábio, da Sílvia e de todos os nossos corações queridos.

Mamãe, eu não sofri com o toque do carro que bateu contra nós. Tive um desmaio e, por muito que eu quisesse permanecer acordada, uma força maior do que os meus impulsos me fez cair.

Assim penso, porque ouvi muita gente falando ao mesmo tempo, sem que eu pudesse entender o que se dizia, até que o desmaio se fez desmaio mesmo e perdi a noção do que estivesse acontecendo.

Quando despertei, não sei como, tudo estava diferente. Uma senhora me conservava no colo, qual se eu fosse uma criança dela mesma.

     Essa protetora, pois logo senti que ela me defendia e guardava de encontro ao peito, me comunicou ser a vovó Camada, cujos traços trazia eu na lembrança pelo que se dizia em nossa casa.

Pedi para voltar a meus pais, entretanto, minha querida protetora me mostrou os olhos repletos de lágrimas e me disse:

"Filha, a saudade começou para você assim tão cedo!"

Parecia-me que ela também sentia muita falta de nossa família e calei-me.

Pouco a pouco, fui assimilando o conhecimento de minha nova situação. Fora transferida de residência e de vida.

Eu não podia ser ingrata com quem me acolhera com tanto amor e deixei que ela própria resolvesse por mim qualquer desejo que me viesse à imaginação.

Foi assim que vim a saber como choravam em nossa casa e venho hoje pedir ao seu carinho para entregar-me à vontade de Deus.

Você, mamãe, precisa viver com saúde e alegria. Recorde meu pai, o Fábio e a Sílvia que tanto dependem de sua paz e esteja convencida de que a sua filha, agora em outro modo de ser, continua sendo a sua menina agradecida procurando obedecer a Deus para ser feliz.

A vovó Carmela nos protege a todos e as nossas lembranças serão bênçãos, desde que aceitemos os desígnios de Deus, como se faz preciso.

Sabendo que a nossa amiga Dona Idéa (2) deseja obter notícias dos parentes queridos, a vovó Carmela trouxe conosco o jovem José Edgard que comunica à nossa amiga que o Marcel Divago está melhorando, mas ainda necessita dos pensamentos de paz e esperança que a família dele lhe possa enviar.

2) Idéa de Faria França, genitora do Marcel Jivago que faleceu no mesmo acidente que vitimou a Paulinha. D. Idéa se encontrava em Uberaba, na reunião, juntamente com os pais da Paulinha e com seu marido, Romualdo França.

José Edgard filho do casal Idéa-Romualdo França, desencarnou aos 14 de idade, em 1973 e, segundo, nos diz a Paulinha, cuida do irmãozinho Marcel Jivago, no Plano Espiritual.

Mãezinha Sônia, agora, não posso escrever mais. Ainda estou muito limitada e o nosso reencontro aqui me emociona de modo que não sei descrever.

Mas é uma felicidade feita de lágrimas. Não se aflijam por isso.

Muito carinho ao papai Sílvio e a meus irmãos.

E para a senhora, que hoje estou tratando por você para ficar mais perto do seu coração, todo o amor envolvido de muitas saudades e agradecimentos, deixo aqui tudo o que possa representar a gratidão e a ternura de sua filha.

Paula

Paula Opípari Ramos

11.02.83

 

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Paulo Augusto Signore

 

São Paulo (SP) - 26 de novembro de 1955

Praia Grande (SP) - 16 de janeiro de 1977

Filho de Orlando Signore e de Maria de Lourdes Signore, dois irmãos, Carlos Augusto Signore e Regina Signore Zacanini, Paulo Augusto foi colhido nas areias da praia por um raio fulminante.

Técnico em Contabilidade, preparava-se para o Vestibular de Economia.

Paulinho trabalhava com o genitor de outro jovem autor deste livro, o Hélio Manzo júnior de quem era muito amigo.

A mensagem do Paulinho foi recebida seis anos e meio após sua desencarnação. Após tanto tempo, era como se eu recebesse uma carta de outro País, foi uma bênção de Deus.

Jamais poderia imaginar que fosse receber algo tão belo.

 

Mensagem

 

Querida Mãezinha Lourdes, com o meu pai Orlando, receba os meus melhores sentimentos de carinho e gratidão.

Mãezinha Lourdes, isso foi há tanto tempo e ao vê-la aqui ao meu lado tudo parece haver acontecido ontem. Estou a ouvi-la convocando a gente para o almoço.

O céu está levemente nublado. A praia é um ninho de bênçãos. O mar está lindo, assemelhando-se a um grande espelho móvel. Os companheiros e eu brincávamos com a bola e pedi em voz alta para que o almoço me esperasses.(1)

1) Realmente, conta-nos sua genitora, Paulinho fora chamado para o almoço pouco antes do acidente que o vitimou.

De repente, lembro-me com segurança, fomos surpreendidos pelo clarão de um relâmpago e com o clarão surgiu um chicote de fogo que nos fulminou os quatro.

Onde o tempo para raciocinar? Impossível. Se houve tumulto ou gritaria, de nada me recordo, porque tombei inconsciente.

Ignoro quanto tempo despendi naquela queda de força com absoluta impossibilidade de manejar meus próprios pensamentos...

Sei que me debati, entre a penumbra e a luz, entre a alucinação e a consciência de mim mesmo, por vários dias. Senti-me sob tratamento hospitalar, qual se fosse um asilado comum em casa de emergência.

Muitos amigos apareceram, mas não reconheci nenhum, até que um deles me rogou atenção para identificá-lo por vovô Angelo (2) e, desde então, encontrei um ponto de referência para reconhecer-me, ao modo de um viajante perdido que surpreende uma estaca, através da qual consegue fazer a revisão do próprio caminho.

2) Angelo Miniucci, avô materno, desencarnado em 1973.

Os dias se sucederam a outros dias, até que pude revê-la junto ao Papai Orlando, à Regina e ao Carlos Augusto.

Mãezinha Lourdes, compreendo que em nós, na intimidade da família, aquela ida à praia ficou parada em nossa cabeça. Pensamos e repensamos, procurando a causa daquele corisco que o Céu enviava para quatro pessoas que nem se conheciam entre si, mas o Vovô Angelo e a Vovó Maria Miniucci (3) nos pedem a coragem de entregar tudo aos Desígnios de Deus, seguindo para frente.

3) Avó materna falecida em 1966.

Por aqui, estudo reencarnação e estou começando a entender o motivo pelo qual os companheiros e eu fomos fulminados e, mais tarde, espero a possibilidade de examinarmos o meu caso.

Por agora, no entanto, rogo-lhes me auxiliem a esquecer o que passou, porque estou em outras faixas de trabalho e penetração em conhecimentos com os quais nem sonhava.

Trago as minhas notícias, porque os pais queridos ainda não se acreditam refeitos da provação sofrida. Olvidemos o que já ficou para trás no calendário e busquemos otimismo e fé viva em Deus para vivermos com mais segurança.

Se repisar as saudades que ainda trago, já sei que o sofrimento tingirá de roxo tudo o que eu possa escrever e não desejo isso. Quero que a Regina e o nosso Zacanini (4) com o nosso Carlos Augusto estejam contentes e animados para encontrar a felicidade e aproveitá-la, tanto quanto lhes seja isso possível.

4) Referência aos irmãos e ao cunhado, Savério Zacanini.

Mãezinha Lourdes, aqui devo terminar, reunindo-a com o papai Orlando em meu coração. Não posso continuar porque a minha quota de tempo para um relatório doméstico já terminou e não posso abusar da generosidade dos amigos que nos hospedam aqui.

Ao Papai, o respeitoso amor de sempre e para o seu carinho, querida Mãezinha Lourdes, todo o carinho florido de saudades e esperanças do seu filho e companheiro sempre mais seu,

Paulo Augusto

Paulo Augusto Signore

17.06.83

 

 

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Tânia Paes Leme de Barros

 

Rio de Janeiro (RJ) - 04 de junho de 1953

Rio de Janeiro (RJ) - 13 de novembro de 1975

Filha de João Ribeiro de Barros e Elza Paes Leme de Barros, Tânia faleceu no Rio de Janeiro em acidente automobilístico, aos 22 anos.

Formada em Secretariado, trabalhava na Diretoria do Unibanco quando partiu. Dividia o convívio familiar com os irmãos, Manoel, Vilma, Sandra, Hélio, Celso e Cláudio.

Após o depoimento de seu genitor, apresenta-os mensagem da Tânia, recebida em 1976.125

Diante de tanto sofrimento causado pela perda de nossa querida filha, tivemos assistência de diversos amigos espíritas.

Entre estes o Sr. Ceslau, freqüentador assíduo da Associação Espírita do Rio de Janeiro e os tios da Tania, D. Carlota Paes Leme Brilhante da Costa e seu marido Djalma que são mencionados nas mensagens, ambos fazendo parte do Centro Espírita de Bangu.

Graças a Deus, através dos livros espíritas e principalmente do Evangelho, aceitamos com mais resignação o ocorrido. Confesso que fiquei revoltado, porém, foram os irmãos acima citados que nos encorajaram a procurar esta criatura maravilhosa que é Chico Xavier.

Foi assim que em companhia de D. Carlota e Djalma, em Uberaba, no Grupo Espírita da Prece, recebemos a primeira mensagem nossa querida filha, causando-nos grande emoção e alegria.

As palavras da unia significaram grande lenitivo para os nossos corações.

 

Mensagem

 

Querido papai, querida mãezinha, peço-lhes a bênção.

Aquela bênção de Deus com que sempre me fizeram feliz. Nossa festa de aniversário realizou-se. Um bolo de preces. Preces e flores invisíveis, as flores que trago para significar agradecimento.

Eu sei, papai, todo sacrifício que fizeram para vir. Compreendi tudo.

Era uma ânsia de dois lados. Uma dor que a palavra saudade não consegue dizer. Estamos como quem se abraça num cais de muito carinho e de muito amor, acenando lenços molhados de nossas lágrimas. Lagrimas de gratidão a Deus, porque, graças a Deus, não choramos sem conformação.

A idéia de cais me veio agora, conosco entre dois lados da vida, mas sinceramente, não sei se estou ficando e partindo ou se os meus entes queridos estão partindo e ficando. O tio Joaquim' que me auxilia a escrever me corrige e recomenda-me dizer "sempre juntos". E mesmo, quem se sentirá separado quando ama? Penso que isto é impossível.

1) Joaquim Ribeiro de Barros, desencarnado em 1975.

Paizinho, minha querida mãe, não chorem mais por mim. Recordem os outros corações queridos que Deus lhe confiou na família. Meu tempo era reduzido. Estou partindo dos 23 junhos para outros campos de tempo, em que estaremos sempre unidos.

Se lhes peço para não chorarmos mais assim com tamanha dor, rogo igualmente e em especial ao papai querido para que não pesem culpas sobre o Carlos (2) que não conseguiu controlar o veículo.

2) Seu namorado que também se encontrava no veículo acidentado.

Paizinho, tudo foi num momento. Nesses acontecimentos, hoje, creio que ninguém sabe o ponto exato do tempo em que um acidente fatal ocorre. Coisa de segundos, contas impossíveis de fazer, e ele sofre muito, o que absolutamente sua filha não deseja.

Mãezinha me falara na inconveniência do passeio, parecia adivinhar qualquer sombra, no entanto, eu já me havia comprometido.

Papai, o senhor sabe que sua filha podia ser muito alegre, mas, não irresponsável. Agradeço o crédito que o senhor e mamãe sempre me deram. Ademais, eu sempre tive muita fé, aquela abençoada fé que o seu coração paternal me ensinou.

O que sucedeu tinha que acontecer. Aqui, estudarei isso melhor. Não acreditem que eu tenha sofrido. Parece que de todos os amigos que me socorreram o tio Joaquim foi aquele que se fez mais visível, porque ele estava tão claro em nossa saudade, em nossa lembrança. Animou-me, e, aos poucos, dormi num sono semelhante ao dos anestésicos.

Acordei com tantas afeições queridas ame sustentarem. Minha avó Maria Emília, meu avô Francisco, a irmã Carlota (3) que é, também, para mim aqui verdadeira outra mãe e tantos amigos outros!

3) Maria Emília Ferreira Barros e Francisco Ribeiro de Barros, avós paternos, falecidos em 1959. Irmã Carlota, ainda não identificada pelos familiares de Tânia.

Nem sei como agradecer a Deus tantas bênçãos. Acompanhei, logo que pude, o bem que me fizeram, as preces, os votos, as flores e os pensamentos bons, no entanto, querida mãezinha, foi tudo com tantas lágrimas que não sei de memória enumerar os benefícios.

Agradeço, também, e agradeço muito os tios Djalma e Carlota (4), o amparo que nos deram. Agradeço as preces de Ana, do Manoel (5), de tantos outros corações queridos. Nosso amigo Sr. Moretti (6) me visitou e auxiliou muito.

4 ) Tios de Tânia que acompanhavam seus pais até Uberaba.

5) 0 irmão Manoel e a prima Ana Paes Leme Brilhante da Costa.

6) Orientador Espiritual do Centro Espírita de Bangu.

Paizinho, sei que o senhor e mãezinha oraram muito com a preocupação de me encomendarem por causa de nossos princípios religiosos. Mas isso só me trouxe alegria.

Jesus é um só para nós todos - o imenso amor, que penso seja do tamanho do mar para caber todas as embarcações de nossas idéias. Aqui, a união é mais bela. Amamos Deus sem separações.

Estou bem. Ainda hospitalizada. Seis meses não dão para o refazimento que se precisa. Mas pude vir até aqui, com a licença necessária, porque precisava pedir-lhes por nosso estimado Carlos e para rogar-lhes esperança. Ninguém morre, somos transformados.

Aliás, querido paizinho, muitas vezes, ouvi em nossas missas a palavra venerável do sacerdote que não morremos e, sim, somos transformados. Pois sua filha foi transformada para uma vida melhor, penso que Deus deixou a saudade entre os dois mundos, para que o esquecimento não apague em nós a chama do amor de uns pelos outros. Com o amor estamos juntos e venceremos.

Mais uma vez agradeço aos tios Brilhante terem vindo encorajar o nosso encontro. O aniversário está comemorado (7). As lágrimas são o orvalho nas flores que colhemos na noite de hoje no jardim do nosso amor.

7) A mensagem foi recebida no dia do aniversário da Tânia.

Não me lembrem por filha morta, mas viva, e tanto quanto possível feliz, já que feliz totalmente, pelo menos por enquanto, não consigo ser sem a presença constante dos meus pais e da família querida.

Mas isso não quer dizer que estou triste. Deus nos fez para a luz da felicidade. Papai e mãezinha continuem com a nossa fé. Receberei da igreja e do lar orações que me enviarem. E fiquem felizes, porque Jesus não nos abandona.

Não posso escrever mais. Meu avô Manoel, o tio Joaquim e meu bisavô Leme (8) dizem que escrevi o bastante e não tenho mais horário disponível.

8) Manoel Augusto Paes Leme e Augusto Soares Paes Leme. O avô Manoel faleceu em 1961 e a data de desencarnação do Bisavô Leme ainda não foi localizada pelos familiares.

Estou reconhecida e contente paizinho e mãezinha, amados pais do meu coração, amem-me como sempre. Lembrem-se de mim, perdoando alguma falta da menina que eu era. E ajudem-me.

Creiam. Nunca me afastei dos conselhos recebidos em casa e sou feliz por haver recebido de Deus os pais que eu tenho.

Recebam os dois, com muitas flores de ternura e gratidão, o amor imenso e as saudades de todos os dias da filha que os tem no coração, sempre dedicada e sempre reconhecida.

Tânia

04.06.76

 

fim